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Os meninos e o povo no poder

1.1 Antecedentes e fundação da FJCB

Delegados ao Congresso da II Internacional em 1907, em Stuttggart. Quando é fundada a Internacional Socialista Juvenil [Arquivo]

O movimento juvenil comunista internacional organizado tem seu princípio na fundação da Internacional Operária da Juventude (ou Internacional Socialista da Juventude – ISJ) em fins de 1907 quando foi aclamado Karl Liebknecht seu presidente. Esta organização estava ligada à Internacional Socialista (ou 2ª Internacional – 1889-1914). A Internacional Juvenil Comunista (IJC) foi sempre caracterizada, após sua fundação em 1920, como a herdeira legítima da ISJ.

Karl LiebknechtLiebknecht, enquanto deputado regional do Partido Social Democrata Alemão, em 26 de março de 1912, fez contra os conservadores no Landstag (parlamento regional), um violento discurso de balanço da situação juvenil alemã; onde denunciou o deputado conservador Von Kardoff por ter dito que os jovens operários de 14 anos eram livres. Karl teve, durante sua explanação, entusiasmadas interferências de outros deputados social-democratas e de outros setores da esquerda alemã, segue um trecho do orador:

(...) ele é livre a partir dos catorze anos para se deixar levar por seu chefe e explorador na usina - extraordinária liberdade para o jovem operário de catorze anos! (Muito bem!) Se é verdade que o jovem operário é, segundo o senhor Von Kardoff, o homem mais livre do mundo, deixem então seus filhos juntar-se também aos homens mais livres do mundo! (...) O objetivo que vocês perseguem é, como já dissemos, o de preparar a juventude proletária para a exploração econômica, para a ausência de qualquer direito político e para a sua formação como um instrumento para utilizar contra o proletariado rebelde e também em caso de guerra.(1)

A crise de dissidência da 2ª Internacional refletiu diretamente na ISJ. A organização juvenil concordou em parte pela participação dos países representados ali, na 1ª Guerra. Aquele conflito foi considerado por Lênin, Rosa Luxemburgo e outros, como uma guerra interimperialista onde os operários dos países envolvidos que iam para o front e a disputa era de novos mercados, para aqueles países de capitalismo desenvolvido e excesso de produção. A ISJ, liderada pelo sapateiro alemão Willi Münzenberg, passou a ser um organismo independente da 2ª Internacional, criando uma nova etapa para o desenvolvimento do pensamento orgânico juvenil.

Willi Münzenberg, articulador da guinada do movimento

internacional socialista de juventude após 1914 [Arquivo]

 

As conferências internacionais de juventude em Berna – 1915 – e Iena – 1916 reafirmaram tais análises e concluíram que, diante da Internacional Socialista, não era mais possível estar aliada àquela Internacional já que havia, segundo Lenin e Rosa Luxemburgo, se perdido numa ideologia social-chauvinista (de extremo nacionalismo) que apoiava a Grande Guerra daquele período. Tornou-se assim, a ISJ, um organismo de disputa entre os socialistas e os dissidentes da ISJ. Com a apreciação da revolução russa, do fim da 1ª Guerra, os rumos tomados por aqueles que deixaram a 2ª Internacional e os preparativos do congresso de fundação da 3ª Internacional (a Internacional Comunista); a ISJ se aproximou desta nova organização de revolucionários. (2)

Delegados ao 1º Congresso do KOMSOMOL em 1918 [Arquivo]

Dando prosseguimento à organização da juventude para a realização da revolução proletária, Lenin, no 3° Congresso do Komsomol (Juventude Comunista Russa), em 1920 proferiu o discurso Tarefas da Juventude Comunista mostrando que a organização juvenil comunista tinha um caráter diferente do Partido Comunista. Essa elaboração já vinha sendo construída, como podemos ver em texto de 1916 onde ele enfatiza que a participação juvenil:

(...) acontece freqüentemente que os representantes das gerações dos mais velhos não sabem tratar devidamente os jovens que são obrigados, por necessidade, a aproximar-se do socialismo de outro modo, não por aquela via não por aquela forma, não naquelas condições como os seus pais. (3)

Sergei Grigoriev, A entrada para o Komsomol, 1962 [Arquivo]

No 2º Congresso da IC, em julho de 1920, após um detido estudo daquelas condições, realizado por Willi Münzenberg, o russo Lazar Chatskin, os alemães Leo Flieg e Alfred Kurella, o austríaco Richard Schüller e outros, ficaram definidas as condições para a anexação de todo trabalho feito até então, da militância existente e do corpo dirigente da antiga ISJ à IC. A partir daí os estatutos indicaram, no artigo 15º, que a organização da Kommunist Internationale Molodoi – Internacional Juvenil Comunista, (KIM – IJC) foi:

(...) subordinada à Internacional Comunista e ao seu Comitê Executivo. Ela indica um representante de seu Comitê Executivo ao Comitê Executivo da Internacional Comunista, no qual tem direito a voto deliberativo. O Comitê Executivo da Internacional Comunista tem a faculdade de indicar ao Comitê Executivo da União da Juventude um representante com direito a voto deliberativo. As relações existentes entre a União da Juventude e o Partido Comunista, enquanto organizações, em cada país, estão baseadas no mesmo princípio. (4) 

Com esta resolução foi fundado o KIM com “delegados de 49 países representando 800 mil jovens”. (5) Organização que terá até 1943 seis congressos, ampliação para todos os continentes e o objetivo de formar um corpo dirigente de jovens comunistas que auxiliassem, em cada país, o respectivo partido comunista a agregar a população pobre, em particular o proletariado, a tomar o poder central.

Os 2° e 3° Congressos do KIM acontecidos em Moscou, respectivamente em 1921 e 1922 aprovaram resoluções para a construção de organizações juvenis ligadas aos partidos comunistas e para o desenvolvimento de ações com os jovens trabalhadores de seus respectivos países; inclusive naqueles considerados coloniais e semi-coloniais, como os da América Latina e Ásia.

No Brasil a juventude já havia participado de várias insurreições, levantes armados e pacíficos nos momentos de crise social da vida política, mas não havia ainda experimentado uma atuação organizada partidariamente; isto é, ação política orientada por uma organização que determinasse suas próprias regras, com programa, estatutos, tática, ações próprias, exercícios de democracia interna, hierarquia, plano estratégico e perspectiva duradoura de luta.

A orientação da IC e da IJC entre a juventude no Brasil foi iniciado, como necessidade local, a partir do segundo congresso do PCB, em maio de 1925, que em suas resoluções apontaram a necessidade de organizar “a juventude comunista”; tendo sido realizadas, na mesma época, conferências regionais que, além de outros assuntos, trataram da organização dos jovens comunistas.

O vassoureiro Luiz Perez, um dos delegados participantes do congresso de fundação do partido em março de 1922, ficou com o encargo de organizar os jovens operários vislumbrando preparar uma organização comunista nacional de jovens. Logo após, em agosto, Perez enviou para a Executiva da Internacional Juvenil Comunista (IJC) uma carta onde apresenta o novo trabalho:

Iniciamos uma série de trabalhos de organização e propaganda entre os jovens operários do Brasil. Depois de termos algumas adesões constituímos um Comitê Central Executivo, provisório, o qual deverá entregar seu mandato, logo que estiver organizada a federação nacional dos jovens (...). (6)

Luiz Perez, o primeiro responsável pelo trabalho juvenil do PC do Brasil [Asmob/ CEDEM]

 

Devido ao ainda insatisfatório acúmulo de um trabalho juvenil comunista organizado no Brasil, Luiz Perez apela àquela executiva: “enviar-nos material de estudo, propaganda bem como estatutos, programas, de preferência em francês e espanhol.” (7) 

Não tardou para que Luiz Perez tivesse problemas em sua tarefa. Em relatório não datado, mas que se deduz tenha sido escrito entre 1925 e 1926, ele explica dois problemas fundamentais para a construção do trabalho da juventude comunista (JC) (8): “a propaganda da JC para conquistar novos aderentes e a educação ideológica dos que já tinham aderido”. (9)

Tentou-se solucionar esses problemas, como o próprio relatório mostra, fazendo uma série reuniões com os aderentes e não aderentes; mas estas foram suspensas já que a Comissão Central Executiva (CCE) do partido organizou cursos voltados para a juventude no mesmo período. Até mesmo o dia que fixaram para estes coincidiu com as reuniões lideradas por Perez, ou seja, aos domingos. Tais cursos resolviam mais o problema de educação ideológica do que propriamente o problema de propaganda.

Em seu relatório Luiz Perez considera ainda que uma das dificuldades para a ampliação do trabalho visando a adesão e a propaganda da JC decorria da ofensiva policial do governo de Arthur Bernardes, sendo assim ponderava ser “(...) cedo para elaborarmos os estatutos da JC.” (10)  Apesar disto reafirmava que algumas normativas como estatutos, programas e orientações outras seriam importantes para dar uniformidade ao início da futura organização. O grupo de jovens comunistas era pequeno, desarticulado e Perez reclamou em seu relatório da falta de comunicação com estados e cidades importantes para a construção do trabalho juvenil dos comunistas.

As dificuldades de orientação política eram extremas, o conjunto dos militantes comunistas não havia entendido o caráter da frente juvenil de atuação, tinham poucos aderentes e dirigentes e pouco acúmulo político, organizacional e teórico para este trabalho. Tudo estava por ser iniciado e neste sentido, em seu relatório, apelava aos comitês regionais para que dessem maior importância à organização juvenil:

Ora decididamente isso não pode continuar. Entendemos que cada um tem o dever de empregar o máximo de seu esforço no trabalho para qual foi designado. Já bastam as dificuldades que temos, oriundas do estado de sítio, e que nos impedem de fazer um trabalho de propaganda dentro da legalidade, e ainda por cima: a inércia, o descaso, o desleixo e o desinteresse daqueles que assumem compromissos.(11)

Chamamos este período, de 1925 a 1926, de Primeira Fase do trabalho juvenil comunista onde Luiz Perez, à frente, encarou a precariedade de implementar um trabalho nas suas linhas mestras de orientação política. Marcam esta primeira fase a falta de comunicação do Secretário Geral, Luiz Perez, e o Comitê Central Executivo provisório com os estados e cidades, os primeiros esforços para a confecção de células juvenis, as primeiras conferências regionais que trataram do tema, as dificuldades que a conjuntura nacional impunha aos comunistas e a intensidade irrisória deste trabalho.

Perez, com dificuldades políticas e pessoais, se afastou do trabalho juvenil deixando um pequeno vácuo que logo foi preenchido pelo estudante de medicina, Leôncio Basbaum, que antes de sair do Rio de Janeiro para visitar a família em Recife relatou o seguinte:

(...) tive uma longa conversa com Astrogildo. Disse-me que já era tempo de que o Partido organizasse uma Juventude Comunista, como havia em outros países. Havia no Comitê Central um companheiro encarregado dessa tarefa. Chamava-se Perez (...) mas que por motivos de família, havia se retirado para o interior de São Paulo, e por isso quase nada pudera fazer. Assim queria que eu fizesse uma experiência em Recife, onde havia um forte núcleo do Partido, que me poderia auxiliar. E eu poderia começar arregimentando os filhos dos próprios membros do partido. (12)

Este é o marco do início da Segunda Fase o trabalho de juventude dos comunistas. Ao voltar, para o Rio de Janeiro no início de 1927, Basbaum foi cooptado para a CCE do partido para a tarefa de organizar a Juventude Comunista:

(...) decidiram que eu seria, a partir de então, o encarregado do setor juvenil de caráter nacional, e que daquele momento em diante, eu seria membro da CCE, com direito a voz e voto, como representante da Juventude Comunista, que na realidade não existia ainda. (13)

Desta forma Basbaum iniciou a elaboração de tal organização juvenil comunista de caráter nacional, escreveu artigos sobre a importância da organização e constituiu uma direção provisória com os estudantes Manuel Karacik e Francisco Mangabeira e outros “que não demoraram muito em nosso movimento”. (14)

Leôncio Basbaum, organizador da Juventude Comunista do Brasil, JCB [Arquivo]

 

O governo Washington Luiz não renovou o estado de sítio mantido nos quatro anos de Arthur Bernardes, portanto, por alguns meses, em 1927, os comunistas gozaram de relativa liberdade. Assim, puderam se organizar de forma mais aberta tanto como partido comunista quanto nos movimentos em que até então participavam de forma clandestina. O jornalista Leônidas Rezende, diretor do jornal A Nação, deu nas mãos dos comunistas a linha editorial do veículo. Basbaum teve a oportunidade de publicar:

(...) papeletas de inscrição para a JC em branco, a fim de que os desejosos de ingressar na organização que se criava os preenchessem, enviando-os ao jornal em meu nome [de Basbaum]. Em poucos meses já havíamos recebido mais de cem inscrições, não somente no Rio mas de outros estados, principalmente Ceará, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e São Paulo. (15)

Munidos de uma amplitude característica de tempos de “abertura” política, a direção provisória da JC mobilizou os jovens comunistas para participarem das comemorações de 1° de maio daquele ano, o que foi, segundo Basbaum, uma “demonstração magnífica”. Houve discursos de jovens comunistas, bandeiras com as necessidades juvenis, mães carregando seus filhos no colo sem violência policial. Desta forma, afirma Basbaum, que:

Esses êxitos nos animaram a apressar a fundação da JC que foi marcada para 1° de agosto, chamado Dia Internacional da Juventude e, ao mesmo tempo, o Dia Internacional da Luta contra a Guerra. No dia marcado, na sede da UTG (União dos Trabalhadores Gráficos), na rua Frei Caneca, esquina com a Praça da República, houve uma bela festa com discursos, nos quais o que mais se destacou foi o de um jovem metalúrgico, de uns 17 anos, Jaime Ferreira, que não sabia como acabar seu discurso. (...) No dia seguinte escolhemos alguns companheiros jovens para constituir um Comitê Central provisório e fui eleito por esse Comitê Secretário Geral, cargo que permaneci até princípios de 1929, quando, tendo atingido 21 anos, passei para o Partido (...). (16)

Em Abreu [2002] e em algumas passagens de Basbaum [1976] localiza-se essa organização não apenas como JC e sim como Juventude Comunista do Brasil (JCB) – o que de fato reflete em parte a documentação e, diferente de outras épocas, onde a idade do jovem comunista tinha um limite maior, nesses anos 1920 e início dos 1930, o PC do Brasil passou a ter como referência juvenil pessoas com até os 21 anos. As memórias de Basbaum nos informam que 90% deles, este momento, eram de jovens operários que tinham entre 15 e 19 anos e:

A primeira ‘direção nacional’ possuía sete membros e creio que me lembro dos nomes de alguns deles: Jaime Ferreira, Elísio, Altamiro [dos Santos], Brasilino, Pedro Magalhães, todos operários, e mais, Arthur [Basbaum, irmão de Leôncio], Manuel [Karacik] e eu, estudantes. (17)

Neste período de “abertura” política a JCB confeccionou alguns números de seu jornal O Jovem Proletário que abordava principalmente assuntos de interesse dos trabalhadores jovens como menos horas de trabalho, salário igual para trabalho igual, condições melhores de trabalho, além de ser um veículo de propaganda e informação dos jovens comunistas. Havia também manifestos e panfletos confeccionados pela organização para serem instrumentos na luta cotidiana desses jovens.

Em agosto de 1927, a direção da JCB escreveu para a IJC comunicando a fundação da organização e pedindo a adesão àquele órgão internacional. Um dia chegou a resposta da adesão confirmada e a convocação para que um representante da JCB fosse matriculado na Escola Leninista Internacional de Moscou, onde seriam:

ensinados O Capital, de Marx; história universal a partir da Revolução Francesa de 1789; história do movimento operário internacional, desde os cartistas ingleses; história da Revolução e do Partido Comunista russos, filosofia iniciando-se com os filósofos pré-socrásticos; estruturas do Partido, consistente no seu sistema de organização, funcionamento, estratégia e tática, movimento sindical e agrário, com ações de massas e liderança de greves (...). (18)

Entre outros temas militares, políticos, teóricos e ideológicos. O escolhido foi o alfaiate de 21 anos Heitor Ferreira Lima que foi representando o Brasil para os festejos do 10° aniversário da revolução russa e para cursar a Escola Leninista Internacional.

No Brasil, o breve interregno de frágil abertura política se esvaiu. O governo Washington Luiz, para se resguardar do movimento operário crescente e de possíveis rebeliões da pequena burguesia – ou mesmo aproximação com as idéias ou ação dos tenentes – fez votar a Lei Celerada, de autoria de Aníbal de Toledo. A lei combatia a “anarquia” dando poderes de repressão à inteligência estatal e ao aparato policial. O PCB voltou à ilegalidade, o jornal A Classe Operária foi fechado bem como A Nação e O Jovem Proletário.

No cenário internacional, em 1920, ano do 2° Congresso da IC, realizou-se, após o congresso dos “adultos”, os congressos da IJC ou também chamada de Kommunist Internationale Molodoi (KIM). Em 1928, ano do 6° Congresso da IC, realizou-se o 5° Congresso da IJC para o qual foi convocada a JCB, cujo representante foi o delegado brasileiro Leôncio Basbaum. De 17 de julho a 1° setembro deste mesmo ano, o delegado juvenil brasileiro participou do 6° Congresso da IC e relata a dificuldade que teve em compreender as diversas línguas, com tradução simultânea apenas em francês, russo, chinês e inglês e pelo seu atraso teórico para aquele nível de debate. Isso aconteceu com toda a delegação brasileira e foi com essa confusa compreensão que trouxeram para o para o conjunto partidário do Brasil as novas diretivas da IC.

Após o término do Congresso da IC realizou-se o 5° Congresso da IJC que durou uns quinze dias. Aí se reafirmou as teses da IC de tática de classe contra classe, sobre o que voltaremos a tratar mais para frente, e foi feita a adesão formal da JCB à IJC. Basbaum, como único delegado brasileiro, fez uma intervenção com o nome de Pereira, em francês:

Fiz um pequeno relatório da juventude operária no Brasil, da situação da JCB, que tinha na ocasião cerca de cem membros inscritos, mas já editava seu jornalzinho, do qual eu trazia alguns exemplares, e que foram expostos, juntamente com dezenas de outros, da Juventude Comunista de todo o mundo, em uma sala especial. No meu pequeno discurso, lamentei que todo o material de propaganda e educação marxista para jovens, enviado ao Brasil, fosse escrito em língua espanhola, e que os operários brasileiros não entendiam espanhol. (19)

Lenin fala aos delegados do 3º Congresso do KOMSOMOL em 1920, de Tegin. Pintura de 1950

 

Foi na volta de Basbaum que se deu prosseguimento à maior ação de massa para o trabalho de juventude. Mesmo com as dificuldades políticas que o governo federal impunha, foi fundado no Rio de Janeiro, em novembro de 1928, o Centro de Jovens Proletários:

(...) um pic nic aonde compareceram também alguns simpatizantes apesar do mau tempo, e foi fundado o Centro de Jovens Proletários, organização cultural, artística, desportiva e política legal, dentro da qual faremos toda nossa propaganda pelos sindicatos. (20)

Este Centro publicou no ano seguinte seus estatutos. Composto por um conjunto de regras expressava todo um corpo de idéias que se confundiam com um programa bastante pormenorizado em grau de funcionamento e opiniões. Tinha por objetivo ser uma organização de suporte para os jovens proletários e uma das estratégias propostas era a criação de uma biblioteca contendo o maior número de obras dos maiores autores literários e científicos, nacionais e estrangeiros. Além disto promoveria conferências e palestras periódicas sobre os mais variados assuntos; organizaria cursos escolares complementares de matemática, geografia, história, línguas, etc; investiria na alfabetização; instituiria um corpo teatral de amadores sob a direção de um associado competente, criaria cursos de música e instrumentos musicais, organizaria festivais; comporia grupos de jogos e modalidades esportivas (ginástica, basquete, vôlei, futebol, peteca, corridas, natação, etc); e tantas outras atividades que tinham como objetivo elevar o nível cultural, artístico e desportivo dos jovens proletários.

Em suas atribuições políticas é possível perceber o quanto essa organização tinha influência entre os jovens comunistas, mesmo não havendo nenhuma indicação de apoio ou adesão à juventude comunista ou ainda ao PC do Brasil. Entre elas destacamos os incentivos e apoios que o Centro de Jovens Proletários deram às campanhas anti-imperialistas e anti-fascistas; a manutenção de uma linha nitidamente de classe, proletária e independente; o apoio e auxílio às campanhas do Bloco Operário e Camponês (BOC), pelo cumprimento da Lei de Férias, do Código de Menores, lei de acidente no trabalho e pelo aumento de salários dos trabalhadores jovens, contra as leis reacionárias, a obra do socorro proletário, pelo reconhecimento da Rússia dos Soviets; lutar pelo direito de voto aos menores de 18 anos (21) e pela legalidade de uma organização verdadeiramente política e dirigente do movimento de emancipação dos trabalhadores jovens. (22)

Já haviam entendido que a ação de massas entre os jovens trabalhadores deveria se dar de forma ampla. Pois assim constituíram o Centro de Jovens Proletários onde aglutinariam, em torno de atividades de caráter estritamente juvenil, militantes e futuros jovens militantes comunistas. Fariam um trabalho de extensão cultural que o Estado não oferecia.

Observa-se que muitas das atividades e formas de ação propostas por este Centro receberam influência dos núcleos anarquistas de bairro que tinham tido atuação forte durante as duas primeiras décadas do século. (23)

Em dezembro de 1928 o foco dos jovens comunistas era a organização de uma Federação para início de 1929. Basbaum, na mesma carta, anunciou para cinco de janeiro próximo o Congresso de fundação da Federação da Juventude Comunista do Brasil (FJCB). Ele mostrou ainda as mesmas dificuldades que Luiz Perez na relação com os estados, no número de aderentes e na constituição e vida orgânica das células. Na parte de agit-prop (agitação e propaganda) ressaltava-se a necessidade da atuação dos jovens comunistas como oradores em atividades dos operários “aprendendo desse modo a falar e tomar iniciativas” (24) no andamento das atividades. O trabalho esportivo Basbaum informa que fora fundado:

um Comitê pró Federação Nacional do Esporte Proletário com representantes em vários estados, inclusive São Paulo. Há muitas probabilidades de dentro de um mês organizarmos a Federação aqui no Rio de Janeiro. Vamos pedir material e instruções ao Sportintern (25) e ao SSA da IC. (26)

Com a ameaça de uma nova guerra, estouro da crise capitalista e aumento da influência fascista na Europa e Ásia, a IJC organizou uma campanha mundial pelo antimilitarismo. No Brasil essa diretiva permeou toda a atuação da juventude comunista na ação contra um novo conflito mundial, vislumbrando que essa guerra, motivada por potências imperialistas, tinha como seu alvo principal a União Soviética e seu 1° Plano Qüinqüenal. Paralelamente os antimilitaristas tinham como alvo as organizações escoteiras, nacionalistas, a educação “patrioteira” que comemorava a bandeira nacional, os hinos pátrios e tudo que poderia tencionar a sociedade para a defesa desenfreada da nação e por conseqüência inflamar a juventude para outra guerra. Organizou-se ainda O Marinheiro um jornal mensal que se comunicaria com marinheiros jovens propagandeando o antimilitarismo.

Observa-se que as iniciativas se espalharam, a considerar, por exemplo, informe de Basbaum também sobre a atividade antiimperialista de jovens que haviam organizado, em uma escola secundarista noturna – portanto, provavelmente, com maioria de estudantes trabalhadores, um Centro de Jovens Anti-Imperialistas os quais haviam convocado uma “assembléia a todas as organizações políticas de esquerda ou não” (27) , propondo a organização de uma Liga Anti-Imperialista.

O início da Terceira Fase do trabalho dos comunistas entre a juventude se configura com o início, nos últimos dias de 1928 e primeiros de 1929, do 3° Congresso do PCB, onde foram debatidas as resoluções aprovadas no 6° Congresso da IC e onde, entre outros pontos, resolveu-se dar mais empenho à construção do trabalho partidário entre a juventude.

Na seqüência foi realizado o Congresso de fundação da Federação da Juventude Comunista do Brasil (FJCB) nos dias 5, 7 e 8 de janeiro de 1929, no Rio de Janeiro. Participaram 17 delegados sendo que um do Rio Grande do Sul, um de São Paulo, um de Santos, um de Ribeirão Preto, um de Sertãozinho, um de Vitória, um de Pernambuco, cinco de Rio de Janeiro e Niterói, com mais três delegados indicados pelo partido e mais um de seu secretariado. A Ordem do Dia do Congresso teve:

1° Eleição da mesa e das três comissões (Esportiva, Sindical e Anti [sic]); 2° Relatório do 3° Congresso do PCB (Relator camarada Américo Ledo); 3° Relatório do 5° Congresso da IJC (Relator camarada Leôncio); 4° Relatório das Zonas; 5° Esportes e organizações de massa; 6° Sindicatos; 7° Trabalho anti-imperialista, anti-militarista e perigos de guerra; 8° Eleições. (28)

Entre outras coisas, o relatório aponta que nesse congresso foi discutida a situação nacional, a luta anti-imperialista, a necessidade de agitação e arregimentação das grandes massas, o BOC, a bolchevização do partido, o desenvolvimento mundial da JC, a descrição da situação social da juventude em geral na intervenção dos representantes regionais, a situação numérica da FJCB e ao final foi feita a eleição do novo Comitê Central que ficou com Leôncio Basbaum na Secretaria Geral; Russildo Magalhães como encarregado de esporte proletário; Arthur Basbaum e Elysio como encarregados sindicais e Manuel Karacik como encarregado do trabalho no campo.

A FJCB teve, a partir de então, maior espaço no circuito de direção da organização mundial juvenil dos comunistas, tendo sido acompanhada, no seu desenvolvimento político, ideológico e estrutural, diretamente pelo Secretariado Sul Americano da Internacional da Juventude Comunista (SSA-IJC) que tinha sede em Buenos Aires.

 

1.2 Primeiras atividades e os resultados da “bolchevização”

Assim uma correspondência para o SSA-IJC meses depois da fundação nos informa do andamento no movimento esportivo no Brasil. Mesmo com as dificuldades burocráticas, financeiras e a concentração geográfica no Rio de Janeiro:

A organização esportiva aqui acha-se em situação até um certo ponto regular. Constituímos uma Comissão Nacional de Esportes composta pelos respectivos encarregados de esporte do PC e da JC que desenvolve satisfatoriamente todo trabalho político, teórico e praticamente sempre de acordo com as nossas diretivas. (29)

Tinha como base social os jovens trabalhadores na Federação dos Desportos Proletários do Rio Grande do Sul, em Pelotas; Federação Operária Esportiva de Santos e a Federação dos Esportes Proletários do Rio de Janeiro. Estes dispunham de células em oficinas, usinas, fábricas e bairros onde tinham vasto contato com a juventude que não conheciam seus ideais de transformação. Não só praticavam esporte e organizavam campeonatos, mas discutiam temas diversos, sendo um forte instrumento para colocar a FJCB em contato com um grande número de jovens trabalhadores. Além disso, essas iniciativas de coletivizar o espaço público – já que usavam terrenos vazios ou quadras improvisadas – não chegariam, até então, de outra forma, àquelas populações sendo o Estado alheio a estas preocupações.

Em princípios de outubro de 1929 o Comitê Central da FJCB realizou uma plenária onde se refletiu sobre o desenvolvimento da organização, tendo sido feita pela primeira vez, uma análise conjuntural do Brasil e do mundo, assim como análises sobre a organização e a situação dos jovens proletários no país.

Esta plenária politizou o debate – que até então era feito com maior ênfase na estruturação da FJCB – que agora fazia tentativas de leitura, apesar do insipiente instrumental teórico marxista que tinham os militantes comunistas no Brasil. Analisavam a complexa realidade de crise internacional, o desenvolvimento da ação da IC e os preparativos para as eleições presidenciais no Brasil que começavam a dividir a classe dominante brasileira.

Observa-se que muitas destas plenárias reafirmavam idéias já debatidas no 3° Congresso do PC do Brasil e no 6° da IC, conforme atesta, por exemplo, a “Circular sobre o 2° Plenum [plenária] do CC da FJCB”, encaminhada a IJC, na qual a situação nacional e internacional é analisada partindo-se do princípio do:

desenvolvimento da técnica e ultrapassagem do nível de produção do ante-guerra [sic], é não uma estabilização do regime capitalista como na opinião dos direitistas e todo o campo oposto ao proletariado (socialista, social democratas, burguesia, etc) mas um aumento das contradições internas do capitalismo. Para resolver essas contradições os imperialistas preparam uma nova guerra (...), lutam pela hegemonia nos países coloniais e semi-coloniais como o Brasil, preparam uma guerra contra o único país com a ditadura do Proletariado, e pensam esmagar os movimentos revolucionários (...). (30)

Mas expressam também a preocupação com o aumento da ofensiva da classe dominante brasileira, realizada através do Estado, particularmente assustada com a ampliação das mobilizações dos trabalhadores em prol de melhores e mais dignas condições de vida.  Assim, por exemplo, no ano de 1929, entre março e maio houve a greve dos gráficos de São Paulo que durou 72 dias e que tinha como uma de suas principais bandeiras lutar contra o trabalho infantil. A repressão policial fechou o sindicato após a greve; em 20 de junho a polícia invadiu a sede da Confederação Geral do Trabalho (CGT) prendendo 69 trabalhadores; em 6 de novembro a polícia do Rio de Janeiro impediu uma convenção do Bloco Operário Camponês (BOC) e prendeu 85 trabalhadores; no dia seguinte foi reprimido a tiros pela mesma polícia o comício do 12° aniversário da Revolução Russa, organizado pelo PC do Brasil e pela FJCB.

A análise da conjuntura nacional tem por base a relação conflituosa de setores dominantes brasileiros, que apoiavam ou o imperialismo inglês ou o americano. E trata das eleições presidenciais de 1930 afirmando que:

A Aliança Liberal representando a política de não valorização do café, portanto imperialismo americano e a Concentração Conservadora (Julio Prestes) partidária da valorização do café e do Instituto do Café que é financiado e protegido pelo imperialismo inglês. Na luta presidencial o Partido Comunista não pode estar ao lado de nenhuma das duas correntes, pois seria [como] estar ao lado de um dos imperialismos. O Partido por intermédio do BOC apresenta candidatos próprios com um programa revolucionário (...). (31)

Tais análises sobre a realidade nacional e internacional perduraram nos anos seguintes, sendo assim, a esta luz, foram definidas as diretivas políticas dos comunistas. Outro temor contido no relatório da plenária era o problema do inimigo interno, visto que nos congressos internacionais alertava-se para que:

a luta se acentua em graves desvios que tendem a perturbar a marcha revolucionária do Partido. O Plenum verificou que tanto no partido existe uma base para esses desvios não chegando ainda a constituir verdadeira corrente mas sendo um sério perigo incorreríamos em grave erro se pelo fato não estarem ainda concretizados em correntes, nós a desprezássemos. (32)

No 6° Congresso da IC, em 1928, a América Latina aparecia como tema de maior importância se comparado com os outros cinco congressos anteriores. O movimento comunista em escala mundial estava apreendendo a realidade de todos os cantos do mundo para poder melhor realizar a revolução mundial; como um “laboratório analítico de particular interesse no que se refere à teoria política do marxismo” (33)

Os debates do rumo tático aprovado no 6º Congresso da Internacional Comunista foram apropriados pelos comunistas brasileiros de forma precária seja por conta das línguas estrangeiras que se fizeram as comunicações do Congresso, seja pelo baixo acúmulo, dos brasileiros, sobre o marxismo e as discussões feitas lá, ou pelo pouco domínio e nível de elaboração realizado pelo próprio movimento comunista internacional sobre países que tinham formação e desenvolvimento do capitalismo periférico como o Brasil. Há de se notar que essas análises feitas pelos congressos da IC pouco davam importância às particularidades nos processos de desenvolvimento de cada país.

Resulta daí que as leituras daquelas discussões foram enviesadas e isolacionistas. (34) A proletarização aprovada pela IC se tornou, no Brasil, um obreirismo desmedido onde:

(...) tinha apenas um sentido romântico: proletarizar-se significava, segundo alguns, abandonar hábitos burgueses, só fumar cigarros baratos, andar mal vestido (...) até mesmo tomar banhos diários era um resquício pequeno-burguês capaz de afetar a ideologia proletária do Partido. (35)

A atitude de tornar internacionais as características positivas do Partido Bolchevique resultou no que tem sido considerado a Bolchevização dos partidos comunistas. Isto é, considerar as qualidades que levaram àquele partido a uma revolução vitoriosa na Rússia, para o interior da construção da concepção de partidos comunistas em todo mundo. Seriam abolidas as ideologias pequeno-burguesas da vida interna partidária colocando em evidência o caráter proletário (daí a proletarização) da construção partidária tanto na sua composição social quanto na moralidade.

A prática da bolchevização do PC do Brasil foi um obreirismo – este entendido como vulgarização da idéia de proletarizar o partido.

A política obreirista provoca graves resultado, com conseqüências negativas para a direção do PCB, pois acentua valores idealizados sobre a virtude do militante. Ao defenderem a nova posição, os militantes do PCB confundem o fato de o indivíduo pertencer à classe operária com o de representar as virtudes ideais da classe proletária. Daí a idéia de que, para ser militante proletário, é preciso ser de origem proletária ou se identificar fisicamente com o proletariado, usando a mesma roupa, mantendo exteriormente a mesma aparência etc. Comunista não é só um indivíduo que luta pela transformação da sociedade, mas a transformação se fará unicamente por aqueles que pertencem à classe operária. Daí a aparência ser elemento de valor, que transmuta o indivíduo no ser ideal proletário. (CARONE: 1991, pág. 55)

Neste período por conta da instabilidade política – por ajustes de representação e participação dos mais diversos atores políticos –, das prisões feitas pelo governo provisório e da insuficiente presença do PC do Brasil nas massas populares e operárias; o número e a qualidade dos quadros dirigentes desse partido era bastante pequeno. A necessidade de continuar conduzindo as atividades dos comunistas fez com que assumissem a direção, operários que não tinham esta carga de experiência. Dentro da lógica de proletarização do partido, operários “autênticos” iniciaram um período de extrema radicalização do PC que teve trágicos desdobramentos.

A análise no processo revolucionário da América Latina foi feita no 6° Congresso da IC nas intervenções de Bukharin, Ricardo Paredes, Humbert-Droz e Travin. Vêem um continente monolítico, não consideram as particularidades nacionais de formação política, econômica, social, cultural e histórica de cada país. A resolução é muito parecida com a para Índia e China, apesar dos países do continente latino americano ser composto por países coloniais ou semicoloniais. Sendo os PCs destes países, então:

os únicos que podem levar as massas à revolução. E, para isso, o novo curso impõe a unidade do movimento sindical, não unidade pela unidade, mas a ‘concentração de forças organizadas com a intenção de tornar mais eficazes os combates de classe do proletariado’. (36)

Ao mesmo tempo em que as resoluções do 2° Plenum sectarizavam na análise política, tinham a perspectiva de abrir o conceito de movimento juvenil comunista a ponto de terem como “eixo principal do nosso Plenum (...) a conquista de mil aderentes” (37) à FJCB que dariam maior corpo ao trabalho entre a juventude. Apesarem de não fazerem um balanço com esta conclusão é possível perceber que objetivavam construir uma organização mais enraizada na sua base social. A contradição entre a leitura enviesada da realidade nacional e as perspectivas de crescimento da FJCB foi nesta fase o principal problema de desenvolvimento orgânico da organização juvenil.

Para ser tão grande e influente, a FJCB teria que se apresentar de forma mais massiva aos jovens trabalhadores, elaborar bandeiras de luta, propagandear seus princípios, filiar jovens que já estejam na luta social da juventude e educar ideologicamente esses novos aderentes para que pudessem ser reprodutores desta ação dando maior musculatura à entidade. Para alcançarem o sucesso do desafio, um instrumento de propaganda se faz mais do que necessário e desde o congresso já se tinha:

medidas concretas de como as células podem executar um ativo trabalho de propaganda nos seio das fábricas e nos campos. Falou-se muito acerca dos jornais de fábrica como está fazendo o Partido. (...) O Jovem Proletário será [o] órgão central da nossa organização. (...) Achou-se ainda a necessidade de aumentar sua tiragem ficando resolvido que se fizessem todos os esforços para que o último número deste ano tivesse 10 mil exemplares. (38)

As condições objetivas de pobreza da juventude trabalhadora eram a principal motivação dos jovens comunistas. A crise que assolava o país, a industrialização tardia e a falta de regulamentos jurídicos para a classe trabalhadora faziam com que a precariedade na vida e no trabalho estivesse em grande escala como pode mostrar o trecho abaixo de um relatório da FJCB:

A juventude trabalhadora é diretamente tocada por essa situação aflitiva das massas, não apenas pelo começo da racionalização na indústria existente, mas principalmente pelo regime de semi-escravidão e semi-servidão reinante nos latifúndios. Aí o jovem começa a trabalhar aos 8 anos de idade, de sol a sol, sem salário, quase sempre trabalhando com a família, outras vezes executando trabalhos como assalariado. As condições de trabalho são as piores possíveis, higiene, instrução primária, proteção ao trabalho, já são muito precárias nas cidades, onde o jovem trabalha na indústria. No campo essas condições faltam completamente. Podemos avaliar em 40% o número de jovens trabalhadores na indústria, havendo empresas, como fábricas de tecidos onde a maioria é constituída de jovens. No campo, entretanto essa porcentagem é muito maior pois cada família tem [de] 3 a 4 filhos e todos eles trabalham já desde os primeiros anos. Essa situação de miséria é a condição subjetiva [sic] de uma nova explosão revolucionária, pra onde caminhamos levados pela grave crise por que atravessa o Brasil. (39)

Além da aproximação da juventude trabalhadora através de bandeiras que melhorassem as condições, diminuíssem horas diárias de trabalho e aumentasse os salários, a FJCB planejou dar investimento político para o trabalho antiimperialista, antimilitarista e na luta contra a guerra visando o reerguimento da Liga Antiimperialista, assim podendo dar mais fôlego à sua sessão juvenil. Mas esse trabalho ficou por este momento concentrado em soldados e marinheiros sem ter tido uma capilaridade maior entre estudantes e jovens trabalhadores.

Mesmo com as dificuldades que iam desde os problemas financeiros para gerar materiais de comunicação, até o tamanho continental do Brasil que impossibilitava, muitas vezes, a comunicação e a ágil orientação política, a FJCB entre outubro de 1928 e outubro de 1929 passou de por volta de 100 a 300 filiados concentrados no eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Aumentou também sua influência para estados como Paraíba, Ceará e Alagoas, que mesmo com poucos aderentes em janeiro de 1930, se mostrou frutífero para o próximo período.

Inúmeras atividades massivas aconteceram para aumentar a capilaridade da organização. A “Semana dos 3 ‘L’” (LÊNIN, Karl LIEBKNECHT e Rosa LUXEMBURGO) seria, como foi a Semana da Juventude Proletária em setembro de 1929, uma série de comícios, organizados pela FJCB, em portas de fábricas elevando as figuras revolucionárias e defendendo a URSS. Internamente foi feito em tom de propaganda parágrafos contendo pequenas referências biográficas para que o conjunto dos militantes da FJCB pudesse conhecer os revolucionários, tendo assim, um papel educativo voltado para os jovens trabalhadores:

Por isso, para comemorar a morte destes três grandes lutadores, instituímos a Semana dos 3 ‘L’ (Lenine, Liebknecht e Luxemburg), que será de 17 a 23 de janeiro. A semana deve ser bem preparada de modo que durante a semana, todos os dias se realizem comícios nas portas das fábricas e nos bairros operários, reuniões especiais das células com simpatizantes e operários sem partido, distribuição de manifestos contendo as nossas palavras de ordem, recrutamento (...). (40)

Os homenageados na Semana dos 3 ‘L’ (Luxemburg, Lenine e Liebknecht) [Arquivo]

O clima de perseguições internas que já havia contagiado o PC do Brasil também se apoderou da FJCB. Altamiro fora expulso, sob acusação de esquerdismo e Francisco Mangabeira havia desertado, sendo acusado de direitismo; os dois eram da Direção Nacional. A vida política da FJCB era intensa com atividades de porte razoável, mas que nas suas contradições de construção da organização, não aproveitavam como poderiam as conquistas de influência, como podemos perceber na carta de Casemiro – que não deixou de marcar posição com relação à depuração pela qual passavam os comunistas:

Mesmo com movimentos vitoriosos, os camaradas muitas vezes não sabem tirar todas as vantagens para conservar os resultados das vitórias. Vemos que não fizemos para conservar a vitória dos gráficos de São Paulo, não aproveitamos as vitórias dos padeiros no Rio [de Janeiro]. A nossa organização deve transformar-se em uma organização de massas. Para isso é necessário diariamente estar à frente das lutas econômicas e políticas da juventude operária. Demonstrar entusiasmo e dedicação, colocar-se decididamente à frente dos acontecimentos, tomar a direção, ganhar assim a confiança das massas (...). Porém o cumprimento dessas tarefas exige uma luta contra todos os elementos oscilantes e oportunistas, que todavia não tem a franqueza de declara-se fracos, mas que se opõe disfarçadamente à linha justa e precisa seguida pela heróica Internacional. Contra esses hipócritas cabe [a] nós lutar impiedosamente, combatendo todas as suas tendências, legalistas e oportunistas, limpando a nossa sessão do KIM deste entulho. (41)

Outro depoimento é constatado no Boletim Interno de fevereiro de 1931 tratando das expulsões por desvios e deserções. Aqui se confirmam as expulsões de Manuel Karacik, Raul Karacik, Francisco Mangabeira, Adão Nascimento, Benigno Rodrigues Fernandes, entre outros; e Peri, autor do texto, alerta e explica em detalhes até desnecessários os motivos do desligamento:

Camaradas, tudo isto prova que a expulsão de Benigno e outros não foi uma expulsão administrativa como querem que seja, mas uma expulsão política com graves conseqüências para a nossa Federação que ainda não se libertou da ideologia burguesa (...). Lutemos com todas as nossas forças contra os oportunistas, liquidacionistas do movimento revolucionário, plinistas, (42) prestistas, etc. (43)

A luta diária dos jovens comunistas fez com que se construísse uma plataforma de reivindicações cada vez mais apurada do que a do início, quando praticamente não a possuíam. Houve, pois, um enorme desenvolvimento dessa plataforma, em quantidade e qualidade, do início para a metade dos anos 1930 que, expressando o momento, se circunscreve assim:

Contra as guerras imperialistas e pela defesa da União Soviética; Pela transformação das guerras imperialistas em guerras contra a burguesia; Pelo reconhecimento da União Soviética para termos trigo e gasolina mais baratos; Contra a compra de aviões para ajudar os flagelados do nordeste; Contra o aumento dos impostos para não encarecer o custo de vida; Por 1 Kilo de pão mais 4$ diários para os jovens desempregados; Pelo aumento de salários para enfrentar a carestia; Pela diminuição das horas de trabalhos para dar lugar aos desempregados; Nenhuma rebaixa nos salários; Liberdade de reunião e de imprensa para as organizações de classe do proletariado, liberdade dos militantes operários presos e deportados; Contra o governo de fome e de miséria da Aliança Liberal; Pelo governo operário e camponês. (44)

Esta ainda se mistura sobremaneira com a plataforma do PC do Brasil, tem pouca identidade juvenil e é extensa e densa demais para a compreensão de um jovem trabalhador da cidade ou do campo no início dos anos 1930. Mas se apresenta como um termômetro importante para analisar a capilaridade da FJCB, seu amadurecimento político e capacidade de falar para grandes massas, como projetavam.

O sucesso do projeto da FJCB estava na proporção direta da capacidade dos jovens comunistas de construírem uma organização juvenil autônoma do PC; não independente, mas que tivesse vida orgânica e atividades próprias.

1.3 Diagnósticos da crise de sectarismo

Percebendo a necessidade dos jovens comunistas brasileiros em ter um acompanhamento maior, o Bureau Sul Americano da IJC enviou, em fins de 1931, uma tese construída a partir das informações colhidas durante todo esse ano. Dividida em vinte pontos, além de um diagnóstico da situação do Brasil, da juventude brasileira e da FJCB, dava orientações políticas colocando um prumo na atuação dos jovens comunistas.

Após extensa análise econômica e política, na qual se observa nítido consenso com as análises da IC e do PC do Brasil, foram dadas as primeiras orientações:

A crise no Brasil tem como conseqüência imediata o formidável aumento da exploração escravagista das massas juvenis e infantis, elevando ao mesmo tempo, o papel da juventude na produção e na luta de classes. (45)

Podemos perceber que aparece neste documento um novo ator social, as “massas infantis” que, desde o nascimento da classe operária brasileira, teve participação na força produtiva ainda pouco reconhecida. Na década de 1910, no Belenzinho, em São Paulo, por exemplo:

(...) os patrões obrigava-nos a comparecer, no dia seguinte, bem mais cedo, às cinco horas da manhã, geralmente. Como se vê, não havia organismo que resistisse a essas flutuações de horários, mormente se considerarmos que muitos dos meninos não tinham ainda alcançado dez anos. Havia-os, [sic] até, de sete anos de idade. O ambiente era o pior possível. Calor intolerável, dentro de um barracão coberto de zinco, sem janelas nem ventilação. Poeira micidial, saturada de miasmas, de pó de drogas moídas. Os cacos de vidro espalhados pelo chão representavam outro pesadelo para as crianças, por que muitas trabalhavam descalças ou com os pés protegidos apenas por alpercatas de corda, quase sempre furadas. A água não primava pela higiene nem pela salubridade. (46)

Mesmo tendo sido editado, entre este depoimento de Jacob Penteado e o período da FJCB, o Código de Menores de 1927, a infância tinha ainda peso no processo produtivo onde 20% dos operários fabris tinham entre 14 e 18 anos, como afirma a própria Tese à FJCB. Se ampliarmos os parâmetros etários este percentual era muito maior. Por isto a FJCB tinha como diretiva organizar a Federação Infantil Comunista, pois até então:

A falta de atenção para com o movimento infantil comunista é um aspecto da política sectária da Federação. (...) A luta pela defesa da Infância operária e camponesa contra a exploração semi-feudal da mesma deve ser o eixo para a organização da Federação Infantil Comunista. (47)

Foi orientado aos jovens comunistas que construíssem uma plataforma de reivindicações para os meninos proletários e que contivesse a luta contra o analfabetismo, a influência religiosa e a educação militarizada. Teria de ser construída uma imprensa infantil que desse conta de atividades desportivas, culturais, recreativas fazendo com que se criasse uma geração de futuros jovens comunistas preparados, e com experiência mínima, para a vida militante.

Segundo a Tese à FJCB esta deveria se preocupar com a fascistização da juventude brasileira que se dava por inúmeros pontos. Desde o fato da própria FJCB ter sido posta na ilegalidade, seus membros se verem obrigados a desenvolver suas tarefas de forma clandestina em decorrência da nova lei de sindicalização que dificultava a participação dos comunistas e não terem espaço para organizações juvenis; até a oficialização, nas escolas do ensino militar, os “tiros de guerra”, os clubes escotistas, os clubes burgueses que realizavam extensa educação ideológica, etc. Também é citada, como um alvo burguês a ser combatido, a revista “Brasilidade” que, conforme constatavam, tinha um conteúdo estritamente juvenil e que pertencia à juventude trabalhista do então Partido Trabalhista. A outra forma a fascistização da juventude brasileira acontecia por meio da religião, principalmente católica, onde o:

Ensino religioso se intensifica atualmente entre as massas juvenis, com o decreto do governo, instituindo o seu ensino obrigatório nas escolas primárias e secundárias. A igreja, ‘em nome da pátria, de Deus e da ordem’, lutam [sic] pela manutenção dos privilégios dos imperialistas, dos feudais e dos burgueses, e pela conservação das condições escravagistas das massas trabalhadoras. (48)

Além de todas estas dificuldades, a cisão dos comunistas no fim da década de 1920 – por conta das opiniões sobre os rumos da União Soviética e do movimento comunista internacional e que aconteceu na maioria dos partidos comunistas, inclusive no Partido Comunista da União Soviética – gerou tendências que tinham um parecer sobre a realidade brasileira diferente dos membros do PC do Brasil; assim o Birô Político Sul Americano da Internacional Juvenil Comunista (BPSA-IJC) alertava a FJCB que:

Os elementos trotskistas, chefiados por Plínio Mello, Aristides Lobo, João da Costa Pimenta e outros traidores do proletariado, consideram o golpe de Estado de Outubro de 1930, organizado pela Aliança Liberal, com o apoio e controle dos imperialistas americanos, como uma revolução democrático burguesa. (49)

Era preciso então, apurar as diferenças – para que houvesse a criação da identidade da FJCB e o PC do Brasil – entre os trotskistas, anarquistas, social-democratas, social-fascistas, fascistas, trabalhistas, católicos, liberais, socialistas que era o leque de tendências adversárias colocadas neste momento. A leitura sobre 1930, a crise no mundo e os caminhos da União Soviética, a forma de organização sindical e partidária, principalmente, e a relação com o operariado eram critério fundamentais para a diferenciação dos comunistas com as outras tendências.

A opinião do BPSA-IJC era bastante dura em relação ao andamento da FJCB. Diziam eles que a organização brasileira era:

(...) um pequeno núcleo de jovens em face de uma massa de milhões de jovens trabalhadores (...) [há] ausência de um amplo trabalho de massas da FJC. As concepções estão enraizadas (...). Realiza-se pelo contrário uma política de círculo. A Federação realiza uma vida puramente interna. (50)

E por diante:

Todas as greves que se produziram no último ano começaram e muitas terminaram sem a intervenção da FJC. (...) As células de empresas são grupos de jovens que vivem separados completamente da vida da fábrica. Não apalpam, não estudam em cada momento a situação dos meninos e jovens das empresas. (51)

Correspondencia Juvenil, órgão ligado ao Birô Sul-Americano Juvenil Comunista [Asmob/ CEDEM]

 

A falta de preparo desses militantes, de tradição de um movimento juvenil comunista no Brasil e de identidade juvenil para a atuação da FJCB fez com que a organização tivesse apenas uma retórica juvenil para a atuação juvenil dos comunistas. Não era uma organização juvenil comunista, mas sim uma organização comunista, assim como o partido, que tinha jovens. Nos anos 1950 esse fenômeno foi chamado de “partido de calças curtas”. Analisando essa falha o BPSA-IJC orientou que a:

Federação precisa de uma política juvenil. Ela ainda não soube concretizar a política do Partido, aplicando-se às condições e características das massas juvenis. Não adota formas especiais de trabalho, para ligar-se com as massas da juventude trabalhadora e mobilizá-la.” (52)

A unidade interna e a diferenciação com as outras correntes políticas ocorreriam a partir do momento que a FJCB conseguisse com intensa e profunda discussão sobre a política nacional, internacional e de seu funcionamento orgânico um consenso construído; sabendo lidar com diversas opiniões e diferentes visões fossem elas por virem de lugares díspares ou de formações políticas baseadas em realidades diversas. Assim:

A falta de uma discussão séria sobre a política seguida pela direção central da Federação, a ausência de uma auto-crítica severa e construtiva, a pouca participação das regiões na elaboração de sua linha e na direção da mesma: as dificuldades do CC de ajudar as diversas regiões; todos esses fatores conduzem ao fortalecimento das tendências separatistas. (53)

Mas tantas exigências a uma organização nova e formada por jovens que deviam dar respostas a questões de imensa complexidade num momento de confusões políticas onde suas referências, o PC do Brasil e a IC, também estavam em fase de ajustes destas questões, demandavam um corpo de dirigentes aptos a esses desafios. Completamente fora dessa aptidão a FJCB foi analisada como sendo portadora de uma:

(...) debilidade política dos quadros e especialmente dos órgãos de direção – CC e CCRR [Comitês Regionais] – caracteriza também a situação interna da Federação. Isto é agravado pela falta de uma política firme no terreno da proletarização e criação de novos quadros, como também pela ausência de uma política de concentração e de organização. (54)

O BPSA-IJC ainda sugere que fossem feitos intercâmbios de militantes que tivessem tarefas de maior grau de responsabilidade. E assim junto com o CC, outros jovens passassem pela experiência de direção dos mais variados lugares além de reafirmar a linha de proletarização com “elementos operários combativos ligados com as massas” e que liquidar o problema da qualidade de direção era um projeto estratégico que não:

(...) pode ser resolvido em 24 horas, tomando algumas medidas orgânicas, é um grave erro que pode ter graves conseqüências. A direção central, como os organismos de direção, podem ser enriquecidos com a inclusão dos melhores elementos operários da base. (55)

Quanto a auto-crítica:

Não se emprega como arma diária que aproveita as experiências, que torne claro a cada jovem comunista as falhas cometidas durante o trabalho, precise e corrija, imediatamente, em cada situação concreta, a linha da Federação. Depois de cada greve e entre muitas que se verificam neste período, a Federação não fez a auto-crítica que era necessária. (56)

É importante lembrar que a idéia de crítica e auto-crítica faz parte do funcionamento do partido de novo tipo idealizado por Lenin. É o conceito que apura e depura de forma sincera, por parte dos militantes, os erros individuais e coletivos da organização partidária (57) e para a:

Aplicação da linha justa exige uma ampla auto-crítica no seio da Federação, bem como uma enérgica luta contra os desvios de direita e de esquerda (...) Foi precisamente nessa luta que se fortificaram nossas organizações. (...) Temos que compreender perfeitamente que a linha fundamental na luta contra os desvios não consiste em fazer expulsões ou condenar simplesmente esses desvios. A luta contra os mesmos deve ser conduzida paralelamente ao trabalho de convencer aos companheiros iludidos. (58)

Ainda é tratado o “decisivo” trabalho sindical que deveria ter um caráter massivo, edificando-se a partir das lutas econômicas que deveriam estar contidas numa plataforma de reivindicações imediatas dando prioridade às indústrias têxteis e químicas.

Haveriam também de pleitear a criação da Sessão Juvenil da CGT onde atuariam jovens trabalhadores comunistas e não comunistas dando amplitude à CGT, capilarizando mais o trabalho sindical da FJCB, criando uma “ampla rede de quadros sindicais” (59) e fortalecendo a “luta contra os sindicatos amarelos”. (60)

Dentro das fábricas deveriam montar células onde haveria maior ligação com a juventude trabalhadora envolvendo-a através de acompanhamento político cotidiano com estudo de realidade, formulação de reivindicações e pautas de lutas.

Para conseguirem desenvolver esse novo e complexo trabalho teriam de formular um planejamento onde a FJCB não:

(...) deve dispersar as suas forças pretendendo organizar em todas as fábricas de uma região, por que com as nossas reduzidas forças, seguindo esta linha, só faremos um trabalho disperso, sem qualquer resultado. Portanto em cada cidade, em cada bairro, temos que concentrar nossas forças sobre as principais empresas e realizar um trabalho concreto e permanente. (61)

Com efeito, o trabalho que talvez tenha tido maior sucesso foi o “anti-mil”. Já que desde 1929 o PC do Brasil havia criado o Comitê Militar Revolucionário para preparar os militares de baixa patente para a “terceiro ciclo de revoltas” – o primeiro fora o levante de Copacabana de 1922 e o segundo, o levante de 1924 em São Paulo e Rio Grande do Sul que teriam sido a gênese da Coluna Prestes-Miguel Costa. Para Vianna o que de alguma forma havia de democrático e progressista estava ligado aos tenentes, sendo que:

Havia também um ambiente propício à receptividade do trabalho do partido nas Forças Armadas: o entusiasmo com o tenentismo e principalmente com a Coluna Prestes era imenso, ao mesmo tempo que as decepções com o movimento de 1930 faziam voltar as esperanças de continuação das lutas (...). (VIANNA: 2007, pág. 76.)

Nesta conjuntura o BPSA-IJC enfatizou a necessidade de se dar destaque a esta frente de atuação de forma ampla, que atingisse não só os jovens soldados e marinheiros, como também a massa da juventude trabalhadora, seja ela do campo ou da cidade:

(...) sob todos os seus aspectos, nos bairros, fábricas, etc. É preciso também focalizar o problema da luta contra os perigos de guerra, especialmente em defesa da URSS. A Federação, em conjunto com o Partido, deve criar uma comissão nacional para o trabalho anti militarista, comissão que deve trabalhar sob o controle dos órgãos de direção da JC e do PC. (62)

A capilaridade social que a FJCB deveria perseguir era ampla, densa e complexa envolvendo trabalhos entre jovens negros e índios “lutando por suas reivindicações como raças oprimidas”. (63) Também entre as mulheres jovens que, embora constituíssem uma porcentagem muito reduzida na FJCB, eram contingente enorme na força produtiva brasileira seja no campo ou na cidade. Para tanto, a FJCB deveria se concentrar na:

(...) criação de clubes culturais, onde se organizem cursos de trabalhos, etc., [que] pode constituir um meio eficaz para atrair a juventude operária feminina. A criação de quadros femininos de direção, é uma tarefa de muita importância a ser resolvida pela Federação. (64)

Diante da comum violência policial em comício, greves e demais atividades a FJCB deveria organizar, como mostra a documentação, a luta pela legalidade da Federação e de todo o movimento revolucionário. Eles deveriam conquistar o poder por luta armada e legalizar a organização juvenil, o PC e o movimento revolucionário. Para que os riscos diante das manifestações fossem diminuídos a FJCB teria de:

(...) organizar a resistência física pela legalidade da nossa Federação e pela defesa das reivindicações imediatas dos jovens operários. Para começar, cada região deve formar grupos com os companheiros mais decididos, para defender os nossos oradores nos comícios, defender as nossas palavras de ordem, resistir às prisões e exigir pela força a legalidade de todo o movimento revolucionário. (65)

As teses através das quais o BPSA-IJC orienta os trabalhos da FJCB são de fato importante documento que mostram qual é o estado da arte da organização juvenil do PC do Brasil nos idos de 1931. Colocam os detalhes de um diagnóstico sobre a realidade da juventude trabalhadora e de sua organização comunista. Mostram, além disso, as perspectivas que a IJC tinha para seu trabalho na sessão brasileira evidenciando erros e acertos. Conclui tal documento que:

É preciso realizar uma ampla discussão à base desse documento, não só no CC como também em toda a escala da Federação, de alto a baixo; discussão essa que deve terminar com a elaboração de planos de trabalhos concretos para cada organização. (66)

Tais teses serviram para que fosse repensada a atuação juvenil dos comunistas brasileiros. Mas as resoluções do 3° Congresso do PCB e do 6° Congresso da IC davam contraditoriamente o teor político sem que isso interferisse no conteúdo ideológico do que deveria ser a forma de desenvolvimento da FJCB. Na prática se lançou idéias de fortalecer a organização, mas sem que houvesse um amálgama coerente para que se colocasse em prática as novas diretivas. Isto é, a retórica era de amplitude e a ação continuava sendo das mais sectárias.

Em 1932 a FJCB não participou da insurreição paulista entendendo-a como “uma guerra civil feudal-burguesa” da oligarquia paulista que havia perdido espaço político pós o levante de 1930 e o reajuste da classe dominante na partilha do poder central. Aproveitaram o clima de insatisfação para responder àquelas movimentações:

(...) com a realização de alguns comícios nas portas de fábricas, e com o trabalho de agitação, por meio de manifestos, bandeiras com palavras de ordem [para] ‘transformar a guerra civil feudal-burguesa em uma luta contra a fome e a reação’. (67)

Sendo a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte a pauta política principal neste momento, a FJCB e o PCB negaram a participação de forma esquemática e sectária. CARONE afirma que isso se deu por conta da conjuntura política do momento, pois “seria um instrumento oportunista de facções da classe dominante na sua luta pelo retorno à hegemonia política” (CARONE: 1991, pág. 81.)

No segundo semestre realizaram a Semana Anti-Guerreira a partir de 23 de agosto, data de aniversário do assassinato de Sacco e Vanzetti (anarquistas italianos que caíram numa armadilha da polícia americana e foram condenados à cadeira elétrica). E logo após a Semana Internacional da Juventude Proletária que foram marcadas por:

“(...) reivindicações imediatas dos jovens operários e camponeses com as reivindicações imediatas dos soldados e marinheiros, na luta contra a guerra civil feudal-burgesa no Brasil, contra a fome e a reação, contra a guerra imperialista de assalto à União Soviética e pela defesa dos Sovietes Chineses.(68)

Tem-se a preocupação com a imagem que a FJCB teria nessas atividades, através de seus oradores. Nessas ocasiões far-se-ia um momento de prova para o militante que teria tarefas de propagandear as idéias da organização. Esses militantes teriam de ser “combativos”:

(...) capazes de assegurar, através da luta pela conquista das reivindicações imediatas das massas juvenis trabalhadoras, a aplicação da linha política do Partido Comunista entre as mesmas. É necessário combater com bastante força a concepção muito difundida entre nossas fileiras, de que para falar aos operários é preciso ‘bonitos’ discursos. Para falar em comícios de portas de fábricas é preciso simplesmente conhecer em primeiro lugar a situação dos jovens operários das fábricas, e saber ligar a luta por suas reivindicações imediatas com as nossas palavras de ordem gerais (...). (69)

Com a empreitada imperial nazista a partir de 1933-34, a União Soviética partiu para uma nova concepção de suas relações internacionais procurando aliar-se com o sistema de Versalhes e entrou para a Liga das Nações e fez vistas grossas para o ataque de governos burgueses contra respectivos partidos comunistas como o caso da França. Esta nova orientação refletiu diretamente no 7° Congresso da IC que guinou da política de classe contra classe, aprovado no 6° Congresso, em 1928, para a política de unidade da classe operária contra o nazi-fascismo.

Nesta nova diretiva a social-democracia foi encarada como uma aliada contra o nazi-fascismo sendo, então, reconstruídas as relações entre os comunistas e social-democratas com base num inimigo único.

1.4 A abertura na concepção do trabalho juvenil comunista e o fim da FJCB

Diante das modificações táticas da IC os reflexos na FJCB foram elementares. A atuação desta organização nos anos de 1934 e 1935 mostrou que diante dos perigos de uma nova guerra e da adesão de centenas de milhares de brasileiros na Ação Integralista Brasileira (AIB), era necessário ter um diálogo mais amplo com a juventude. Houve modificações na direção do PC do Brasil deixando de lado antigos preconceitos, inclusive como os que atacavam a figura de Luís Carlos Prestes de pequeno-burguês, contra-revolucionário. Sendo este, aceito no PC do Brasil, em 1934. As modificações na direção do PC do Brasil refletiram também mudanças na direção da FJCB, onde a partir de então, foram aceitos estudantes e outros novos membros no Comitê Central da organização juvenil comunista.

O Jovem Proletário, publicação ligada à Federação da Juventude Comunista do Brasil, FJCB [Asmob/ CEDEM]

 

Nomes como o de Carlos Lacerda, Édison Carneiro, Aydano do Couto Ferraz e Ivan Pedro Martins começam a aparecer na documentação da luta juvenil brasileira. Além do mais, foi idealizado um congresso nacional de juventude, que teria como produto uma organização nacional juvenil mais ampla em sua composição e teria atuação dos jovens comunistas.

Tal congresso organizado por jovens de diferentes matizes ideológicos junto com os comunistas seria apenas o primeiro de outros e foi chamado de 1° Congresso Nacional da Juventude Proletária, Estudantil e Popular (CNJPEP) e marca o início de quarta fase do trabalho juvenil dos comunistas no país. Não foi realizado em sua plenitude.
Em fins de setembro de 1935, em Moscou, logo após o 7° Congresso da IC, iniciou-se o 6° Congresso da IJC e teve como delegado brasileiro o “camarada Marques”. No seu discurso de apresentação dos trabalhos realizados no Brasil fez um balanço do trabalho desde os fins da década anterior onde ponderou que até então a FJCB:

(...) não conseguiu ainda se transformar numa ampla organização juvenil de massas. A causa fundamental que nos leva a copiar os mesmos métodos de trabalho, as mesmas formas de organização do Partido Comunista dando à Federação um caráter vanguardista, de um partido de jovens. (70)

Símbolo da Internacional da Juventude Comunista, IJC [Arquivo]

 

Sem dúvida há um salto na qualidade de concepção do trabalho juvenil dos comunistas a partir da viragem de 1934. Perceberam que a tática antiga fazia com que a FJCB se transformasse numa seita de garotos que não tinha ligação real com a juventude trabalhadora e estudantil e não podiam educá-la no espírito da luta de classe existente no Brasil. Avaliam que era insipiente o entendimento do processo revolucionário no país “(...) dando margem à luta de grupos, em nossas fileiras, reduzindo nossa federação a grupos de jovens comunistas isolados em várias regiões”. (71) Além de pobre também a concepção do trabalho dos comunistas entre a juventude. Responsabilizavam também o PC do Brasil sendo:

conseqüência de seu próprio sectarismo impossibilitava o desenvolvimento da JC. O Partido não compreendia a JC como ampla organização de massas e transformava a JC em um apêndice do Partido. (72)

O 1° CNJPEP teve o caráter de reunir um extenso leque de jovens que tivessem, no geral, compromisso com o desenvolvimento do Brasil repudiando os integralistas, a guerra mundial, o imperialismo e o latifúndio. Como veremos mais adiante esse também será essencialmente o mote da Aliança Nacional Libertadora (ANL).

Os militantes da FJCB participaram de forma clandestina do CNJPEP. Fizeram-no, junto com um leque amplo de forças políticas e jovens de tipos de pensamentos variados os pilares do Congresso, mas enquanto FJCB não participara dele como mostra o curioso panfleto intitulado “Jovens do Brasil! À População do Rio!”:

Todos que estão contra o Congresso sabem e os que não estão devem saber que o Congresso da Juventude Brasileira, não é um congresso comunista. E vamos frisar bem: 1°) A Juventude Comunista tem seu programa definido muito claro – ela é um organismo partidário. É um organismo da classe proletária da Juventude. Segue as diretivas da Internacional Juvenil Comunista. Visa ao lado do P. Comunista, a tomada do poder pelo proletariado. (...) Enquanto o Congresso da Juventude Brasileira luta nacionalmente pela libertação do país das influencias dos imperialistas [e] até aí o apoiamos. (...); 2°) A própria linha da JCB [sic] difere essencialmente do Congresso – ele é uma frente única de Jovens. (...) Aos jovens congressistas o nosso apoio. Não aderimos ao Congresso. Ele é por si uma demonstração da combatividade dos jovens. Participarmos dele seria provocar sua ilegalidade. (...) O nosso programa é mais avançado. (...) Vamos além, queremos o estado [sic] socialista. (73)

Fica claro aí, então, que existe um perigo policial da FJCB aderir enquanto organização aos preparativos e realização do Congresso. Fazendo com que publicamente não adiram, mas taticamente participem dos preparativos e de seus rumos; aplicando assim, sua nova tática de participação ampla na luta antifascista e concepção ampla do trabalho dos comunistas entre a juventude.

Na propaganda e mobilização do Congresso é possível perceber elementos dos problemas cotidianos da juventude brasileira que permanecem desde as fases anteriores do trabalho juvenil dos comunistas, mas que aparecem agora noutra roupagem. Outros elementos aparecem como novidades, mostrando a evolução da leitura da análise dos problemas juvenis e a tática para transformar a organização juvenil num setor mais amplo da vida política brasileira. Apesar de relativamente extenso vale a pena subscrever o programa-tese do Congresso para melhor analisar o evento, a mobilização e a nova tática da FJCB:

a) melhoria imediata dos salários de todos os jovens trabalhadores, seja nos campos, nas fábricas, nos escritórios; b) diminuição do tempo de trabalho, afim de dar aos jovens, tempo para estudo sem sacrifício de saúde; c) imediata aplicação da lei de 8 horas nos campos e lugares em que estiver sendo fraudada; d) instrução primária verdadeiramente gratuita, com doação de material escolar aos alunos pobres, além de alimentos e roupas. Serviço médico [e] dentário gratuito; e) Diminuição imediata das taxas de ensino secundário e superior; f) proteção aos estudantes pobres secundários e superiores, aos jovens artistas e cientistas, dos intelectuais sem recursos por meios de subvenções diretas do governo; g) criação de centro de estudos, escolas, cursos de aperfeiçoamento técnico, científico e artístico – por parte do governo e das grandes empresas; h) nacionalização do ensino, afim de não existir o comércio de ensino como hoje em dia. Ensino leigo; i) liberdade de pensamento e reunião; j) criação de comissões fiscais, nas escolas, nas fábricas, nas fazendas e usinas afim de manter o cumprimento dessas medidas. Nessas comissões estão incluídos os diretores estudantinos nos cursos secundários, democratização do ensino; k) lutar contra a militarização da juventude, contra a infiltração fascista, contra a guerra e a reação, contra o imperialismo, contra o latifúndio e pelas liberdades democráticas; l) formação duma ampla organização jovem nacional, encarregada de levar a cabo as decisões do Congresso e trazendo como escopo a formação dum espírito juvenil único capaz de levar toda a mocidade brasileira à vanguarda que lhe compete no cenário nacional. (74)

Juventude, jornal programático sobre a temática juvenil dirigido por Ivan Pedro Martis [APERJ]

 

É possível encontrar neste programa o primeiro documento caracterizado com elementos da política pública de juventude no Brasil, feita pela própria juventude; portanto diferente dos “códigos de menores” – já que estes, além de serem feitos no parlamento a revelia da participação juvenil tinham abrangência apenas da infância.

O evento teve um regimento interno (instruções) que na sua edição baiana autorizava os jovens até 25 anos de idade. (75) A participação deveria ser por organização de base (comitês de organização do Congresso em escolas, fábricas, usinas, faculdades) e que cada uma delas poderia ter até 10 representantes. A participação poderia ser com na discussão presencial ou mesmo com apresentação de “teses” ligadas aos problemas econômicos, políticos, sociais ou culturais da juventude brasileira seguindo as normas de:

a) respeito absoluto a todos os credos políticos ou religiosos, e a todas as raças e nacionalidades; b) basear-se de preferência em fatos concretos, reais (dados comprobatórios, estatísticas, etc, etc.); c) não exceder a 10 folhas de papel datilografado. (76)

Esta etapa baiana do CNJPEP realizar-se-ia em cinco dias, sendo que no último seriam eleitos os delegados da etapa nacional. Assim foi programado acontecer em todas as etapas estaduais. E a concentração de inscrições estava no Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da Bahia.

No material de mobilização, dentro dos parâmetros contra o latifúndio e o imperialismo, é possível encontrar uma despretensiosa conjuntura das condições juvenis colocando que a:

juventude proletária não encontra trabalho e, quando tal acontece, esse trabalho se realiza nas mesmas condições do trabalho dos adultos, e com o mesmo número de horas de trabalho, é pago pela metade. (...) A juventude estudantil, encontra pela proa a limitação das matrículas, as taxas exorbitantes, o emprego das medidas mais torpes afim de dificultar a educação e a instrução. A juventude popular não está em melhores condições. Falta de instrução primária, sem higiene, sem perspectiva de futuro, mal alimentada, mal vestida, sofrendo a sífilis, exposta ao alcoolismo, e ao crime, explorada por todas as camarilhas de políticos despudorados – a juventude popular do país se encontra num verdadeiro beco sem saída. (77)

A documentação sobre o CNJPEP mostra que a preparação do evento foi feita com uma divisão de instâncias nacional, estadual, municipal e por regiões de atuação como escolas e fábricas. Diferente de momentos anteriores pede-se a participação da:

heróica e combativa mocidade brasileira de ambos os sexos, sem nenhuma distinção de ideologias, para tratarmos de nossas aspirações, pelo nosso futuro, pelo futuro do nosso querido Brasil. (78)

Mostrando assim que o anterior e confuso leque de forças políticas apontado fora considerado com a nova tática “apto” à participação da defesa do Brasil contra o latifúndio, o imperialismo e o fascismo tão crescente no país. São chamados à responsabilidade de participação ao Congresso os jovens soldados, marinheiros, ferroviários, transviários, tecelões, bancários, comerciários, telefonistas, pequenos comerciantes, funcionários públicos, estudantes, católicos, espíritas, protestantes, ministerialistas, anarquistas, comunistas, socialistas, trabalhistas, nacional evolucionistas, intelectuais pobres, artesãos, policiais militares, bombeiros, fuzileiros, camponeses, patriotas e, cabem aqui de forma especial, os “jovens integralistas iludidos”.

Fora toda a mobilização do evento que se deu de forma ampla, com outras forças políticas e jovens de estigma ideológico variado a FJCB fazia sua agitação de forma independente lançando materiais próprios. Assim não haveria uma descaracterização da FJCB, durante os preparativos do Congresso, dentro da frente única juvenil.

A disputa da juventude com os integralistas ia a ponto de trabalhar as contradições internas da Aliança Integralista Brasileira (AIB) (já que, segundo a documentação, havia certa migração de jovens da AIB para as fileiras do CNJPEP) e aliciar os jovens que vacilavam com a atuação daquela organização, denunciando os “chefes integralistas” suas atitudes violentas e sua caracterização fascista.

De 1933 a 1935 o embate entre os antifascistas e os integralistas havia deixado de ser apenas no discurso. A documentação mostra que a atitude dos antifascistas deveria ser a de não permitir “nem que seja à bala que eles saiam à rua”, principalmente depois que a Itália de Mussolini invadiu a Abissínia – o que causou uma comoção mundial na luta antifascista.

Antes disso aconteceu, em sete de outubro de 1934, o que ficou chamado como “Batalha da Sé”. Foi uma atividade dos integralistas para comemorar o segundo aniversário da AIB – realizada na Praça da Sé em São Paulo, dispersada pelos militantes antifascistas. A marcha que segundo Maffei tinha dois quilômetros de colunas integralistas, desceu a rua Brigadeiro Luis Antonio e foi sumariamente dispersada a tiros assim que chegou na referida praça. Este episódio foi um ponto alto da luta antifascista e povoou as lembranças daqueles militantes. O saldo foi, a maioria à bala, 34 feridos e seis mortos, dentre estes, Decio Pinto Oliveira militante da FJCB. Décio virou um símbolo da luta antifascista da juventude brasileira. Os panfletos lembravam o caso em outras circunstâncias: “Honremos a memória de Décio Pinto Oliveira, impedindo o desfile integralista!”:

Foram os integralistas, macomunados com a Polícia Especial do Rio, que assassinaram, no dia 7 de outubro, o jovem estudante comunista Décio Pinto de Oliveira. Foram os integralistas que organizaram no Rio o Comitê Anti Grevista, de furadores de greve, quando nossos companheiros lutavam por mais um pedaço de pão. (79)

Por seu lado, os militantes da FJCB tinham de enfrentar os violentos ataques de seus opositores, além das promovidas pela polícia e nas manifestações eram um dos principais alvos da perseguição e prisões. Um caso que espelha bem essa violência foi a do estudante Tobias Warchawsky como aponta Carone:

o estudante é da Juventude Comunista, e um dia, em outubro de 1934, ele some e é encontrado morto, dias depois, em um bosque perto da cidade do Rio de Janeiro: o corpo está semidecomposto e as suspeitas recaem sobre os integralistas e a polícia. Esta, no entanto, nada faz para elucidar o caso. O Socorro Vermelho, órgão de ajuda humanitária às famílias dos presos políticos, pede comissão de inquérito, quer que o Congresso Nacional faça um levantamento sobre a morte do estudante. Todo esforço mostra-se inoperante. [CARONE: 1991, pág. 186]

Com os confrontos cada vez mais intensos entre integralistas e anti-fascistas, o Congresso Nacional aprova a Lei de Segurança Nacional, chamada de “Lei Monstro”; que para a FJCB essa lei:

nada mais visa anular de vez as poucas liberdades democráticas existentes. É a ditadura mais feroz e sangrenta, concertada de acordo com os exploradores e opressores imperialistas a quem o Brasil está sendo vendido. (80)

No Boletim da FJCB editado pelo Comitê Central, número 01, de abril de 1935 a Lei Monstro deveria ser propagandeada através da frase de Plínio Salgado, principal chefe dos integralistas que dizia:

“A Lei de Segurança Nacional representa uma vitória do integralismo, a prova mais evidente de que este penetrou já nas esferas oficiais” e com isso demonstrar claramente a toda juventude, inclusive os próprios jovens integralistas a que se reduz o fraseado “nacionalista” e “contrário” à Lei Monstro que vem desenvolvendo os chefes integralistas. (81)

A Assembléia Nacional Constituinte de 1933-34 levou nacionalistas militares e civis a formarem um grupo que revitalizasse idéias oriundas dos tenentes que foram sendo deixadas de lado com o exercício do poder após o levante vitorioso de outubro de 1930. Sua organização é mencionada num discurso do deputado Gilberto Gabeira que afirmou a ANL “coordenará este vasto movimento, eco de todo passado revolucionário do Brasil, na conquista dos direitos democráticos”. (82) Fizeram em fevereiro de 1935, um Manifesto-Programa e elegeram uma comissão provisória para a ANL.

Dela faziam parte militares e civis, entre eles Hercolino Cascardo, militar revoltoso desde 1924; Roberto Sisson, da marinha e com contatos com o PCB; Amorety Osório, capitão do Exército, ligado a Luís Carlos Prestes; Benjamin Soares Cabello, jornalista gaúcho; Francisco Mangabeira ex-integrante da FJCB; Caio Prado Jr., historiador; Manuel Venâncio da Paz; Moesias Rolim, capitão do Exército; Maurício de Lacerda, deputado socialista ligado aos tenentes; Almachio Diniz, socialista histórico; Francisco Giraldes, do Partido Socialista; entre outros.

O PC do Brasil não participou da fundação e nem sentiu os primeiros desdobramentos da ANL. Mas ainda em meados de 1935 orientou a participação individual de seus militantes e jogou papel importante no seu desenvolvimento inclusive tendo como presidente de honra Luis Carlos Prestes. No órgão oficial dos comunistas, A Classe Operária, é possível ver como foi parecida a relação entre a ANL e o PCB com a relação instituída pela FJCB com o 1° CNJPEP:

O Partido Comunista do Brasil (S. da IC), único partido revolucionário do proletariado, já explicou amplamente por que apóia a ANL. O partido não adere e nunca aderirá à ANL. O partido está de acordo com as reivindicações constantes do programa da ANL e retirará seu apoio, desmascarando perante o proletariado e as massas populares o papel contra-revolucionário ou fascista da ANL ou de qualquer outra organização semelhante, se ela deixar de defender as reivindicações e interesses das massas. (...) É nessas condições que o Partido continuará dando o seu apoio à ANL, esclarecendo sempre a distância que existe entre esta organização e o Partido. (83)

A FJCB, assim como PC do Brasil, orientou seus militantes a participarem da ANL em núcleos juvenis e daí construir a luta antifascista, antiimperialista e antilatifundiária como é possível perceber no discurso do “camarada Marques” ao 5° Congresso da IJC:

Na Aliança [Nacional Libertadora] participam dezenas de milhares de jovens, em suas manifestações e comícios, nos diretórios e núcleos da Aliança junto com os adultos, e também existem núcleos juvenis da Aliança nas fábricas, escolas, sindicatos, bairros, etc., dos quais participam jovens de todas as camadas e tendências. Nas lutas dirigidas pela Aliança, pelas liberdades democráticas, contra o integralismo, a juventude está sempre à frente como em São Paulo, Petrópolis onde em conseqüência do choque com a reação houve jovens mortos, e dezenas de feridos. (84)

A ANL foi colocada na ilegalidade em julho de 1935, depois de construir núcleos por todo Brasil e reunir em volta de si mais de 100 mil aderentes. Na ilegalidade perdeu apoio e ficou em sua maioria com núcleos isolados e contingentes nos quartéis.

O PC do Brasil, numa tentativa de tomada do poder por via armada, insurrecionou em dias diferentes quartéis em Natal (RN), Recife (PE) e Rio de Janeiro, embora sem apoio do movimento sindical, juvenil e popular desses lugares. A derrota militar foi iminente e a reação do governo violenta. Perseguição, clandestinidade, prisões, torturas e dificuldades de continuar com as etapas estaduais do CNJPEP levam a não realização de sua etapa nacional. A FJCB iniciou um período de dificuldades de atuação sendo necessário o recolhimento dos militantes para a atuação de resistência estritamente partidária. Até que meados de 1936, (85) quando em reunião do Comitê Central o PCB extinguiu a Federação da Juventude Comunista do Brasil.

Finda nesse momento a quarta fase da FJCB e o primeiro ciclo de trabalho duradouro, sistemático e organizado de juventude dos comunistas brasileiros.

Notas:

(1)Rezem e atirem (26 de março de 1912) http://www.marxists.org./portugues/liebknecht/1912/03/26.htm, acessado em 12 de outubro de 2008.
(2) Résolution sur l’Internationale Communiste et lê mouvement de la Jeunesse Communiste(juin 1921) http://www.marxists.org/francais/inter_com/1921/ic3_10.htm, acessado em 15 de outubro de 2008.
(3) SAZÓNOV, V. (1986) Lênin e ‘As Tarefas das Uniões da Juventude’, Edições Progresso, Moscou, pp. 7.
(4) INTERNACIONAL COMUNISTA (1975) Programa e Estatutos da Internacional Comunista, Edições Maria da Fonte, Lisboa, Artigo 15º.
(5) BROUÉ, Pierre (2007) História da Internacional Comunista – 1919-1943, São Paulo, Ed. Sundermann, pp. 293.
(6) Carta de Luiz Perez Aos camaradas da Executiva da Internacional Comunista de Jovens, de 8 de agosto de 1925.
(7) Idem.
(8) JC não são as iniciais de uma organização juvenil comunista e sim uma abreviação da frente de atuação.
(9) Relatório do encarregado do serviço da JC na CCE do PCB, de Luiz Perez, sem data.
(10) Idem.
(11) Idem.
(12) BASBAUM (1976) Uma Vida em Seis Tempos, Alfa Ômega, São Paulo, pág. 42.
(13) Idem, pág. 45.
(14) Idem, pág. 46.
(15) Idem, pág. 46
(16) Idem, pág. 46.
(17) Idem, pág. 47.
(18) LIMA, Heitor Ferreira (1982). Caminhos Percorridos, Ed Brasiliense, São Paulo, pág. 82.
(19) BASBAUM (1976) Uma Vida em Seis Tempos, Alfa Ômega, São Paulo, pág. 60.
(20) Carta de Leôncio Basbaum Ao Secretariado de Organização do KIM, de 7 de dezembro de 1928.
(21) A bandeira para que jovens menores de 18 anos pudessem ter o direito de escolher representantes legislativos e executivos foi aprovada na Constituição de 1988. O projeto de lei e a luta pela aprovação esteve ligada diretamente à União da Juventude Socialista (UJS) onde atuam, a partir de 1984, os jovens comunistas. De lá pra cá a partir dos 16 anos é facultativo o voto.
(22) Estatutos do Centro de Jovens Proletários do Brasil, redigido no Rio de Janeiro pelo comitê provisório (Jayme Ferreira, Archie Silva, Porphírio Senra, Leoncio Pereira e Altamiro dos Santos) em 25 de novembro de 1928 e aprovado em assembléia no 21 de dezembro de 1928. Não é possível saber se todas essas atividades foram realizadas de fato, o documento ilustra a ebulição que se fazia em torno da atividades juvenis em todos os aspectos. Nos serve para ter idéia do que almejavam como resultado satisfatório do trabalho juvenil. Os grifos são do original.
(23) Núcleos fundados por imigrantes como a Escola Moderna, com inspiração em Francisco Ferrer, e o Centro de Estudos Sociais e Estudo Mútuo em São Paulo e a Universidade Popular no Rio de Janeiro.
(24) Carta de Leôncio Basbaum Ao Secretariado de Organização do KIM, de 7 de dezembro de 1928.
(25) Sportintern era o órgão ligado à IC que tratava dos esportes proletários.
(26) Idem.
(27) Idem.
(28) Relatório dos trabalhos do 1° Congresso da Federação da Juventude Comunista do Brasil feito pelo Secretário Geral Leôncio Basbaum
(29) Aos Camaradas e Irmãos do S. Sul Americano da Internacional Juvenil Comunista, de 5 de agosto de 1929, assinado por Garcia e Leôncio.
(30) Circular sobre o 2° Plenum do CC da FJCB, de 25 de outubro de 1929, assinado pelo Secretário Geral.
(31) Idem.
(32) Idem.
(33) AGOSTI, Aldo O mundo da Terceira Internacional: os ‘estados maiores’; In: Hobsbawn, Eric J. (1985) História do Marxismo, vol. 06, pág. 99.
(34) Cabe aqui ressaltar que a leitura feita pelos comunistas brasileiros das resoluções do 6° Congresso da IC teve um apelo de uma paciência infantil, sectário, de extremismos, superficial, propagandístico (sem considerar a realidade brasileira para estruturar sua tática), com pouca capacidade de projetar a ampliação de suas alianças. Entendiam aquele processo como se apenas a classe operária “pura” e sozinha poderia dar conseqüência à revolução levando a um isolamento político, transformando assim o PC numa seita formada por membros dimensionados por dogmas de um gueto político.
(35) BASBAUM, Leôncio. Uma via em seis tempos, São Paulo, Editora Alfa Ômega, 1976, pp. 75.
(36) Ref. CODOVILLA, Victorio. Que es El Tercer Período?, Montevidéu, s/d, pág. 30-36; In: CARONE, Edgard. Classes Sociais e Movimento Operário, Ed. Ática, São Paulo, 1989, pág. 257.
(37) Circular sobre o 2° Plenum do CC da FJCB, de 25 de outubro de 1929, assinado pelo Secretário Geral.
(38) Idem.
(39) Idem.
(40) Carta de “o delegado do CC da FJCB”, para “Caros Camaradas”, de início de 1931.
(41) Carta de Casemiro à direção da FJCB, de 19 de setembro de 1930.
(42) Plinistas são os seguidores de Plínio Mello, membro dirigente da corrente trotskista no Brasil.
(43) Artigo de Pery no Boletim Interno da FJCB, de fevereiro de 1931, pág. 4.
(44) Carta de “O delegado do CC da FJCB”, para “Caros Camaradas”, de início de 1931.
(45) Tese do Bureau Sul Americano da Internacional da Juventude Comunista à Federação da Juventude Comunista do Brasil, de novembro de 1931, pág. 14.
(46) PENTEADO, Jacob Belenzinho, 1910, 117-121; apud CARONE, Edgard. Movimento Operário no Brasil (1877-1944), Difel, São Paulo, 1979, pág. 54.
(47) Tese do Bureau Sul Americano da Internacional da Juventude Comunista à Federação da Juventude Comunista do Brasil, de novembro de 1931, pág. 45.
(48) Idem. pág. 19.
(49) Idem. pág. 20.
(50) Idem. pág. 21.
(51) Idem. pág. 22.
(52) Idem. pág. 22.
(53) Idem. pág. 22-23.
(54) Idem. pág. 23.
(55) Idem. pág. 38.
(56) Idem. pág. 23.
(57) Para o partido de novo tipo a disciplina rigorosa é um dos pilares da construção partidária. Lenin discorre sobre a idéia de auto-crítica mostrando que “a atitude de um partido político diante de seus erros é um dos critérios mais importantes e seguros para a apreciação da seriedade desse partido e do cumprimento efetivo de seus deveres para com a sua classe e as massas trabalhadoras. Reconhecer francamente os erros, por a nu as causas, analisar a situação que os originou e discutir cuidadosamente os meios de corrigi-lo é que caracteriza um partido sério; nisso consiste o cumprimento de seus deveres; isso significa educar e instruir a classe e, depois, as massas.” LENIN, V. I. (2004) Esquerdismo, doença infantil do comunismo; São Paulo, Ed. Anita Garibaldi,; pp. 69-70.
(58) Idem. pág. 27-28.
(59) Idem. pág. 40.
(60) Idem. pág. 41.
(61) Idem. pág. 36.
(62) Idem. pág. 43-44.
(63) Idem. pág. 48.
(64) Idem. pág. 49.
(65) Idem. pág. 51.
(66) Idem. pág. 53.
(67) “Informe da Federação Juvenil Comunista do Brasil apresentada pelo camarada Arnaldo no Secretariado da América do Sul e do Caribe do Comitê Executivo da IJC em 24 de março de 1933; pág. 15.
(68) Circular a todas as células, zonas e Comitês Regionais da FJCB, sobre as campanhas de 23 de agosto (assassinato de Sacco e Vanzetti) a Semana Anti-Guerreira (23 de agosto a 30) e Semana Internacional da Juventude Proletária (7 a 15 de setembro), pág. 2.
(69) Idem. pág. 3.
(70) Informe do c. Marques no VI Congresso da IJC, ano 1935, pág. 1.
(71) Idem. pág. 1.
(72) Idem. pág. 1.
(73) Panfleto  Jovens do Brasil! À População do Rio!, s/d, assinado pelo Comitê Regional da FJCB do Rio (S. da IJC).
(74) Panfleto Aos nossos companheiros jovens! s/d, assinado pela “Comissão Organizadora”.
(75) Aqui há uma modificação no conceito de jovem. O que no início da década de 1930 era até 21 anos, este evento passa a considerar até 25.
(76) Panfleto 1° Congresso da Juventude Proletária, Estudantil e Popular da Bahia, de maio de 1935, assinado pela Comissão Provisória Organizadora do Congresso: Édison Carneiro, E. Assemany, Aydano do Couto Ferraz, José Borba Tourinho e Paulo Barretto de Araujo.
(77) Panfleto Tudo pelo 1° Congresso da Juventude Proletária, Estudantil e Popular da Bahia!, de maio de 1935, assinado pela Comissão Provisória Organizadora do Congresso: Édison Carneiro, E. Assemany, Aydano do Couto Ferraz, José Borba Tourinho e Paulo Barretto de Araujo.
(78) Panfleto “Jovens operários e operárias da Cruzeiro, assinado por “um grupo de jovens operários da Cruzeiro, aderentes ao 1° Congresso da Juventude”, s/d.
(79) Panfleto Ódio e repúdio aos assassinos de Décio Pinto de Oliveira, s/d, da FJCB, zona de Santos.
(80) Panfleto Não aceitamos limitações às Liberdades Populares!, s/d, Comitê Central da Federação da Juventude Comunista do Brasil.
(81) Boletim da FJCB editado pelo Comitê Central, número 01, de abril de 1935, texto de Mario, pp. 05.
(82) FONSECA, Victor Manuel M (1986) A Aliança Nacional Libertadora na Legalidade, Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de História da UFF, Niterói, mimeo., pp. 20-21. Apud VIANNA, Marly de Almeida Gomes (2007) 1935 – sonho e realidade, Expressão Popular, São Paulo, pp. 139.
(83) M. A reunião da Aliança Nacional Libertadora no Teatro João Caetano, In A Classe Operária de 10 de abril de 1935, pp. 06.
(84) “Informe do c. Marques no VI Congresso da IJC, ano 1935, pág. 5.
(85) DULLES, John W. Foster (1985) O Comunismo no Brasil, São Paulo, Ed. Nova Fronteira, pp 128-129.

 

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Fontes primárias
A) Jornais
A Classe Operária
O Jovem Proletário
Revista Princípios

B) Arquivos
Centro de Documentação e Memória da UNESP (CEDEM)
Arquivo Nacional
Arquivo Público do Estado de São Paulo
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Documentação e Memória (CDM) da Fundação Maurício Grabois


C) Documentos

Cartas e circulares:
1. de Luiz Perez à IJC, 8/08/1925.
2. de Leôncio ao secretariado de organização do KIM, Rio 7/12/1928.
3. ao SSAJ da IJC Rio 03/01/1930.
4. do delegado do CC da FJCB de fins de 1930.
5. de Casemiro aos militantes de19/09/1930.
6. de Leôncio aos militantes de 01/11/1929.
7. Circular sobre o 2º Plenum do CC da FJCB aos militantes de 25/10/1929.
8. Carta Pelo Comitê Regional de Pernambuco (assinatura ilegível) aos militantes de 07/01/1932.
9. Circular do Birô Político do CC da FJCB aos militantes de 10/08/1932.
10. de Leôncio ao “camarada Rus” de 01/11/1929.
11. de Manuel Karacik ao Comitê Executivo da IJC de 14/06/1928.
12. de Garcia (responsável pelo trabalho esportivo) e Leôncio (secretário-geral) à Seção Sul Americana da IJC, de 05/08/1929.

Relatórios, informes e tese:
1. Relatório dos trabalhos do 1º Congresso da Federação da Juventude Comunista do Brasil, realizado nos 5, 7 e 8 de janeiro de 1929.
2. Relatório Geral da Federação da Juventude Comunista do Brasil assinado por Leôncio, s/d.
3. Relatório do encarregado do serviço da J.C. na CCE (Comissão Central Executiva) do PCB, Luiz Perez, s/d.
4. Tese do Bureau Sul-Americano da Internacional Juvenil Comunista à Federação da Juventude Comunista do Brasil, novembro de 1931.
5. Informe da Federação Juvenil [sic] Comunista do Brasil apresentado pelo camarada Arnaldo do Secretariado da América do Sul e do Caribe do Comitê Executivo da IJC em 24 de março de 1933.]
6. Informe do c. Marques no 6º Congresso da IJC de 29/09/1935.
7. Informe sobre a Federação da Juventude Comunista e da Juventude Trabalhadora de 14/11/1934.
8. Relatório do Encarregado Esportivo da Juventude Comunista do Brasil s. d.
9. Relatório do CC da FJCB, Rio 5 de junho de 1935.


Boletins:
1. Boletim Interno da Federação da Juventude Comunista do Brasil, nº 2 - 2ª fase, de 1930.
2. Boletim Interno da Federação da Juventude Comunista do Brasil, nº 3 - 2ª fase, fev, de 1931.
3. Boletim Interno da Federação da Juventude Comunista do Brasil, abril de 1935.

Resoluções:
1. Resolução sobre o trabalho sindical juvenil, s.d.
2. Resolução do 2º Plano do CC da FJCB sobre a situação do país e a situação e tarefas da [Federação da] Juventude Comunista do Brasil, s.d.
3. Resolução sobre o trabalho entre meninos proletários, s.d.
4. Resolução sobre o trabalho esportivo, s/d.
5.  (2) Résolution sur l’Internationale Communiste et lê mouvement de la Jeunesse Communiste(juin 1921) http://www.marxists.org/francais/inter_com/1921/ic3_10.htm , acessado em 15 de outubro de 2013.


Panfletos:
1. Ódio e repudio aos assassinos de Décio Pinto de Oliveira, FJCB zona de Santos, s.d.
2. Libertemos a Rodolfo Ghioldi y Luis Carlos Prestes – Federación Juvenil Comunista (Argentina) s.d.
3. “Jovens do Brasil! À População do Rio!”, s/d.
4. “Aos jovens do Brasil”, s/d.
5. “Mocidade brasileira”, Distrito Federal, A Comissão [do 1º Congresso da Juventude] do Distrito Federal, s/d.
6. “A toda mocidade do Distrito Federal!”, Comissão Organizadora [do 1º Congresso da Juventude], s/d.
7. À Juventude Brasileira”, Comissão Organizadora do Congresso Nacional da Juventude Proletária, Estudantil e Popular, s/d.
8. “Mais impostos!”, CC da Federação da Juventude Comunista do Brasil, s/d.
9. “Tudo pelo 1º Congresso da Juventude Proletária, Estudantil e Popular da Bahia!”, Comissão Provisória de Organização do Congresso, Bahia, maio de 1935.
10. “1º Congresso da Juventude Proletária, Estudantil e Popular da Bahia”, Comissão Provisória de Organização do Congresso, Bahia, maio de 1935.
11. “A juventude do Brasil e a situação nacional”, por Ivan Pedro Martins, s/d.
12. “1º Congresso da Juventude do Brasil”, Comissão Organizadora, s/d.
13. “Aos estudantes mato-grossenses”, vários autores, s/d.
14. “Aos nossos companheiros jovens!”, Comissão Organizadora, s/d.
15. “Marinhos brasileiros”, Partido Comunista e Federação Juvenil Comunista [sic], s/d.
16. “Ao povo”, Aliança Nacional Libertadora, s/d.
17. “Convite”, vários autores, s/d.
18. “Jovens operários e operárias da Cruzeiro”, um grupo de jovens operários da Cruzeiro, s/d.
19. “Soldados e Marinheiros”, Comitê Regional do Rio da Federação da Juventude Comunista do Brasil, s/d.
20. “Não aceitamos limitação às liberdades populares!”, Comitê Central da Federação da Juventude Comunista do Brasil, s/d.
21. “Pela greve geral”, Comitê Central da Federação da Juventude Comunista do Brasil, Rio, outubro de 1934.
22. “Aos alunos das Escolas Técnicas Secundárias da prefeitura e aos jovens em geral!”, s/d.
23. “Paz e liberdade ao povo da Abissínia”, Bahia, s/d.
24. “Jovens populares”, Federação da Juventude Comunista do Brasil, s/d.
25. “Aos jovens proletários do bairro de Tamarineira”, um grupo de jovens de Tamarineira, s/d.
26. “Jovens operários, camponeses, soldados e marinheiros”, s/d.
27. “Militares presos”, um grupo de jovens estudantes, populares e soldados, s/d.
28. “Irmãos de classe, os trabalhadores contra o inimigo comum, os capitalistas!”, Comitê Central da Federação da Juventude Comunista do Brasil, s/d.
29. “A toda população juvenil trabalhadora” A todos os defensores das liberdades públicas!”, Comitê Regional de São Paulo da Federação da Juventude Comunista do Brasil, 6 de junho de 1935.
30. “Comemoremos”, Comitê Regional de São Paulo da Federação da Juventude Comunista do Brasil, s/d.
31. “Jovens operários e operárias da fábrica Jafet!”, Célula da Federação da Juventude Comunista do Brasil da fábrica Jafet, s/d.
32. “Jovens! Operários e camponeses, soldados e marinheiros!”, Comitê Central da Federação da Juventude Comunista do Brasil, s/d.
33. “Aos jovens trabalhadores da fábrica Torre de Tecido”, Célula da Federação da Juventude Comunista do Brasil da fábrica Torre de Tecido, s/d.
34. “Soldados e Marinheiros!”, Federação da Juventude Comunista do Brasil, s/d.
35. “Para onde vai o Brasil?”, Juventude Comunista do Brasil, s/d.
36. “Nem que seja à bala”, Comitê Central da Federação da Juventude Comunista do Brasil, s/d.

Nos jornais:
1. Jovem Proletário; Classe Operária, 17/04/1930, pág. 4.
2. Vida juvenil, “Sobre os esportes”, Classe Operária (SP), 03/1937, nº 200, pág. 2.
3. “A FJCB em face da situação política – suas tarefas”, Classe Operária (SP), 01/1937, nº 208, pág. 3.
4. “Pela unificação da juventude brasileira”, Classe Operária (SP), 10/1936, nº 201, pág. 3 e 7.
5. “A situação dos presos políticos”, Classe Operária (SP), 16/02/1937, nº 209.
6. “As finalidades e o trabalho de massa da FJCB” (pág. 2) e “Na fábrica de RICCO & Cia.”, Classe Operária (SP), 03/1938, nº 210.
7. Juventude Proletária, Classe Operária, 01/05/1928, nº 01, pág. 2.
8. Juventude Proletária, Classe Operária, 05/05/1928, nº 02, pág. 2.
9. Juventude Proletária, Classe Operária, 12/05/1928, nº 03, pág. 2.
10. Juventude Proletária (pág. 3) e O Congresso da ISV (pág. 4), Classe Operária, 05/1928, nº 04.
11. “A jornada mundial da juventude operária”, Classe Operária, 27/08/1930, nº 97, capa.
12. Vida juvenil, “O desaparecimento da FJCB e o problema da unidade da mocidade brasileira”, A Classe Operária (SP), nº 199 de fevereiro de 1937, por O.T.

Estatuto:
Estatutos do Centro de Jovens Proletários do Brasil, 1929.

Discurso:
Rezem e atirem (26 de março de 1912) http://www.marxists.org./portugues/liebknecht/1912/03/26.htm , acessado em 12 de outubro de 2013.

Fernando Garcia de Faria é historiador e Coordenador do Centro de Documentação e Memória (CDM) da Fundação Maurício Grabois