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Elegia

Os homens tombaram,
tombaram sem medo,
singelos,
heróicos,
severos e graves,
à luz do luar.
No rosto de espanto
brilhava a certeza,
o porte estendido,
calado, eloqüente,
vivia uma história,
mas não familiar.
A noite sangrenta
caiu demorada.
O sangue brotava
dos corpos, das almas,
da terra ofendida,
dos altos gemidos.
E os homens tombados,
singelos,
heróicos,
severos e graves,
na rua estendidos,
calados estavam,
mas não esquecidos.
Rosales e Kulman,
irmão Aristides,
e tu Abdias,
herói camponês
- de vida singela,
de sonho tão alto –
esperem confiantes
que a aurora desponte
no céu da manhã.
E tu, Livramento,
por quanto choraste?
Que mãos se crisparam
de dor e revolta?
Que vozes se ergueram
na noite passada?
O pranto desborda
e o sangue também.
As rosas vermelhas
se espalham no chão.
Os mortos, os mortos,
tenazes e fortes,
estão relembrando
que há outra alvorada.
No porte estendido,
calado, eloqüente,
os homens tombados,
severos e graves,
apontam caminhos,
desfraldam bandeiras,
nas ruas, nos campos,
nos rios e no mar.
Tombaram sem medo,
singelos,
heróicos,
severos e graves,
à luz do luar.

(Novos poemas, 1951)