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Mulheres do Araguaia

 
(Dinalva Oliveira)
                                                          Dinalva Oliveira

A guerrilheira Dina transformou-se um mito da Guerrilha do Araguaia, conhecida como uma mulher de coragem extremada, tornando-se uma lenda na memória do povo daquela região, que contava, teria escapado de uma emboscada dos militares virando borboleta. Dinalva Oliveira Teixeira nasceu no sertão baiano, em Argolim, município de Castro Alves, em 16 de maio de 1945. Dina começou a sua militância no movimento estudantil, participando do congresso da UNE em Ibiúna, que lhe valeu ser enquadrada na Lei de Segurança Nacional, em 1968.
Formada em Geologia pela UFBA, Dina casou-se em 1969, com Antonio Monteiro Teixeira, mudando-se com ele para o Rio de Janeiro, onde trabalharam no ministério das Minas e Energias. Seria ao lado do marido, que Dina partiria, em maio de 1970, para o Araguaia.
No Araguaia Dina conquistou os habitantes com o seu carisma, desempenhando o papel de professora e de parteira. Foi a única mulher no comando do Destacamento C das Guerrilheiras do Araguaia..
Dina cairia em junho de 1974, presa por uma patrulha do exército em Pau-Preto, localidade entre o rio Gameleira e o igarapé Saranzal, no sul do Pará. Estava ao lado da guerrilheira Luiza Augusta Garlipe, a Tuca, tida como desaparecida. Dina foi levada para Marabá, onde foi torturada durante duas semanas..
Em julho, Dina foi levada de helicóptero para um ponto da mata, próximo de Xambioá. Assim que pisou no solo, pressentindo que seria executada, Dina perguntou ao sargento do exército Joaquim Artur Lopes de Souza, codinome Ivan, chefe da equipe, “Vocês vão me matar agora?” , ao que Ivan respondeu: “Não, um pouco mais à frente”. Os dois caminharam lado a lado por uns quinze minutos. Quando pararam em uma clareira, Dina perguntou: “Vou morrer agora?”, ao que Ivan respondeu afirmativamente: “Vai, agora você vai ter que ir”. Sem demonstrar medo, Dina declarou: “Então, quero morrer de frente”, ao que Ivan retrucou: “Então vira pra cá”. Dina encarou o executor nos olhos, que lhe desferiu um tiro no peito, usando uma pistola calibre 45. A guerrilheira não morreu de imediato, sendo-lhe desferido um segundo tiro na cabeça. Enterraram-na ali mesmo, o corpo jamais foi encontrado.
Ivan gostava de contar aos companheiros de farda que o último olhar de Dina trazia uma honra que superava o medo. Segundo relatos, ele falou da guerrilheira como a mulher mais valente que conhecera. 


(Lúcia Maria de Souza)

                                             Lúcia Maria de Souza, a Sônia

Mulher de origem pobre, nasceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro, em 22 de junho de 1944. Passou por grandes dificuldades financeiras, conseguindo depois de muito custo, entrar para a faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Cursava o quarto ano, quando se deslocou para o Araguaia, indo viver próximo de Brejo Grande.
Conhecida por todos como Sônia, ela conquistou a simpatia dos habitantes do Araguaia, trabalhando como parteira. Era tida como uma mulher carinhosa e doce, muito querida pelos companheiros guerrilheiros. Dedicada à causa, superou muitos homens no trabalho físico que consistia derrubar a mata somente com o uso do facão, abrindo trincheiras.
Segundo depoimentos, Sônia teria sido presa na tarde de 24 de outubro de 1973, quando saiu do acampamento, ao lado de um morador da região. Escondeu as botas e foi descalça até um córrego. Quando retornou, não encontrou os calçados, deu de cara com uma patrulha de oito homens, chefiada pelo major Lício Augusto Maciel, codinome Doutor Asdrúbal. Ao receber voz de prisão, Sônia sacou um revólver, mas ferida com um tiro na coxa, desferido por Asdrúbal, deixa a arma cair. Sônia também caiu, enquanto o morador que a acompanhava fugiu. Asdrúbal aproximou-se da guerrilheira, que sangrava no chão, Achou-a bonita, mas, inesperadamente, ela sacou de outro revólver e atingiu-o com dois tiros, um no rosto e outro na mão. Deu um terceiro tiro e atingiu o capitão Sebastião de Moura, o Major Curió, no braço. Mesmo bastante ferida, ela tentou fugir, arrastando-se pelo capinzal, quando foi imobilizada pelos militares. Sônia ainda quis levantar a arma, mas um militar pisou em seu braço. Quando lhe foi perguntado qual era o seu nome, teria respondido:
“Guerrilheira não tem nome, seu filho da puta, tem causa. Guerrilheiro está em busca da liberdade e de um mundo melhor.”
O militar respondeu-lhe: “Nem nome, nem vida”, desferindo-lhe vários tiros de metralhadora. Sônia levou mais de 80 tiros. Seu corpo foi deixado na mata, sem sepultamento. Moradores alegam que viram o corpo definhar, restando-lhe, alguns meses depois, apenas o esqueleto e os cabelos. Jamais foi encontrado. 


(Telma Regina Cordeiro Correa)


                                           Telma Regina Cordeiro Correa
 
Conhecida como Lia, nascida no Rio de Janeiro, em 23 de julho de 1947, foi estudante de Geografia da Universidade Federal Fluminense, de onde foi excluída em 1968.
Em 1971 deslocou-se para a região do Araguaia, ao lado do marido Elmo Corrêa, indo morar às margens do Rio Gameleira. Telma destacar-se-ia no Destacamento B da Guerrilha. Teria sido presa no início de 1974, em São Geraldo, na casa do Sr. Macário, e, entregue ao engenheiro José Olimpio, que trabalhava para o exército. Passou a noite amarrada no barco de José Olímpio, desnutrida e faminta, sendo entregue no dia seguinte, às autoridades em Xambioá. Segundo dados de um relatório da Marinha, teria sido morta em janeiro de 1974. Desde esta época, é considerada desaparecida. Ainda não tinha 27 anos completos.




(Helenira Rezende)

                                           Helenira Rezende de Souza Nazareth
 
Nascida em Cerqueira César, São Paulo, em 19 de janeiro de 1944. Dona de uma beleza singela, atlética, foi jogadora de basquete na seleção da sua cidade, além de praticar salto à distância, modalidade que lhe deu várias medalhas no atletismo. Estudante da Faculdade de Filosofia da Rua Maria Antônia, em São Paulo, Helenira destacou-se no movimento estudantil, chegando a ser vice-presidente da UNE, em 1968. Após ser presa, Helenira foi solta sob hábeas corpus, dias antes do AI-5 ser editado. Na clandestinidade, partiu para o Araguaia. É considerada desaparecida desde 1972. Teria sucumbido em 29 de setembro de 1972, aos 28 anos, após ter sido metralhada nas pernas, torturada e morta por golpes de baioneta, sendo enterrada na localidade de Oito Barracas. Durante a guerrilha, após a sua morte, o Destacamento A das Forças Guerrilheiras, da qual ela fora integrante, passou a ser chamado por seus companheiros, de Destacamento Helenira Resende, em sua homenagem. Segundo relatos, antes de ser executada, ao ser atacada por dois soldados, matara um e feria o outro.


(Walquíria Afonso Costa)

                                                   Walquíria Afonso Costa


Pelas informações reunidas, Walquíria foi a mais duradoura entre todos os guerrilheiros mortos ou desaparecidos no Araguaia. Walk, como era chamada pela família, era mineira de Uberaba. Fez o primário em Patos de Minas (MG) e as duas primeiras séries do curso ginasial no Ginásio Rio Branco, em Bom Jesus de Itabapoana (RJ). Com a transferência da família para Pirapora (MG), terminou o ginasial no Colégio Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento. No período de 1963 a 1965, estudou no Colégio São João Batista, onde terminou o curso normal, passando a lecionar em alguns grupos escolares da cidade. Em 1966, prestou concurso público para o Estado e foi nomeada professora, transferindo-se, então, para Belo Horizonte. Walquíria prestou vestibular para Pedagogia na Faculdade de Artes e Educação, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), classificando-se em segundo lugar. Freqüentou os três primeiros anos do curso. Em 1968, participou, juntamente com outros colegas, da fundação do Diretório Acadêmico (DA) da Faculdade de Educação. Nesse período, as perseguições políticas começaram a se intensificar. Walquíria, vice-presidente do DA, foi procurada por agentes do Dops/MG e teve sua casa invadida sob a alegação de envolvimento em reuniões estudantis. Em 1971, já ligada ao PCdoB, decidiu mudar-se para a região do Araguaia, juntamente com seu marido, Idalísio Soares Aranha Filho, também membro do partido. Walquíria foi a última guerrilheira a ser morta na região do Araguaia.




Áurea passou a infância com sua família na fazenda da Lagoa, no município de Monte Belo, no sul de Minas Gerais, da qual seu pai era administrador. Entre os 6 e os 14 anos, estudou no Colégio Nossa Senhora das Graças, em Areado, concluindo ali o curso ginasial. Mudouse em 1964 para o Rio de Janeiro, onde cursou o segundo grau no Colégio Brasileiro, em São Cristóvão. Aos 17 anos, prestou vestibular para o Instituto de Física da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde pretendia se especializar em física nuclear. Entre 1967 e 1970, participou ativamente do movimento estudantil nessa faculdade, chegando a ser membro do Diretório Acadêmico, juntamente com Antônio de Pádua Costa e Arildo Valadão, ambos também militantes do PCdoB e desaparecidos no Araguaia. Áurea casou-se com Valadão em 6 de fevereiro de 1970, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, realizou a cerimônia religiosa na basílica de Aparecida do Norte, em São Paulo. No segundo semestre do mesmo ano, mudou-se com Arildo e Antônio de Pádua para o Araguaia. Com o marido, foi viver na região de Caianos. Ali trabalhou como professora, integrando o Destacamento C, comandado por Paulo Mendes Rodrigues. No início de 1974, após a morte de Arildo, foi vista no 23o Batalhão de Infantaria da Selva pelo preso Amaro Lins, ex-militante do PCdoB, que prestou depoimento sobre isso no 4o Cartório de Notas de Belém (PA). Amaro relata também que ouviu um policial dizer a Áurea que arrumasse suas coisas, pois iria “viajar”. Viajar era o termo utilizado por policiais para designar execução


(SUELY YUMIKO KANAYAMA ) 

                                                SUELY YUMIKO KANAYAMA

Primeira filha de um casal de imigrantes japoneses, Suely nasceu em Coronel Macedo, no interior paulista. Aos 4 anos de idade, mudou-se com sua família para Avaré. Em 1965, foi morar na capital paulista, residindo em Santo Amaro, onde concluiu o curso colegial, em 1967, na escola Alberto Levy. Em seguida, foi aprovada para a licenciatura em línguas portuguesa e germânica na Universidade de São Paulo (USP) – em 1968 e 1969, além do currículo regular, cursou japonês como matéria opcional –, onde foi liderança estudantil. Matriculou-se pela última vez em 1970. Em fins de 1971, já militante do PCdoB, chegou à região do Araguaia, onde ficou conhecida como Chica . Elio Gaspari menciona, em A ditadura escancarada, o depoimento de José Veloso de Andrade, da lanchonete da Bacaba, informando que viu Suely entre os sete presos que encontrou vivos no acampamento da localidade. Suely foi morta com rajadas de metralhadoras disparadas por diversos militares, que deixaram seu corpo irreconhecível. Morreu “aos 25 anos, dos quais 3 dedicados à guerrilha, em defesa da causa que acreditava justa – a liberdade”.



(MARIA LÚCIA PETIT DA SILVA)


                                                    MARIA LÚCIA PETIT DA SILVA


Maria Lúcia Petit da Silva e Bergson Gurjão Farias foram os únicos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia que tiveram, até agora, o direito de serem sepultados por suas famílias. Morta aos 22 anos de idade, Maria Lúcia foi sepultada pela família em Bauru (SP) em 16 de junho de 1996. Estava desaparecida desde 1972. Cursou o primário, o ginasial e os dois primeiros anos do curso normal em Duartina (SP), vindo a concluí-lo em São Paulo, no Instituto de Educação Fernão Dias, em 1968, quando participou do movimento estudantil secundarista. Em 1969, prestou concurso para o magistério. Foi professora primária na Vila Nova Cachoeirinha, na capital paulista. No início de 1970, tomou a decisão de desenvolver sua militância política no interior do Brasil. Integrada ao PCdoB, foi para Goiás e, em seguida, para o sul do Pará, fi xando-se na área de Caianos. Trabalhou na região ensinando crianças, às quais dedicava muito carinho, e também em atividades de plantio, conquistando simpatia entre os moradores das redondezas. Conforme depoimento de Regilena Carvalho Leão de Aquino, uma das poucas sobreviventes da guerrilha e companheira de Jaime Petit, irmão de Maria Lúcia, “nas primeiras horas do dia 16 de junho de 1972, a menos de 2 km da casa do ‘João Coioió’, Jaime [Jaime Petit da Silva], Daniel [Daniel Ribeiro Callado] e eu fomos acordados pelo disparo de um tiro ao longe e um outro tiro em seguida. Da mesma direção dos sons dos disparos, metralhadoras foram acionadas, quando o ruído distante de um helicóptero em movimento tornava-se próximo das imediações. Estávamos acampados na retaguarda, aguardando Maria [Maria Lúcia Petit da Silva], Cazuza [Miguel Pereira dos Santos] e Mundico [Rosalindo de Souza] para ajudá-los no transporte dos mantimentos encomendados ao ‘João Coioió’. Retiramo-nos imediatamente e, ao final da tarde, acampamos nas cabeceiras da chamada Grota da Cigana. Momentos mais tarde, enquanto preparávamos o jantar – milho maduro em água e sal, cozido em fogo brando – para esperar os três companheiros ausentes, surgiram Cazuza e Mundico, ensopados de suor e aflição. Perguntei pela Maria e a resposta do Cazuza foi direta e crua: ‘A reação a matou’



(JANA MORONI BARROSO) 

Cearense de uma conhecida família de Fortaleza, Jana cresceu em Petrópolis (RJ), onde praticou escotismo, primeiro como “lobinha” e depois como “bandeirante”. Concluiu naquela cidade o ensino médio e cursou até o quarto ano de Biologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se integrou à Juventude do PCdoB. Trabalhou, com outros companheiros, como responsável pela imprensa clandestina do partido. Em 21 de abril de 1971, foi deslocada para a localidade de Metade, região do Araguaia, onde exerceu a atividade de professora e ficou conhecida como Cristina, integrando o Destacamento A da guerrilha. Dedicou-se também a atividades de caça e ao plantio. Casou-se com Nelson Lima Piauhy Dourado. Ao se despedir dos pais, deixou-lhes uma carta em que explicava as razões de sua opção política e um exemplar do clássico de Gorki, A mãe, que narra uma sensível história de amor entre um militante socialista e sua mãe na Rússia czarista. Sua mãe, D. Cyrene, não poupou esforços à sua procura, indo várias vezes à região do Araguaia ou recorrendo aos órgãos governamentais à procura de informações sobre o seu paradeiro.
Segundo depoimentos colhidos por sua mãe, Jana foi presa e levada para Bacaba, localidade às margens da Transamazônica onde foi construído um centro de torturas das Forças Armadas. Segundo os moradores da região, aí também se encontra um cemitério clandestino. Estava quase nua e com muitas arranhaduras pelo corpo. Foi amarrada, colocada em um saco e içada por um helicóptero. Isto teria se dado nas proximidades de São Domingos do Araguaia.



(DINAELZA SANTANA COQUEIRO)

                                                        DINAELZA SANTANA COQUEIRO 

Baiana de Vitória da Conquista, Dinaelza estudou em Jequié (BA), no Instituto Educacional Régis Pacheco, onde organizou o grêmio dos alunos. Em 1969, foi para Salvador cursar Geografi a na Universidade Católica. Participou ativamente do movimento estudantil, sendo eleita para a Comissão Executiva do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Nessa época, casou-se com Vandick, aluno de Economia, também desaparecidono Araguaia. Em 1970, ela e o marido já integravam o comitê estudantil do PCdoB. Trabalhou na empresa aérea Sadia (primeiro nome da Transbrasil) até 1971, quando pediu demissão e foi deslocada para a região do Gameleira, no Araguaia, onde se tornou mais conhecida como Mariadina. No sul do Pará, integrou o Destacamento B da guerrilha. Dinaelza participou de vários enfrentamentos armados. Sinésio Martins Ribeiro, guia do Exército na época, afirmou , em depoimento prestado em São Geraldo do Araguaia, em 19 de julho de 2001, que “ficou sabendo por Pedro Galego e que a Mariadina(Dinaelza) foi presa no rumo da OP-1, dentro da mata; que quem prendeu ela foi o mateiro Manoel Gomes e entregou para o Exército; que segundo soube o depoente, ela foi levada para a casa do Arlindo Piauí para contar onde estavam os outros e outras informações; que ela não falou nada; que lhe contaram que ela era muito bruta, porque ela não respondia nenhuma das perguntas e também cuspiu nos doutores; que por isso mataram ela um pouco adiante da casa do Arlindo Piauí, dentro da mata [...]”


(LUIZA AUGUSTA GARLIPPE ) 

                                                LUIZA AUGUSTA GARLIPPE

Luiza nasceu em Araraquara, no interior paulista, onde estudou até completar o ensino médio no Instituto de Educação Bento de Abreu (Ieba). Mudou-se então para São Paulo, onde cursou Enfermagem na USP, formando-se em 1964. Em seguida, passou a trabalhar no Hospital das Clínicas, chegando ao posto de enfermeira-chefe do Departamento de Doenças Tropicais, área em que se especializou. Realizou viagens de estudo pelo interior do país, percorrendo estados como Amapá e Acre. Também participou da Associação dos Funcionários do Hospital das Clínicas. Atuante na militância política contra o regime militar, Luiza era integrante do PCdoB. No início dos anos 1970, ela foi deslocada para o Araguaia, indo viver na região do Rio Gameleira, onde passou a ser conhecida como Tuca e desenvolveu trabalho de atendimento em saúde, destacando-se como parteira. Companheira de Pedro Alexandrino de Oliveira, o Peri, integrava o Destacamento B da guerrilha, assumindo a coordenação do setor de saúde após a morte do médico guerrilheiro João Carlos Haas. Segundo informações de seu irmão, Armando Garlippe Júnior, a última vez que os familiares a viram foi no início dos anos 1970. “Posteriormente, fomos perdendo contato. Não sabíamos onde ela estava. Pensávamos que ela pudesse estar presa. Às vezes, chegavam informações desencontradas sobre o seu paradeiro. Alguns diziam que ela estava no exterior, outros falaram que ela se encontrava no Nordeste. Só muito tempo depois fomos saber sobre o Araguaia. Na verdade, naquela época, a comunicação era difícil. As forças da repressão nos vigiavam”. Sabe-se que sobreviveu ao ataque da manhã de Natal de 1973 e existem divergências a respeito da data de sua morte ou desaparecimento


(MARIA CÉLIA CORRÊA ) 

Nascida no Rio de Janeiro, Maria Célia era bancária e estudante de Ciências Sociais na Faculdade Nacional de Filosofia. Em 1971, como militante do PCdoB, foi viver na região do Araguaia, onde já se encontrava seu irmão, Elmo Corrêa, e sua cunhada, Telma Regina Cordeiro Corrêa, ambos também desaparecidos naquela guerrilha. Maria Célia pertenceu ao Destacamento A, sendo conhecida como Rosa. Era casada com João Carlos Campos Wisnesky, ex-estudante de Medicina na UFRJ, conhecido como Paulo Paquetá e que abandonou a guerrilha. Há discrepâncias entre as possíveis datas de sua morte ou desaparecimento, variando entre janeiro e meados de 1974. No livro de Taís Morais e Eumano Silva, Operação Araguaia, sua prisão é assim narrada: “Rosa, ou Rosinha, como a chamavam os camponeses, perdeu-se dos companheiros. Chega à casa de Manoelzinho das Duas – o sujeito vive com duas mulheres na mesma casa. Manoel tenta convencer a guerrilheira a se render. Muita gente está sofrendo por causa do conflito, argumenta o caboclo. ‘Prefiro morrer do que me entregar’, reage Rosinha. Diante da negativa, Manoelzinho agarra a militante, domina-a e entrega-a ao delegado de São Domingos, Geraldo da Coló. Muitos moradores do vilarejo viram Rosinha viva, muito magra e suja, dentro de um carro parado na frente da cadeia. Os militares levaram a guerrilheira para Bacaba”. O livro de Hugo Studart, A lei da selva, informa que o Dossiê Araguaia também registra a morte de Maria Célia como ocorrida em janeiro de 1974. E acrescenta: “Teria havido um debate entre os próprios militares sobre a necessidade ou não de executá-la, já que, argumentavam alguns oficiais, Rosa não oferecia perigo. A decisão final foi a de cumprir as ordens superiores de não fazer prisioneiros”. O processo traz ainda um recorte do jornal O Globo, do dia 2 de maio de 1996, em que Manoel Leal Lima declara que “um helicóptero aterrissou trazendo três prisioneiros – Antônio de Pádua, o Piauí, Luís René da Silva, o Duda, e Maria Célia Corrêa, a Rosinha. Um ofi cial ordenou que os presos, todos com os olhos vendados, saíssem do avião e andassem cinco passos em direção ao rio, com as mãos na cabeça. Em seguida, centenas de tiros foram disparados contra eles”. Em função desse depoimento, os familiares pediram a interdição do local descrito por Manoel Leal Lima para promover a busca dos restos mortais de Maria Célia

Fonte: Mortos e Desaparecidos Politicos
            Tortura Nunca Mais