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Ditadura é encenada por Cia do Latão

Descrito no programa como "espetáculo-estudo", por conta de uma extensa base em leituras, entrevistas e consultas documentais, o trabalho articula quatro histórias sobre campos culturais distintos: o teatro, o cinema, a música e a televisão.

Apresentados em sequência, os atos somam quatro horas. O principal norte da pesquisa foi o ensaio "Cultura e Política", de Roberto Schwarz, que analisa a produção cultural no período do regime militar brasileiro (1964-1985).

Embora Carvalho negue que a montagem se dedique estritamente à época, é de lá que vem boa parte do material de suporte. "A peça apenas visita os anos 60 para falar da produção atual e de sua relação com o sistema de trabalho vigente", diz.

Formalmente, o espetáculo faz "empréstimos", como se usasse uma roupa vintage. O primeiro ato, sobre uma camponesa que encontra obstáculos sociais e econômicos para poder enterrar seu marido, remete às montagens do Centro Popular de Cultura (o CPC da UNE), do qual o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho foi uma das figuras centrais.

No segundo ato, é o cinema de Glauber Rocha que estabelece o recorte, com a história de um banqueiro acometido por uma breve influência socialista.

Suas falas pescam frases ou ideias de poderosos da época. O fundador das Organizações Globo, Roberto Marinho (1904-2003), por exemplo, é referido no momento em que o empresário acredita ser, num possível esquema de perseguição à elite, "o segundo da lista". A fonte é a biografia de Marinho escrita pelo jornalista Pedro Bial.

O olhar irônico proposto por Carvalho evita que a abordagem de temas sociais reproduza o peso e a dramaticidade típicos dos anos 60.

O último ato, sobre a TV, "beira o grotesco", ele diz. Ainda ali há frases que partem de documentos. "Você tem que exagerar a dor que sofre. Em parte será verdade, em parte, fingimento." Esse é um trecho baseado em algo que o dramaturgo Augusto Boal (1931-2009) ouviu na cadeia, conforme seu relato no livro "Milagre no Brasil".

Deslocada de seu contexto original, na boca de uma atriz de TV pressionada por um sistema estúpido de produção, a frase tateia uma outra opressão, menos perceptível do que a violência de uma ditadura, mas que ainda, possivelmente, paira sobre nossas cabeças.

ÓPERA DOS VIVOS
QUANDO sáb. e dom., às 19h; até 13/3; haverá apresentação na terça, dia 25/1
ONDE Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 1.000, tel. 0/xx/11/ 2076-9700)
QUANTO R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

Fonte: Folha.com