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Vital Nolasco, o militante imprescindível

Terminadas as comemorações juninas de São Pedro, em que multidões se reúnem em torno de fogueiras para se aquecer do frio com festa, a Fundação Maurício Grabois e a Editoria Anita Garibaldi reuniram uma pequena e calorosa multidão em torno de uma chama para se aquecer: o livro Vital Nolasco – Vale a Pena Lutar. Foi com essa imagem poética que o secretário-geral da Fundação, Adalberto Monteiro, abriu a noite em que ele considera que “nasce um livro novo”. “Um livro novo representa esperança, promessa de conhecimento, sabedoria e ensinamentos”,

Monteiro lembrou que o livro de memórias do militante comunista e dirigente partidário Vital Nolasco teve o apoio cultural de sindicatos operários, como o Sindicato dos Trabalhadores e Operários de Betim, dos Metalúrgicos de Caxias do Sul (RS), do Sintaema e da CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). “Entidades que entenderam o valor de dar visibilidade às lideranças operárias que têm um legado importante na trajetória da construção desse país”, afirmou.

Luta incessante

O presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo, definiu a importância desse trabalho editorial. “O livro vinca uma trajetória de simplicidade e luta, numa narrativa que combina o histórico e o épico de um militante abnegado e desprendido. É uma ode à militância de toda uma vida, de desprendimento por uma grande causa, de uma nova sociedade socialista e comunista. O registro de um exemplo vivo para todos nós, para a juventude e para o futuro”.

Para Rabelo, Vital é um “militante imprescindível”, que lutou durante toda a sua vida e continua lutando. “Sua militância não cessa, é sempre entusiasmado e cheio de paixão, mesmo nessa situação singular de retrocesso que vivemos. E o Vital é sempre esse homem alegre, sempre risonho, cheio de paixão pela luta.”

Rabelo considera que a Fundação tem se dedicado de forma profícua a resgatar a memória do Partido Comunista do Brasil, “essa força de vanguarda combativa e de esquerda no país”. “Nosso partido passou por períodos, na maior parte de sua trajetória, de semiclandestinidade, de clandestinidade e, muitas vezes, teve até que se fingir de morto. Portanto, muitos dos documentos do nosso partido foram queimados, abandonados, para que a gente pudesse fugir da sanha da repressão”, lamenta ele.

Portanto, considera ele, o Centro de Documentação e Memória é um dos orgulhos da Fundação, que já tem um acervo extraordinário para um partido que caminha para o centenário de sua existência. “Isso não é qualquer coisa, mas uma tarefa primordial, da mais alta importância para as forças do avanço progressista do país”.

Por isso, segundo ele, a edição de livros como esse do Vital Nolasco, faz parte também de resgatar essa memória, porque ela é projetada na ideologia, na política e na trajetória do partido. “Isso é um cimento importante que dá força ao nosso partido”.

Rabelo destacou o trabalho que o jornalista Osvaldo Bertolino tem feito no sentido de retratar a biografia e o perfil desses dirigentes, o que ele considera “uma contribuição inestimável”. Bertolino reuniu os relatos e a pesquisa para dar forma editorial às memórias de Vital Nolasco.

Rabelo resume Vital como “um destacado militante operário, e um dirigente comunista exemplar”. Como destacado militante operário começou sua atuação na Ação Católica e depois da Ação Popular, organização política que teve papel destacado no pré-golpe e depois na ditadura militar. Muitos desses militantes da Ação Católica, avançando na compreensão da luta do povo, foram bater na Ação Popular e depois se integraram ao Partido Comunista do Brasil, pela conjuntura difícil que o país exigia.

Rabelo citou o prefácio de Nivaldo Santana, que diz que Vital é pau-pra-toda-obra”. “O tipo de militante que joga em várias posições, e muitas vezes, bate o corner e sai correndo pra cabecear e fazer o gol. Vital é desses: líder sindical, líder parlamentar, e sobretudo um grande líder partidário. Ele lembrou que na Secretaria de Finanças, Vital foi responsável pela campanha que comprou a sede própria do partido.

“Vital é da geração dos lutadores que nós temos orgulho. Muitos nem sabiam o que tinham pela frente, qual a dimensão do inimigo, mas iam. Nos tínhamos que transformar o Brasil num grande país, solidário, com bem-estar para o seu povo”, afirmou.

O mundo de Vital

Bertolino não esquece a honra que sentiu ao receber o convite para biografar Vital, em 2 de abril de 2014, num ato que lembrou a passagem dos 50 anos do golpe militar, no teatro Tuca, da PUC de São Paulo. “Tenho imensa admiração pelos que lutaram contra o regime de 1964. Entendo que o conhecimento dessa história é parte fundamental da nossa formação moral, política e ideológica, que transcende à militância comunista, por ser, além da vida e das atividades do biografado, um pouco da história do Brasil”.

Ele antecipa que o livro acompanha os acontecimentos das greves de Contagem em 1968, passo a passo, mostrando a bravura daqueles operários, especialmente das lideranças. Era um tempo em que a ditadura prendia, matava e mutilava. E os jovens lutadores daquela época não se intimidavam com isso, sem preocupar com as consequências de seus atos.

“Gostaria imensamente de ter tempo e recursos para fazer mais registros históricos como esse, porque temos um manancial gigantesco para ser explorado”, diz o escritor. Ele se refere ao acervo histórico de Ação Popular e do PCdoB, organizações citadas no livro. “A palavra heroísmo pode estar desgastada, mas nenhuma outra descreve tão bem as ações desses homens e mulheres que enfrentaram adversidades tão complexas com a única certeza de que estavam fazendo um bem coletivo”, define ele.

Bertolino destacou as importantes contribuições de Vital, também, com artigos e debates. “Só a convicção sobre um ideal tão nobre, como é a causa socialista, poderia produzir essa capacidade de compreensão e elaboração teórica. No caso concreto, ele teve a preocupação de fazer, além do registro no calor dos acontecimentos, derivações políticas e ideológicas dos acontecimentos nos quais participou. Relendo seus artigos, suas entrevistas e suas declarações a gente tem uma compreensão melhor daqueles acontecimentos”.

Mesmo nos tempos de dura clandestinidade, diz Bertolino, Vital dava um jeito de convencer seus companheiros sobre a importância de um jornal ou boletim como instrumento de formação e mobilização dos trabalhadores. Foi assim que muitos trabalhadores leram “O martelo”, “A marreta” e “O companheiro”, títulos das publicações que ele ajudou a pensar, a fazer e a distribuir.

Bertolino diz que a obra se viabilizou, pois houve um planejamento seguido à risca com entusiasmo por Vital. “Em pouco tempo estávamos com a obra pronta”.

Bertolino disse ainda que contar a história de Vital é contar um pouco da vida do PCdoB, da AP, da JOC, da JUC, dos operários de Belo Horizonte, de Contagem e de São Paulo, de religiosos progressistas, da sua esposa Ester, dos seus filhos Patrícia, Daniel e Iara, dos seus irmãos, dos seus pais, dos seus avós. “Do seu mundo, numa palavra”.

Todos os fronts e trincheiras

O secretário sindical, Nivaldo Santana, se considerou um “privilegiado” por ser convidado a escrever o prefácio e ler antes de todo mundo o livro. “Fiquei muito feliz por rememorar a trajetória do Vital, que conheço há uns 30 anos na região de Campo Limpo, quando ele era militante da oposição metalúrgica, do movimento popular da zona sul, dirigente do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, foi vereador na capital, coordenador político do PCdoB na cidade de São Paulo, membro do Comitê Central e atuou em múltiplas tarefas”.

Na opinião dele, o livro faz um resgate importante e serve de exemplo para a militância comunista que tem que atuar em todos os fronts e trincheiras de luta. O PCdoB consagrou, segundo Santana, o ensinamento nesse processo de resistência e acumulação de forças de que é importante a luta política de massas, a luta institucional, no parlamento e a luta de ideias”. “Se a gente fizer o percurso na trajetória política do vital, vamos perceber que em cada uma dessas trincheiras ele deu uma valorosa contribuição”.

“Eu recomendo a todos a leitura e estudo atento do livro porque é fundamental já que a historiografia oficial só gosta de celebrar os potentados econômicos e as figuras pertencentes à elite, enquanto a Fundação e a Editora faz esse empenho importante em romper essas barreiras em homenagear um grande filho do povo”, declarou o sindicalista.

Conquistas que se constrói

Uma das personagens presentes na luta de Vital Nolasco é sua camarada Ana Martins, que lembra de quando tudo começou. “Foi em 1968, quando tivemos a greve de Osasco e Betim, e quando começamos a fazer a ligação da luta da classe operária”, diz ela, seguindo para os anos 1970, quando tiveram sua atuação no Sindicato dos Metalúrgicos.

“Tempo de reuniões clandestinas, quando nos reuníamos no bar e no ponto de ônibus. Tinha também as atividades que a Pastoral desenvolvia. O movimento da carestia unia o trabalho de fábrica com o trabalho de bairro”, conta ela, lembrando as inúmeras lideranças que viu atuar, entre 1974 e 1976, quando já era possível debater com os colegas dentro das fábricas.

“Hoje, temos uma Central de Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil, fruto de toda essa história que vem sendo construída. Ela não existe por acaso, do nada, mas a partir dessa luta desde a ditadura fortalecendo a classe operária, a atuação do sindicato e a ligação da luta com os movimentos populares, luta da carestia, da creche, quando surgiram as primeiras creches de São Paulo”, afirma Ana.

Uma tarefa muito pessoal

Vital Nolasco foi econômico ao falar do livro, considerando esta mais uma tarefa para a construção do Partido. Parecia estar mais orgulhoso de poder levar para a mesa dois dos seus pequenos netos, que compareceram para prestigiar o avó Vital. Afinal, depois de um livro que relata tantas ameaças e violência contra sua vida, é natural que ele esteja celebrando sua existência como testemunha da nova geração. Também disse que não ia falar muito do livro para que as pessoas comprassem e ajudassem o projeto.

Ele revela que, alguns camaradas vieram tentar convencê-lo a escrever o livro, mas ele resistia por considerar um tipo de promoção pessoal inadequada. “Mas, aí, o Fabio Tokarski [Membro do Comitê Central] me chamou pra uma conversa e disse que isto não era um problema meu, um negócio particular meu, mas um problema do Partido, para ajudar na continuidade da luta que eu travei”. Foi assim que ele se convenceu a se juntar a Osvaldo Bertolino na empreitada. Vital também considera o livro fruto de um trabalho coletivo. Agradeceu cada uma das pessoas que participou de algum forma da edição.

Ele citou a entrevista concedida instantes atrás, quando lhe perguntaram porque vale a pena lutar. “Porque a vida do nosso povo, dos trabalhadores, é uma luta, pela sobrevivência, por salários, por vida melhor e a compreensão da necessidade da luta por uma transformação social”, respondeu ele.

O semblante de Vital se entristece quando fala da barbárie que ameaça a humanidade, nos tempos atuais, com atentados terroristas e refugiados de guerra. “Estamos diante de grandes batalhas. Essa luta contra esse golpe que nós estamos resistindo”, disse. Mas logo se recompôs e aproveitou a oportunidade pra fazer um apelo para eleger camaradas para a Câmara de Vereadores, nas eleições municipais de outubro.