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Revelações de Diógenes Arruda Câmara: Infância e Militância na Bahia (2)

Diógenes Alves de Arruda Câmara, nasceu em 1914 no Recife, Pernambuco, Brasil. Ingressou no Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil, em 1934, e ligou-se ao comitê da Bahia, para onde se transferiu, como funcionário do Ministério do Trabalho. Foi editor da revista Problemas. Durante o Estado Novo, viveu, por três anos, na Argentina, onde se articulou com vários comunistas. Serviu de elemento de ligação entre grupos dissidentes do PCB, que terminaram se aglutinando em torno de Luis Carlos Prestes. Em 1943 passa a fazer parte do Comitê Central do PCB. Em 1947 foi eleito Deputado Federal por São Paulo na legenda do Partido Social Progressista (PSP), escapando, assim, da cassação de mandatos que se seguiria, com o cancelamento do registro do PCB. Com as mudanças ocorridas no PCB, recriou, junto com outros militantes, o Partido Comunista do Brasil, sob a nova sigla PC do B, tornando-se um dos dirigentes. Em 1968 foi preso e torturado pela Ditadura Militar que se instalara no Brasil em 1964. Foi solto em 1972 e exilou-se na França. Retornou ao Brasil em outubro de 1979, após a anistia política e faleceu logo em seguida, em novembro do mesmo ano.

Iza – Você pode falar de sua atividade política, quando você começou a militar no Partido Comunista? Você pode começar falando da sua infância, para depois chegar lá na sua opção política... Você é de onde?

Arruda – Eu sou sertanejo, pernambucano. Nasci num sítio chamado Coruja, no município de Afogados. No Vale do Pajeú.

Iza – Família grande... Você tinha quantos irmãos?

Arruda – Eu era o irmão mais velho e tinha duas irmãs. Posteriormente nasceu um irmão. Mamãe morreu dele, meu pai casou a segunda vez e tenho mais duas irmãs e dois irmãos. E tem uma menina também que nasceu lá em casa e foi criada por uma irmã. Então somos cinco mulheres e quatro homens.

Iza – Seu pai era o quê?

Arruda – Meu pai era uma pessoa muito pobre. Trabalhava, fazia de tudo no interior de Pernambuco. Só vim a conhecer Recife em 1930. Aí, assisti ao movimento de 30 (a revolução, que levou Getúlio Vargas ao poder), participei de um movimento revolucionário de sargentos e cabos que se verificou em fins de 1931 em Recife. Eu tinha um primo estudante de medicina e que me iniciou no comunismo. Me recordo os primeiros livros que li sobre o comunismo. O primeiro foi um livro chamado A Educação Sexual na União Soviética (risos). O outro foi sobre a história das lutas sociais, que era de um escritor inglês chamado (ininteligível). Um outro de um engenheiro brasileiro na Rússia. . . Não me recordo o autor.

Bem, então eu fiquei, muito jovem, por volta de 1932, simpatizante do Partido, através desse primo meu. Posteriormente, em dezembro de 1934, ingressei no Partido. Eu entrei no Partido influenciado por vários fatores. Primeiro, por lutas que vinham se verificando no Brasil. Era a greve geral dos marítimos, a greve geral dos bancários, a greve geral dos funcionários dos correios e telégrafos, um movimento contra a guerra e o fascismo. E me influenciou muito a campanha que houve no Brasil contra a invasão da Itália na Abissínia. Fiquei profundamente impressionado e, nesse tempo, eu trabalhava no comércio e estudava. Era um estudante pobre. Posteriormente, me transferi para a Bahia. Ali também trabalhava e estudava.

Iza – Quanto tempo você ficou na Bahia, que é a sua segunda terra, como você costuma dizer?

Arruda – De fato, eu considero a Bahia a minha segunda terra. Ali eu cheguei muito jovem, com 19 anos de idade, e fiquei de dezembro 1934 a princípio de 1941. Participei ativamente do movimento sindical e também participei relativamente do movimento estudantil. Mas me interessava naquele tempo participar do movimento sindical. Muito jovem, ocupei postos de direção do Partido na Bahia. Com 22 anos de idade eu era o primeiro-secretário do Comitê Regional e fiquei nessa função até quando saí da Bahia, no início de 1941, depois dessa prisão de que falei.

Iza – Eu queria que você falasse se era muito difícil a militância nessa época. Parece que era uma época de muito movimento e a guerra, como você dizia, mobilizava muita gente. Havia também a Coluna Prestes, que vai servir de catalizador para uma movimentação grande. Eu queria saber como era o militante daquela época.

Arruda – De fato, a "Coluna Invicta", e eu era muito jovem, uma criança, 12, 10 ou 11 anos de idade... Meu pai se entusiasmou muito pela Coluna. Ela passou muito perto de onde nós morávamos. E aquilo impressionou muito os sertanejos.