Em palestra realizada na manhã da quinta-feira (10), no âmbito do ciclo “Conversando com Princípios” promovido pela Fundação Maurício Grabois, Frederico Mazzucchelli, professor livre docente do Instituto de Economia da Unicamp e ex-secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, disse que o mundo vive um momento de forte inflexão. Para ele, a dimensão da atual crise econômica global ainda é incalculável.
Em palestra realizada na manhã da quinta-feira (10), no âmbito do ciclo “Conversando com Princípios” promovido pela Fundação Maurício Grabois, Frederico Mazzucchelli, professor livre docente do Instituto de Economia da Unicamp e ex-secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, disse que o mundo vive um momento de forte inflexão. Para ele, a dimensão da atual crise econômica global ainda é incalculável.

Mazzucchelli iniciou sua intervenção elogiando o Projeto de Resolução Política do 12º Congresso do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) que indica a saída política como caminho para superar a crise. Segundo o professor, o capitalismo tem por natureza a repetição de seus percalços, fazendo um paralelo da situação atual com a Grande Depressão iniciada em 1929. Mazzucchelli disse que jamais houve, após a Segunda Guerra Mundial, um período tão dramático para a economia global como o de hoje. Ele apontou como a face mais cruel da crise o desemprego, que se aproxima da casa dos dois dígitos em âmbito mundial.

Para Mazzucchelli, na crise iniciada em 1929 o desemprego foi o elemento mais perverso dos seus efeitos. O professor lembrou que a Grande Depressão foi o principal fator responsável pela chegada do ditador nazista Adolf Hitler ao poder na Alemanha — país então duramente castigado pelo desemprego. Ele explicou que, na polarização direita-esquerda, os conservadores preferiram apoiar o nazismo. Para Mazzucchelli, a direita esperava tutelar Hitler e acabou tutelada por ele.

Mundo das finanças

O professor traçou um panorama carregado de contradições para os desdobramentos da crise. Segundo ele, o mundo ingressou em uma fase de transição no plano político, decorrente da crise — mas enfatizou que ainda não é possível apontar qual rumo será tomado. Para Mazzucchelli, a crise é uma obra aberta que pode levar o mundo para qualquer lado. Ainda não se sabe, disse, a sua extensão e duração. A única constatação possível, enfatizou, é que ela é profunda.

Com base nessa visão, Mazzucchelli disse que a hegemonia dos Estados Unidos, conquistada principalmente após a queda do bloco soviético, está avariada. Para ele, não há como o mundo ser o mesmo daqui para frente. Sua afirmação parte da constatação de que atualmente há uma concentração de contradições resultantes do impasse iniciado em 1973. Até aquele ano, explicou, desde o final da Segunda Guerra Mundial, o capitalismo vivieu seus anos gloriosos.

Dali em diante, o mundo das finanças determinou o ritmo do capitalismo. Mazzucchelli disse que desde então o setor financeiro ganhou impulso e passou a agir desregradamente, causando déficits monumentais — sobretudo nos Estados Unidos — e a crise atual. A pretensão à univocidade dos norte-americanos após o fim do bloco soviético, assentada no ideário neoliberal, segundo o professor, ruiu e a profundidade da crise expressa a imposição de uma redefinição da ordem mundial.

Papel do Estado

A crise de hegemonia, segundo Mazzucchelli, pode levar ao nascimento de uma ordem multipolar. Não que os Estados Unidos deixaram de serem fortes, disse, mas sua hegemonia massacrante está em questão. Emergem com força, destacou, pólos como a China, a Europa e os chamados emergentes.

Mazzucchelli também ressaltou o papel do Estado, apontado pelo documento do Congresso do PCdoB como decisivo, como uma questão fundamental. Para ele, está mais do que provado que o capitalismo precisa da mão do Estado para sobreviver. E citou o New Deal, utilizado pelos Estados Unidos para enfrentar a Grande Depressão de 1929, e mesmo o nazismo na Alemanha como exemplos da presença estatal na solução dos impasses do capitalismo.

Compreensão

Mas fez a ressalva que o Estado precisa agir para combater a farra financeira e prover recursos às atividades produtivas. Para ele, o Brasil foi um exemplo de bom uso do Estado ao fazer os bancos públicos tomarem a dianteira a fim de suavizar o impacto da crise. Mazzucchelli disse ainda que a mídia procura esconder esse aspecto porque joga “contra o patrimônio”, faz gol contra. E encerrou sua intervenção indicando que, com a desmoralização das idéias liberais-xiitas, as condições estão dadas para o nascimento de um mundo melhor, mais progressista.

Para Sérgio Barroso, diretor de Estudos e Pesquisa da Fundação Maurício Grabois, a intervenção de Mazzucchelli foi uma grande contribuição para o avaço da compreensão da natureza da crise atual. Ele lembra que essa é a terceira atividade da série “Conversando com Princípios”. “Esse ciclo de palestra cumpre papel destacado na elaboração de um pensamento progressista para o Brasil”, diz ele. "É uma iniciativa que vem trazendo importantes contribuições de estudiosos dos problemas econômicos para a nossa compreensão do país e do mundo contemporâneos”, finaliza.