Um dos parâmetros, entre tantos outros, é o das representações parlamentares. Quanta ausência de embasamento cultural, quanta improbidade, o dinheiro tem alçado ao topo da política e da administração, tanto em nível nacional, quanto nos âmbitos estaduais e municipais.

O fato Fernando Collor na Presidência da República, o fato Inocêncio de Oliveira na presidência da Câmara Federal, o fato Eduardo Cunha também nesse cargo, o fato Renan Calheiros na presidência do Senado, dezenas de fatos nos governos estaduais, centenas no Congresso Nacional e nas Casas Legislativas dos Estados e dos Municípios, constituem desoladoras afirmações do baixíssimo nível que caracteriza a política brasileira nas últimas décadas.

Na semana próxima passada tive gratíssima surpresa. Nada sabia eu a respeito do atual governador do Maranhão, Flávio Dino. Uma entrevista por ele concedida ao programa Diálogos, apresentado por Mário Sérgio Conti às quintas-feiras na Globo News proporcionou-me a oportunidade de ouvi-lo durante mais ou menos uma hora. Confesso que foi a mais grata surpresa em que um político brasileiro poderia se constituir para mim a esta altura do panorama e das História nacionais. Relativamente moço ainda – 47 anos – eleito por uma coligação de pequenos partidos, Flávio Dino é, talvez, em matéria de cultura humanística, de cultura jurídica e mesmo de cultura geral a maior expressão da vida pública brasileira na atualidade.

Na década de 1990 ele se viu galardoado com o primeiro lugar em concurso para a Magistratura Federal. Não sei quando ingressou nas lides políticas. Mas é de todos sabido que nas últimas eleições estaduais maranhenses derrotou espetacularmente a oligarquia Sarney e outras forças representativas da política provinciana em seu pior sentido. À frente do Executivo do Maranhão, apesar da notória pequena arrecadação estadual, vem empreendendo uma ação profundamente inovadora, com auspiciosos resultados nas áreas de saúde, educação, transportes e da político-social. O governador tem a dignidade de confessar a grande ajuda recebida do BNDES.

Impressiona a fluência verbal desse governador. Com sinceridade digo que ele se me afigura a maior expressão intelectual não somente dentre os governadores de Estado mas de toda a política nacional. A propriedade de suas expressões, a construção natural das suas frases, o poder de convencimento das suas formulações, a riqueza vocabular – sem, no entanto, o mínimo matiz de pernosticismo – fazem de Flávio Dino político símbolo das esperanças da valorização qualitativa dos nossos quadros políticos.

Aspecto interessante é que a sua eleição para a chefia de um Executivo Estadual demonstra que o nosso eleitorado não está nem aí – usemos uma expressão popular – para as siglas partidárias, vale dizer para os atuais partidos. A sigla principal da coligação pela qual Flávio se elegeu governador – vejam só – é a do PCdoB. Evidentemente o eleitorado maranhense se impressionou com a extrema qualidade das propostas do candidato. Com a sua singular capacidade verbal e com a sinceridade das suas colocações. Naturalmente deve também ter atuado entre as causas do seu triunfo a rejeição ao candidato da família Sarney, eis que o mando absoluto dela no Maranhão começou já no primeiro lustro da década de 1960 e conseguiu, graças à cobertura de magistrados facciosos e de retrógrados elementos de cúpulas partidárias federais, tirar do governo o único adversário vencedor nas últimas seis décadas.

Faço muita fé em Flávio Dino e torço para que outros valores da sua estirpe moral e intelectual venham a ocupar lugar de relevo na política nacional.

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Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista.

Fonte: Diário da Manhã