Há mais de 40 anos, vários negros e negras gaúchos, liderados pelo poeta Oliveira Silveira se atreveram a desafiar, em plena ditadura, a historiografia oficial resgatando a resistência histórica do líder Zumbi dos Palmares.

Na década de 1970, em pleno regime militar, enaltecer um herói negro que lutava por liberdade quando o Brasil vendia imagem de paraíso racial usando como exemplo o rei Pelé, foi mais que uma ousadia: deu início a um basta no “13 de Maio”, até então comemorado como sendo o dia da “libertação dos escravos”.

De lá para cá, a data que era comemorada apenas por ativistas da causa negra ganhou as ruas, as casas e escolas, e Zumbi virou símbolo de resistência negra não só no Brasil, mas nas Américas.

A fabulosa história princesa Isabel libertadora dos escravizados no Brasil começa a ser substituída por um herói de verdade, que doou sua vida para libertar seu povo.

Hoje feriado ou mesmo ponto facultativo em mais de 1000 municípios brasileiros, o 20 de Novembro, “Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil”, ainda encontra resistência para se manter ou ser ampliado, principalmente pela tensão do setor do comércio, que alega sofrer prejuízos com este feriado e, quando não boicota, tenta derrubá-lo com medidas cautelares.

Parte deste setor alega “prejuízo” e desdenham não somente do herói da Pátria, Zumbi, mas também da população negra, que após quase 400 anos de trabalho em condição de escravizados, construiu as bases sociais e a riqueza deste país de graça.

Para este setor, esta mesma população não tem mérito para ter, através de um “reconhecimento oficial” que produz impactos simbólicos positivos para o Brasil como um todo, um único dia de feriado a um herói da cor de da Raça de mais da metade da população.

De qual prejuízo estes segmentos com poder político e econômico se referem? Que prejuízo econômico paga o prejuízo ético e moral do escravismo criminoso e a ausência de políticas de reparação do Estado brasileiro ainda nos dias atuais?

* Jornalista, escritor e cartunista Atualmente ocupa o cargo de secretario adjunto da secretaria da promoção da igualdade Racial da cidade de São Paulo.