Na Europa durante a Grande Depressão, a produção industrial caiu muito de uma vez só, durante cerca de dois anos. Mas depois melhorou de forma contínua. Na nossa crise de agora, o início foi ainda pior. Como o gráfico mostra, a produção industrial caiu de um penhasco abaixo no primeiro ano da crise, a seguir ao quase-colapso financeiro de setembro de 2008. Mas as coisas melhoraram muito a seguir, e bem mais cedo do que na Grande Depressão. Não por acaso, foi na fase em que os governos da União Europeia enveredaram por políticas “keynesianas”, ou seja, quando se iniciaram grandes programas de investimento público para compensar a contração económica.

A partir de 2011, porém, a recuperação parou. Os países mais fracos bateram na parede dos juros dívida e não puderam gastar mais. Os países mais fortes não deixaram que a União prolongasse as políticas keynesianas nos países onde elas tiveram de ser interrompidas. E a recuperação parou.

A partir daí a linha torna-se menos clara: pequenas subidas, pequenas descidas, uma tendência geral recessiva, mas nenhum sinal de retoma. E agora passamos a estar pior do que estava a Europa no mesmo momento da Grande Depressão, ou seja, cinco anos depois do início da crise.

A continuar assim, a nossa será a Longa Depressão. Não tão má quanto a dos anos 30 no sentido em que não se desceu tão baixo. Pior do que a Grande Depressão porque nos arriscamos a ficar nela muito mais tempo.

As consequências disto são importantíssimas, do ponto de vista económico e social, é claro, mas também do ponto de vista político, em Portugal e na Europa. Significa que nos podemos manter prolongadamente nos limites do tolerável. Significa também que não há nenhum ponto de viragem à vista.

Talvez as redes de proteção social de que a Europa se dotou na segunda metade do século XX nos ajudem a prevenir o pior. Mas a Longa Depressão ainda se arrisca a trocar as voltas a toda a gente. Todas as previsões falham no curto prazo. Nem o euro colapsa, nem a Europa se reforma. Continuamos apenas numa longa agonia.

A política terá de se adaptar a esta realidade, substituindo o taticismo por uma estratégia consistente de construção de uma maioria social progressista, em Portugal e na Europa, capaz de sustentar as mudanças que finalmente ponham a União no caminho certo para sair da Longa Depressão.

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Fonte: Público