Brasília – O governo Dilma aguarda para até o final desta semana a chegada da comissão de bolivianos que promete apresentar documentos que comprovariam o envolvimento do senador Roger Pinto Molina em crimes de corrupção na Bolívia. Enquanto isso, a oposição apela para conseguir mantê-lo no país e, assim, transformá-lo em seu principal trunfo para criticar as boas relações do Brasil com o governo socialista de Evo Morales.

Frustrados com a ausência do senador Roger Pinto Molina na audiência pública convocada pela Câmara, nesta terça (3), parlamentares de oposição chegaram a acusar o governo brasileiro de ameaçar o senador de extradição, caso ele falasse ao parlamento. Nenhuma prova ou indício foi apresentado.

“Não tenho dúvida que ele sofreu sérias pressões”, advogou o presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), acrescentando que o senador pode ajudar o país a entender melhor a dinâmica do tráfico internacional de drogas que vitima muitos jovens brasileiros.

Pinto Molina chegou a confirmar sua participação na audiência pública promovida pela Câmara. Entretanto, 40 minutos após o horário marcado para início da sessão, seu advogado pediu para ler uma nota na qual atribuía o não comparecimento do cliente a “fatores de ordem conjuntural” que serão posteriormente esclarecidos. Na semana passada, o senador também não compareceu à audiência pública convocada pelo Senado.

Principal líder da oposição à Evo Morales, Pinto Molina pediu asilo político na embaixada brasileira em La Paz em maio de 2012. Há onze dias, fugiu para o Brasil em uma operação organizada por setores do Itamaraty. Viajou em carro oficial da embaixada brasileira de La Paz até Corumbá (MS), onde foi recebido pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que o acompanhou até Brasília em avião emprestado.

Irritada com o impacto da ação nas relações Brasil-Bolívia, a presidenta Dilma Rousseff demitiu o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, e afastou o então embaixador em exercício na Bolívia, Eduardo Saboia. Após análise do caso, a Procuradoria Geral da União declarou que o asilo concedido antes perdeu a validade quando o senador deixou a embaixada.

Com o impasse, Pinto Molina requereu nova concessão de asilo. O governo da Bolívia, porém, ameaça pedir sua extradição, classificando-o como criminoso comum: o senador foi condenado pela justiça boliviana por desvio de recursos e responde a outros 20 processos, inclusive por corrupção. O presidente Evo Morales, em recente reunião com Dilma, disse que enviará ao Brasil, até o final desta semana, as provas judiciais que pesam contra ele.

Pelas normais internacionais das quais o Brasil é signatário, a decisão de conceder ou não asilo é prerrogativa do Executivo. Por isso, é grande a pressão dos setores conservadores sobre o governo.

Deputado líder da oposição na Bolívia, Adrián Oliva visitou nesta terça o senado brasileiro para defender o colega. Segundo ele, as acusações contra Pinto Molina começaram quando ele denunciou o suposto envolvimento de Evo Morales com o narcotráfico.

Porta-voz da extrema direita brasileira, Jair Bolsonaro (PP-RJ), compareceu à audiência para manifestar seu apoio ao senador e criticar o apoio ao governo socialista da Bolívia. “Eu quero mostrar que parlamentares de partidos da base aliada do governo também estão contra o governo”, esclareceu.

O senador Sérgio Petecão (PSD-AC) também tentou sensibilizar o plenário para a causa. “Se ele voltar para a Bolívia, vai morrer. Ele me disse que estava decidido a cometer suicídio, porque não vê saída”, reforçou. Petecão disse que é amigo pessoal do senador e da sua família, e que o conhece desde que foi deputado estadual na província de Pando, que faz fronteira com o Acre.