A Europa encontra-se, sem dúvida, a atravessar a sua pior crise. As políticas de austeridade que estão a ser aplicadas não só não lhe dão resposta, como a têm agravado.

A taxa de desemprego na Europa atingiu valores dramáticos; nos países mais afetados pela crise, a taxa de desemprego é já superior aos 25% e o desemprego jovem é ainda bastante superior – na Grécia e em Espanha um em cada dois jovens encontra-se desempregado.

Num plano global, observamos uma regressão na qualidade de vida através da diminuição dos salários e cortes nas funções sociais do Estado. Em algumas regiões, isto está diretamente relacionado com o empobrecimento social. Por um lado, as organizações sindicais veem os seus direitos cada vez mais diminuídos enquanto, por outro lado, as empresas privadas veem os seus direitos aumentar.

Estas medidas não são apenas catastróficas do ponto de vista social, são também contraproducentes do ponto de vista económico. Estas políticas não são capazes de recuperar a economia, tendo, aliás, o efeito contrário: a economia está estagnada o que se reflete numa significativa recessão económica. Também a dívida pública não diminui com estas políticas, tendo vindo a aumentar.

A par de tudo isto, a democracia é fragilizada. Os cortes brutais são executados pela Troika e sustentados pelos Governos nacionais. O Governo alemão é uma peça fundamental neste panorama, com a chanceler Angela Merkel a desempenhar o papel principal. É ela quem impulsiona as políticas de austeridade que estão a ser impostas.

O chumbo das propostas de abrandamento da austeridade, consideradas também, inclusivamente, por Barroso, foram imediatamente chumbadas pelo Governo alemão; esta situação é um bom exemplo do papel que Angela Merkel está a cumprir.

O Governo alemão segue uma política neoliberal rigorosa, na qual os cortes, em particular nos salários e no Estado Social, a liberalização e as privatizações são dados como argumento para o aumento da competitividade e, assim, melhorarem a economia.

Esta política pressiona a Europa. Com isto, Merkel é responsável pela política de empobrecimento do sul da Europa. Também o pacto fiscal europeu está sob pressão do Governo alemão. Este não é mais do que a transferência do “travão da dívida” para a Europa. Este travão é prejudicial para a Alemanha e para a Europa.

O “travão da dívida” assenta apenas em cortes, seguindo o modelo neoliberal, sem atender ao lado das receitas e também sem questionar o motivo que leva à contração das dívidas – servem o consumo improdutivo ou para cobrir investimentos importantes para o futuro. Em última análise, prende-se com uma questão de distribuição que privilegia os ricos face aos trabalhadores, os mais desfavorecidos e a sociedade.

É redutor dizer que a política de Angela Merkel persegue os interesses alemães. Isto só é verdade se considerarmos apenas os interesses dos ricos, dos bancos alemães e da indústria alemã. Esta política não tem no seu interesse as pessoas.

Os resgates milionários, decididos quase inteiramente pela política alemã, não servem para ajudar as pessoas, mas sim os bancos. Os créditos tóxicos são resgatados e, deste modo, salvam-se os investimentos dos investidores ricos. Para isto contribuem particularmente os investimentos da banca alemã noutros bancos europeus, incluindo os que serviram para financiar a especulação imobiliária, por exemplo, em Espanha e na Irlanda.

O dumping dos salário alemães, causado em grande parte pelos Hartz-Gesetze*, serve a indústria alemã ao facilitar as exportações. No entanto, ao mesmo tempo, isto intensifica as desigualdades na Europa.

A política da Merkel visa os bancos alemães, a indústria alemã e os ricos. Apesar de a população alemã, quando comparado com os países do sul da Europa, ter uma qualidade de vida superior, é importante não esquecer que a política de Angela Merkel aumentou o fosso social na Alemanha.

O trabalho precário aumentou drasticamente; quase um em cada quatro trabalhadores estão no setor dos baixos salários: o trabalho temporário. Muitas pessoas estão no limiar da pobreza. Ao mesmo tempo que o rendimento real das famílias diminuiu, o rendimento proveniente dos lucros e das riquezas aumentou. A distribuição dos rendimentos é cada vez mais injusta. Enquanto os mais ricos detêm praticamente dois terços da riqueza, os mais pobres possuem as dívidas.

O Die Linke é o único partido que apresenta uma alternativa política à política de Angela Merkel. Os outros partidos – incluindo os Verdes e o SPD (Partido Social Democrata) – seguem as políticas europeias do governo alemão. Aprovaram todas as medidas no Parlamento, enquanto o Die Linke votou sempre contra as propostas.

Durante o mandato da Merkel, a crise europeia foi explicada como sendo um problema de dívida pública, escondendo assim, a verdadeira fonte da crise; o Die Linke sabe, no entanto, que a crise é dos bancos e do mercado financeiro e que a génese da crise se encontra no sistema capitalista.

Para o Die Linke torna-se claro que sem esta regulamentação do mercado financeiro e sem uma reorganização do sistema bancário, sem uma mudança na política de distribuição que imponha impostos sobre as grandes fortunas e aumentos salariais significativos e ainda sem mudar as políticas económicas para dar espaço a programas de investimento ao nível europeu, a crise não terá fim.

*Pacote de medidas referentes às leis laborais. O primeiro entrou em vigor em 2003.

Heinz Bierbaum é professor universitário, líder da bancada parlamentar do Die Linke no Parlamento Estadual de Saarland e membro do sindicato IG METAL (desde 1972) e da ATTAC.

Tradução: Sara Schuh. Revisão: Fabian Figueiredo