Publicado em Tendências em Debates da Folha de S. Paulo de 11/3/2013

O Brasil cresce muito pouco. Desde 1990, a renda per capita cresce a uma taxa de 1,7% ao ano, contra 4% entre 1930 e 1980; no último ano, cresceu apenas 0,9%; a taxa de investimentos patina em torno de míseros 18%, e o Brasil se desindustrializa prematuramente, não obstante a economia esteja próxima do pleno emprego. Que fazer diante desse quadro no qual também a dinâmica baseada no consumo já está se esgotando?

O doente principal é a indústria; nos últimos dois anos, a indústria vem decrescendo em termos absolutos, e desde os anos 1980 vem diminuindo sua participação no PIB.

E, no entanto, o que ouço de alguns de seus líderes são frases como: é preciso diminuir os custos de produção da indústria, é preciso investir na infraestrutura e na educação, é preciso reduzir as despesas de custeio do governo. E quanto aos juros e ao câmbio? Ah, sim, o governo já fez o que era possível fazer

Ao ler “soluções” desse tipo, não posso deixar de pensar em um médico que, diante de uma infecção grave de seu paciente, ao invés de lhe receitar antibiótico, recomenda que se alimente de forma mais saudável e faça exercícios diários.

As melhorias recomendadas do lado da oferta correspondem ao que o governo e as empresas já estão fazendo, porque há consenso na sociedade de que essas ações são necessárias. E nenhum país se desindustrializa pela falta delas. Na verdade, desde 1985 o Brasil vem realizando um grande esforço na área da educação, desde 1999 suas contas fiscais foram equilibradas e, desde que o PAC foi criado, tudo o que é possível vem sendo feito na área da infraestrutura.

Ainda que tenha havido alguma melhoria nesta área no atual governo, a verdadeira infecção da economia brasileira é a taxa de juros alta e o real sobreapreciado. É isso que desconecta as empresas eficientes do mercado externo e também do interno -e que provoca a desindustrialização. Por que o empresário eficiente investirá para aumentar a produção, se é mais barato importar os componentes e apenas montar os bens que antes fabricava?

E é essa mesma sobreapreciação cambial que explica por que há pleno emprego com baixo crescimento. A apreciação aumenta artificialmente os salários e o consumo e cria demanda no setor de serviços internos. E, assim, provoca a transferência da mão de obra da indústria para eles, ou seja, de um setor com alto valor adicionado per capita para um setor com baixo valor adicionado per capita. Ora, o aumento da produtividade decorre do inverso: da transferência da mão de obra de setores pouco sofisticados tecnologicamente, que pagam baixos salários, para setores com maior sofisticação tecnológica, que adicionam maior valor per capita à produção e pagam salários mais altos.

Logo, essa transferência perversa de mão de obra para os serviços explica o pleno emprego associado a baixo crescimento. Por outro lado, o consumo ainda relativamente aquecido foi capturado pelas importações. Logo, se continuarmos a acreditar que “tudo o que era possível fazer em matéria de juros e câmbio já foi feito”, só restam à economia brasileira duas coisas: baixo crescimento e desindustrialização.