Zurique – As ações da Zona do Euro já começaram a sentir as consequências negativas do euro forte, o qual já ameaça seus baixos desempenhos, com as empresas – cujo volume maior de faturamento depende do exterior – esperando receber o mais duro golpe.

O euro foi valorizado em cerca de 12% contra o dólar desde que o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, assumiu o compromisso “de fazer o que for preciso para salvar a moeda comum”.

Um euro mais forte reduz os desempenhos dos negócios das empresas européias no exterior, em termos de moeda doméstica, e torna mais difícil para as empresas europeias competirem com as concorrentes no exterior. Apesar do fato que determinados setores domésticos poderiam aproveitar as importações mais baratas, são muito poucos em número diante daqueles que perderão.

Os grupos de analistas do Morgan Stanley e do Credit Suisse avaliam que “uma valorização de 10% do euro contra a cesta de seus maiores parceiros reduzirá a produção econômica da Zona do Euro de 0,5% até 0,7% durante o primeiro ano e despencará os desemprenhos empresariais totais entre 3% e 4%”.

Nick Sanders, diretor de Estratégia Européia do BTIG, observa que “o euro valorizou-se por causa do crescimento de confiança e isto, ao que tudo indica, ajuda as ações européias, mas poderá chegar ao ponto de afetar negativamente os lucros das empresas do continente”.

Mercados reagem

Os mercados já começaram a reagir. A correleção de 30 dias entre a paridade euro/dólar e do indicador dos blue chips da Zona do Euro Eurostoxx 50 tem sido reduzida significativamente, recuando de altas de seis anos, de 0,93, fato que registra uma guinada longe da tendência que observa-se desde meados do ano passado, quando os dois mercados registraram corridas, graças à melhoria do clima de confiança na região.

Com o arrocho da política monetária do BCE, enquanto os bancos liquidam os empréstimos baratos que receberam do Banco Central em 2011 e 2012, no momento em que os outros bancos centrais do mundo flexibilizem suas políticas para tonificar suas economias, o euro deve permanecer valorizado por algum tempo ainda.

Várias recentes pesquisas mostram que a moeda comum deverá manter-se em torno dos níveis atuais durante os próximos três meses e recuará em US$ 1,28 no final deste ano. Para o Societe Generale, “é bem provável que a paridade euro/dólar encontre-se entre 1,37 e 1,40 em futuro próximo, antes de aterrissar em 1,20 até o final deste ano, enquanto os mercados deverão concentrar suas atenções sobre aquilo que é absolutamente claro para todos, isto é, que a economia dos EUA tem evoluído muito melhor do que a européia”.

Já o BofA/Merrill Lynch julga que “a insignificante recuperação observada atualmente constitui, talvez, a oportunidade perfeita para vender para os investidores com horizonte de curto prazo” e recomenda que “após os repentinos recuos do nível dos 1,3711 que atingiu o euro no início deste mês, a tendência voltou a ser bearish (negativa)”.

Mais conservador, o Barclays anota que “com os riscos existentes em torno da Zona do Euro sendo em grau elevado ausentes a posição do BCE e as melhoradas condições econômicas permanecerão como estão em futuro próximo, impulsionando o euro frente ao dólar a 1,38 em um mês. Contudo, é improvável que os níveis aumentados durem, e a paridade cambial evoluirá em nível inferior, em torno de 1,28 em 12 meses”.

Ash Misra, CEO e diretor de Investimentos no setor Private Banking no Lloyds TSB, esclarece que “se esta força permanecer os resultados serão revelados na lucratividade do primeiro trimestre das empresas e, seguramente, nas análises dos especialistas e nas reavaliações – para baixo – das previsões, e o guidance das empresas será muito mais atento, enquanto as indústrias automobilísticas e os laboratórios farmacêuticos estão entre setores em perigo”.

Tecnologia, energia e assistência médica em baixa

Apesar do fato que a proteção empresarial contra os riscos cambiais e o atraso nos comunicados de lucratividade signifiquem que será preciso tempo para que a força do euro seja refletida nos resultados, a indústria automobilística alemã Daimler e a empresa do setor de artigos de luxo LVMH estão entre aquelas que já advertiram que seus desempenhos operacionais poderão ser afetados.

Existem indícios, ainda, que os analistas estão cada vez mais atentos com relação aos setores que poderão sofrer, com os de tecnologia, energia e assistência médica sendo alvos das mais repentinas reavaliações para baixo em suas previsões de lucratividade.

As preocupações cambiais têm, igualmente, iniciado a filtrar-se também nas estratégias dos investidores, com resultado de o Bank of America/Merrill Lynch apontar os setores da indústria dos EUA e da indústria automobilística do Japão contra os correspondentes europeus, com o Morgan Stanley tendo desvalorizado as ações da Europa em relação àquelas do Japão.

No âmbito de um grande impulso às exportações japonesas, o Banco Central do Japão (BoJ) flexibilizou, agressivamente, sua política, enquanto o governo de Shinjo Abe tem prometido gigantesco apoio econômico, resultando em repentina desvalorização do iene.

Na Europa, o Morgan Stanley sublinha que “os setores de tecnologia e da indústria automobilística estão entre a maioria dos prováveis perdedores, com base nos relatórios de seus resultados operacionais e o histórico de seus desempenhos em períodos de força da moeda, e os setores de assistência médica e de bens de capital, os quais serão também afetados”.

Ao contrário, os ganhadores incluirão empresas de utilidade pública, comércio varejista, imóveis, alimentos, construção civil, assim como os bancos, os quais têm relativamente reduzida exposição ao risco cambial e atrelam-se, estreitamente, com as oscilações do clima na Zona do Euro.

A recente popularidade de alguns dos mais vulneráveis setores que foram comprados por sua exposição no exterior no momento em que a economia doméstica tropeçava poderia agravar as consequências.

Estas ações parecem caras e, assim, já estão sujeitas em liquidações e não são tão atraentes para os compradores novos. Simultaneamente, os grandes níveis de aplicações em investimentos significam que vários fundos sairão do mercado.


Opções dos fundos

 

“A maioria dos administradores de portfólios é overweight nos bens de consumo e, assim, um euro forte não será nada bom para eles, mais ainda se for mais valorizado”, analisa Kevin Lilley, administrador de capitais nas ações européias da Old Mutual AM, acrescentando: “Reavaliarei minhas posições caso o euro for levado a algo entre 1,40 e 1,45”,

O Bank of America/Merrill Lynch escolhe o setor de tecnologia e da indústria automobilística como (possivelmente) atraentes para venda, “considerando que foram supercomprados, enquanto outros setores concentrados no mercado doméstico, como o de empresas de utilidade pública, comércio varejista e telecomunicações, poderão valer a pena”.

A Europa – de um modo geral – já mostra-se mais cara em relação a sua história, em comparação com os EUA, os mercados emergentes e o Japão. “Embora isto – por si só – não constitua razão para alguém vender suas posições, para que haja mais superdesempenhos nos mercados europeus deverá existir aumento estável de lucros, e o euro forte constituirá considerável obstáculo a isto”, salientam os analistas do Morgan Stanley.

Laura Britt

Sucursal da União Européia.