E o que sugeriu o Comitê da Basileia (representando 27 centros financeiros ao redor do mundo) como solução? Um então chamado índice de cobertura de liquidez (LCR, liquidity coverage ratio, no inglês) que, se supõe, proverá um limite de alavancagem (benchmark) para assegurar que os bancos tenham dinheiro e ativos líquidos suficientes para coibir qualquer colapso no valor dos ativos ou empréstimos que os mesmos bancos tenham em seus cadastros.

O índice é um suplemento para aumentar os índices de capital mínimo que os bancos devem ter (mais investimentos em capital em relação aos empréstimos e investimentos de risco). Mas a proposta final do Comitê simplesmente dá aos bancos tudo que querem. Aparentemente bancos podem continuar comprando ativos podres como se fossem títulos hipotecários e ações e chamá-los de investimentos seguros; além do montante de ativos líquidos, como o dinheiro que os bancos devem manter em seus caixas, ter sido drasticamente reduzido em relação com as propostas originais. E o LCR não precisa ser aceito totalmente até 2019! Quem sabe o estado em que a economia mundial e sistema bancário vão estar por lá.

Como um analista bancário assim colocou: “Isto é muito mais favorável para a Indústria que eu e o mercado estávamos esperando. As mudanças para a definição dos ativos e cálculos de fluxo de saída em particular parecem uma enorme suavização de abordagem”. As condições foram suavizadas de tal maneira que a maioria dos bancos internacional ja atingiram a LCR e a taxa de capital prevista. O Comitê da Basiléia apenas endossou a condição atual dos bancos, e ainda deu aos bancos que ainda não cumpriram as metas outros sete anos para fazê-lo. Assim, o risco de colapso financeiro, portanto, não foi realmente reduzido. Na verdade, os bancos estão voltando aos seus maus habitos, em 2011 aumentaram seus investimentos em ações e titúlos com péssima cotação em 74%, enquanto seguram os empréstimos para companhias de recursos necessários para investimentos e familias que necessitam de hipotecas.

Matt Taibbi, recentemente, em um excelente artigo na Rolling Stone, resumiu a forma como os bancos foram socorridos pelos contribuintes ao redor do mundo, levando os indices de endividamento dos governos à níveis do período pós guerra. Como Taibbi diz, os politicos e os banqueiros, só para começar, conspiram para mentir sobre o tamanho da crise; depois mentiram sobre o tamanho do resgate necessário, de como os resgates iriam restaurar o crédito bancário para as famílias e empresas, como os bancos estavam saudáveis, além de mentirem sobre a redução do bônus para o alto escalão dos bancos e, finalmente, mentiram dizendo que quaisquer resgates seriam temporários.

Os Estados capitalistas comprometeram seus eleitores a garantir permanentemente que os bancos serão resgatados e receberam apoio em qualquer circunstâncias – e os bancos permaneceram em mãos privadas. “Tudo isso – a vontade de chamar os bancos quase falidos de saudavéis, os testes de estresse falsos, a incapacidade de fazer cumprir as regras de bônus, a aparente indiferença à divulgação pública, para não mencionar a falta chocante de investigações criminais de fraude, cometidas antes da crise, pelos beneficiários dos resgates – compreendeu um resgate maior e custoso a todos “(Taibbi). Posso, ainda, adicionar o subsequente escândalo da fixação da taxa Libor; a lavagem de dinheiro do cartel mexicano de drogas, a quebra das sanções contra o Irã, e as perdas nas pensões pessoais e seguros.

E agora nós temos o Comite da Basiléia basicamente concordando em permitir os bancos efetivarem o seu antigo modo de negocios (Business as usual) em troca de fazerem mudanças mínimas em seus padrões de probidade até 2019. Não é de se admirar que Taibbi resume o socorro aos banqueiros como a construção de um “sistema bancário que discrimina os bancos regionais, fazendo com que bancos ‘grandes demais para quebrar’ fiquem ainda maiores e fortes, sistema que aumenta riscos, desencoraja empréstimos relevantes e dirimindo poupanças por fazer ainda mais fáceis e lucrativos a busca investimentos de alto-rendimento ao invés de competir por pequenos poupadores”.

Isto é, nada mudou lá, afinal.

 

Fonte: Carta Maior