Jamais qualquer explicação oficial para a invasão foi mais patentemente refutada por uma combinação de imagens de televisão e aritmética; ou o papaguear dos jornais sobre “alvos militares”, pelas imagens de crianças ensanguentadas e escolas incendiadas. 13 mortos de um lado, 1.360 do outro: não é difícil concluir quem são as vítimas. Nem é preciso dizer muito mais sobre a horrenda operação militar de Israel contra Gaza.

Mas para nós, judeus, é preciso, sim, dizer mais.

Numa história longa e sem segurança, de povo em diáspora, nossa reação natural a quase todos os eventos públicos inevitavelmente inclui a pergunta “Isso é bom ou é mau para os judeus?” E, no caso da violência de Israel contra Gaza, a resposta só pode ser uma: “é mau, para os judeus.”

É muito evidentemente mau para os 5,5 milhões de judeus que vivem em Israel e nos territórios ocupados de 1967, cuja segurança é gravemente ameaçada pelas ações militares que o governo de Israel empreende em Gaza e no Líbano; ações que demonstram a incapacidade dos militares israelenses para trabalhar a favor do objetivos que eles mesmos declaram, e atos que só servem para perpetuar e intensificar o isolamento de Israel num Oriente Médio hostil.

O genocídio ou a expulsão em massa de palestinos do que resta de seu território nativo original é, nada mais nada menos, que adotar uma agenda prática que só pode levar à destruição do Estado de Israel. Só a convivência negociada em termos igualitários e justos entre os dois grupos é garantia de futuro estável.

A cada nova aventura militar de Israel, como a que se viu no Líbano e vê-se agora [2009; e vê-se, outra vez, hoje, em 2012] em Gaza, a solução torna-se mais difícil; e mais se fortalece, em Israel, o jugo da direita; e, na Cisjordânia, o mando dos colonos que, em primeiro lugar, nunca quiseram qualquer solução negociada.

Como aconteceu na guerra do Líbano em 2006, Gaza, agora, torna ainda mais obscuro o futuro de Israel. E o futuro se torna mais negro, também, para os nove milhões de judeus que vivem na diáspora.

Sejamos bem claros: criticar Israel não implica qualquer antissemitismo, mas as ações do governo de Israel cobrem de vergonha os judeus e, mais que tudo, fazem renascer o antissemitismo, em pleno século 21.

Desde 1945, os judeus, dentro e fora de Israel, beneficiaram-se enormemente da má consciência de um mundo ocidental que se recusou a receber imigrados judeus nos anos 1930, antes de ou cometer genocídio ou não se opor a ele. Quanto dessa má consciência, que virtualmente derrotou o antissemitismo no Ocidente por 60 anos e produziu uma era de outro para a diáspora, sobrevive hoje?

Israel em ação em Gaza não é o povo vítima da história. Não é sequer a “valente pequena Israel” da mitologia de 1948-67, um David derrotando vários Golias que o cercavam.

Israel está perdendo a solidariedade do mundo, tão rapidamente quanto os EUA perderam a solidariedade do mundo no governo de George W. Bush, e por razões semelhantes: cegueira nacionalista e a megalomania do poderio bélico.

O que é bom para Israel e o que é bom para os judeus como povo são coisas evidentemente associadas, mas até que se encontre solução justa para a questão palestina essas duas coisas não são nem podem ser idênticas. E é essencialmente importante que os judeus o declarem, bem claramente.

Fonte: London Review of Books, vol. 31, n. 2, sessão “Cartas”