A última Reunião de Cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), realizada em Chicago (EUA) nos dias 20 e 21 do mês passado – segundo seu site oficial – está sendo considerada uma espécie de continuação da Doutrina Estratégica da Aliança, adotada há um ano e meio pela Reunião de Cúpula de Lisboa. A adoção da nova doutrina significa uma reavaliação – para cima – do papel interveniente da Otan e sua transformação em “xerife mundial”.

Ao invés de sua dissolução, após o fim da Guerra Fria e da derrocada do Acordo de Varsóvia, a Otan expandiu-se na Europa Oriental e nos Bálcãs. Travou a bárbara guerra na então Iugoslávia, em 1991, e prosseguiu com a guerra no Afeganistão desde 2001. Na realidade, funciona como braço militar da “nova ordem” pós Guerra Fria e da globalização neoliberal.

A nova doutrina da Otan diz respeito diretamente à Europa em seu total, incluindo a Rússia. “A Europa será nosso verdadeiro parceiro se acompanhar-nos no Oriente Médio, na Rússia e na China”, havia dito Nicolas Berns, em 2010. Na nova doutrina definem-se como “não convencionais” ameaças a disseminação de armas nucleares e outras armas de destruição em massa, os atentados terroristas, os ataques na área de governo, as mudanças climáticas e a ilegal interrupção do críticos fluxos energéticos.

Na última Reunião de Cúpula em Chicago, não foi discutida a questão de ampliação da Otan com novos países-membros como a Geórgia e a Fyrom (Former Jugoslav Republic of Macedonia), porque provoca divergências na aliança. Foi, contudo, discutida a construção de um sistema de defesa antimíssil, denominado Altbmd, o qual terá consequências. Trata-se de um sistema que provocará novas tensões com a Rússia em detrimento da segurança européia.

Organização na berlinda

Entretanto, a ampliação do papel da Otan não é caminho de mão única. A análise – a sangue-frio – das evoluções mundiais não advoga algo assim. É possível que a Otan mostre-se onipotente, mas encontra-se frente à frente com grandes contradições.

Fracassou, tragicamente, em sua primeira campanha fora da Europa, na guerra no Afeganistão. Deseja “globalizar-se”, enquanto a globalização capitalista é sacudida por uma crise inédita. Deseja a colaboração com a Rússia, mas não pode livrar-se do alvo de sua expansão até a fronteira russa.

Durante a crise do Cáucaso (2008) a Alemanha e a França opuseram-se, claramente, à política de “punho de ferro” contra a Rússia, que os EUA desejavam.A Alemanha e outros países-membros também discordaram da guerra da Otan na Líbia.

O novo papel da Otan choca-se ao fato de que sua força de liderança, os EUA, perde terreno internacionalmente, e o desdém de sua hegemonia cresce seguidamente. “Nada foi mais claramente consolidado, nos últimos cinco anos, do que o fracasso da unilateral hegemonia mundial dos EUA”, escreveu Eric Hobsbawm. “Os equilíbrios internacionais alteram-se com o mais característico exemplo que a América Latina já deixou de constituir o quintal dos EUA” (Observer, 2007).

Até o próprio Zbigniew Brzenski (ex-virulento arquifalcão da Casa Branca) reconheceu que “o centro do peso político e econômico afasta-se do Atlântico Norte em direção à Ásia e ao Pacífico” (International Herald Tribune, 20/8/2009).

A batalha contra a Otan e o euroatlantismo trava-se por uma outra Europa, sem armas nucleares e bases militares dos EUA, capaz de contribuir para a reorganização democrática de um sistema de relações internacionais em benefício de um mundo mais justo e mais solidário.

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Fonte: Monitor Mercantil