Por mais que sejam escamoteados, objectivamente distorcidos ou atraiçoados, os resultados das recentes eleições realizadas na Grécia e em França continuam a expressar – no contexto e condições específicas de cada país – a rejeição das políticas da União Europeia e a condenação das forças políticas que, recentemente, protagonizaram a sua tradução e concretização nestes dois países.

Tal constatação assume particular significado na Grécia onde, apesar das constantes e violentas pressões, chantagens e ingerências da União Europeia (contando já com as de François Hollande) e do FMI, a Nova Democracia e o PASOK tiveram cerca de 42% dos votos, muito longe dos 77% obtidos em 2009.

Trata-se de uma realidade política que a imensa distorção introduzida pelo anti-democrático sistema eleitoral (obtendo 42% dos votos, estes dois partidos irão ter 54% dos deputados) não consegue apagar. Tanto assim é que a UE, o FMI, a ND e o PASOK e os interesses do grande capital que estes representam – os responsáveis pelo descalabro na Grécia –, conscientes do forte sentimento de rejeição do «memorando de entendimento», da sua ilegitimidade e da insustentabilidade do status quo, se vêem obrigados a ensaiar uma qualquer «renegociação» que altere algo para salvaguardar o essencial.

As eleições gregas puseram a nu o carácter de classe da União Europeia. Perante a resistência e expressão da rejeição das suas políticas de exploração, empobrecimento e extorsão, a UE, ao mesmo tempo que exige o cumprimento dos seus intoleráveis ditames, brande a ameaça de bloqueio financeiro e boicote económico face à possibilidade de uma qualquer política que os confronte e que possa abrir perspectivas a uma real alternativa que venha a dar resposta às prementes necessidades dos trabalhadores e do povo grego.

Isto é, a UE, pela sua natureza, é objectivamente incompatível e um obstáculo ao direito soberano de cada povo a decidir do seu presente e futuro. A evolução da situação na Grécia coloca em evidência a importância do plano nacional como campo fundamental da luta de classes, para a salvaguarda da democracia e da soberania, para a conquista do progresso e de profundas transformações sociais.

No entanto, estas eleições «não colocaram o conta-quilómetros a zero»… Reflectindo o aprofundamento da crise do capitalismo, a situação económica na UE e na sua Zona Euro continua a agudizar-se. Neste quadro e com o intuito de sustentar o processo de integração capitalista europeu, avolumam-se as vozes dos ditos «europeístas» de diferentes matizes que, de forma mais ou menos dissimulada, advogam «mais Europa», isto é, mais integração federalista na UE, para «salvar o Euro» e a União Económica e Monetária (UEM), instrumentos da sua política neoliberal.

Um processo já em curso com o denominado «tratado orçamental» em ratificação e cujos contornos dos próximos passos começam agora a ser publicamente esboçados. Um processo que, a ser concretizado e aceite, levará ao completo controlo e domínio político e económico dos países da denominada «periferia» por parte das grandes potências (com a Alemanha à cabeça) e dos seus grandes grupos financeiros e económicos. Com tal propósito, está em andamento uma autêntica peneira política e económica que levará à definição daqueles que integrarão (ou não) esta nova fase do processo de integração capitalista europeu – a reconfiguração da UE/UEM.

Uma outra Europa de cooperação, progresso e paz só poderá ser construída a partir da luta dos trabalhadores e dos povos, da sua resistência, confronto e ruptura com uma União Europeia cada vez mais federalista, neoliberal e militarista.

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Fonte: Avante!