Nossa matriz do conhecimento tem, sem sombra de dúvida, raízes históricas fincadas nos EUA e na Europa ocidental.

No entanto, as mudanças contemporâneas em termos econômicos e políticos indicam e exigem que o Brasil considere a Ásia, de forma objetiva e urgente, em suas opções estratégicas de longo prazo.

Ressalte-se que a Ásia é, atualmente, o destino de um terço das exportações brasileiras.

Sem que isso signifique exclusividade, comentaremos especificamente dois países: China e Coreia do Sul.

Com área geográfica de 9,6 milhões de km2, população de 1,3 bilhão de habitantes e cultura milenar, a China é um gigante que acorda com uma disposição impensável até recentemente.

Em apenas 20 anos, entre 1990 e 2010, a China saltou de uma posição econômica inexpressiva para ser o segundo PIB e ter o segundo volume de exportações no mundo, superada apenas pelos EUA.

Ao contrário de uma visão simplificada de que a China é só exportadora de produtos baratos, ela está na fronteira tecnológica mundial. Enviou milhares de estudantes ao exterior, atraindo-os de volta e montando um sistema acadêmico universitário de excelência.

De forma semelhante, mas em outra escala, com menos de 100 mil km2 e população de 49 milhões de habitantes, a Coreia do Sul é um exemplo de desenvolvimento econômico e tecnológico.

Saindo devastada da guerra, no início da década de 1950, baseou o seu desenvolvimento na educação e na tecnologia. Com aglomerações empresariais, os chamados “chaebol”, a Coreia construiu um sistema empresarial que está na liderança tecnológica mundial, a exemplo da Samsung, da LG e da Hyundai.

Dada a relativamente pequena escala do seu mercado interno, estabeleceu uma agressiva política exportadora -em 2010, quase US$ 600 bilhões, 53% do seu PIB.

Em viagem recente a esses dois países, podemos constatar a disposição e o interesse que os chineses e coreanos têm em nosso país e no programa Ciência sem Fronteiras. Não apenas as universidades, mas também empresas privadas, como a Hyundai, que deseja receber estagiários em suas empresas filiadas na Coreia do Sul.

Vale ressaltar que esses países já recebem um contingente significativo de estudantes estrangeiros. Na China, o segundo maior contingente de estudantes estrangeiros em cooperação são os americanos, logo depois dos coreanos.

Esse fato demonstra um grau de internacionalização bastante significativo, coisa que nossas universidades devem também perseguir. Na China e na Coreia, as universidades já estão se preparando há algum tempo, oferecendo cursos em inglês e investindo pesadamente em alojamentos para estudantes e pesquisadores estrangeiros.

O contato com os asiáticos ajudará o Brasil a criar produtos de maior valor agregado e, portanto, mais intensivos em tecnologia e conhecimento. Sem negar a importância da nossa base de recursos naturais e da nossa agricultura, o Brasil não pode mais ter a sua competitividade lastrada apenas nesses setores.

Para isso, as universidades têm papel fundamental, assim como o intercâmbio com países asiáticos.

Sabemos das dificuldades impostas pelas grandes diferenças culturais, de língua, institucionais e mesmo (por que não falar?) de um certo preconceito que temos com relação ao Oriente, fruto, em parte, de um grande desconhecimento da região.

Não podemos ser ingênuos e imaginar que esta cooperação irá atrair um número significativo de estudantes de imediato, mas, mesmo que não enviemos grandes contingentes de bolsistas e de pesquisadores, devemos incentivar e buscar ao máximo tal cooperação.

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CÉLIO CAMPOLINA DINIZ, 70, engenheiro e doutor em economia pela Unicamp, é reitor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)

GERALDO NUNES, 63, engenheiro e doutor em sociologia pela Universidade de Brasília, coordena o programa Ciência sem Fronteiras na Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)

Fonte: Folha de S. Paulo