O desemprego e a criação de postos de trabalho monopolizarão nos próximos meses o interesse nos EUA e revelarão que a situação dos trabalhadores norte-americanos agrava-se incessantemente, enquanto, em 6 de novembro próximo realizam-se as eleições presidenciais.

Ao que tudo indica, o atual presidente, Barack Obama lidera nas pesquisas sobre seu adversário e candidato dos Republicanos, Mitt Romney, mas, carece no que diz respeito o…apoio financeiro. Não são somente as verbas das multinacionais e da Wall Street que fluem generosamente na caixa de Romney, não é somente o fato do ex-governador de Massachusetts ser gente de casa, é também o fato de que centenas de milhares de jovens, principalmente, que votaram pela primeira vez e definiram o resultado das eleições anteriores, estão constatando que a vida deles piorou.

O presidente Obama, o então “queridinho” do capital, dissolveu quaisquer autoenganos que existiam(e nos países da Europa não eram poucos gerados pelas empoadas forças políticas da Social-Democracia e do oportunismo)versando sobre políticas filo-populistas, além de suas posições nas recentes guerras imperialistas para “exportação de democracia”. A crise nos EUA é clássica crise de super-acúmulo e super-produção e, a situação agrava-se, enquanto, a crise eclode, coordenadamente, em muitos países capitalistas. Também, todas as avaliações dos economistas prevêem que, “qualquer recuperação que vier será anêmica e, acompanhada com alto desemprego.

Até o ex-conselheiro econômico de Obama Lawrence Summers, em seu artigo no jornal Financial Times – porta-voz por excelência da oligarquia econômica – sentencia: “poucos, muito poucos, apostam que, os EUA e a Europa retornarão aos níveis de pleno emprego nos próximos cinco anos. E que em ambas as economias serão manifestadas pressões sobre a demanda por longo espaço de tempo”.

Tudo isso sabe o próprio Obama e, por este motivo – com absolutamente calculadas reações e doses iguais de “otimismo” e “realismo” enfrentou há alguns dias, os dados mensais da secretaria de Trabalho sobre a ocupação durante o mês passado que revelavam a criação de mais 120.000 postos de trabalho e a redução do percentual de desemprego em 8,2%. O “mais baixo desde janeiro de 2009”. O desemprego que constitui gangrena poderá, eventualmente, sepultar a renovação de sua gestão.

Contudo, o fenômeno por ser inato com o sistema capitalista não pode ser enfrentado, mas, por razões pré-eleitorais devem ser dados…alguns passos. Assim, aplica-se o conhecido método da…ocultação e desaparecimento, considerando que, ninguém deseja sequer tocar a realidade que revela-se por um olhar mais atento sobre os mesmos dados da secretaria do Trabalho. Uma quadro nada “otimista”.

Desemprego em 20%?

Embora, o indicador oficial de desemprego tenha recuado de 8,3% para 8,2%, esta queda é atribuída à redução do número de desempregados que buscam trabalho. Destaca-se que, a criação de postos de trabalho era muito menor pelas avaliações dos economistas que esperavam a criação de 3.203,000 postos de trabalho com o desemprego apesar disso mantendo-se em 8,3%. Algo “mágico” aconteceu e, enquanto foi criada quase a metade de postos de trabalho, o percentual de desemprego foi reduzido! Paralelamente, os postos de trabalho que foram criados desde dezembro do ano passado foram 858.000, “o melhor quadrimestre” dos últimos dois anos, de acordo com a secretaria do Trabalho. Trata-se da mesma repartição governamental que, em janeiro deste ano havia divulgado que, “2,3 milhões de trabalhadores haviam perdido em janeiro seus empregos ou “saíram do mercado de trabalho”, o maior número desde a eclosão da crise capitalista, enquanto, simultaneamente, anunciou, também, a redução do percentual de desemprego de 8,5% para 8,3%!

Manipulação

Daniel Amerman, economista e, especialista em assuntos de desemprego, define sem pestanejar de que, “trata-se de manipulação dos dados – e, acrescenta que, – o total da mão-de-obra reduziu-se considerando que grande número de trabalhadores aposentou-se”. Ainda, de acordo com Amerman, “cerca de nove milhões de trabalhadores desapareceram das estatísticas oficiais, apesar do fato de que a idade de 74% destes oscila entre 16 e 54 anos. Paralelamente, a redução do percentual de desemprego desde 2009 que havia atingido 10% é atribuída, exclusivamente, na redução da população economicamente ativa e que, na realidade, o percentual de desemprego tem aumentado em 19,9% de 18,9% ano passado. Um percentual que decorre dos mesmos dados da secretaria do Trabalho e, ainda, calculando, conjuntamente, os seis indicadores de medição de desemprego junto com o número dos desempregados há longo tempo, dos sub-ocupados e, dos jovens desempregados. E adicionalmente, os trabalhadores poderão despedir-se, provavelmente em definitivo, de um nível de vida com dignidade, considerando que, embora, os postos de trabalho aumentam, os rendimentos – em sentido contrário – evoluem descendentemente”.

“Apesar do fato de que a criação de postos de trabalho é tal, a ponto de ser possível utilizá-la para manipular as estatísticas no que diz respeito o desemprego, contudo, com o ritmo atual de aumento da ocupação será necessário, pelo menos, um quinquênio para cobrir os milhões de postos de trabalho perdidos durante os anos passados e, simultaneamente, criar postos de trabalho para os jovens que ingressam ao mercado de trabalho”, estabelece Robert Reich, ex-secretário de Trabalho dos EUA.

Salários miseráveis

De acordo com relatório do Economic Policy Institute, os salários para os recém-contratados foram reduzidos, consideravelmente, durante a década 2000-2011, uma queda que foi, ainda, maior do que durante o quinquênio 2002-2007 que, supostamente, foi um quinquênio de crescimento econômico. Para os homens com educação básica, os salários(com readequação dos preços), são em 25% menores em relação com 1973.

As perspectivas para os jovens, milhões dos quais já onerados com empréstimo estudantil de dezenas de milhares de dólares, são desesperadoras. Contudo, a classe trabalhadora inteira está enfrentando a redução dos vencimentos reais, por causa do há anos “congelamento salarial” ou, por causa, dos mínimos aumentos ou, ainda, por sua redução definitiva.

Dank Henwood, economista de London School of Economics, interpreta: “Trata-se de intensificação de uma tendência de longo prazo. Durante a última década o custo trabalhista nos EUA tem sido reduzido em 13%, enquanto, a situação dos trabalhadores agrava-se incessantemente”. Enquanto, “a ameaça de desemprego transformou-se em principal alavanca de pressão para a compressão dos salários por parte dos empregadores, enquanto, desde 2009 quase o total da produção de riqueza é encaminhado somente aos desempenhos do capital”, segundo relatório da Northeastern University de Boston.

Mesmo que Obama venha a ser premiado com uma segunda gestão na Casa Branca, apesar de suas proclamações ao contrário, um programa federal de criação de postos de trabalho é extremamente improvável.

“O Relatório Econômico do Presidente”, mais exatamente, o programa econômico do governo Obama, propõe um misto de alongamento dos empréstimos estudantis e de apoio da permanência nas universidades, a fim de ser aumentado o percentual de conclusão do curso, como incentivo para melhores “vencimentos salariais” dos formados. Já os filhos da classe trabalhadora que concluem o Liceu deverão ser encaminhados às Universidades Comunitárias, para que assim os recursos dos contribuintes, assim como, dos próprios estudantes cubram as despesas de suas formações profissionais.

Além disso, o governo Obama propõe reduções tributárias para as construtoras, um setor que tem sido favorecido ao máximo pela redução do “custo trabalhista”, tendência que o programa descreve “como transferência do custo trabalhista por unidade de produto que favorece a atividade empresarial nos EUA em relação com os demais países.

Investindo nos EUA

No programa anunciado, que intitula-se, “Investindo nos EUA: Construindo uma Economia duradoura”, seu núcleo resume-se na referência e sua comparação com os outros países capitalistas e, dirige-se às empresas que pretendem investir nos EUA, destacando: “só um dos dez países, anteriormente, mencionados conseguiu reduzir seu custo trabalhista mais que os EUA no período entre 2002-2010”. Obviamente, aquilo que é apresentado como custo pelos capitalistas, é o preço de venda da mão-de-obra. Assim, os vencimentos salariais mensais nos EUA têm despencado em níveis, extremamente, baixos, fato que torna os EUA tão ou mais competitivos do que a China, se fosse considerado, também, o custo de transporte. Algo, considerado incompreensível há alguns anos.

Entretanto a compressão dos salários – “para baixo” – nos EUA, as reivindicações na China para aumento salarial dos trabalhadores, as em muitos casos, desumanas e bárbaras condições de trabalho naquele país que constituem fator de dissuasão para muitas empresas e, o incessante aumento do custo de transporte para os produtos chineses, têm contribuído na redução do espectro.

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Fonte: Monitor Mercantil