As raízes da mobilização juvenil cubana foram lançadas em 1928, quando o primeiro Partido Comunista de Cuba criou a Liga Juvenil Comunista. No ano de 1944 foi organizada a Juventude Socialista, por iniciativa do Partido Socialista Popular. Ao triunfar a revolução cubana,  Che Guevara estabeleceu as bases da Associação de Jovens Rebeldes, com a qual se fundiria a Juventude Socialista no início da década de 60. Em 4 de abril de 1962, durante o primeiro congresso da organização unificada, por proposta de Fidel Castro, a organização juvenil do Partido Comunista de Cuba passou a adotar o nome de União de Jovens Comunistas – a UJC.

A história da UJC cubana está inserida na construção dos referenciais opostos às forças do passado, que fizeram da educação e da revolução processos mutuamente inclusivos. Como caráter prioritário de defesa, recorreu-se à educação para construir uma nova sociedade, porque as transformações pedagógicas, em suas complexidades, representavam a desagregação de antigas concepções herdadas do colonialismo na Ilha. Os muros dos quartéis, vistos como ponto de partida das tropas opressoras e centros de tortura, foram derrubados para dar espaços às salas de aula no interior das antigas fortalezas. A Ciudad Libertad, até 1959 o Colúmbia, uma típica instalação militar, transformou-se em um vasto conjunto com escolas de ensinos primário, secundário, especial e superior. Nesse contexto, revestiu-se de transcendência política e moral a conversão de 69 quartéis em escolas com capacidade para 40 mil alunos. Em 9 de janeiro de 1960,  foi iniciada a demolição dos muros e, após 19 dias, centenas  estudantes e contingentes da população converteram o sombrio quartel Moncada na Ciudad Escolar 26 de Julio. Este foi o terreno fértil no qual a UJC cubana floresceu.

Na primeira etapa revolucionária, o grande desafio foi a alfabetização, cujos passos iniciais ocorreram em Sierra Maestra, no período da luta insurrecional, a partir 1956. Os movimentos alfabetizadores, trazendo dimensões de epopeia, constituíram uma fonte motivadora às transformações sociais e econômicas das estruturas. 

A busca do homem novo, pela reapropriação da natureza humana, tornou-se o centro de mobilização da sociedade, que converteu-se numa grande escola. A lei que estabelecia a primeira Reforma Integral do Ensino, promulgada ainda em 1959, buscava a ruptura de poder do Estado burguês. A juventude entendeu, desde o início, que os revolucionários não apenas falavam que a educação seria priorizada, mas já estavam colocando em práticas suas ideias. Uma das metas mais ambiciosas foi a erradicação do analfabetismo em 1961, o “Ano da Educação”.

A relação que estabelecera José Martí, em 1884, entre cultura, educação e emancipação – “ser culto é o único modo de ser livre” –, complementada com os pressupostos do movimento 26 de julho, serviu de base para a concepção do sistema de Educação. A campanha desencadeou-se com o chamamento de jovens voluntários para a tarefa de alfabetizar e dela participaram milhares de estudantes. Analisando-a em sua dimensão mais abrangente, pode-se dizer que o objetivo maior foi conseguido: tirar a juventude da inércia habitual e mobilizá-la coletivamente, transformando antigos traços culturais de acomodamento e expectativismo em relação à ação paternalista das autoridades.

Esta experiência configurou-se como o primeiro grande vínculo da educação à vida política, pois os jovens alfabetizadores compreenderam as desigualdades sociais e conscientizaram-se da necessidade de superação dos graves problemas que afetavam o país. Além de ensinar, ajudavam nas tarefas comuns, como arar, transformaram-se em conselheiros, enfermeiros e fraternos amigos.

Em 22 de dezembro de 1961, Cuba foi declarada “Território Livre do Analfabetismo”. Dois fatos marcantes ocorreram neste ano. Um deles foi o assassinato de um jovem professor do primeiro contingente de maestros voluntários – Conrado Benítez –, na Serra de Escambray, por um grupo armado de contra revolucionários. Meses depois, com apenas 16 anos, Manuel Ascunce foi torturado e morto. Muitos foram os exemplos de conduta dos adolescentes, pois a maioria dos brigadistas aprendeu a compartilhar necessidades com os camponeses, a enfrentar a vida e também a morte. Os alfabetizadores, indignados, reafirmaram sua decisão de não ceder nem um passo à incultura e contribuíram para a consolidação das organizações de massa no país.

Durante toda a trajetória, nas diversas etapas do processo revolucionário, o governo teve que recorrer a políticas de formação intensiva, com incorporação imediata dos professores à prática educativa. A União de Jovens Comunistas organizou, em 1969 e 1970, a campanha “Yo seré maestro”. Os revolucionários colocaram a escola no centro das atenções, ao depositar na educação suas expectativas de transformar a vitória militar do Movimento de 26 de julho em vitória política, como parte da batalha pelos valores socialistas considerados fonte de emancipação social e econômica. A campanha de alfabetização, da década de 60, significou, mais que uma estratégia de política educacional, uma experiência profunda que consolidou as bases do projeto societário cubano, no qual a elevação cultural dos jovens tem caminhado junto com as lutas contra a dominação estrangeira.

Das guerras da independência, a historiografia cubana permitiu mais do que uma mera relação de feitos militares e assuntos bélicos. O caráter cubano emergiu de uma “cultura de resistência”, consolidada nas lutas, ao longo de trinta anos do século XIX, nas quais pereceram quatrocentos mil cubanos, ou seja, cerca de um terço da população da ilha na época. A análise dos conflitos, por diversos ângulos ideológicos, mostra que suas consequências se estendem até os nossos dias. O sistema educativo, como pedra angular da Revolução Cubana, a história das cidades onde “não há uma única pedra que não tenha sido lançada contra um inimigo”, a construção do “homem novo”, as imagens de Martí e de outros tantos heróis nacionais plasmadas na mente de sucessivas gerações, trazem à juventude de Cuba um diferencial que se caracteriza pelos sentimentos de autoconfiança e orgulho – a “cubanía”. Os mais de 150 anos marcados por fatos e homens, com sua carga de ensinamentos, fizeram com que a nação cubana tomasse consciência de que as contradições internas apenas favorecem a ingerência de forças expansionistas das potências estrangeiras.

Para entender a singularidade do processo é necessário ter em conta as condições políticas, econômicas e sociais do país na primeira metade do século XX, que determinaram a evolução das ideias socialistas e seu entrelaçamento com as lutas do século XIX. A herança do neocolonialismo predatório impôs a unidade, como estratégia política. A Revolução Cubana se inspirou nos ideais organizativos de Martí, denunciante em sua época da notória desunião das forças favoráveis à independência.  Como Fidel assinala, desde seus tempos de estudante, é difícil conceber uma batalha com dez comandantes diferentes, dez critérios diferentes, dez doutrinas militares diferentes e dez táticas. Neste bojo, há 50 anos, brotaram os alicerces da união para os jovens comunistas. Em Cuba há muita clareza que o ideal na política é a unidade de critérios e a unidade de forças, como em uma guerra. Esta é a maior lição que o dia 4 de abril de 1962 nos legou.

 

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Maria do Carmos Luiz Caldas Leite é membro da direção municipal do PC do B de Santos, professora de Física, mestre em Educação. Autora da pesquisa desenvolvida nas escolas em Cuba: http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=24&id_noticia=653