Logo no começo do capítulo desta quinta-feira (20), Paulo Ventura, sósia de Aécio Neves que cai de paraquedas na cadeira de presidente da República, anuncia à nação o envio ao Congresso de um Projeto de Emenda à Constituição (PEC) que cria a Lei de Responsabilidade Pública, cujo texto prevê punição dobrada a qualquer tipo de delito cometido por agentes públicos, quer sejam servidores, parlamentares, ministros de Estado ou juízes. Em seguida, durante o jantar, o mandatário reclama à primeira-dama: “Parece que a grita vai ser grande. As centrais sindicais já ameaçaram greve geral por tempo indeterminado se a lei da ‘responsa’ for aprovada”.

Corta a cena. As emissoras de TV repercutem o conteúdo da lei, otimistas por sua aprovação. Mais um corte, desta vez para um cenário tomado pela penumbra, no qual deputados e senadores corruptos articulam um meio de arquivar a referida PEC. Algumas cenas à frente, ao sair do teatro, o presidente é apupado por manifestantes, identificados como servidores, que seguram cartazes com os seguintes dizeres: “Funcionários públicos repudiam perseguição” e “abaixo o autoritarismo”.

Durante o discurso à nação, o presidente fictício avisa que “minorias organizadas” vão tentar derrubar a PEC e faz uma proposta: “Estou aqui para convidar a maioria desorganizada para defendê-lo”, referindo-se ao projeto. Qualquer semelhança com as convocações feitas por figuras como Reinaldo Azevedo para as “marchas contra a corrupção” ocorridas no ano passado são mera coincidência.

O ataque é bem articulado, mas está longe de ser uma novidade. Desde os tempos de Getúlio Vargas, os veículos de Roberto Marinho e a chamada “grande mídia” em geral associam o sindicalismo e qualquer forma de organização de trabalhadores à baderna, à mamata pública e à corrupção. Milhares de páginas de jornais e revistas já foram dedicadas a martelar nos cérebros da população as “verdades” do Partido da Imprensa Golpista (PIG), obviamente sem nunca exibir quem foram os corruptores da história. Muda-se a forma, mas o conteúdo está longe de ser original.

Descompasso

A eleição de Lula para a Presidência vai completar uma década em outubro deste ano, mas a mídia brasileira, com a TV Globo à frente, ainda está longe de se conformar com as mudanças pelas quais o Brasil vem passando – apesar de também se beneficiar delas. Se o Brasil caminha atualmente para um futuro com mais desenvolvimento e menos desigualdade, esse novo cenário se deve em grande parte às lutas travadas pela classe trabalhadora e suas diversas formas de organização, apesar de toda a gritaria antipopular orquestrada pelos meios de comunicação.

Felizmente, com a internet esse tipo de carimbo sobre movimentos populares aos poucos vai deixando de surtir o efeito de outrora. “O Brado Retumbante”, “Veja”, o “Jornal Nacional” ou a “Gazeta de Jequitinhonha” têm todo o direito de gerar um debate sobre corrupção – ou qualquer tema delicado – na sociedade, mas precisam fazê-lo com responsabilidade e, sobretudo, honestidade. Em tempos de agressões com bolinha de papel e crimes em reality shows, a Globo demonstra não ter assimilado qualquer lição desses recentes fatos – e tampouco compreender os anseios de sua audiência.

Fonte: Portal CTB