A operação "salvem o euro" divide todos na Europa e, principalmente, divide os protagonistas, o cenário político alemão e a coalizão governamental de "Frau" Angela Merkel.

Esta operação foi, essencialmente, assumida pelo ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, o qual – segundo revelou-se neste fim-de-semana – reivindicava "arrancar" do Parlamento alemão um "cheque em branco" para ampliação das atribuições do Mecanismo Europeu Provisório de Apoio (EFSF), possibilitando-lhe a capacidade de intervir, também, preventivamente, no mercado de bônus, algo que hoje exerce – mesmo superando seu papel – o Banco Central Europeu (BCE).

De acordo com documento secreto do Ministério das Finanças, o ardiloso Schäuble preparava a emissão de procuração geral, por força da qual poderia decretar o aumento dos recursos do EFSF – que hoje empresta para Irlanda e Portugal – para também emprestar para a Grécia, aumentando o total de 440 para 770 bilhões de euros.E desejava receber "sinal verde" do Parlamento alemão para estes seus planos, em 23 deste mês, sem ter que prestar mais informações e detalhar a respeito.

Mas Norbert Lammert, presidente do Parlamento (Deutscher Bundestag), do mesmo partido que Schäuble, declarou: "Não daremos nunca cheque em branco". E obviamente esta declaração refere-se diretamente à Grécia, considerando que da Alemanha depende, essencialmente, se a Zona do Euro sobreviverá, a Grécia inclusive.

Por mais que pareça estranho, o melhor aliado de todos os que desejam a sobrevivência da Zona do Euro em seu total é Schäuble. Mas, apesar disso, ele é convocado a prestar contas ao governo de coalizão, ao qual, coincidentemente, pertence.

Espinho das garantias

Membros do governo alemão como Ursula Von Der Laien, ministra do Trabalho, que, na semana passada, lançou a bomba, de que os países que contraem empréstimos de seus parceiros da Zona do Euro deverão fornecer garantias reais como, por exemplo, suas reservas em ouro ou suas participações em empresas estatais.

A chanceler Angela Merkel rejeitou a proposta da ministra acompanhada de muitos elogios. Entretanto, ao que tudo indica, explodiu como bomba a questão das garantias. Além disso, Merkel sugeriu que o Tribunal das Comunidades Européias assuma a atribuição de julgar as transgressões do Acordo de Estabilidade e Desenvolvimento da Zona do Euro.

Mas, para que isso ocorra, é preciso estarem de acordo não só os 17 países integrantes da Zona do Euro, mas os 27 da União Européia, para alterarem as disposições européias.

Christian Wolff, o desconhecido presidente da República alemã, resolveu sair de seu silêncio monástico e criticou a decisão do BCE de adquirir no mercado secundário títulos estatais de países da Zona do Euro com economias "abaladas". "Isto não pode continuar", vociferou, para em seguida aliviar, acrescentando que "mas por ora devemos tolerá-lo".

Mas o DCE poderá interromper este contraditório programa de aquisição de bônus somente se esta tarefa for assumida pelo EFSF. Algo que Schäuble tenta promover, mas seus colegas do governo frearam.

É óbvio que estas divergências dentro do próprio governo alemão dificultam a tomada de decisões, aborrecem seus parceiros e provocam confusões nos mercados. Prova desta situação é a alta, registrada nos últimos dias, tanto dos spreads dos bônus da periferia européia, quanto dos seguros de risco (CDS).

Detalhe finlandês

Em pior situação encontram-se os títulos estatais da Grécia, por todos estes motivos, mas, também, por causa da indefinição dos detalhes do segundo pacote de salvação do país. Um "detalhe" é o acordo que a Grécia formalizou com a Finlândia sobre a participação desta no pacote. Este acordo tem provocado profunda irritação nos demais parceiros que participarão do pacote emprestando dinheiro à Grécia, por causa das garantias que inclui.

O Governo da Finlândia declara que não tem nenhuma intenção de "prejudicar a Zona do Euro e o euro", mas lembra aos esquecidos que "os demais líderes da Zona do Euro haviam concordado na Reunião de Cúpula de 21 de julho com o asterismo da Finlândia, de que não pode participar do pacote de salvação sem receber garantias da Grécia".

Contudo, de acordo com a Jiute Ourpilainen, ministra das Finanças da Finlândia, "as conversações entre Atenas e Helsinque prosseguirão, com a participação, também, dos demais parceiros". Além disso, a questão das garantias da Grécia encabeça a agenda da Reunião de Emergência da Comissão de Economia do Parlamento Europeu que será realizada nesta semana, para qual foram convidados o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, o presidente do Eurogroup, Jean-Claude Juncker, e o comissário da União Européia para Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn.

Sabe-se que prosseguem sem muitos "vazamentos", também, as negociações para o programa de "reciclagem" dos títulos estatais da Grécia que encontram-se em poder de particulares. Durante todas estas negociações e, também, porque está ainda em aberto a altura do "corte" dos bônus, recrudescem as pressões nos bancos, primeiramente, os gregos, mas não só, que são muito expostos a títulos gregos.

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Fonte: Monitor Mercantil