«Na revolução burguesa a partir do feudalismo foram-se criando, progressivamente, no seio do antigo regime, novas organizações económicas que gradualmente modificaram todos os aspectos da sociedade feudal. A revolução burguesa tem uma só tarefa a cumprir: varrer, rejeitar, destruir todos os entraves da sociedade anterior. Cumprindo essa tarefa, qualquer revolução burguesa satisfaz tudo o que dela se exige: intensificar o desenvolvimento do capitalismo».

V.I.Lenine, VII Congresso do PCR.

«Em todos os países se encontram duas concepções opostas: de um lado, o Povo não quer ser, nem comandado, nem oprimido pelos grandes; do outro lado, os grandes querem comandar e oprimir o Povo».

N. Maquiavel, Florença (1469-1526)

Mesmo à margem das explicações técnicas acerca das crises cíclicas do capitalismo, há consenso em reconhecer que elas podem ter efeitos positivos para as grandes concentrações das fortunas e que também concorrem para o benefício dos lucros dos mercados especulativos. Por outras palavras: ao esmagarem os direitos e as esperanças dos trabalhadores e das classes médias, as crises estimulam o grande capital, ganham tempo para os banqueiros aquecerem os motores da sua economia e reembolsa-os dos dinheiros entretanto esbanjados com as retribuições da força do trabalho. As crises económicas representam, neste sentido, oportunidades únicas de investimento do capital.

Nem sequer é necessário perder-se muito tempo com a fundamentação desta tese. Em todo o mundo, à medida que a crise se cava mais fundo, «quanto pior, melhor». O pior para o povo é o melhor para as elites financeiras que ganham sempre e de forma segura. Se perdem nas vendas e fecham as fábricas, diminuem os custos e continuam a arrecadar os lucros das operações bancárias, das acções das multinacionais, dos jogos dos câmbios e bolsas de valores, das falcatruas dos off-shores ou dos portais de oportunidade sustentados no lírico exercício da filantropia em cadeia com os grupos económicos mais lucrativos dos mercados.

A atracção controlada do abismo

Existem riscos, é certo. Mas são riscos normais. O primeiro, pensam os financeiros, é o imprevisível. Em tão delicado campo de operações, um cálculo errado no tempo ou no espaço pode representar a «morte do artista». Por isso, as grandes fortunas cercam-se de uma nuvem espessa de peritos e não regateiam verbas à segurança estratégica das suas operações.

O segundo risco teórico – concedem os tecnocratas – será o de uma afastada mas possível reacção popular organizada. Porém, consideram os banqueiros, o povo é uma sub-espécie da humanidade. Quando murmura qualquer embuste o cala. Quando refila qualquer promessa o satisfaz. Por mais calcado que seja o povo é passivo, optimista e ordeiro… Mas se houver acidente imprevisto, lá está a autoridade do Estado democrático pronta a esfriar as «cabeças esquentadas». Em nome da ordem, das garantias e da nação.

Para nós (o Povo em primeiro lugar e nos riscos da luta, os comunistas) esta avaliação é irrealista e incorre no erro de encerrar o capitalismo numa torre de marfim.

Não é verdade que os capitalistas controlem as crises do capitalismo. É falso que a «batalha do tempo» esteja a ser ganha pelos banqueiros. É ridícula a afirmação de que o cruzamento de crises de várias ordens só atinja algumas nações e não represente já uma profunda crise geral do sistema. E é balofa a balela de que o povo nada entende do que se passa no mundo e de que não reagirá. A luta vai durar tanto tempo quanto o necessário. E os patrões bem sabem que a grande depressão pode desencadear a ruptura dos elos que ligam o capitalismo político, o capitalismo religioso e o capitalismo financeiro.

É por isso que continuaremos a abordar nos próximos espaços desta secção do nosso jornal, assuntos da actualidade do Vaticano, mencionando o pouco que sabemos do muito que está por investigar, acerca de temas escaldantes como o património do Vaticano, as ligações eclesiásticas ocultas, o carácter cirúrgico da diplomacia da Santa Sé, a exploração financeira da banca e dos off-shores, o governo mundial invisível mexido pelos cordelinhos dos políticos «illuminati», etc.

Uma verdade simples pode ser uma arma poderosa. «A religião» – dizia Karl Marx – «não é mais do que o reflexo fantástico que forças externas quotidianas projectam na mente humana».

A ideia é deixar a escolha aos critérios do leitor mas combater o mito.

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Fonte: jornal Avante!