Os "instintos animalescos" aos quais se referia John Maynard Keynes saíram à busca de presas nos EUA. As pessoas têm mergulhado ao tribalismo, não nacionalista, mas político, econômico e social. A incerteza é corrosiva.

Não se trata de fenômeno do momento. É fato que Barack Obama prometeu muito a muitos. Era a promessa por "mudança" aquela que levou à Casa Branca o primeiro negro presidente na história dos EUA. Esperavam um New Deal adequado às exigências do século XXI. De fato, prometeu aos norte-americanos o inalcançável: Um novo Contrato Social. Contudo, no meio do caminho, Obama tergiversou.

Frequentemente, os norte-americanos caem em um maciço auto-engano sobre como funciona o governo deles. A História julgará Barack Obama em questão de tempo. Mas, a curto prazo, os norte-americanos já aprenderam algo, muito fácil, e tem a ver menos com o próprio Obama e mais com fundadores pais dos EUA.

O país tem, frequentemente, ambições reformistas, as quais dificilmente se adotarão por causa do sistema; é um país construído sobre uma revolução e que depois tomou suas providências a fim de que qualquer ato revolucionário raramente pudesse prevalecer.

Controles e equilíbrios. Estas são as características do sistema político norte-americano e, teoricamente, o objetivo delas é a proteção contra um presidente despótico, um "enlouquecido" Congresso e um arrogante Poder Judiciário. Também, outro objetivo delas é a defesa dos direitos individuais.

Na prática, entretanto, conforme mostra a venenosa guerra civil entre os dois grandes partidos que tem paralisado Washington, poucas, muito poucas, das importantes questões são tratadas e concluídas finalmente. Simplesmente, porque não é possível serem concluídas.

Pobres e ricos

A dilaceração mantém-se firme em um país dividido. A "rica América" e a "pobre América" apenas reconhecem uma a existência da outra. A parcela da renda nacional para o 1% mais rico das famílias norte-americanas duplicou-se nas últimas décadas e já atingiu 20%. Mais de 30 milhões de norte-americanos – entre os quais, muitos neopobres da crise – sobrevivem com cupões de alimentação. A esperança que Barack Obama prometia foi, rapidamente, dizimada. O presidente não é responsável por tudo e não é isento de todas as responsabilidades.

Antigamente, Wall Street representava – com toda a credibilidade – a situação da economia. Mas agora tornou-se bazar de jogadores da Bolsa de Valores, não de investidores. Querem saber em que nível encontram-se os spreads hoje e amanhã. Podem ganhar gigantescos volumes de lucros, tanto com os spreads despencando, quanto decolando. Pouco estão interessados pela "América".

O presidente prometeu administrar os problemas importantes com rapidez e decisivamente, e os norte-americanos anotaram sua promessa ao pé da letra. Mas por que nada disso aconteceu?

Composição de forças

Um motivo é o caráter essencial do presidente, o qual encontra-se em antítese com a belicosa personalidade que desenvolveu durante a campanha pré-eleitoral. Agora, os norte-americanos sabem que enganaram a si próprios. É metódico, pensador, cerebral, fiel aos acordos e ao processo.

Os futuros historiadores julgarão, também, Obama de acordo com o sucesso do esforço que deverá envidar a fim de convencer as potências emergentes a aceitarem a ordem mundial e cerrarem fileiras atrás dos valores do Ocidente.

Se Obama servir durante duas gestões, isto é, se retirar da Casa Branca em 2017, o Brasil, a Índia e a China já terão assumido papéis mais importantes no cenário político internacional. Hoje, nenhum dos três é membro do Grupo dos Oito, e somente a China tem cadeira cativa no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Se os EUA não encontrarem formas a fim de integrarem Brasil e Índia à atual estrutura do poder mundial, estes dois países, certamente, tentarão criar seus próprios "clubes fechados".

A questão não é, simplesmente, institucional. A China sente-se particularmente desconfortável no que diz respeito ao sistema ocidental de valores. A crise econômica, em sintonia com o enfraquecimento do poder norte-americano, tem encorajado os membros do regime comunista, os quais acreditam que o capitalismo ocidental e a democracia já são modelos superados.

Obama, então, é obrigado a "revender" tudo aquilo que a "América" representa. O caminho é longo, mas Obama deverá começar imediatamente a ocupar-se com esta questão, agora que anunciou oficialmente sua candidatura nas eleições presidenciais da "América", em novembro do ano que vem.

_________

Fonte: Monitor Mercantil