A criminosa depreciação dos perigos pela empresa proprietária da usina nuclear de Fukushima e o suposto controle das autoridades fiscalizadoras criaram esta gigantesca catástrofe que ameaça, principalmente, o povo japonês, assim como o mundo inteiro.

Conforme constatou-se, todos os seis reatores da usina nuclear resistiram ao terremoto, mas, imediatamente, foram postos "fora de funcionamento". Isto significa que geravam cerca de 7% de produção térmica.

A interrupção de energia elétrica que ocorreu não afetou os 14 geradores que alimentavam as bombas para o resfriamento dos reatores. Contudo, após uma hora, quando chegou o tsunami com ondas de 20 metros de altura, arrasou todos os geradores de energia elétrica, considerando que os quebra-ondas haviam sido construídos para conter tsunamis com ondas de apenas quatro metros, embora existisse precedente histórico na região, com tsunami cujas ondas haviam superado os 30 metros.

Em outras palavras, a tragédia se deve, exclusivamente, à depreciação do perigo pela ocorrência do tsunami. Infelizmente, os japoneses não são abertos à informação. Com as até hoje oficiais declarações tranquilizadoras não explicam-se os elevados volumes de vazamento de elementos radioativos à atmosfera e ao mar.

É óbvio que registrou-se derretimento total de, pelo menos, um reator e parcial em outros três. Os reatores, além do vazamento direto de radiotividade, está claro que em contato com a água que é lançada para refrigerá-los criam gases radioativos e água contaminada com radioatividade que retorna ao mar.

Radioatividade se espalha

Hoje, a situação permanece fora de controle em três reatores e todas as medições confirmam que os vazamentos continuam e se disseminam sobre cada vez maior extensão. Enquanto a zona de retirada dos moradores da região de Fukushima fixou-se em 20 quilômetros em torno da usina, o incessante vazamento impõe distância pelo menos duas vezes superior.

O problema é que as equipes que trabalham para conter a disseminação da radiotividade encontram dificuldades para atuar em condições de contaminação tão elevadas, e os japoneses demoraram muito para utilizar robôs. E existe risco para regiões distantes. Medições oficiais revelaram que radiotividade aumentada além dos limites fisiológicos já atingiu quase todos os países do Hemisfério Norte.

A primeira nuvem de radioatividade que viajou de Fukushima atravessou o Oceano Pacífico ao norte e, em seguida, passou sobre Alasca na fronteira com Canadá, percorreu o litoral do norte da Sibéria e atingiu os países escandinavos, em seguida os países do Mar Báltico e, finalmente, chegou à Rússia. Tudo isso em 13 dias.

Por enquanto, as consequências sobre o ecossistema e para o homem foram tranquilizadoras, com as medições registrando aparentemente volumes baixos de radiotividade. Mas a versão mais preocupante diz respeito à disseminação de materiais radioativos em formação de nuvens, para em seguida caírem em forma de chuva.

Naturalmente, enquanto os vazamentos continuam e a exposição, especialmente das regiões próximas, continua, ninguém está em condição de assegurar quanto tempo é necessário para o controle total da situação.

As autoridades depreciam a dimensão e os riscos da tragédia

O Governo do Japão parece que está brincando com a tradicional paciência da opinião pública do país. Incapaz de enfrentar, eficazmente, a crise que eclodiu com o vazamento de radioatividade em Fukushima, anunciou a reavaliação – "para cima" – das medidas de segurança em todas as 55 usinas nucleares do país, assim como o "desarmamento" – palavra que utilizou insinuando a "desativação" – de quatro usinas nucleares de Fukushima já destruídas, de um total de seis.

Thunehisa Katsumata, presidente da Tepco, empresa proprietária e administradora das usinas nucleares de Fukushima, expressou sua "profunda tristeza" pelos problemas causados na região. "Nossa responsabilidade máxima é de envidarmos qualquer esforço para o fim e o controle da situação atual", disse, sem ficar vermelho.

Enquanto Katsumata assumia o comando de gerenciamento da crise em Fukushima, teve crise de pressão alta, sendo transportado com urgência ao hospital.

Apesar de todas as promessas, o vazamento de radioatividade continua. A Agência de Segurança Nuclear e Industrial do Japão anunciou que as novas medições geiger indicam presença de iodo-131 radioativo 3.355 vezes superior do permitido a 300 metros de distância da usina nuclear. Trata-se do mais alto nível de iodo-131 detectado até hoje.

Informações contraditórias

Com o presidente da Tepco hospitalizado para tratar de pressão alta, seu vice (cujo nome não foi divulgado) apressou-se para, como de hábito, depreciar a importância da medição geiger, destacando que "a população foi evacuada da região há tempo, enquanto as atividades de pesca já foram interrompidas".

As ajudas da indústria nuclear francesa, que o governo japonês havia solicitado, chegaram sexta-feira da semana passada a Tóquio. Mas sua contribuição parece que se esgotará rapidamente no gerenciamento de comunicação da crise. Chegando a Tóquio, a CEO da empresa Areva, An Loverzon, declarou: "Neste momento, o problema que preocupa a Tepco é a água, assim vamos ver, porque eles são especialistas no tratamento do lixo radioativo, o que poderão propor" .

Os especialistas franceses permanecem em Tóquio e não na região de Fukushima. A participação deles poderia contribuir para a melhoria da comunicação com relação à catástrofe, a qual agravou a agonia do povo japonês após o terremoto e o tsunami de 11 do mês passado, que mataram mais de 28 mil pessoas.

Os especialistas afirmam que "a falta de informação e determinados dados contraditórios tornaram difícil a compreensão sobre o que, exatamente, está acontecendo em Fukushima após o derretimento do núcleo em uma das usinas e o gerenciamento do vazamento de radioatividade.

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Fonte: Monitor Mercantil