A vitória de Barack Obama nas eleições presidenciais de 2008 não era simplesmente necessária como catarse de um regime idiota e corrupto. Consistiu aos olhos da opinião pública internacional um rebatismo dos EUA nas águas correntes da seriedade, da lógica e da dignidade do poder. Este self-made jovem, com as credenciais acadêmicas e sociais, prometia transformar seu eleitor branco em indivíduo respeitador do valor de cada candidato, independentemente de sua cor e origem.

É possível que a crise dos déficits do sistema financeiro e da queda não seja obra exclusiva do presidente anterior, mas o caráter que os respeitosos colaboradores de Busj Jr. difundiram, seguramente, contribuiu consideravelmente à criação do caos atual. Porque não tinham, supostamente, calculado as consequências da insaciabilidade quando começaram a se difundir, com grande velocidade, produtos monetários compostos e empréstimos habitacionais titulados com desempenhos elevados anormais.

Quem viaja aos EUA nesta época descobre, com surpresa, o abismo que separa os partidários dos inimigos do atual presidente norte-americano. A segunda categoria, dos republicanos fanáticos, representa a ex-candidata ao cargo de vice-presidente dos EUA Sarah Pallin. Pallin incorpora a espécie do micro/médio norte-americano que considera que o sal da terra e seus parlapatórios, por mais tolos que sejam, têm, infelizmente, repercussão entra as massas populares.

Front externo

Os republicanos de mais "sangue-frio", como Henry Kissinger, acusam o presidente Obama de algo mais sério. Isto é, de não ter concluído suas promessas na área da política internacional. E nesta crítica existe base.

Sua promessa em Praga de um mundo desnuclearizado precisa da parceria da Rússia para frutificar. No Afeganistão, está em jogo – mais do que nunca – o destino do vizinho Paquistão. Obama parece não ter decidido, ainda, a estratégia da – agora suposta – superpotência para enfrentar a galopante expansão do radical islamismo na região.

Entretanto, os maiores problemas de Obama situam-se no front interno, o qual, aliás, definiu também o desfavorável resultado das recentes eleições para o Congresso dos EUA. Apesar da tímida recuperação da economia, a crise não passou ainda. O dilema de Obama situa-se entre a redução do déficit fiscal e o revigoramento do mercado.

É óbvio que a terapia de um agrava a saúde do outro. E Obama, após ter distribuído, generosamente, bilhões de dólares aos bancos e banqueiros para escaparem da falência, tenta agora restringir os gastos públicos com medidas de severa frugalidade.

Fogo cruzado

Visivelmente ele encontra-se sob fogo cruzado: Wall Street o "aconselha" a ser parcimonioso com o dinheiro público, e os republicanos o encorajam a criar rapidamente mais postos de trabalho, a exemplo do que fez Rosevelt.

Graças ao papel que o dólar desempenha como reserva cambial para muitas economias do mundo, os EUA conseguiram até agora financiar seus colossais déficits. Contudo, o quadro interno da economia não é nada encorajador.

De 1983 até 2007, 80% dos norte-americanos de baixa renda tiveram aumento de 10% em seus rendimentos, enquanto, no mesmo período, 20% dos norte-americanos de renda alta tiveram aumento de 60% em seus rendimentos. Obviamente, a frugalidade atinge, indiscutivelmente, mais os cidadãos de baixa renda.Qual será o próximo passo dos EUA? Abandonarão a competição internacional, erguendo altas muralhas de protecionismo para seus produtos, arrastando a Europa, assim como a Ásia, a nova queda? Ou, então, continuarão sua prática atual, dispondo cada vez maior parcela da dívida pública aos compradores estrangeiros? As futuras opções dos EUA terão repercussão sobre todo o planeta.

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Fonte: Monitor Mercantil