Numa medida criada com a colaboração da Casa Branca, a agência americana de crédito à exportação aceitou pela primeira vez emprestar recursos mais barato que a China para ajudar a General EletricCo. a ganhar um contrato do governo da Paquistão para comprar 150 locomotivas. Os termos do financiamento do acordo de US$ 477 milhões precisaram da aprovação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, agência multilateral que monitora os termos de financiamento de exportação nos países desenvolvidos – mas não na China – para tentar criar um ambiente equilibrado.

A medida é um dos vários desafios criados pelo governo do presidente Barack Obama contra a China, maior exportadora do mundo, enquanto seu presidente, Hu Jintao, se prepara para visitar Washington na semana que vem.

"Eles estão ganhando acordos, em parte, porque não seguem as regras", disse o presidente do conselho do Ex-Im Bank, Fred Hochberg, ao Wall Street Journal. "É como dizer que não vamos mais ficar parados e deixar você ganhar novos negócios. Vamos concorrer e garantir que você está em pé de igualdade com as empresas e trabalhadores dos EUA."

O acordo do Ex-Im Bank é um dos vários passos do governo Obama para alcançar sua meta de dobrar a exportações americanas nos próximos cinco anos. Os EUA e outros governos têm pressionado a China para deixar que sua moeda se valorize, o que encareceria as exportações chinesas. O governo dos EUA também abriu dois processos contra a China e a Organização Mundial do Comércio, mais recentemente por causa dos subsídios chineses à produção de turbinas eólicas.

"Toda vez que os EUA vencem um litígio comercial (…) abrem-se as portas para outros países, que se fortalecem e passam também a questionar mais a China." Mas, acrescentou, "ainda não se sabe até onde você pode levar essa estratégia".

O acordo paquistanês foi visto como um teste crucial para o Ex-Im Bank, que financiou US$ 25 bilhões em exportações no ano fiscal encerrado em setembro. A agência chinesa de fomento à exportação aumentou os gastos na última década para dar suporte às exportações do país. As autoridades americanas calculam que a agência chinesa já financia mais que o total concedido pelos países do G-7 juntos.

A Embaixada da China em Washington não respondeu imediatamente a pedidos para que comentasse.

O Paquistão já tinha dado a entender que estava interessado em comprar locomotivas da GE produzidas nos EUA se o país oferecesse os mesmos termos que a China, já melhores que os permitidos pela OCDE. Os trens chineses eram entre 30% e 50% mais baratos que os da GE, mas as autoridades americanas disseram que o Paquistão queria um equipamento feito nos EUA.

"A premissa implícita tem sido que devemos deixar os produtos concorrer por seus próprios méritos, qualidade e valor, e não deixar que o financiamento seja um fator de distorção", disse Hochberg. A China, que não integra a OCDE, opera há muito tempo fora dos termos acordados pelo grupo. "A tolerância a isso começou a escassear nos últimos 18 meses", disse Hochberg.

No início do ano passado, o conselho do Ex-Im aceitou financiar US$ 437 milhões do acordo da GE com um empréstimo de 12 anos. O juro seria ligado ao rendimento dos títulos do Tesouro americano, no momento em cerca de 3%, e taxa de exposição de 8,2%. O Ex-Im Bank avisou à OCDE e a outros membros da organização, que incentivaram o banco americano a prosseguir como um meio de desafiar as práticas chinesas. As locomotivas, que o governo do Paquistão pretende comprar num prazo de dois anos, serão fabricados na Pensilvânia. O acordo, que deve criar cerca de 700 empregos nos EUA, já foi aprovado e só depende de um julgamento da Corte Suprema do Paquistão.

"Estamos contentes que o Ex-Im Bank ofereceu financiamento justo, competitivo e transparente para a Pakistan Railways, como um meio de apoiar a oferta da GE", afirmou ontem a GE num comunicado. "O financiamento do Ex-Im cria um ambiente justo para as empresas americanas concorrerem e criarem novos empregos no país em manufatura de alta tecnologia."

Autoridades dos departamentos do Tesouro, Estado e Comércio, e do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca se envolveram para fechar o acordo com o Paquistão, um país importante para os interesses estratégicos dos EUA.

O premiê da China, Wen Jiabao, visitou o Paquistão mês passado e prometeu bilhões de dólares em investimento em infraestrutura. O Paquistão importa da China mais que o dobro do importado dos EUA, que também passou a concentrar sua ajuda ao Paquistão mais em infraestrutura, em parte para desafiar o poder econômico chinês.

(Colaboraram Bob Davis e Tom Wright)

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Fonte: The Wall Street Journal, no Valor Econômico