A Europa encontra-se em meio ao turbilhão de uma crise de dívida sem precedentes. Ninguém, independentemente das dívidas que o oneram, pode ignorar a vertigem. Ninguém, igualmente, pode desconhecer que no centro da crise européia de dívida encontra-se o euro.

Porque já tornou-se claro que a moeda comum, além de não ajudar na superação da crise, ao contrário a fortalece e, aliás, há quem sustente que até provocou-a. E já há recomendações de fontes respeitáveis para autocancelamento da moeda, sua retirada de circulação e o retorno dos – agora 17 – países integrantes da Zona do Euro às suas moedas nacionais.

"Na história mundial de economia têm ocorrido fatos que, inicialmente, pareciam inesperados, mas rapidamente provou-se que eram inevitáveis: Foram o abandono do cânone de ouro pela Grã-Bretanha, em 1931, ou a desindexação da moeda argentina do dólar norte-americano, em janeiro de 2002", lembra a revista britânica The Economist.

O aumento do custo de refinanciamento dos países integrantes da Zona do Euro, até daqueles que (aparentemente) não enfrentam grave problema fiscal, mostra que os mercados têm certeza de que os europeus terão cada vez maior dificuldade para suportar o peso de sua moeda comum.

Mostra, especificamente, que os mercados não estão convencidos da existência de terapia confiável para deter a crise de dívida transmitida de país integrante para país integrante da Zona do Euro. Os pacotes de salvação da Grécia e da Irlanda não convenceram quanto à decisão dos empoados líderes políticos europeus de superar a crise e, principalmente, de defender sua moeda comum.

A mudança do "sistema de funcionamento" da moeda é considerado legalmente superado. Os cenários que especialistas de think tanks projetam (não por ordem e conta dos governos europeus, mas, também, sequer por vício profissional) oscilam em torno de três eventualidades:

1 – A plena abolição da moeda comum e o relançamento das moedas nacionais dos países integrantes da Zona do Euro.

2 – A retirada dos super-endividados países da "periferia" européia da Zona do Euro.

3 – A retirada dos países com situação fiscal sadia da Zona do Euro.

Previsão de Roubini

O primeiro cenário tem o mais alto custo político e econômico, enquanto, simultaneamente deve superar as maiores dificuldades técnicas. Por isso, talvez, é rejeitado. Aliás, se cada um dos países integrantes da Zona do Euro (a qual, apesar de estar soçobrando ao naufrágio em sua mais séria crise, não cessa de ampliar-se, integrando a partir do dia 1 deste mês a Estônia) adotasse as restrições cambiais necessárias e a limitação, de um modo geral, aos fluxos de capitais que exigiria a proteção de sua moeda nacional, então, dificultaria até a total interrupção o comércio interfronteiriço na União Européia (UE).

Quer dizer, a UE teria dificuldades de funcionar até como união comercial, ocasião em que surgiria a questão de sua dissolução e seu retorno à época dos acordos bilaterais. E seria, certamente, o triunfo absoluto do mais famoso oráculo da atualidade, Nouriel Roubini, o "Profeta do Catastrofismo".

O segundo cenário prevê a retirada da Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália, assim como da excessivamente exposta à divida grega República de Chipre, além da República de Malta, Eslovênia, Eslováquia e demais países "periféricos" do euro, para que estes países retirantes possam desvalorizar suas próprias moedas, tornando-se competitivos, enquanto a "célula-dura" dos países remanescentes poderá utilizar a moeda comum (euro), assim como, valorizá-lo. Este cenário tropeça na obrigação da Alemanha de dividir a mesma moeda com sua vizinha a oeste do Reno, a França.

O terceiro cenário proporciona à Alemanha a desejada libertação. Cria – de comum acordo – com a Áustria e a Holanda uma mini-união monetário-econômica, com sua poderosa moeda, o marco, que poderá valorizá-lo à vontade. Já a França, que assumirá a liderança dos demais países remanescentes, manterá o euro como sua moeda comum, para desvalorizar e tonificar sua competitividade contra a Alemanha e seu grupo, assim como contra os EUA, Japão e, certamente, China.

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Fonte: Monitor Mercantil