O ambiente jurídico e econômico menos hostil às empresas de porte pequeno reflete-se no número de postos de trabalho criados pelo segmento. Após patinar ao longo dos anos 90, diante da inflação elevada e sucessivas crises cambiais enfrentadas pelo País, os micro e pequenos empreendimentos ganharam fôlego desde a estabilização econômica.

Nos anos 2000, a despeito das turbulências, entraram em uma rota ascendente. Em 2008, o crescimento do PIB concentrado no mercado doméstico resultou em 31 milhões de ocupados em empreendimentos com até dez trabalhadores. Em 1989, segundo o Ipea, esse total era bem menor: 14,1 milhões de postos de trabalho, crescimento foi de mais de 100%.

A análise do Ipea chama a atenção para alguns aspectos negativos desse crescimento. Por um lado, o cenário macroeconômico adverso da década de 90 ampliou a oferta de mão de obra disponível, tendência acompanhada de queda do rendimento médio dos ocupa-dos nos pequenos negócios. A redução foi de 1% em termos nominais, porém, bem maior em termos reais (descontada a inflação do período), de 17,5% entre 1989 e 2008. Além disso e embora tenha ocorrido uma queda na taxa de pobreza, houve aumento na quantidade de pobres ocupados em pequenas empresas: 1 milhão a mais.

No mesmo período, a taxa de pobreza absoluta caiu de 30,3% para 17,4%. O Ipea ressalta ainda a hegemonia econômica do Sudeste. O estado de São Paulo continua a concentrar a maior parcela dos postos de trabalho criados pelas pequenas empresas. No período em análise, os empreendimentos paulistas foram responsáveis por uma em cada cinco vagas criadas, 19% do total. A participação relativa no total de ocupações, por sua vez, manteve-se praticamente inalterada, com um discreto recuo de 22,4%, em 1989, para 21,1%, em 2008.

Presidente do Ipea, o economista Marcio Pochmann considera que o Japão é um dos países que aprenderam a dar valor aos negócios menores. “Eles criaram um banco público para as micro e pequenas empresas, para dar condições semelhantes às que as grandes conseguem por conta do seu poder de mercado.”

No caso brasileiro, apesar de o acesso ao crédito ter melhorado recentemente, o problema passa pela redução do número dos bancos e com uma transferência de poupança que reforçou a concentração econômica. “Há um desvio da poupança do Norte e Nordeste para os estados do Sul e Sudeste”, diz Pochmann, para quem o BNDES não é a instituição adequada para prover crédito para o segmento, por lhe faltar a necessária capilaridade. Pochmann defende a constituição de uma agência de produção e difusão do conhecimento tecnológico. Nesse caso, a presença direta nos municípios também é vista como essencial. “Precisaríamos criar uma espécie de Embrapa urbana, além de um ministério exclusivo para o segmento”, diz.

A nova conjuntura em que essas empresas entraram, especialmente a partir- da criação do Simples, começa a atrair o interesse dos bancos privados, tradicionalmente mais afeitos a atender as médias e grandes. Na quinta-feira 9, por exemplo, o Itaú, em parceria com a Microsoft, lançou uma consultoria on-line para atender micro e pequenos empreendedores. Além de dar informações financeiras, a ferramenta pretende auxiliar os novatos em informática.

Algumas outras instituições financeiras de grande porte, como o banco norte-americano Goldman Sachs, também apostam no segmento, diz Tales Andreassi, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-SP. “O Goldman participa de um projeto internacional de capacitação de 10 mil empreendedores, inclusive mulheres brasileiras, no qual eu colaboro. E eles fazem isso porque o retorno de mídia é muito bom para iniciativas como essa. E isso porque a sociedade está sensibilizada para esse tema, uma tendência internacional.”

Nas salas de aula, diz Andreassi, o movimento em direção aos pequenos empreendimentos é perceptível. O interesse dos alunos pelo tema é crescente, ao contrário do que ocorria alguns anos atrás, quando as corporações apareciam no topo da lista de prioridades profissionais dos estudantes.

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Fonte: revista CartaCapital