A falta de investimentos em inovação pode nos levar a questionar a consistência e a continuidade dos bons resultados da economia brasileira nos próximos anos. Ou seja, nosso desenvolvimento econômico não está assegurado apesar da justificada onda de otimismo atual. De fato, os números comprovam nossa modesta posição em Inovação. A última Pintec 2005 (Pesquisa de Inovação Tecnológica/IBGE) revelou que menos de 5 mil empresas fazem pesquisa e desenvolvimento de forma contínua no Brasil demonstrando esforço consistente e estruturado em Inovação. Isso é insuficiente frente às ambições do Brasil.

As soluções para alavancar o esforço insuficiente em P&D nas empresas brasileiras têm apontado para a necessidade de políticas públicas mais ousadas e abrangentes. É certo que os programas de governo de estímulo à Inovação têm se mostrado relativamente limitados nos seus resultados embora sejam extremamente amplos e consistentes nos seus propósitos. Mas, em que pesem as sempre possíveis e desejáveis evoluções das políticas públicas, um fato novo pode estar surgindo no ambiente da Inovação com impactos significativos, tanto no posicionamento concorrencial das empresas brasileiras no cenário internacional quanto na formulação de políticas públicas para o País.

Segundo pesquisa realizada da Câmara Americana de Comércio (Amcham) com suas associadas, uma em cada três empresas tem a Sustentabilidade como um dos elementos essenciais para seus negócios. O levantamento foi apresentado em novembro de 2009, em São Paulo, no evento em homenagem aos vencedores do Prêmio Eco 2009, iniciativa realizada em parceria pelo Valor e pela Amcham. Para os organizadores do evento, inovação com foco na sustentabilidade foi o principal aspecto dos 89 trabalhos de 75 empresas que concorreram ao prêmio. Fica clara, assim, a forte ligação entre sustentabilidade e inovação. Essa proximidade não é casual. Na prática, os dois conceitos são indissociáveis. E, o percurso da inovação pode, finalmente, beneficiar-se desse atalho representado pela sustentabilidade. Esperemos, também, que esse novo caminho seja menos sujeito a ciclos e instabilidades.

Toda atividade econômica impacta o meio ambiente. No entanto esse assunto vem assumindo importância crescente nos últimos tempos por duas razões principais: pela dimensão e abrangência cada vez maior desse impacto e pela conscientização da população dos impactos causados pela atividade humana ao meio ambiente. Esse contexto estimula ações que reduzam ou mesmo eliminem impactos ambientais indesejáveis. Marcos regulatórios mais restritivos vêm se consolidando como elemento importante nesse caminho rumo à sustentabilidade. Mas, é interessante notar também que as empresas estão se antecipando às exigências legais e desenvolvendo soluções completas que garantam o respeito ao ambiente e à preservação do planeta.

As legislações tendem a acompanhar essas iniciativas apenas “a posteriori”, induzidas por empresas pioneiras. Surge aí o primeiro elo objetivo entre sustentabilidade e inovação. Desenvolver novas soluções que atendam o bem estar das pessoas e o respeito ao ambiente exige um esforço consequente em inovação. Fazer isso antecipando tendências é extremamente desafiador e representa uma abordagem genuinamente inovadora. Esse esforço vem tomando espaço nas empresas e delineando um novo paradigma de atuação. A maioria das empresas inovadoras está mantendo, ou mesmo aumentando, seus esforços em sustentabilidade e, consequentemente, em inovação, porque percebem criação de valor nessa atividade. Recente levantamento realizado entre associadas da Anpei sinalizou que mais de 70% das empresas mantiveram ou aumentaram seus investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) em 2009.

Outro ponto de convergência entre inovação e sustentabilidade que vale a pena destacar é o da diferenciação. A inovação, tanto quanto a preocupação com a sustentabilidade, permitem desenvolver produtos diferenciados para o atendimento das necessidades do mercado e de aplicações pioneiras de forma sustentável, normalmente com ganhos ambientais importantes. Esses produtos promovem a imagem das empresas e alimentam o círculo virtuoso de agregação de valor, estimulando mais desenvolvimentos pioneiros e diferenciados.

Além disso, o Brasil aparece, no contexto da discussão sobre sustentabilidade, de forma privilegiada devido à grande competitividade de seus recursos naturais. Mas, a simples disponibilidade de recursos não é suficiente para garantir uma posição destacada nesse contexto no longo prazo. É necessário ir além e efetivar o potencial dos recursos renováveis em ações e resultados concretos. Para tanto, novas tecnologias devem ser desenvolvidas e disponibilizadas. Surge, assim, por meio da sustentabilidade, uma nova demanda tecnológica por inovação. A possibilidade de desenvolver rotas alternativas a partir de insumos sustentáveis e sem a geração de resíduos é a terceira e definitiva interface que integra inovação e sustentabilidade.

A preocupação com a sustentabilidade pode lançar a inovação para um novo e diferenciado patamar colocando-a, definitivamente, na ordem do dia da competitividade e emprestando a ela alguma estabilidade. Podemos, então, à luz dessa discussão que não se esgota aqui, enumerar algumas certezas e convicções:

Quem diz “Sustentabilidade”, diz “Inovação”. Não haverá sustentabilidade, principalmente ambiental, sem esforço consequente e estruturado em inovação.

Tanto sustentabilidade quanto inovação são fundamentais para garantir a competitividade das empresas no contexto global.

A incerteza crescente no mundo é caldo de cultura e ambiente propício para a Inovação.

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Carlos Calmanovici é engenheiro e presidente da Anpei – Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras

Fonte: jornal Valor Econômico