Não pode deixar de ser denunciado o sério e perigoso significado das recentes sanções contra o Irão aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que contou com os dignos votos contra do Brasil e da Turquia (e a abstenção do Líbano).

Estas novas medidas do Conselho de Segurança das NU contra o Irão partiram de mais uma iniciativa dos EUA – apadrinhada pela França, Alemanha e Grã-Bretanha -, que se enquadra na sua estratégia de permanente ingerência, desestabilização e aumento da tensão com vista ao domínio desta importante região do Mundo, tão abundante em recursos.

Aliás os EUA têm utilizado as sanções como um instrumento de incremento de escaladas de confronto contra países que não se submetam aos seus ditames ou obstaculizem a concretização das suas ambições. Recordemos, por exemplo, as etapas de preparação da agressão dos EUA (e dos seus aliados) à Jugoslávia ou ao Iraque.

Estas medidas de confronto promovidas pelos EUA (e pela UE) têm tido como objectivo obstaculizar a solução pacífica de problemas e conflitos, alicerçar a ingerência, isolar e procurar utilizar a legítima reacção dos Estados visados em defesa da sua soberania e projectos de desenvolvimento como pretexto para levar avante novas provocações ou, mesmo, agressões, sempre acompanhadas por amplas campanhas de desinformação que procuram apresentar o agredido como agressor.

Aliás, estas novas medidas contra o Irão (preparadas e acordadas, inicialmente, à margem do Conselho de Segurança das NU) surgiram precisamente no momento em que, por iniciativa do Brasil e da Turquia, é aberta uma real oportunidade de construção de uma solução política para o problema criado em torno do programa nuclear do Irão, que este reafirma ter objectivos pacíficos. Iniciativa do Brasil e da Turquia que, afinal, expôs a nu as intenções de confronto e de agressão levadas a cabo pelos EUA e da sua instrumentalização do Conselho de Segurança das NU para este fim.

Recordem-se os esforços dos EUA – que acabaram por ser protagonizados pelas grandes potências da UE – de passar a discussão em torno do programa nuclear do Irão da Agência Internacional de Energia Atómica para o Conselho de Segurança das NU como passo necessário ao aumento da tensão.

Aliás, com este tipo de decisões, é cada vez mais questionado o papel e a legitimidade das decisões (ou ausência delas) deste órgão da ONU. Aos olhos do mundo só pode ser chocante e hipócrita que o Conselho de Segurança das NU que votou maioritariamente as sanções contra o Irão, não tenha adoptada uma resolução de condenação de Israel pelo criminoso ataque a embarcações com ajuda humanitária destinada à população palestiniana na Faixa de Gaza, (mais) um acto de terrorismo protagonizado por um Estado que coloniza, explora e oprime o povo palestiniano, que é portador de armas nucleares e que ameaça de agressão e agride países no Médio Oriente gozando da conivente impunidade que lhe é concedida pelos EUA e a UE.

A perigosa instrumentalização do Conselho de Segurança das NU por parte dos EUA e da UE é igualmente exposta quando, não conseguindo integrar na resolução todas as medidas que pretendia (por desacordo da China e da Rússia), posteriormente, as adopta de forma unilateral (e branqueada), invocando a adopção da resolução que, precisamente, não as havia integrado.

Há que estar muito atento à evolução da situação nesta região. As sanções agora aprovadas pela maioria do Conselho de Segurança das NU estão imbuídas do perigoso germe da provocação protagonizada pelos EUA. Às forças anti-imperialistas, às forças da paz impõe-se a denúncia das acções e intenções do imperialismo e a exigência do fim da escalada de agressão.

Corda esticada

Os principais sindicatos do sector público e privado convocaram para o próximo dia 29 uma paralisação de 24 horas em protesto contra os novos projectos de reforma da segurança social e do mercado de trabalho.

Para ontem, quarta-feira, 23, dia em que os diplomas deveriam ser apresentados no parlamento, a Frente Militante dos Trabalhadores (PAME) já tinha convocado uma greve geral contra a nova legislação adoptada pelo governo sob exigência do FMI e da UE.

Nas palavras da secretária-geral do Partido Comunista da Grécia, Aleka Papariga, este novo pacote legislativo representa uma intensificação da ofensiva que está a «transformar os trabalhadores em exércitos de esfomeados».

Entre as muitas alterações previstas, destaca-se a abolição das convenções colectivas e a drástica diminuição do salário mínimo nacional, que atinge em particular os jovens. Assim, os trabalhadores até aos 21 anos só terão direito a 80 por cento da remuneração mínima, passando para 85 por cento entre os 21 e 25 anos. Deste modo, segundo cálculos da PAME, o actual salário mínimo nacional de 740 euros cairá em termos brutos para 592 euros, que representam para os jovens 470 euros líquidos por mês, isto é, 21 euros por cada oito horas de trabalho.

Enquanto elimina restrições aos despedimentos, o governo de Papandreu pretende impor a redução para metade do valor das indemnizações devidas aos trabalhadores, ou seja, em vez dos actuais 24 salários, passarão a receber apenas 12.

Paralelamente, prossegue a demolição dos direitos da segurança social, com a eliminação na prática das pensões de reforma e a sua substituição por prestações sociais no valor de 360 euros, a partir dos 65 anos. Os serviços públicos passam para as mãos dos privados, tornando a saúde e a educação em bens cada vez mais inacessíveis à maioria da população.

«Guerra ao governo»

Em conferência de imprensa, Aleka Papariga afirmou que perante a gravidade destas medidas «o povo deve declarar guerra ao governo». Condenando o executivo do PASOK e os partidos ND (conservador) e LAOS (extrema-direita) que o apoiam, a dirigente comunista notou que o objectivo destes partidos, juntos, é obrigar «os trabalhadores a pagarem as consequências da crise do capitalismo, apesar de não terem qualquer responsabilidade nela».

«Procuram assim garantir elevados lucros no futuro e o poderio do capital grego. Cortam as conquistas que restavam aos trabalhadores para dar um sopro de vida ao modo de produção capitalista que está ferido de morte. O capitalismo está obsoleto, podre e é parasitário. É incapaz de superar as suas contradições intrínsecas e por isso torna-se mais agressivo em relação à classe operária, aos auto-empregados, aos pequenos e médios empresários.»

Apelando à luta para «derrotar a política antipopular e os seus defensores, Papariga considerou que é preciso «iniciar a luta pelo derrube do poder dos monopólios. Basta de mentiras, o desenvolvimento do capitalismo só conduz a sacrifícios e sofrimentos, À exploração selvagem da juventude, abandonando à sua sorte os idosos».

A dirigente comunista exortou ainda os trabalhadores a voltarem costas às «direcções conciliatórias das centrais GSEE e ADEDY» e a juntarem-se à sua central sindical de classe – a PAME.

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Fonte: jornal Avante!