A partir de 25 de abril último, perseguir, acossar e discriminar é a palavra de ordem no Arizona, contra todos aqueles que por seu físico possam parecer imigrantes ilegais. Afinal, que os uniformados ganharam faculdades para solicitar identificação a todos aqueles que não sejam loiros e de olhos azuis e seu biótipo responda ao dos hispânicos. Não é por acaso que na essência da nova legislação o suporte racial tenha vindo à tona.

Alguns analistas consideram que tal decisão responde a um fim eleitoral, pois em épocas de crise certos setores de votantes, ligados à extrema direita e ao racismo, pensam que “a culpa do desemprego atribui-se aos estrangeiros, os que chegam ao país para tirar o trabalho aos nacionais e desfrutar dos serviços médicos e educativos à custa do dinheiro e dos impostos dos residentes”.

Nada mais fora da realidade porque, realmente, esses milhões de indocumentados que atravessam as fronteiras estadunidenses arriscando a vida, fazem isso na maioria dos casos para realizar aqueles trabalhos que os nacionais não assumem por serem mal pagos ou, simplesmente, porque são atividades que se realizam em época de colheitas. Sobretudo, chegam e isso não pode ser ocultado porque o modelo neoliberal imposto em seus países de origem, exclui-os do setor produtivo por carecerem de qualificação ou porque simplesmente ficam desempregados em consequência da crise e da diminuição do papel do Estado. A isto se soma a eterna propaganda que apresenta os Estados Unidos como o paraíso, tal qual se reflete na mídia.

Com certeza, a nova legislação irritou o Executivo mexicano que a denunciou, segundo a mídia. De acordo com essas fontes o presidente Felipe Calderón expressou que “constitui um obstáculo para a solução dos problemas comuns na zona fronteiriça”.

Com palavras similares, a chanceler Patricia Espinosa não condenou apenas o fato, mas advertiu que seu governo “utilizará todos os meios disponíveis para apoiar os mexicanos perante os efeitos da nova lei, a mais dura contra a migração ilegal que se tenha adotado nos Estados Unidos”. Da mesma maneira, manifestaram-se organizações de direitos humanos e civis e associações de imigrantes, as quais argumentam que a criminalização fragiliza a existência própria dos hispânicos em território estadunidense, pois ficam a mercê dos uniformados e de seus conhecidos e brutais métodos na identificação dos indocumentados, no que para eles sejam “suspeitas razoáveis”.

Outros observadores apontam que a nova lei no Arizona se levanta como impulso de força contra o governo de Obama, face às eleições legislativas de novembro, pois o presidente descumpriu as promessas da campanha quanto ao tema migratório, que levantou como bandeira de justiça e que lhe fizeram ganhar o voto dos hispânicos.

O então candidato democrata prometeu que em seu primeiro ano de mandato, se chegasse à Casa Branca, promoveria com aspirações de sucesso uma lei de imigração que dêsse a possibilidade aos indocumentados de legalizarem seu status no território norte-americano. Com promessas deste tipo, venceu as eleições e chegou à Casa Branca, em 2008.

Nada mais longe da realidade. Obama cumpriu dois anos no governo e o que mais se escutou dele e, neste caso referente à legislação aprovada em Arizona é que “é errada” e que “o governo federal deve aplicar uma reforma migratória em nível nacional, sob o risco de deixar abertas as portas à irresponsabilidade alheia”.

Apenas palavras, pois quando os jornalistas indagaram pelas prioridades da Administração, o tema ficou ausente e, em seu lugar, o secretário da Imprensa, Robert Gibbs, foi bem claro ao dizer que “as maiores prioridades, depois de atingida a reforma de saúde, eram dirigidas aos regulamentos financeiros, à energia e ao financiamento das campanhas políticas”.

Ao menos Gibbs foi franco: “Não basta que o presidente queira fazer algo, explicou, necessita um forte apoio de democratas e republicanos”. Apoio que, obviamente, não tem.

Entretanto, o Fundo Legal de Defesa e Educação mexicano-estadunidense que está disposto a se opor à Lei de Arizona nos tribunais, argumenta que a tal legislação lança a esse estado norte-americano a uma espiral de temor permanente, desconfiança entre a comunidade, aumento no delito e custosos litígios, com repercussões em nível nacional.

Simulações, deixar fazer, confrontos no interior do poder entre a direita e a extrema-direita, pôr em crise os democratas pondo Obama contra as cordas, são ingredientes do tema migratório que, como todos os que concernem à política imperial estão enviesados, respondem à dupla moral que caracteriza os que têm o governo e o poder,— que nem sempre são os mesmos — já que enquanto se lançam com tudo contra os indocumentados salvadorenhos, mexicanos, guatemaltecos, latino-americanos em geral, expulsos pela miséria de sua terra de origem, abrem as portas a uma emigração “política” que estimulam como parte da campanha de descrédito, implementada contra os governos revolucionários e nacionalistas do continente.

Para os que “emigram” por serem “perseguidos” de “regimes ditatoriais” o tema indocumentados não existe. No caso dos cubanos, são amparados pela chamada Lei de Ajuste e no caso dos criminosos e ladrões que em bandos começam a chegar a Miami da Venezuela, Bolívia, Equador ou Nicarágua, por citar apenas alguns, tudo está em ordem. Para eles não há nem haverá perseguição, nem acosso, nem discriminação. Assim de falsa é a justiça estadunidense seja no Arizona ou na Flórida.

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Fonte: jornal Granma