Recusa da União Européia de ajudar economicamente o país: “Vamos ajudá-los somente quando chegarem à beira da falência”, nos disseram. Mas, por detrás de tudo isso, a política da chanceler alemã, Angela Merkel. E do sombrio quadro da crise fiscal da Grécia emerge a horrenda feição da nova União Européia do Século XXI, exatamente, como o governo de Berlim quer conformá-la.

Mudança radical das condições da União Européia exige já publicamente a liderança alemã. E já proclamou os novos cânones. “Um país com déficit superior a 3%? Deve ser jogado fora da Zona do Euro”, exige Merkel. “Não só isso. Vamos também, cortar-lhe todas as verbas comunitárias e tirar-lhe também o direito de voto”, vocifera, implacável, o ministro de Economia da Alemanha, Wolfgang Schäuble.

“Formataremos também ordinário processo de falência dos Estados”, apressou-se para completar as ameaças de seu país, endereçadas “a quem interessar possa”, o presidente da Alemanha, Horst Keller.

Tortura econômica

Parece que os alemães querem transformar a União Européia em Dachau fiscal. Felizmente – por ora – exigem apenas que os povos dos países que transgridem o Acordo de Estabilidade e Desenvolvimento sejam submetidos a torturas econômicas. Ainda bem! A imprensa alemã formula rasgados elogios à Merkel por sua posição contra todos os demais “empoados” líderes do países-membros da União Européia.

Os jornais festejam: “Merkel ditou as condições para concessão de ajuda à Grécia em caso de necessidade”. Os demais governos da União Européia concordam rangendo seus dentes porque não lhes restou nenhuma outra opção. E para todos agora tudo ficou claro: “Temos mudança de época”. Um outro jornal destacou: “Na Europa sopram novos ventos”.

Temos, então, mudança de estratégia do governo de Berlim, contra a complementação européia. “Após a reunificação da Alemanha, faltava um considerável incentivo alemão a favor da complementação européia”, confessa cinicamente a revista Spiegel.

Em outras palavras, Angela Merkel já sente suficiente autoconfiança, para exigir – sem pretextos – a reforma da União Européia de modo a reconhecer e garantir a hegemonia de Berlim. E até sem financiar mais sequer a unificação européia, como já fez durante décadas. “Nunca mais caixa da Europa!”, brada o jornal Bild.

A mudança da posição da Alemanha provoca confusão generalizada na França. “Se não existir solidariedade dentro da União Européia, então para que serve ela?”, questionou-se o jornal francês Liberation, constatando que “durante longo período locomotiva da União Européia, o casal franco-alemão parece pronto para desabar. A Alemanha, adotando o papel de cavaleiro solitário, cavalga oficializando o fracasso da União Européia”.

Tentação do divórcio

E o jornal Le Monde revela semelhantes preocupações: “Qual é o jogo que joga a Alemanha? Sua posição desorienta seus parceiros”, escreve em importante análise com a característica manchete “Alemanha, Zona do Euro: A tentação do divórcio”.

Os sentimentos antigermãnicos disseminam-se, rapidamente, em toda a Europa. “A miopia de Merkel reacende a questão alemã da Europa”, é o título revelador de análise do jornal britânico Financial Times.

“Esquenta a discussão aberta por Paris sobre o egoísmo da Alemanha”, é a manchete de primeira página do jornal francês Le Monde. Até a alemã Spiegel é obrigada a confessar: “Despertam-se, novamente, velhos sentimentos antigermânicos em consequência da nova marcha de Berlim. Na Grécia, Merkel e a Alemanha tornaram-se objetos de ódio”.

Será que os Estados europeus – primeiramente, a França – e seus empoados líderes se submeterão ao plano alemão de domínio sobre a Europa, ou organizarão conspirações de resistência com objetivo de fazer com que a Alemanha redefina sua estratégia?

Por mais desencorajadora que seja a primeira hipótese, parece a mais provável. A dependência das empoadas lideranças européias aos recursos econômicos da Alemanha é tão forte a ponto de suas disposições e, principalmente, suas possibilidades reais de resistirem serem muito limitadas.

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Fonte: Monitor mercantil