O jornal “Folha de S. Paulo” se vangloria da resposta da presidenta Dilma Rousseff ao seu editorial “Nem Dilma nem Temer” (veja minha resposta aqui) na rede social Facebook. “Setores da sociedade favoráveis à saída de Dilma, antes apoiadores do impeachment, agora pedem sua renúncia. Evitam, assim, o constrangimento de respaldar uma ação ‘indevida, ilegal e criminosa’. Ao editorial da Folha de S. Paulo publicado neste domingo (3), fica a resposta da presidenta: ‘jamais renunciarei’”, escreveu ela. O texto foi publicado acompanhado de um vídeo com trechos de discursos anteriormente proferidos pela presidenta (veja aqui) em que ela reforça a posição de respeito à democracia e descarta, enfaticamente, a hipótese de renúncia.

Dilma não desceu aos subníveis do editorial, mas optou por dar audiência à nova modalidade de golpe que vai ganhando corpo na mídia. Depois da desastrada saída da trupe de Michel Temer do governo, começou a se formar uma tendência de derrota dos golpistas pela via do impeachment fraudulento, comandado por Eduardo Cunha, figura desclassificada e completamente desmoralizada, ilegítima para figurar como protagonista em qualquer processo institucional. Talvez a presidenta tenha avaliado que vale a pena dar alguma atenção para a tese de tendência de fracasso do impeachment como reforço da ideia de que os golpistas agem com más-intenções. É uma hipótese. Ou seja: Dilma não gastou vela com defunto ruim.

Fase de reavaliação da sua tática

Olhando pragmaticamente, a conclusão é de que a aposta na derrota do impeachment pode ter alguma lógica, mas, estrategicamente, não vale a pena apostar uma moeda furada no enfraquecimento da sanha golpista. Essa fratura no campo golpista representa um dado positivo, um sinal de fraqueza política e desarticulação da unidade da direita, o que não quer dizer que ela não pode se unir mais à frente, caso a tendência de fracasso do impeachment se confirme. Hoje, os que estão abandonando a trincheira de Eduardo Cunha e seus aliados da comissão da Câmara estão sendo duramente hostilizados pelos setores direitistas mais empedernidos. Inclusive a “Folha”.

Os grupelhos que organizam as manifestações convocadas pela mídia são insignificantes, milícias fascistas que servem muito bem ao propósito de desgastar a imagem da esquerda, ao contrário dos porta-vozes do projeto de governo interessado na derrubada da presidenta. São estes os responsáveis pela disposição das cartas na mesa. Cada movimento deles deve ser acompanhado com lupa de precisão. Se a “Folha” fez essa manobra é porque a direita entrou numa fase de reavaliação da sua tática. O jogo do golpe, que está equilibrado no meio de campo, certamente ganhará lances dramáticos nos próximos dias.

Tenacidade da presidenta Dilma

Seria ingenuidade política, a essa altura do campeonato, acreditar na toalha atirado ao chão pela direita no round do impeachment, mas é bom começar a prestar mais atenção nesse movimento de abandono da opção Michel Temer. Há dois movimentos com alta possibilidade de se tornar realidade: novas investidas contra o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, especialmente se ele assumir o Ministério para o qual foi indicado, e mais prisões pela “Operação Lava Jato” com potencial de denúncias bombásticas sobre as doações para a campanha de 2014. No primeiro caso, o objetivo seria limitar a movimentação de Lula na articulação de apoio ao governo. No segundo, pressionar a Justiça Eleitoral para cassar a chapa Dilma-Temer.

Parece não haver dúvidas de que essa mudança de tática de setores significativos dos golpistas se deve à crescente resistência democrática, com manifestações nas ruas, pareceres de juristas idôneos, pronunciamentos de intelectuais e posicionamentos de artistas. A força da argumentação desses setores democráticos, que tem furado o bloqueio da mídia, certamente impulsionou a luta contra o golpe. Ao sair da defensiva, a esquerda e seus aliados têm grandes possibilidades de ampliar o diálogo com a sociedade e engrossar as atividades de defesa da legalidade. E a tenacidade da presidenta Dilma, como a principal protagonista do campo democrático, tem contribuído grandemente para essa contraofensiva.