Sem Paulinho seria impossível fazer o documentário Osvaldão. Ele topou se embrenhar no baixo Araguaia com uma pequena equipe: Eu, Renata Petta, Fábio Pinatti Bardella e Andre Lorenz Michiles para contar a saga do Guerrilheiro das matas, como ele gostava de dizer.

Lembro que uma noite, depois de uma filmagem ficamos tomando uma cerveja, numa cidade chamada Brejo Grande. O lugar parecia sem lei. Ele me perguntou: você tem medo de morrer? E emendou: eu não tenho medo de morrer. Morri quando o latifúndio matou meu pai.

Paulinho era de uma coragem absoluta. Enfrentava o latifúndio, o exército, buscava incessantemente os arquivos sobre a Guerrilha do Araguaia e por onde vc andava nas matas ou nas casinhas perto de igarapés, todos conheciam e o admiram, tanto Paulinho como seu pai Paulo Fonteles, deputado morto covardemente num posto de gasolina.

Uma vez Paulinho me disse que tinha sido jurado de morte, junto com um camarada em São Domingos do Araguaia. Ele contou que os dois ficaram a noite inteira trancado na casa, cada um com um revólver esperando o pior. Ao amanhecer nada tinha acontecido, foi um silêncio a noite toda. Mas como naquelas band as tudo acontece sem você saber, ao abrir a porta da casa que alguém tinha acendido velas com um recado: vocês já são defuntos.

Paulinho contagiava todos. Em qualquer debate ele se tornava o protagonista.

Esse ano me mandou uma mensagem. Nos encontramos. Falou de seus planos, do Instituto Paulo Fonteles, que o cineasta Erick Rocha estava pensando em fazer um documentário sobre seu pai… era muita novidade e uma incerteza se voltaria ao Pará.

Paulinho amava demais sua família, a sua musa Angelina Di Angelis, o seu Payssandu, baixo Araguaia e os seus amigos.

O coração de Paulinho parou. E se alguém me encontrar chorando hoje, por favor, entenda!

Vandré Fernandes é cineasta