Ao vencer a barreira imposta pelas variadas limitações a um amplo debate sobre o sentido dessas eleições, as forças progressistas chegam ao segundo turno revigoradas, autorizadas por milhões de votos a representar a luta contra o fascismo e o combate às propostas ultraliberais. Essa autoridade ganha ainda mais dimensão com as votações de outros candidatos do campo democrático e popular, como Ciro Gomes e Guilherme Boulos, que deram inestimáveis contribuições para impedir o triunfo da chapa do arbítrio e da violência no primeiro turno. Juntos, os candidatos de esquerda já somam mais de 41%!

A realização do segundo turno, por si, é um revés para Bolsonaro. Ele montou uma grande operação, com apoio de poderosos interesses econômicos e financeiros, além dos monopólios midiáticos, inclusive com ações ilegais, para tentar a vitória no primeiro turno. Mesmo assim, não conseguiu.

Com essa responsabilidade nos ombros e com o vigor democrático que emergiu das urnas, a chapa da coligação O Povo Feliz de Novo tende a se fortalecer e se transformar num grande movimento de massas anti-fascista. O desafio, imediato, é o de compor uma aliança envolvendo um espectro político o mais amplo possível para fazer caber nele literalmente todas as forças que se dispõem a formar uma sólida barreira com condições de impedir a passagem do fascismo nas urnas do dia 28. Uma frente que absorva diferentes propostas, que dialogue com variados setores da população, que una diversas bandeiras e que amarre um projeto de defesa da nação, tendo como base o programa da coligação.

Um movimento assim, genuinamente democrático, popular, patriótico, tem potencial para galvanizar as ideias desenvolvimentistas e buscar soluções para a grave crise do país. O primeiro passo nessa caminhada que se inicia rumo à vitória no dia 28 de outubro é isolar as vias do fascismo e criar as fundações de um sólido movimento de resistência à ofensiva conservadora, que transcende as eleições. Dizer, enfaticamente, que a polarização verdadeira se dá entre a restauração da democracia como premissa indispensável ao desenvolvimento do país com direitos para o povo e a radicalização das medidas do governo golpista de Michel Temer, que tantos males têm causado ao povo e ao país, por meio do arbítrio e da violência.

Para o êxito dessa missão, impõe-se, já na largada, um intenso debate com a população para que ela veja o imenso perigo que paira sobre a nação. Dizer às claras que estão ameaçados, junto com a democracia, os sistemas públicos de saúde, de educação e de programas sociais. Além da mobilização popular, essa nova etapa da campanha eleitoral exige a propagação de um programa mínimo, de aplicação imediata, para livrar o povo dos flagelos causados pela marcha golpista e para iniciar a recuperação econômica. Um programa que ao mesmo tempo abra espaços nos setores da sociedade que, por um motivo ou outro, acreditam na panaceia de que uma mão forte desmontando o Estado nacional pode trazer a salvação para a combalida economia brasileira.

O sentido de urgência de medidas como essas pode ser o ponto divisor na polarização que opõe os interesses do povo e do país aos dos que estão efetivamente representados no programa de governo da chapa ditatorial. Não é difícil explicitar o elevado grau de ameaça das propostas da extrema direita quando elas são comparadas com os seus resultados em países de economias dependentes ultraliberais e neocoloniais, como se vê atualmente na Argentina e se viu nas crises que assolaram a América Latina nas décadas de 1980 e 1990. Explicar que o programa de governo de Bolsonaro-Mourão prescreve, letra por letra, aquilo que foi imposto como remédio para a crise e que resultou tão somente na pesada carga de degradação social — especialmente o desemprego elevado — posta nas costas do povo. Não à toa, ele foi trancafiado a sete chaves, distante da vista de todos.

A história mostra que soluções milagreiras para a crise resultam em tragédias sociais. Em diferentes ciclos, o recurso ao arbítrio e à violência foi o meio utilizado para a sua aplicação. A história do Brasil está pontilhada de exemplos assim. Com a extensão e a profundidade da crise atual, essa receita nas mãos de pregoeiros da violência social certamente levará o país a uma situação dramática. Nessa confrontação entre os reais interesses do povo e da nação e as soluções milagreiras por meio de métodos fascistas está a síntese das responsabilidades e o sentido de urgência de ações amplas e unitárias da chapa Fernando Haddad-Manuela d’Ávila.