Na guerra contra a Alemanha nazista, uma grande frente internacional se formou, a dos “Aliados”. Ela foi vitoriosa. Mas, se olharmos em profundidade, veremos que, entre os vencedores, a antiga União Soviética, com seu Exército Vermelho, teve um destaque especial.

Em fevereiro de 1954, uma Comissão Aliada de Reparação da Alemanha, chefiada pelo diplomata Ivan Maisky, trabalhou para definir um mecanismo pelo qual a Alemanha derrotada pagaria pelos danos correspondentes causados às potencias vitoriosas. A comissão concluiu que “o número de dias de soldado gastos pela Alemanha na frente soviética é pelo menos 10 vezes maior do que em todas as outras frentes aliadas. A frente soviética também teve que lidar com quatro quintos dos tanques alemães e cerca de dois terços das aeronaves alemãs”.

No comando dos “Aliados” estiveram três chefes de estado que passaram à história como “os três grandes”: Joseph Stalin, da União Soviética, Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos e Winston Churchill, da Inglaterra.

Franklin D. Roosevelt, no dia 28 de abril de 1942, afirmou em discurso à nação americana: “As tropas russas destruíram e continuam destruindo mais tropas, aviões, tanques e armas de nossos inimigos, do que todas as outras nações unidas “.

Winston Churchill, em mensagem dirigida a Joseph Stalin, de 27 de setembro de 1944, escreveu “o Exército russo arrancou as entranhas da máquina militar alemã …”.

Durante a guerra, o exército nazista esteve na ofensiva desde o início das operações bélicas, em setembro de 1939, quando ocupou a Polônia, até fevereiro de 1943, quando foi derrotado na batalha de Stalingrado. Nesse período, a máquina de guerra hitlerista conquistou diversos países.

Stalin, nesse tempo, insistiu junto aos “Aliados” para que abrissem uma frente de batalha na Europa ocidental, o que dividiria as forças nazistas e aliviaria a pressão da Alemanha sobre a União Soviética. A abertura dessa frente ocidental sofreu muito atraso.

O Exército Vermelho, após a vitória em Stalingrado, passou a uma ofensiva geral, que foi de julho de 1942, quando venceu em Stalingrado, a maio de 1945, quando terminou a guerra. No curso dessa ofensiva, Varsóvia, Belgrado, Viena, Praga foram libertados. No dia 1º de maio de 1945, a bandeira vermelha foi hasteada, triunfalmente, no Reichstag, em Berlim.

Cerca de dois anos após a vitória do Exército Vermelho em Stalingrado, os “aliados” abriram a frente de guerra na Europa ocidental, na Normandia, no conhecido dia “D”, em junho de 1944. Os reforços trazidos com esse desembarque, em muito ajudaram os “Aliados” na guerra e apressaram a derrocada do hitlerismo.

O fim da União Soviética, em 1991, fez surgir em seu lugar a Comunidade dos Estados Independentes, a CEI, cujo mais importante membro é a Rússia, que aparece, até certo ponto, substituindo a URSS.

Na época da União Soviética e até hoje, nos marcos da Rússia, a Segunda Guerra Mundial nunca deixou de ser chamada por esses povos de Grande Guerra pela Pátria. Os soviéticos, e hoje o povo russo, reverenciam, em diversas oportunidades, todos os anos, a bravura com que se comportaram na Grande Guerra e a vitória conquistada. A importância dessa vitória é muito mais valorizada por lá do que pelos demais países ocidentais.

Agora, quando a vitória na Grande Guerra pela Pátria completa 75 anos, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez divulgar em nível internacional um artigo intitulado “75 anos da Grande Guerra pela Pátria: responsabilidade perante passado e futuro”. Trata-se de um levantamento histórico percuciente, objetivo, corajoso. Faz denúncias de fatos antigos, anteriores à guerra, de outros, ocorridos no curso da mesma e de outros ainda da atualidade. Indica caminhos.

Quem queira conhecer, em linhas gerais, como surgiu e se desenvolveu a Segunda Guerra Mundial, deve lê-lo. Para facilitar, o artigo segue junto, como divulgado pelo Sputnik Tomei a iniciativa de sublinhar certos trechos.

O artigo mostra o tirocínio e a firmeza de Stalin durante a guerra e antes que ela eclodisse, ao tempo em que observa que “Stalin e seu círculo próximo merecem muitas acusações justas”, tema referido de passagem e que deve ser visto com cautela.

Putin refere-se a demolições de “monumentos erigidos em homenagem àqueles que lutaram contra o nazismo”, em “atos vergonhosos justificados por falsos slogans da luta contra uma ideologia indesejável…”.

A chamada “ideologia indesejável”, contra a qual comete-se “atos vergonhosos”, “barbaridades”, “infâmias” e “calúnias”, é a ideologia que dotou o Exército Vermelho do indomável espírito de luta que derrotou o nazismo, é a ideologia libertária, democráta, socialista, igualitária, sem a qual o Exército Vermelho seguramente teria sido trucidado pelo nazismo.

O combate a essa ideologia hoje é feito por setores neofascistas que se reanimam em alguns países do mundo, como no Brasil, onde, em conluio com grupos corruptos e milicianos, apoderaram-se do poder central.

Que os 75 anos da vitória da Grande Guerra pela Pátria da antiga União Soviética e da Rússia atual, ou da Segunda Guerra Mundial para outros povos, sirvam de inspiração à luta libertária e antifascista dos povos do mundo inteiro, inclusive o brasileiro.

Haroldo Lima – engenheiro, membro da Comissão Política Nacional do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.

Veja o artigo de Vladimir Putin

75 anos da Grande Guerra pela Pátria: responsabilidade perante passado e futuro Vladimir Putin

Setenta e cinco anos se passaram desde o final da Grande Guerra pela Pátria. Diversas gerações cresceram ao longo dos anos. O mapa político do planeta mudou. A União Soviética, que conquistou uma vitória épica e esmagadora sobre o nazismo, salvando o mundo, já não existe mais. Além disso, os eventos desta guerra se tornam uma memória distante, mesmo para aqueles que nela participaram, escreveu o presidente russo Vladimir Putin em um artigo divulgado no site oficial do Kremlin.

Anteriormente este artigo (com pequenas diferenças) foi publicado na revista norte-americana National Interest. A Sputnik Brasil fez um resumo dos pontos mais importantes do artigo.

Então, por que o 9 de maio é assinalado na Rússia como o feriado mais importante e em 22 de junho a vida como que pára e sentimos um nó na garganta?

Se costuma dizer que a guerra deixou uma marca profunda na história de todas as famílias. Por trás destas palavras estão os destinos de milhões de pessoas, os seus sofrimentos e a dor da perda, mas também o orgulho, a verdade e a memória.

Para meus pais, a guerra foi os terríveis sofrimentos do cerco de Leningrado, onde meu irmão de dois anos de idade, Vitya, faleceu e onde minha mãe milagrosamente conseguiu sobreviver. Meu pai, apesar de estar isento do serviço ativo, se ofereceu como voluntário para defender sua cidade natal. Ele tomou a mesma decisão que milhões de cidadãos soviéticos. Ele lutou no Nevsky Pyatachok, ficando gravemente ferido. Quanto mais o tempo passa, mais sinto saudades de conversar com meus pais e aprender mais sobre os tempos de guerra de suas vidas. Mas já não é possível perguntar nada. Por isso, guardo no coração as conversas que tive com meus pais sobre este assunto, as suas poucas emoções.

As pessoas da minha idade e eu acreditamos que é importante que nossos filhos, netos e bisnetos entendam a dor e as dificuldades que seus antepassados suportaram. Como eles conseguiram resistir e vencer? De onde surgiu a verdadeiramente poderosa força de espírito que surpreendeu e fascinou o mundo todo? Sim, eles estavam defendendo seu lar, seus filhos, seus entes queridos e famílias. Mas o que os unia era o amor por sua pátria, por sua terra natal. Este sentimento profundo e pessoal se reflete em toda sua plenitude na própria essência do nosso povo e se tornou um dos fatores determinantes em sua luta heroica e de sacrifício contra os nazistas.

Muitas vezes as pessoas perguntam: O que a geração de hoje faria? Como agiria em uma situação crítica? Vejo jovens médicos, enfermeiros, recém-formados que vão para zonas de perigo para salvar vidas. Vejo nossos militares lutando contra o terrorismo internacional no norte do Cáucaso e aqueles que morreram de pé na Síria, tão jovens! Muitos dos combatentes do lendário e imortal 6º Batalhão de Paraquedistas tinham 19, 20 anos de idade. Mas todos mostraram que são dignos do feito dos soldados da nossa Pátria, que a defenderam na Grande Guerra.

Por isso, acredito que o cumprimento do dever, o não pensar em si próprio quando as circunstâncias o exigem, fazem parte do caráter dos povos da Rússia. Valores como o espírito de sacrifício, o patriotismo, o amor por sua terra, por sua família e pela pátria seguem sendo fundamentais para a sociedade russa. Eles são, no fundo, a base da soberania de nosso país.

Hoje, surgiram no nosso país novas tradições, que o povo criou, como o Regimento Imortal. É uma marcha da memória, simboliza nossa gratidão, a conexão viva e os laços de sangue entre as gerações. Milhões de pessoas saem às ruas com fotografias de seus parentes que defenderam sua pátria e derrotaram os nazistas. Isto significa que suas vidas, suas provações e sacrifícios, bem como a Vitória que deixaram para nós, jamais serão esquecidos.

Nossa responsabilidade é fazer tudo para impedir que estas tragédias se repitam. Por isso, considerei meu dever publicar um artigo sobre a Segunda Guerra Mundial e a Grande Guerra pela Pátria. Eu discuti a ideia em diversas ocasiões com os líderes mundiais, e eles mostraram sua compreensão. Na cúpula dos líderes da Comunidade dos Estados Independentes realizada no final do ano passado, todos fomos da mesma opinião: é essencial transmitir às gerações futuras a lembrança de que a vitória sobre os nazistas foi alcançada em primeiro lugar pelo povo soviético, de que foram os representantes de todas as repúblicas da União Soviética que lutaram juntos neste combate heroico, tanto na linha de frente quanto na retaguarda. Durante a cúpula, conversei também com meus colegas sobre o desafiador período de antes da guerra.

Este tema causou grande impacto na Europa e no mundo. Portanto, abordar as lições do passado é realmente necessário e atual. Ao mesmo tempo, houve muitas emoções, complexos mal disfarçados e acusações. Como é costume, alguns políticos rapidamente afirmaram que a Rússia estava tentando reescrever a história. No entanto, eles não conseguiram refutar um único fato ou argumento apresentado. Naturalmente que é difícil, é mesmo impossível, argumentar contra documentos originais que, por falar nisso, estão conservados não apenas em arquivos russos, como também estrangeiros.

Por isso, é preciso continuar analisando as razões que levaram à guerra mundial e refletir sobre seus complexos eventos, tragédias e vitórias, bem como sobre suas lições, tanto para nosso país quanto para o mundo todo. E, repito, é de fundamental importância nos basearmos exclusivamente em documentos de arquivo e em testemunhos de pessoas dessa época, para evitar quaisquer especulações ideológicas ou politizadas.

Tratado de Versalhes

Recordo novamente uma coisa óbvia: as causas profundas da Segunda Guerra Mundial decorrem em grande parte das decisões tomadas após a Primeira Guerra Mundial. O Tratado de Versalhes se tornou um símbolo de uma grande injustiça para a Alemanha. Basicamente ele foi um assalto ao país, que foi forçado a pagar enormes reparações de guerra aos aliados ocidentais, que drenaram sua economia. O marechal francês Ferdinand Foch, comandante das forças aliadas, fez uma descrição profética do Tratado: “Isso não é a paz. É uma trégua por vinte anos”.

Foi precisamente a humilhação nacional que formou o terreno fértil para sentimentos radicais e revanchistas na Alemanha. Os nazistas jogaram habilmente com estas emoções e elaboraram sua propaganda prometendo libertar a Alemanha do “legado de Versalhes”, restaurar o antigo poderio do país, enquanto na verdade, estava empurrando os alemães para uma nova guerra. Paradoxalmente, os países ocidentais, particularmente o Reino Unido e os EUA, contribuíram direta ou indiretamente para isso. Seus círculos financeiros e industriais investiram ativamente em fábricas alemãs que desenvolviam equipamentos militares. Além disso, entre a aristocracia e o establishment político havia muitos apoiadores dos movimentos radicais, de extrema-direita e nacionalistas que estavam em ascensão na Alemanha e na Europa.

A “ordem mundial” de Versalhes causou inúmeras controvérsias ocultas e conflitos abertos. Na sua base estão as fronteiras dos novos Estados europeus estabelecidas aleatoriamente pelos vencedores da Primeira Guerra Mundial. A delimitação das fronteiras foi quase imediatamente seguida por disputas territoriais e reivindicações mútuas, transformando-se em uma “bomba-relógio”.

Um dos resultados mais importantes da Primeira Guerra Mundial foi a criação da Sociedade das Nações. Existiam grandes expectativas para esta organização internacional garantir a paz e segurança coletiva a longo prazo. Era uma ideia progressista que, caso fosse realizada de maneira consistente, poderia realmente impedir que os horrores de uma guerra mundial ocorressem novamente.

No entanto, a Sociedade da Nações dominada pelos poderes vitoriosos da França e do Reino Unido, mostrou ser ineficiente e afundou em conversas inúteis. A Sociedade das Nações e o continente europeu em geral não escutaram os repetidos apelos da União Soviética para estabelecer um sistema igualitário de segurança coletiva e concluir os pactos da Europa Oriental e do Pacífico para impedir qualquer agressão. Estas propostas foram desconsideradas.

A Sociedade das Nações também não conseguiu impedir os conflitos em diversas partes do mundo, como o ataque italiano contra a Etiópia, a Guerra Civil espanhola, a agressão japonesa contra a China e a anexação da Áustria. Além disso, no caso do Acordo de Munique que, além de Hitler e Mussolini, teve a participação dos líderes britânicos e franceses, a Tchecoslováquia foi desmembrada com total aprovação da Sociedade das Nações. Gostaria aqui de ressaltar que diferentemente de muitos dos chamados líderes europeus da época, Stalin não se manchou e não se encontrou pessoalmente com Hitler, conhecido então nos círculos ocidentais como um político respeitável e um convidado estimável nas capitais europeias.

Papel da Polônia

A Polônia também participou no desmembramento da Tchecoslováquia junto com a Alemanha. Eles decidiram antecipadamente quem ficaria com as terras da Tchecoslováquia. Em 20 de setembro de 1938, o embaixador polonês na Alemanha, Jozef Lipski, informou o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Josef Beck, sobre as garantias de Hitler: “…no caso de um conflito entre a Polônia e a Tchecoslováquia sobre nossos interesses em Cieszyn, o Reich ficará do nosso lado”. O líder dos nazistas até aconselhou a Polônia a agir “apenas depois que os alemães ocupassem os Sudetos”.

A Polônia sabia que, sem o apoio de Hitler, seus planos de anexação fracassariam. Cito um registro da conversa entre o embaixador alemão em Varsóvia Hans-Adolf von Moltke e Jozef Beck, ocorrida em 1º de outubro de 1938, focada nas relações entre Polônia e Tchecoslováquia e na posição dos soviéticos sobre este assunto. A matéria diz: “O Sr. Beck expressou grande gratidão pela lealdade aos interesses poloneses na Conferência de Munique, bem como pela sinceridade das relações durante o conflito tcheco. O governo e o povo [polonês] apreciam altamente a atitude do Fuhrer e do Chanceler”.

O desmembramento da Tchecoslováquia foi cruel e cínico. Munique destruiu até as garantias frágeis e formais que tinham permanecido no continente, mostrou que os acordos mútuos eram inúteis. O Acordo de Munique foi o “estopim” que tornou a grande guerra na Europa inevitável.

Hoje, políticos europeus e especialmente os líderes poloneses desejam varrer o Acordo de Munique para baixo do tapete. Por quê? O motivo não é somente por seus países na época terem rompido seus compromissos e apoiado o Acordo de Munique, com alguns inclusive participando da divisão do saque, mas também porque é incômodo lembrar que, durante os dias dramáticos de 1938, a União Soviética foi a única a defender a Tchecoslováquia.

A União Soviética, de acordo com suas obrigações internacionais, incluindo os acordos com a França e a Tchecoslováquia, tentou evitar a tragédia. Enquanto isso, a Polônia, defendendo seus interesses, estava fazendo de tudo para evitar a criação de um sistema de segurança coletivo na Europa. Josef Beck escreveu sobre isso diretamente em sua carta de 19 de setembro de 1938 ao embaixador Jozef Lipski antes do encontro com Hitler: “…no ano passado, o governo polonês rejeitou quatro vezes a proposta de se juntar à intervenção internacional em defesa da Tchecoslováquia”.

O Reino Unido, assim como a França, que na época, era o principal aliado dos tchecos e eslovacos, preferiram desistir de suas garantias e abandonar o país do Leste Europeu. Não só abandonar, mas atrair a atenção dos nazistas para o Leste, para que a Alemanha e a União Soviética colidissem e se enfraquecessem mutuamente.

Era nisso que consistia a política ocidental de “pacificação”, que visava não apenas o Terceiro Reich, como também por outros integrantes do chamado Pacto Anticomintern, incluindo a Itália fascista e o Japão militarista. No Extremo Oriente, essa política culminou na conclusão do Acordo Anglo-Japonês no verão de 1939, dando a Tóquio total liberdade na China. As principais potências europeias não queriam reconhecer o perigo mortal para o mudo representado pela Alemanha e seus aliados, esperavam que a guerra não as atingisse.

Acordo de Munique

O Acordo de Munique mostrou à União Soviética que os países ocidentais iriam lidar com as questões de segurança sem considerar os interesses da URSS, e se possível, formariam uma frente antissoviética.

No entanto, a União Soviética tentou até ao fim utilizar qualquer chance para criar uma coalizão anti-Hitler, apesar da duplicidade dos países ocidentais. Através dos serviços de inteligência, as autoridades soviéticas receberam informações detalhadas sobre contatos de bastidores entre os britânicos e os alemães no verão de 1939. Chamo a atenção que estes contatos eram conduzidos com muita frequência, e de forma quase que simultânea com as conversações trilaterais entre os representantes da França, do Reino Unido e da União Soviética, que eram artificialmente prolongadas pelos parceiros ocidentais.

Citarei um documento dos arquivos britânicos, que contém instruções à missão militar britânica que chegou a Moscou em agosto de 1939. O documento afirma explicitamente que a delegação deveria prosseguir com as “negociações de maneira bastante lenta”; e que o “governo britânico não estava pronto para assumir obrigações detalhadas que possam limitar nossa liberdade de ação sob quaisquer circunstâncias”. Sublinho ainda que, ao contrário dos britânicos e franceses, a delegação soviética era liderada pelo alto comando do Exército Vermelho, que tinha a autoridade necessária para “assinar uma convenção militar sobre a organização de defesa militar do Reino Unido, da França e da União Soviética contra a agressão na Europa”.

A Polônia, que não queria ter obrigações com os soviéticos, desempenhou seu papel no fracasso das negociações. Mesmo sendo pressionada pelos aliados ocidentais, a liderança polonesa rejeitou a ideia de uma ação conjunta com o Exército Vermelho para combater a Wehrmacht. E foi somente depois de saber da chegada de Ribbentrop a Moscou, que J. Beck, a contragosto e indiretamente, através de diplomatas franceses, notificou o lado soviético: “… no caso de ações conjuntas contra a agressão alemã, não é descartada a cooperação entre a Polônia e a União Soviética, sob condições técnicas a serem determinadas”. Ao mesmo tempo, ele explicou a seus colegas: “… concordei com isso apenas para facilitar a tática, nossa posição inicial em relação à União Soviética é definitiva e permanece inalterada”.

Nestas circunstâncias, a União Soviética assinou o pacto de não agressão com a Alemanha, sendo o último país a fazê-lo entre os países europeus. O acordo foi firmado diante de uma ameaça real de guerra em duas frentes, uma com a Alemanha a oeste e outra com o Japão a leste, onde ocorriam intensas batalhas no rio Khalkhin Gol.

Repito: os líderes soviéticos podem ser criticados de muitas coisas, mas não de ausência de compreensão quanto ao caráter das ameaças externas. Eles viram como tentavam deixar a União Soviética sozinha com a Alemanha e seus aliados. Tendo esta ameaça real em mente, eles procuraram ganhar tempo para fortalecer as defesas do país.

Hoje, há diversas especulações e acusações contra a Rússia ligadas ao pacto de não agressão assinado na época. Sim, a Rússia é o estado sucessor legal da União Soviética e do período soviético, com todas as vitórias e tragédias, é parte da nossa história milenar. Contudo, recordo que a União Soviética realizou uma avaliação geral e moral do chamado Pacto Molotov–Ribbentrop. Em uma resolução do Soviete Supremo de 24 de dezembro de 1989 denunciou oficialmente os protocolos secretos como “ato de poder pessoal”, que não refletia a “vontade do povo soviético, que não é responsável pelo pacto”.

Entretanto, outros países preferiram esquecer os acordos assinados por políticos nazistas e ocidentais, sem falar na avaliação jurídica ou política de tal cooperação, incluindo o consentimento tácito, ou mesmo encorajamento direto, por parte de alguns políticos europeus quanto aos planos bárbaros dos nazistas. Basta recordar a frase do embaixador polonês na Alemanha, J. Lipski durante conversa com Hitler em 20 de setembro de 1938: “…por resolver a questão judaica, nós [os poloneses] colocaremos uma bela estátua em Varsóvia”.

Não sabemos se havia um “protocolo secreto” ou anexos aos acordos de diversos países com os nazistas, restando apenas acreditar nas palavras deles. Principalmente, os materiais sobre as negociações secretas anglo-alemãs, que não foram desclassificados. Portanto, instamos a todos os países a intensificarem o processo de abertura de seus arquivos, publicando documentos anteriormente desconhecidos dos tempos pré-guerra, da mesma maneira que a Rússia tem feito nos últimos anos. Nesse contexto, estamos prontos para cooperar, para projetos conjuntos de pesquisa, envolvendo historiadores.

Retomemos os eventos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Seria ingênuo acreditar que Hitler, após reprimir a Tchecoslováquia, não faria novas reivindicações territoriais, desta vez em relação a seu recente cúmplice no desmembramento da Tchecoslováquia, a Polônia. Aqui, o legado de Versalhes também foi usado como pretexto, o destino do chamado corredor de Danzig. A tragédia da Polônia que se seguiu é de total responsabilidade dos líderes poloneses, que impediram a formação de uma aliança militar entre o Reino Unido, a França e a União Soviética, contando com a ajuda de seus aliados ocidentais, e jogaram seu próprio povo à máquina de destruição de Hitler.

A ofensiva alemã foi montada de acordo com a doutrina blitzkrieg. Apesar da violenta e heroica resistência do exército polonês, em 8 de setembro de 1939, apenas uma semana após o início da guerra, as tropas alemãs estavam se aproximando de Varsóvia. Em 17 de setembro, os líderes militares e políticos da Polônia haviam fugido para a Romênia, abandonando seu povo, que continuou a lutar contra os invasores.

A esperança da Polônia na ajuda de seus aliados ocidentais não deu resultado. Depois que a guerra contra a Alemanha foi declarada, as tropas francesas avançaram apenas por alguns quilômetros no território alemão. Tudo isso parecia uma simples demonstração de ações de combate. Além disso, o Conselho Supremo de Guerra Anglo-Francês, realizando seu primeiro encontro em 12 de setembro de 1939 na cidade francesa de Abbeville, decidiu suspender a ofensiva, tendo em vista os rápidos desenvolvimentos na Polônia. Foi quando começou a chamada “guerra de mentiras”. Esta foi uma traição direta da França e do Reino Unido ante suas obrigações para com a Polônia.

Posteriormente, durante os julgamentos de Nuremberg, os generais alemães explicaram seu rápido sucesso no Oriente. O ex-chefe da equipe de operações do alto comando das Forças Armadas alemãs, general Alfred Jodl, admitiu: “… não sofremos derrotas desde 1939 apenas porque aproximadamente 110 divisões francesas e britânicas, que estavam no ocidente contra 23 divisões alemãs durante nossa guerra com a Polônia, permaneceram absolutamente inativas”.

Pedi a recuperação dos arquivos de toda a diversidade de materiais dos contatos entre a União Soviética e a Alemanha naqueles dias dramáticos de agosto e setembro de 1939. De acordo com os documentos, a cláusula 2 do Protocolo Secreto do Pacto de Não Agressão entre a Alemanha e a URSS de 23 de agosto de 1939 estabelecia que, em caso de reorganização político-territorial dos distritos que compõem a Polônia, a fronteira das esferas de interesse dos dois países seria “aproximadamente ao longo dos rios Narew, Vístula e San” . Em outras palavras, a esfera de influência soviética incluía não apenas os territórios que abrigavam principalmente a população ucraniana e bielorrussa, como também as terras polonesas entre o Vístula e o Bug. Poucos sabem deste fato.

Da mesma forma, pouquíssimos sabem que, logo após o ataque à Polônia, nos primeiros dias de setembro de 1939, Berlim insistiu que Moscou se juntasse às ações militares. No entanto, a liderança soviética ignorou estes apelos e não queria se envolver nos acontecimentos dramáticos até o último momento.

Somente quando ficou absolutamente claro que o Reino Unido e a França não ajudariam seu aliado e que a Wehrmacht poderia rapidamente ocupar toda a Polônia, chegando às proximidades de Minsk, é que a União Soviética decidiu enviar na manhã de 17 setembro unidades do Exército Vermelho para as chamadas fronteiras orientais, que hoje fazem parte dos territórios da Bielorrússia, Ucrânia e Lituânia.

Obviamente, não havia opção. Caso contrário, a União Soviética estaria em risco, repito, a antiga fronteira entre a Polônia e a União Soviética passava a apenas alguns quilômetros de Minsk, e a inevitável guerra com os nazistas começaria a partir de posições estratégicas extremamente desfavoráveis, enquanto milhões de pessoas de diferentes nacionalidades, incluindo os judeus que moravam perto de Brest e Grodno, Przemysl, Lvov e Wilno, seriam exterminados às mãos dos nazistas e seus subordinados locais, antissemitas e nacionalistas radicais.

O fato de a União Soviética ter tentado evitar o conflito o maior tempo possível e não estar disposta a lutar lado a lado com a Alemanha foi a razão pela qual o primeiro confronto entre as tropas soviéticas e alemãs ocorreu mais a leste da linha especificada no protocolo secreto. Não foi ao longo do rio Vístula, mas mais próximo da chamada Linha Curzon, que em 1919 foi recomendada pela Tríplice Entente como a fronteira oriental da Polônia.

Como se sabe, quase não faz sentido usar o subjuntivo quando falamos dos eventos passados. Posso dizer que, em setembro de 1939, a liderança soviética teve a oportunidade de mover as fronteiras ocidentais da União Soviética ainda mais para ocidente, até Varsóvia, mas decidiu não o fazer.

Os alemães sugeriram fixar o novo ‘status quo’. Em 28 de setembro de 1939, Joachim von Ribbentrop e V. Molotov assinaram em Moscou o Tratado de Fronteira entre a União Soviética e a Alemanha, bem como o protocolo secreto sobre a mudança da fronteira nacional, reconhecendo a linha de demarcação onde estavam os dois exércitos.

União Soviética e estratégias militares

No outono de 1939, a União Soviética, elaborando suas estratégias militares defensivas, iniciou o processo de incorporação da Letônia, Lituânia e Estônia. Sua adesão à União Soviética foi implementada com base em acordos, com o consentimento das autoridades eleitas, de acordo com as leis nacionais e internacionais da época. Além disso, em outubro de 1939, a cidade de Vilnius e a área próxima, que anteriormente faziam parte da Polônia, foram devolvidas à Lituânia. As repúblicas bálticas da União Soviética mantiveram seus órgãos governamentais, seu idioma e tinham representação nos mais altos órgãos estatais da União Soviética.

Durante todos esses meses, continuava uma imperceptível luta diplomática e político-militar, além de um trabalho de inteligência. Moscou entendeu que estava enfrentando um inimigo implacável e cruel, e que uma guerra oculta contra o nazismo já estava em andamento. E não há razão para encarar as declarações oficiais e notas formais de protocolo da época como prova de “amizade” entre a União Soviética e a Alemanha. A União Soviética mantinha contatos comerciais e técnicos ativos não apenas com a Alemanha, mas também com outros países. Enquanto Hitler tentou repetidamente atrair a União Soviética para o confronto da Alemanha com o Reino Unido. Mas o governo soviético permaneceu firme.

Hitler fez a última tentativa de convencer a União Soviética a participar de ações conjuntas durante a visita de Molotov a Berlim, em novembro de 1940. Mas Molotov seguiu com precisão as instruções de Stalin, limitando-se a uma discussão geral sobre a ideia alemã de a União Soviética ingressar no Pacto Tripartido, assinado pela Alemanha, Itália e Japão em setembro de 1940 e dirigido contra o Reino Unido e os EUA. Não é à toa que já em 17 de novembro Molotov instruiu o enviado soviético em Londres Ivan Maisky: “Para sua informação … Nenhum acordo foi assinado ou pretendia ser assinado em Berlim. Acabamos de trocar nossas opiniões em Berlim … e isso foi tudo… Aparentemente, os alemães e os japoneses parecem ansiosos em nos mandar para o Golfo e a Índia. Recusamos discutir sobre esse assunto, pois consideramos inadequados esses conselhos por parte da Alemanha”. Em 25 de novembro, a liderança soviética colocou um ponto final na questão: apresentou oficialmente a Berlim condições inaceitáveis para os nazistas, incluindo a retirada das tropas alemãs da Finlândia, um acordo de assistência mútua entre a Bulgária e a União Soviética e vários outros, excluindo deliberadamente qualquer possibilidade de aderir ao Pacto.

Essa posição definitivamente reforçou a intenção do Fuhrer de desencadear uma guerra contra a União Soviética. E já em dezembro, deixando de lado as advertências de seus estrategistas sobre o perigo desastroso de ter uma guerra em duas frentes, Hitler aprovou a Operação Barbarossa. Ele fez isso sabendo que a União Soviética era a principal força que se opunha a ele na Europa e que a próxima batalha no Oriente iria decidir o resultado da guerra mundial. Ele estava certo de seu sucesso na campanha em Moscou.

Eu gostaria de destacar o seguinte: os países ocidentais, na prática concordaram na época com as ações soviéticas e reconheceram a intenção da União Soviética de garantir sua segurança nacional. De fato, em 1º de outubro de 1939, Winston Churchill, chefe do Almirantado na época, em seu discurso na rádio, disse: “A Rússia segue uma política fria de interesse próprio … Para assegurar o país da ameaça nazista, os exércitos russos deveriam permanecer nessa linha [a nova fronteira ocidental]”. Em 4 de outubro de 1939, falando na Câmara dos Lordes, Halifax, disse: “… deve-se lembrar que as ações do governo soviético consistiam em mover a fronteira para a linha recomendada na Conferência de Versalhes por Lord Curzon… Estou apenas citando fatos históricos e acredito que são inegáveis”. O famoso político britânico D. Lloyd George enfatizou: “Os exércitos russos ocuparam territórios que não são poloneses e que foram conquistados pela Polônia após a Primeira Guerra Mundial… Seria um ato de insanidade criminosa colocar o avanço russo em igualdade com o dos alemães”.

Em conversas informais com o representante soviético I. Maisky, diplomatas britânicos e políticos de alto nível falavam ainda mais abertamente. Em 17 de outubro de 1939, o vice-ministro das Relações Exteriores britânico, RA Butler, afirmou que nos círculos governamentais britânicos a questão da devolução da Ucrânia Ocidental e a Bielorrússia à Polônia não se colocava. Segundo ele, se fosse possível criar uma Polônia etnográfica de tamanho modesto, com garantia não apenas da União Soviética e da Alemanha, mas também do Reino Unido e da França, o governo britânico ficaria muito satisfeito. Em 27 de outubro de 1939, o conselheiro-chefe de Chamberlain H.Wilson disse que a “Polônia precisava ser restaurada como um estado independente em sua base etnográfica, mas sem a Ucrânia Ocidental e a Bielorrússia”.

Vale a pena ressaltar que, no decorrer das conversas, as possibilidades de melhorar as relações entre o Reino Unido e a União Soviética também estavam sendo exploradas. Esses contatos estabeleceram as bases para futuras alianças e coalizões anti-Hitler. Churchill se destacou entre outros políticos responsáveis e perspicazes e, apesar de sua aversão conhecida pela União Soviética, era a favor de cooperar com ela. Em maio de 1939, ele disse: “Estaremos em perigo mortal se não criarmos uma grande aliança contra a agressão. Seria uma estupidez recusar a cooperação natural com a Rússia soviética”. Após o início das hostilidades na Europa, em sua reunião com Maisky em 6 de outubro de 1939, ele afirmou que não havia sérias contradições entre o Reino Unido e a União Soviética e, portanto, não havia razão para relações tensas ou insatisfatórias. Ele também mencionou que o governo britânico gostaria de desenvolver relações comerciais e estava disposto a discutir quaisquer outras medidas que pudessem melhorar as relações.

Lições da Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial não aconteceu da noite para o dia, nem começou inesperadamente. A agressão alemã contra a Polônia também não foi repentina. Foi resultado de várias tendências e fatores da política mundial da época. Todos os eventos anteriores à guerra levaram a uma cadeia de acontecimentos fatal. Mas, sem dúvida, os principais fatores que determinaram a maior tragédia da história da humanidade foram o egoísmo nacional, a covardia, a indulgência para como agressor que estava ganhando força e falta de vontade das elites políticas em buscar um compromisso.

Sendo assim, é injusto afirmar que a visita de dois dias a Moscou do ministro das Relações Exteriores nazista Ribbentrop foi a principal razão para o início da Segunda Guerra Mundial. Todos os países líderes são, de uma forma ou outra, culpados pelo episódio. Todos cometeram erros cruciais, acreditando arrogantemente que poderiam tirar proveito dos outros, garantir vantagens unilaterais para si ou ficar longe da tragédia iminente no mundo. Essa falta de visão, junto da recusa em criar um sistema de segurança coletivo, custou milhões de vidas e perdas.

Não pretendo de maneira alguma assumir o papel de juiz, acusar ou absolver alguém, muito menos iniciar uma nova espiral de confronto informacional no campo histórico que poderia colocar países e povos em confrontação. Eu acredito que a ciência acadêmica e cientistas conceituados de diferentes países do mundo deve procurar uma avaliação equilibrada dos fatos. Todos nós precisamos da verdade e objetividade. Da minha parte, sempre incentivei meus colegas a construir um diálogo calmo, aberto e baseado na confiança, a olhar o passado comum de maneira autocrítica e imparcial. Essa abordagem ajudará a não repetir os erros cometidos no passado e a garantir um desenvolvimento pacífico e bem-sucedido futuramente.

No entanto, muitos de nossos parceiros não estão prontos para o trabalho conjunto. Pelo contrário, buscando seus objetivos, eles aumentam o número e a escala de ataques informacionais contra nosso país, querendo nos culpar, adotando declarações completamente hipócritas e politicamente motivadas. Por exemplo, a resolução sobre a importância da memória histórica para o futuro da Europa, aprovada pelo Parlamento Europeu em 19 de setembro de 2019, acusou diretamente a União Soviética, juntamente com a Alemanha nazista, de desencadear a Segunda Guerra Mundial. Naturalmente, não há nenhuma menção a Munique.

Acredito que “papéis” como esse, pois não posso chamar esta resolução de documento, que claramente pretende provocar um escândalo, estão repletos de ameaças reais e perigosas. De fato, foi adotado por uma instituição altamente respeitável. E o que isso significa? Lamentavelmente, isso revela uma política deliberada destinada a destruir a ordem mundial do pós-guerra, cuja criação era uma questão de honra e responsabilidade dos países, diversos representantes dos quais votaram hoje a favor desta resolução enganosa.

Assim, eles desafiaram as conclusões do Tribunal de Nuremberg e os esforços da comunidade internacional para criar instituições internacionais após a vitória de 1945. Permitam-me lembrar a esse respeito que o próprio processo de integração europeia, que levou à criação de estruturas relevantes incluindo o Parlamento Europeu, se tornou possível apenas devido às lições aprendidas no passado e sua avaliação jurídica e política precisa. E aqueles que conscientemente questionam esse consenso estão minando os fundamentos de toda a Europa do pós-guerra.

Além de ser uma ameaça aos princípios fundamentais da ordem mundial, isso também levanta certas questões morais e éticas. Profanar e insultar a memória é uma infâmia. A infâmia pode ser deliberada, hipócrita e totalmente intencional quando, nas declarações sobre o 75 º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, são enumerados todos os países da coalizão antinazista à exceção da URSS. A infâmia pode ser covarde quando os monumentos erigidos em homenagem àqueles que lutaram contra o nazismo são demolidos e esses atos vergonhosos são justificados por falsos slogans da luta contra uma ideologia indesejável e suposta ocupação. A infâmia pode ser sangrenta quando aqueles que se opõem aos neonazistas e aos sucessores de Bandera são mortos e queimados. Repito, a infâmia pode ter manifestações diferentes, mas isso não a torna menos repugnante.

Esquecer as lições da história inevitavelmente leva a um duro retorno. Defenderemos firmemente a verdade com base em fatos históricos documentados. Continuaremos a falar de forma honesta e imparcial sobre os eventos da Segunda Guerra Mundial. Isso inclui um projeto de grande escala para estabelecer a maior coleção de documentos de arquivo, filmes e materiais fotográficos da Rússia sobre a história da Segunda Guerra Mundial e o período pré-guerra.

Este trabalho já está em andamento. Muitos materiais novos, recentemente descobertos ou desclassificados também foram utilizados na preparação deste artigo. Neste sentido, posso afirmar com toda a responsabilidade que não existem documentos de arquivo que confirmem a intenção da União Soviética de iniciar uma guerra preventiva contra a Alemanha. Sim, a liderança militar soviética adotou uma doutrina segundo a qual, em caso de agressão, o Exército Vermelho prontamente enfrentaria o inimigo, passaria à ofensiva e travaria a guerra no território inimigo. No entanto, esses planos estratégicos não significam a intenção de atacar a Alemanha primeiro.

Hoje, os documentos de planejamento militar, as instruções dos Estados-Maiores soviético e alemão estão agora disponíveis para os historiadores. Finalmente, sabemos como os eventos ocorreram. Desse ponto de vista, muitos discutem sobre as ações, erros e julgamentos precipitados da liderança militar e política do país. Sobre isso, direi uma coisa: junto com um enorme fluxo de desinformação de diversos tipos, os líderes soviéticos também receberam informações verdadeiras sobre a preparação da agressão nazista. Nos meses antes da guerra, eles tomaram medidas para melhorar a prontidão de combate do país, incluindo a convocação secreta para treinamentos de cidadãos sujeitos a obrigações militares e a realocação de unidades e reservas dos distritos militares do interior do país para as fronteiras ocidentais.

A guerra não foi uma surpresa, as pessoas esperavam por ela e se preparavam para ela. Mas o ataque nazista foi verdadeiramente sem precedentes em termos de poder destrutivo. Em 22 de junho de 1941, a União Soviética enfrentou o exército mais poderoso, mais mobilizado e qualificado do mundo, para o qual trabalhava o potencial industrial, econômico e militar de quase toda a Europa. Não apenas a Wehrmacht, mas também os países satélites alemães, contingentes militares de muitos outros estados do continente europeu, participaram dessa invasão.

As graves derrotas militares em 1941 levaram o país à beira do desastre. A capacidade de combate e de controle teve que ser restaurada por meios extremos, mobilização nacional e intensificação de todos os esforços do Estado e do povo. No verão de 1941, milhões de cidadãos, centenas de fábricas e indústrias começaram a ser evacuados sob fogo inimigo para o leste do país. A fabricação de armas e munições, que começaram a ser fornecidas à frente já no primeiro inverno da guerra, foi lançada o mais rapidamente possível e, em 1943, as taxas de produção militar da Alemanha e de seus aliados foram excedidas. Durante um ano e meio, o povo soviético fez algo que parecia impossível, tanto nas linhas de frente quanto na retaguarda. Até hoje é difícil perceber, entender e imaginar os esforços incríveis, coragem, e dedicação incrível que esta grande conquista exigiu.

O tremendo poder da sociedade soviética, unido pelo desejo de proteger sua terra natal, se ergueu contra os poderosos, armados até os dentes, contra a máquina invasora nazista. Levantou-se para se vingar do inimigo, que o havia destruído, esmagado a vida pacífica, os planos e as esperanças das pessoas.

É claro que o medo, a confusão e o desespero tomavam conta de algumas pessoas durante essa guerra terrível e sangrenta. Houve traição e deserção. A violenta divisão causada pela revolução e a Guerra Civil, o niilismo, a maneira de zombar da história, das tradições e da fé que os bolcheviques tentaram impor, especialmente nos primeiros anos após a chegada ao poder, tudo isso teve seu impacto. Mas a atitude da maioria absoluta dos cidadãos soviéticos e de nossos compatriotas que se encontravam no exterior era diferente, era para defender e salvar a Pátria. As pessoas procuravam apoio nos verdadeiros valores patrióticos.

Os “estrategistas” nazistas estavam certos de que um enorme estado multinacional poderia ser facilmente esmagado. Eles acreditavam que o início repentino da guerra, a sua crueldade e dificuldades insuportáveis exacerbariam inevitavelmente as relações interétnicas, e que o país poderia ser dividido em partes. Hitler declarou: “Nossa política em relação aos povos que vivem nas vastas áreas da Rússia deve promover qualquer forma de desacordo e divisão”.

Mas, desde os primeiros dias, ficou claro que o plano nazista fracassaria. A Fortaleza de Brest foi protegida até à última gota de sangue por soldados de mais de 30 etnias. Durante toda a guerra, o povo soviético esteve unido, tanto em grandes batalhas decisivas quanto na proteção de cada posição de combate, de cada metro da pátria.

A região do Volga e os Urais, a Sibéria e o Extremo Oriente, as repúblicas da Ásia Central e Cáucaso se tornaram o lar de milhões de pessoas evacuadas. Seus habitantes compartilharam tudo o que tinham e forneceram todo o apoio que podiam. A amizade dos povos e a ajuda mútua se tornaram uma verdadeira fortaleza indestrutível para o inimigo.

A União Soviética e o Exército Vermelho deram uma contribuição crucial à derrota do nazismo, não importa o que estejam tentando provar hoje. Estes foram os heróis que lutaram até o fim, cercados pelo inimigo, nos arredores de Bialystok e Mogilev, Uman e Kiev, Vyazma e Kharkov. Eles desencadearam ofensivas nas áreas próximas a Moscou e Stalingrado, Sevastopol e Odessa, Kursk e Smolensk. Eles libertaram Varsóvia, Belgrado, Viena e Praga, tomaram de assalto Koenigsberg e Berlim.

Nós defendemos a verdade, uma verdade genuína, não embelezada. Esta verdade dura, amarga e impiedosa, em grande parte nos foi transmitida por escritores e poetas que atravessaram o fogo e o inferno da linha de frente. Para a minha geração, assim como para outras, histórias honestas e profundas, romances, prosa penetrante e poemas deixaram sua marca em minha alma para sempre. Honrar os veteranos que fizeram tudo o que podiam pela vitória e homenagear aqueles que morreram no campo de batalha é nosso dever moral

Hoje, as linhas simples e grandes em um poema de Aleksander Tvardovsky “Eu fui morto perto de Rzhev …” dedicado aos participantes da sangrenta e brutal Guerra pela Pátria no centro da linha de frente soviética, são surpreendentes. Somente nas batalhas por Rzhev e montes de Rzhev, de outubro de 1941 a março de 1943, o Exército Vermelho perdeu 1.342.888 homens, incluindo feridos e desaparecidos. Pela primeira vez, chamo esses números coletados de fontes de arquivo de terríveis, trágicos e longe de ser o total. Presto homenagem à memória dos heróis conhecidos e desconhecidos.

Citarei outro documento. Um relatório de fevereiro de 1954 da Comissão Aliada de Reparação da Alemanha, chefiada por Ivan Maisky. A tarefa da Comissão era definir uma fórmula segundo a qual a Alemanha derrotada teria que pagar pelos danos causados às potências vitoriosas. A comissão concluiu que “o número de dias de soldado gastos pela Alemanha na frente soviética é pelo menos 10 vezes maior do que em todas as outras frentes aliadas. A frente soviética também teve que lidar com quatro quintos dos tanques alemães e cerca de dois terços das aeronaves alemãs”. No geral, a União Soviética representou cerca de 75% de todos os esforços militares empreendidos pela coalizão anti-Hitler. Ao longo dos anos de guerra, o Exército Vermelho “enterrou” 626 divisões dos países do pacto Tripartido, das quais 508 eram alemãs.

No dia 28 de abril de 1942, Franklin D. Roosevelt afirmou em discurso à nação americana: “As tropas russas destruíram e continuam destruindo mais tropas, aviões, tanques e armas de nossos inimigos, do que todas as outras nações unidas “. Winston Churchill, em sua mensagem a Joseph Stalin, de 27 de setembro de 1944, escreveu “o Exército russo arrancou as entranhas da máquina militar alemã …”.

Essa avaliação repercutiu no mundo todo, porque são palavras verdadeiras, das quais ninguém duvidava. Quase 27 milhões de soviéticos perderam a vida nas frentes, nas prisões alemãs, morreram de fome e bombardeios, morreram em guetos e nos campos de extermínio nazistas. A União Soviética perdeu um em cada sete de seus cidadãos, o Reino Unido perdeu um em cada 127 e os EUA perderam um em cada 320 habitantes. Infelizmente, esse número das perdas da União Soviética é inconclusivo. O trabalho meticuloso deve prosseguir para restaurar os nomes e destinos de todos os que morreram, soldados do Exército Vermelho, guerrilheiros, combatentes clandestinos, prisioneiros de guerra de campos de concentração e civis mortos pelos esquadrões da morte. É o nosso dever. E aqui, membros dos movimentos de busca, associações militares-patrióticas e voluntárias, projetos como o banco de dados eletrônico “Pamyat Naroda”, que contém documentos de arquivo, desempenham um papel especial. Certamente, é também necessária uma cooperação internacional estreita em uma tarefa humanitária como essa.

Os esforços de todos os países e povos que lutaram contra um inimigo comum resultaram na vitória. O Exército britânico protegeu sua terra natal da invasão, lutou contra os nazistas e seus satélites no Mediterrâneo e no norte da África. As tropas norte-americanas e britânicas libertaram a Itália e abriram a Segunda Frente. Os EUA fizeram ataques poderosos e esmagadores contra o agressor no oceano Pacífico. Ressaltamos os tremendos sacrifícios feitos pelo povo chinês e seu grande papel na derrota dos militaristas japoneses. Não esqueçamos os combatentes da França Livre, que não aceitaram a rendição e continuaram a lutar contra os nazistas.

Também seremos sempre gratos pela assistência prestada pelos aliados no fornecimento de munições, matérias-primas, alimentos e equipamentos ao Exército Vermelho, ajuda que foi significativa, aproximadamente sete por cento da produção militar total da União Soviética.

O núcleo da coalizão anti-Hitler começou a tomar forma imediatamente após o ataque à União Soviética, com os Estados Unidos e o Reino Unido apoiando incondicionalmente a luta contra a Alemanha de Hitler. Na conferência de Teerã em 1943, Stalin, Roosevelt e Churchill formaram uma aliança de grandes potências, concordaram em elaborar a diplomacia de coalizão e uma estratégia conjunta na luta contra uma ameaça comum. Os líderes dos Três Grandes entendiam que a unificação das capacidades industriais, de recursos e militares da União Soviética, dos Estados Unidos e do Reino Unido daria uma vantagem incontestada sobre o inimigo.

A União Soviética cumpriu suas obrigações com seus aliados, sempre oferecendo ajuda. Assim, o Exército Vermelho apoiou o desembarque das tropas anglo-americanas na Normandia, realizando a Operação Bagration em grande escala na Bielorrússia. Em janeiro de 1945, tendo atravessado o rio Oder, pôs fim à última ofensiva poderosa da Wehrmacht na Frente Ocidental nas Ardenas. Três meses após a vitória sobre a Alemanha, a União Soviética, em total conformidade com os acordos de Yalta, declarou guerra ao Japão e derrotou o exército de Kwantung, com um milhão de soldados.

Em julho de 1941, a liderança soviética declarou que o objetivo da guerra contra os opressores fascistas não era apenas a eliminação da ameaça que pairava sobre o nosso país, mas também a ajuda a todos os povos da Europa que sofriam sob o jugo do fascismo alemão. Em meados de 1944, o inimigo foi expulso de praticamente todo o território soviético. No entanto, o inimigo teve que ser eliminado em seu covil. E assim, o Exército Vermelho iniciou sua missão de libertação na Europa. Ele salvou nações inteiras da destruição, escravização e do horror do Holocausto. Eles foram salvos à custa de centenas de milhares de vidas de soldados soviéticos.

É importante não esquecer a enorme assistência material que a União Soviética prestou aos países libertados na eliminação da ameaça da fome e na reconstrução de suas economias e infraestrutura. Isso estava sendo feito no momento em que as cinzas da guerra se estendiam por milhares de quilômetros, desde Brest até Moscou e o Volga. Por exemplo, em maio de 1945, o governo austríaco pediu à União Soviética assistência em alimentos, pois “não sabia como alimentar sua população nas próximas sete semanas antes da nova colheita”. O chanceler do governo provisório da República Austríaca, Karl Renner, descreveu o consentimento da liderança soviética em enviar comida como um ato de salvação que os austríacos nunca esqueceriam.

Os aliados criaram em conjunto o Tribunal Militar Internacional destinado a punir criminosos de guerra e políticos nazistas. Suas decisões continham uma qualificação legal clara dos crimes contra a humanidade, como genocídio, limpeza étnica e religiosa, antissemitismo e xenofobia. O Tribunal de Nuremberg condenou os cúmplices dos nazistas e colaboradores de diversos tipos.

Esse fenômeno vergonhoso se manifestou em todos os países europeus. Figuras como Petain, Quisling, Vlasov, Bandera, e seguidores, embora tenham sido disfarçados de combatentes pela independência nacional ou pela liberdade do comunismo, são traidores e assassinos. Na desumanidade, muitas vezes excederam seus senhores. No desejo de servir, como parte de grupos punitivos especiais, eles executaram voluntariamente as ordens mais desumanas. Eles foram responsáveis por eventos sangrentos como os tiroteios de Babi Yar, o massacre de Volhynia, Khatyn, atos de destruição de judeus na Lituânia e na Letônia.

Nossa posição permanece inalterada, não há justificativa para os atos criminosos de colaboradores nazistas, seus crimes não prescrevem. Portanto, é desconcertante quando em certos países aqueles que ficaram manchados pela colaboração com os nazistas são repentinamente equiparados aos veteranos da Segunda Guerra Mundial. Eu acredito que seja inaceitável equiparar libertadores a ocupantes. E só posso considerar a glorificação dos colaboradores nazistas como uma traição à memória de nossos pais e avós. Uma traição aos ideais que uniram os povos na luta contra o nazismo.

Na ocasião, os líderes da União Soviética, dos Estados Unidos e do Reino Unido enfrentavam uma tarefa histórica. Stalin, Roosevelt e Churchill representavam países com diferentes ideologias, aspirações de Estado, interesses, culturas, mas demonstraram grande vontade política, superando as diferenças e preferências e colocaram os verdadeiros interesses da paz em primeiro plano. Como resultado, eles conseguiram chegar a um acordo e alcançar uma solução da qual toda a humanidade se beneficiou.

As potências vitoriosas deixaram um sistema que se tornou a quintessência das pesquisas intelectuais e políticas por séculos. Uma série de conferências, Teerã, Yalta, São Francisco e Potsdam, lançou as bases de um mundo que durante 75 anos não teve guerra, apesar das diferenças.

A revisão histórica, cujas manifestações são observadas no Ocidente, e principalmente em relação ao tema da Segunda Guerra Mundial e seus resultados, é perigosa pois distorce a compreensão dos princípios do desenvolvimento pacífico, estabelecidos nas conferências de Yalta e São Francisco em 1945. A principal conquista histórica de Yalta e de outras decisões da época é o acordo de criar um mecanismo que permita que as principais potências permaneçam no quadro da diplomacia na resolução de suas diferenças entre elas.

O século XX trouxe conflitos globais de grande escala, e em 1945 as armas nucleares capazes de destruir a Terra também entraram em cena. Em outras palavras, a solução de disputas pela força se tornou muito perigosa. E os vencedores da Segunda Guerra Mundial entenderam isso. Eles entenderam e estavam cientes de sua própria responsabilidade para com a humanidade.

A triste experiência da Sociedade das Nações foi levada em consideração em 1945. A estrutura do Conselho de Segurança da ONU foi projetada para tornar as garantias de paz mais concretas e eficazes possíveis. Foi assim que surgiu a instituição dos membros permanentes do Conselho de Segurança e o direito de veto como seu privilégio e responsabilidade.

Conselho de Segurança da ONU

O que é o veto no Conselho de Segurança da ONU? Para ser sincero, é a única alternativa razoável para um confronto direto entre os grandes países. É uma afirmação de um dos cinco poderes de que uma decisão é inaceitável e contrária aos seus interesses e ideias sobre a abordagem correta. E outros países, mesmo que não concordem, aceitam essa posição como certa, abandonando qualquer tentativa de realizar seus esforços unilaterais. Então, de uma maneira ou de outra, é necessário buscar acordos.

Um novo confronto global começou quase imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial e às vezes era muito violento. E o fato de a Guerra Fria não ter se transformado na Terceira Guerra Mundial demonstrou a eficácia dos acordos concluídos pelos Três Grandes. As regras de conduta acordadas durante a criação das Nações Unidas permitiram minimizar os riscos e manter o controle do confronto.

Certamente, podemos ver que o sistema da ONU sofre certa tensão e não é tão eficaz quanto poderia ser. Mas a ONU ainda desempenha sua função principal. Os princípios do Conselho de Segurança da ONU são um mecanismo único para impedir uma grande guerra ou conflito global.

As solicitações feitas com frequência nos últimos anos para revogar o poder de veto e negar oportunidades especiais aos membros permanentes do Conselho de Segurança são irresponsáveis. Afinal, se isso acontecer, as Nações Unidas se tornariam na Sociedade das Nações, uma reunião para conversas inúteis, sem influência nos processos mundiais. Todos sabemos como terminou. Por isso, as potências vitoriosas abordaram a formação de um novo sistema da ordem mundial com mais seriedade, para evitar a repetição dos erros do passado.

A criação de um moderno sistema de relações internacionais é um dos principais resultados da Segunda Guerra Mundial. Mesmo as contradições mais inconciliáveis, geopolíticas, ideológicas, econômicas, não nos impedem de encontrar formas de convivência e interação pacífica, se houver desejo e vontade de fazê-lo. Hoje o mundo está passando por um período bastante turbulento. Tudo está mudando, desde o equilíbrio global de poder e influência até os fundamentos sociais, econômicos e tecnológicos das sociedades, nações e até continentes. No passado, as mudanças dessa magnitude quase nunca ocorreram sem grandes conflitos militares, sem uma luta pelo poder para construir uma nova hierarquia global. Graças à sabedoria política das potências aliadas, foi possível criar um sistema que impedia manifestações extremas de tal objetivo, historicamente inerente ao desenvolvimento mundial.

É um dever nosso, que todos aqueles que assumem a responsabilidade política e principalmente representantes das potências vitoriosas na Segunda Guerra Mundial, garantam que esse sistema seja preservado e aprimorado. Hoje, como em 1945, é importante ter vontade política e discutir o futuro juntos. Nossos colegas, Xi Jinping, Macron, Trump e Johnson, apoiaram a iniciativa russa de realizar uma reunião dos líderes dos cinco Estados com armas nucleares, membros permanentes do Conselho de Segurança. Agradecemos a eles por isso e esperamos que este encontro possa ocorrer o mais rápido possível.

Qual é a agenda da próxima cúpula? Em primeiro lugar, acredito que seja útil discutir etapas para desenvolver princípios coletivos nos assuntos mundiais, falando francamente sobre as questões de preservação da paz, fortalecimento da segurança global e regional, controle estratégico de armas, bem como esforços conjuntos para combater o terrorismo, o extremismo e outros grandes desafios e ameaças.

Um tópico importante na agenda é a situação da economia global, superando a crise econômica causada pela pandemia de coronavírus. Os países estão adotando medidas sem precedentes para proteger a saúde e a vida das pessoas e apoiar os cidadãos que se encontraram em situações difíceis. Nossa capacidade de trabalhar em conjunto, como verdadeiros parceiros, definirá o tamanho do impacto da pandemia e com que rapidez a economia global emergirá da recessão. Além disso, é inaceitável transformar a economia em um instrumento de pressão e confronto. Questões populares incluem proteção ambiental e combate às mudanças climáticas, além de garantir a segurança do espaço global de informações.

A agenda proposta pela Rússia para a próxima cúpula dos “Cinco” é extremamente importante e relevante para nossos países e para o mundo. Temos ideias e iniciativas específicas para cada tópico.

Não há dúvida de que a cúpula da Rússia, China , França , Estados Unidos e Reino Unido possa desempenhar um papel importante na busca de respostas para os atuais desafios e ameaças e demonstrará o compromisso comum com o espírito de aliança, contando com os altos ideais e valores humanitários pelos quais nossos pais e avós lutaram ombro a ombro.

Com base em uma memória histórica, podemos e devemos confiar um no outro. Isso servirá de base sólida para negociações exitosas e ações concertadas com o objetivo de melhorar a estabilidade e a segurança do planeta, bem como a prosperidade e o bem-estar de todos. Este é nosso dever e responsabilidade comum em relação ao mundo, em relação às gerações presentes e futuras.

Vladimir Putin – atual presidente da Rússia.