A economia brasileira encolheu mais 3,6% em 2016, ante retração de 3,8% registrada em 2015. Em dois anos consecutivos de recessão, a perda acumulada passa de 7%. É o que revelam os números do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados pelo IBGE nesta terça-feira. O Jornal da Unicamp ouviu quatro pesquisadores do Instituto de Economia (IE) da Universidade – Walter Belik, Maryse Farhi, Marcio Pochmann e Rodrigo Lanna Franco da Silveira – sobre esse resultado.

“Esperava-se que 2015 fosse o fundo do poço, logo esse resultado, tão ruim, de 2016, foi uma surpresa. Esperavam-se dados melhores”, disse Walter Belik. “É especialmente preocupante a queda da taxa de investimento, muito profunda e maior ainda do que a observada no ano anterior”. Para o pesquisador, isso revela “um desânimo grande do empresariado. A recuperação será muito mais lenta”.

“Houve um grande crescimento do investimento em 2010”, lembra ele. “Há uma capacidade instalada muito alta. A retomada, quando vier, vai se dar a partir da ocupação dessa capacidade, que ainda não conseguimos digerir, por conta da recessão, e da recontratação dos demitidos”.

Belik evita apontar culpados diretos pela recessão, lembrando que diversos fatores conjunturais, como câmbio, o preço das commodities e mesmo a instabilidade política, interferem no desempenho da economia brasileira. Lembra, ainda, a pressão inflacionária trazida pela crise hídrica de 2015. “Agora, os preços agrícolas reagiram, a economia mundial está crescendo, mas o câmbio está desfavorável”, exemplifica. Ele critica, no entanto, a adoção de políticas recessivas no cenário atual, ainda mais com a inflação em queda. “Uma política de corte de despesas, corte de crédito, não colabora”, disse. “E os juros deveriam cair mais rápido”.

 

Walter Belik
 

“A queda do PIB é o empobrecimento geral da população”, definiu a professora Maryse Farhi.  “Mas geral, em termos: os ricos, que têm poupança financeira, ficaram ainda mais ricos, graças à taxa de juros. É a parcela da população que ficou desempregada, ou que não consegue reposição salarial, que realmente sofre”.

Assim como Belik, Farhi chama atenção para a queda do nível de investimento. “Isso mostra que a saída não está à vista. A taxa de investimento está caindo. Como voltar a crescer? Aí, temos um problema. Só quando voltarem a crescer o investimento e a demanda. A única coisa que vejo é essa liberação do FGTS, que é um dinheiro a mais, mas que não tem como trazer uma mudança fundamental”.  

Maryse Farhi
Sobre a análise feita pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que os números representam um olhar “pelo retrovisor”, e que a economia brasileira já se encontra em novo momento, Farhi comenta que se tratam de projeções “temerárias”. “Até onde sei, o ministro não é economista, é engenheiro e banqueiro”, disse. “Nem economista faz previsões como ele faz. E quando faz, tem de engolir o que disse”.

Para Marcio Pochmann, mostrou-se equivocada a hipótese que ganhou força, há um ano, de que a recuperação viria com a mudança de governo, diante do descrédito do governo Dilma. “Ocorreu o contrário. A crise aprofundou-se com Temer, como demonstram os números divulgados hoje pelo IBGE”.

Segundo Pochmann, os dados mostravam que, no primeiro semestre de 2016, ainda no governo Dilma, a recessão vinha desacelerando. “A previsão era de um crescimento entre 0,3% e 0,8%. Com Temer, o quadro agravou-se, com mais desemprego e perdas significativas, de cerca de 8% do PIB per capita”. 

Para o docente, o mais grave, nesse quadro recessivo, é o desinvestimento, com o fechamento de fábricas e consequente perda da capacidade de produção, o que torna ainda mais difícil a recuperação. Qual seria a saída para o impasse? “Precisaríamos de um acordo tripartite, que envolvesse trabalhadores, setor produtivo e governo, deixando o rentismo em segundo plano”.  

Marcio Pochmann
Rodrigo Lanna da Silveira aponta o empobrecimento da população brasileira como o principal impacto da queda do PIB. “O fato é observado com o aumento da taxa de desemprego, queda do PIB per capita de aproximadamente 9%, entre 2014 e 2016, e pela diminuição do consumo das famílias em cerca de 8% no biênio 2015-16”, enumera.

Para Silveira, o quadro de recessão foi causado por uma conjunção de fatores, incluindo, segundo ele, políticas econômicas que levaram a um descontrole dos gastos públicos, e a falta de reformas estruturais que permitissem elevação da produtividade, aumento do investimento e melhora do ambiente de negócios.

O pesquisador cita ainda escândalos de corrupção, “que levaram a uma queda significativa do investimento privado, um cenário de crise de desconfiança, em que a instabilidade política e os escândalos de corrupção têm um forte peso”. “A saída viria de medidas estruturais e microeconômicas que propiciem a retomada do investimento pelo setor privado, aumentem a produtividade e melhorem o ambiente de negócios do país”, disse.