No Brasil, a Copa do Mundo gerou protestos de ativistas interessados em chamar a atenção para os problemas persistentes de pobreza e desigualdade de seu país. Em 2013, manifestantes seguravam cartazes em inglês estampadas com mensagens como “NÓS NÃO PRECISAMOS dA COPA DO MUNDO” e “PRECISAMOS DE DINHEIRO PARA HOSPITAIS E EDUCAÇÃO.” No entanto, como os cientistas políticos Diego von Vacano e Thiago Silva explicam em seu excelente artigo para o The Washington Post, “os protestos são paradoxais, porque o Brasil tem desfrutado de melhorias sociais e econômicas muito significativas desde o lançamento do país para o evento em 2007.”

De forma mais ampla, a Copa do Mundo de 2014 destaca a emergência econômica da América Latina na última década. O mar de camisas amarelas que pode ser visto em jogos da Colômbia e seções inteiras de mexicanos vestindo verde e torcendo para apoiar a sua equipe são um testemunho recente do sucesso econômico da América Latina e sua crescente classe média. Segundo o historiador David Goldblatt, “as imagens da televisão podem ser enganosas, e vestir uma camisa colombiana não é garantia de nacionalidade, mas o Estádio Mineirão, em Belo Horizonte foi inundado com amarelos – talvez 20.000 em uma multidão de 57.000. A mídia chilena tem relatado que até 10 mil estão fazendo a viagem ao Brasil, e parecia que todos estavam presentes em Cuiabá quando sua seleção despachou a Austrália “.

Em 2011, pela primeira vez na história, o número de pessoas nas classes médias da América Latina ultrapassou o número de pessoas pobres na região. O Brasil, em particular, destaca-se pelo sucesso no investimento em programas sociais e de redução da pobreza.

Dado o número de camisas amarelas que aparecem na multidão nos jogos, a Copa do Mundo no Brasil tem também sido massivamente frequentada pela classe média emergente do país. Ainda assim, a história de que o gasto com futebol é um desperdício num país em que a população vive na pobreza tem ganhado impulso nas mídias sociais.
Fotos de um grafite mostrando uma criança faminta chorando ao ver uma bola de futebol em seu prato tornaram-se virais e foram compartilhadas aos milhares no Twitter e Facebook. Outros usuário do Twitter compartilharam fotos lembrando a pobreza com a qual eles se deparam a algumas quadras dos estádios.

Estas imagens falham em mencionar que o Brasil destinou menos que 2 bilhões de dólares para a construção dos estádios. Em contraste, entre 2010, ano do início da construção dos estádios, e o início de 2014 o governo federal do Brasil investiu 360 bilhões de dólares em programas de saúde e educação. Para colocar isso em perspectiva, o governo do Brasil investiu 200 milhões de dólares para cada dólar gasto com os estádios da Copa do Mundo. Embora os sistemas de saúde, educação e transporte precisem de investimentos contínuos, os gastos com a Copa do Mundo não têm de maneira alguma eclipsado o investimento progressivo em programas sociais.

A economia do Brasil é definida por uma desigualdade intrinsecamente profunda. É um país conhecido pelas favelas e milionários. De acordo com análises da Forbes, o Brasil é o lar de dezenas de bilionários, incluindo Roberto Irineu Marinho, João Roberto e José Roberto Marinho, que juntos controlam o maior império de mídia da América Latina, a Globo, e têm, juntos, 28 bilhões de dólares. A empresa reportou em 2013 um lucro de 1,2 bilhão de dólares. De acordo com levantamento da Forbes, “enquanto a riqueza crescente do país está criando mais milionários e bilionários do que nunca, famílias ricas estão garantindo a fatia maior desse bolo”. Dos 65 bilionários listados pela Forbes na sua edição dos Bilionários do Mundo, 25 deles são herdeiros ou parentes.

Oito famílias têm vários membros entre a nossa mais recente classificação. “Jorge Lemann, o proprietário parcial da Anheuser-Busch InBev, tem um patrimônio líquido de US$ 22 bilhões. Ele é uma das 30 pessoas mais ricas do mundo. As quinze famílias mais ricas do Brasil têm um patrimônio líquido combinado de US $ 122 bilhões, uma soma que é apenas um pouco menor que a produção econômica anual do Equador e da Costa Rica.

Mas, enquanto é fácil apontar os gastos dispendiosos com os estádios da Copa do Mundo ou a longa lista de bilionários do Brasil e contrasta-los com milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza, tais comparações falham ao não reconhecer o tremendo sucesso que os criadores de políticas públicas brasileiros têm tido na erradicação da pobreza ao longo da última década. De acordo com um relatório recente do Centro para a América Latina e Caribe da ONU (ECLAC), em 2005 38% da população brasileira vivia abaixo da linha de pobreza. Avançando para 2012, essa taxa caiu para 18,6% da população. Em outras palavras, desde 2005, o Brasil tem efetivamente reduzido para mais da metade o número de seus cidadãos vivendo na pobreza.

Por outro lado, o México, um país cujos políticos estão mais concentrados nas exportações e nos salários competitivos, atualmente viu a pobreza aumentar durante esse mesmo período, de acordo com um relatório do Centro das Nações Unidas para América Latina e Caribe. O Chile, um país há muito elogiado pelo desenvolvimento de suas políticas econômicas, viu um declínio muito menor de sua pobreza no mesmo período. No Chile, a pobreza caiu de 13,7% para 11% em 2011.

A América Latina é a região mais desigual do mundo, e o Brasil em particular é conhecido por sua história colonial baseada em uma espoliativa agricultura de exportação, o que ajudou a estabelecer uma economia altamente dividida entre ultrarricos e ultrapobres. Em meio à controvérsia da Copa do Mundo, o tremendo sucesso do Brasil na redução da pobreza tem sido de certa forma ignorado.

Jason Marczak, expert em América Latina do Atlantic Council em Washington [um think tank apartidário e influente], me contou que “a crítica aos excessivos custos dos estádios é na verdade um grito dos cidadãos do novo Brasil, um Brasil mais classe média, que demanda maior transparência e um modelo de estado mais responsável”.
Quando a seleção do Brasil entrar em campo, o mundo devia também aproveitar o momento para reconhecer o sucesso das políticas públicas progressivas do país.

“O Brasil tem atingido conquistas impressionantes no crescimento socioeconômico na última década com dezenas de milhões de pessoas saindo da pobreza e entrando na classe média”, acrescenta Marczak.

Para se divertir, eu reuni alguns dados do Banco Mundial e das Nações Unidas, e comparei o Brasil a outros países latino-americanos que competem na Copa do Mundo. Eu reuni dados sobre Investimento Direto Estrangeiro (per capita), o PIB per capita, os níveis de pobreza atuais, a redução da pobreza desde 2005, o número total de bilionários, e o ranking de negócios do Banco Mundial de cada país. Essas medidas ilustram a força relativa dos nove países latino-americanos que competem na Copa do Mundo, e também mostram o quão bem sucedido cada país tem sido ao traduzir o sucesso econômico em redução da pobreza. Depois de classificar os países em cada categoria, eu, então, criei um escore global.

VEJA AQUI O COMPARATIVO ENTRE AS SELEÇÕES DA COPA