Nesta terça-feira (11), o Senado foi palco de um debate fundamental para o Brasil. Sede da Copa do Mundo que vai durar pouco mais de um mês, entre junho e julho deste ano, dúvidas começam a surgir sobre o andamento das obras de mobilidade, a construção dos estádios, o valor gasto em todas as reformas e como isso será capaz de formar o “legado da Copa”. Para tal, cinco representantes de diferentes esferas estiveram hoje, em Brasília, para discutir as ações a menos de 100 dias para o início do evento. Estiveram presentes na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE)  Rafael Jardim, assessor do Ministro Valmir Campelo, relator das obras da Copa do Mundo do Tribunal de Contas da União (TCU), Adalberto Vasconcelos, Coordenador da Região sudeste do Tribunal de Contas da União, Rodrigo Magalhães Prada, diretor do Portal 2014, Lamartine da Costa, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e José Roberto Bernasconi, Presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), além do presidente da Comissão, o senador Cyro Miranda.

Como de costume, o tema principal foram os percalços que a Copa do Mundo tem sofrido desde 2007, quando o Brasil foi escolhido como país-sede. Com diferentes visões, os cinco convidados abordaram questões pertinentes para o sucesso do torneio. Sobre o TCU, Rafael Jardim explicou a função do órgão na Copa e como a entidade tem agido para que as obras que receberam dinheiro público não saiam do controle de fiscalização.

Na avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU), a falta de planejamento nos projetos é um dos motivos dos atrasos.

“Eventualmente o empreendimento atrasa porque o prazo foi mal dimensionado. Em 99% dos casos aqueles prazos foram justificados mediante experiência do projetista. Isso é recorrente, Copa ou não Copa”, apontou o assessor do ministro relator das obras da Copa do Mundo, Rafael Jardim Cavalcante.

O presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), José Roberto Bernasconi, concordou. Segundo ele, projetos mal formulados são responsáveis pela falsa expectativa criada em torno da conclusão de todas as obras até o evento. Mas, para Bernasconi, o legado da Copa para os brasileiros é inegável.

“Os estádios são modernos, efetivamente, o Brasil aprendeu a fazer. Há obras de infraestrutura? Teremos, sim, algumas delas não ficarão para a Copa, mas terão sido motivadas pela Copa, então dá para dizer que é um legado que vem da Copa. Pena que não fique tudo pronto até a Copa”, ponderou.

Também para o professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Lamartine Pereira da Costa, independentemente de todas as obras estarem concluídas até junho, o mundial tem funcionado como um processo catalisador de melhorias em infraestrutura.

“A Copa é um momento, um ponto de um processo muito mais sofisticado. É um processo catalisador de qualquer cidade que ele foi implantando. Há três décadas não se fazia obra de mobilidade urbana no Rio de Janeiro. Hoje é um canteiro de obras”, disse.

Mas Cyro Miranda teme que elas sejam abandonadas após o fim do evento esportivo.

“Só tem legado quando ele é entregue. Temos preocupações grandes. Depois que passar a Copa, quanto tempo levaremos para entregar esse legado?” indagou.

“O Tribunal tem o viés de contribuir para deixar um bom legado para a Copa, e também para depois da competição. Legado é mais do que a identificação de riscos. É a correção e a implementação de políticas públicas. A estratégia de fiscalização se voltou para vistoriar tudo antes de se gastar o primeiro centavo da obra. O tribunal conseguiu corrigir e resgatar meio bilhão de reais. Além disso, não constatamos superfaturamento em nenhuma obra”, disse Rafael.

Mesmo com o controle nas contas e andamento das obras, Rafael Jardim aponta uma situação recorrente em empreendimentos realizados no Brasil: todas as dificuldades, os adiamentos e as delongas na concepção da Copa refletem a realidade do país em obras estâncias.

“A função do Tribunal de Contas é ver o porquê dos atrasos. Não houve, na Copa do Mundo, diferença das obras públicas do país. As obras da Copa foram um foco, uma lupa, do que acontece nos âmbitos municipais, estaduais e federais.”

Com três estádios a serem entregues, o Mundial deste ano já se tornou o mais atrasado da história. Demora no financiamento, falta de mão-de-obra qualificada, entre outros assuntos contribuíram para que a Copa seja vista como uma péssima ideia para a população. Esse cenário é fruto de um projeto defeituoso, afirma José Roberto Bernasconi, presidente do SINAENCO. “Não podemos mais repetir os mesmos erros. Aconteceu no Jogos Pan Pan-americanos, na Copa, e em outras obras do Brasil. Precisamos romper o círculo vicioso, com projetos completos de engenharia, estabelecer rotina e gerenciamento das obras. Se pensarmos antes, vamos executar melhor”, afirmou Bernasconi.

Além de todos os problemas estruturais, um obstáculo silencioso pode dificultar ainda mais a vida de turistas e profissionais que participarem da Copa: a Tecnologia da Informação, ou simplesmente TI. Poucos conhecem a importância do segmento, sobretudo nos 12 estádios que receberão jogos da Copa. O diretor do Portal 2014, Rodrigo Prada, no entanto, levantou um questionamento importante, não abordado até então no debate.

“Nenhum estádio brasileiro tem a estrutura de TI pronta. A Copa de 2014 será a Copa das redes socais. Os turistas que estarão aqui durante o Mundial não conseguirão usufruir da internet móvel da mesma maneira que eles utilizam em seus países. Na abertura da Arena da Amazônia, no último domingo (9), alguns jornalistas não conseguiram mandar suas matérias para as respectivas redações. Esse é um problema extremamente crítico sobre as telecomunicações”, destacou Rodrigo Prada

Apesar do contexto negativo, o pesquisador da USP, Lamartine Costa, vê a Copa do Mundo como parte de um processo importante para o país. “A Copa é um ponto de um processo muito maior. No Rio de Janeiro, há três décadas que não se fazia obras de mobilidade. E elas não são necessariamente para a Copa, mas o evento exigiu isso. Ela é algo que pode levar uma nação a um patamar mais elevado”, salientou Lamartine.

A 93 dias da Copa do Mundo, três estádios ainda não foram entregues: Arena Corinthians, em São Paulo, Arena Pantanal, em Cuiabá, Arena da Baixada, em Curitiba. Desde a divulgação da primeira Matriz de Responsabilidade, 18, das 42 obras, já foram excluídas.

O jogo de abertura acontece no dia 12 de junho, às 17h, em São Paulo, com a partida entre Brasil e Croácia, pelo Grupo A.

Confira abaixo as obras que estarão prontas para o campeonato e as obras que serão continuadas após a Copa: