Conheci Andreza no último sábado, participando como debatedor da Plenária Estadual da União da Juventude Socialista no Pará. Logo senti, entre aqueles jovens militantes, o ânimo em receber figura tão polêmica, que bomba nas redes sociais e que ficou presa por 21 dias sob a acusação de apologia ao crime.

Vi alguns de seus vídeos e achei-a, como se diz no criativo jargão da periferia, uma ‘moleca doida’. Mãe adolescente e negra, sua figura, de fácil comunicação com seus iguais de esquina e escola, sofre um ataque tão preconceituoso e defesas tão apaixonadas que até o portal da platinada, o G1, deu atenção, de forma jocosa, ao propósito da moça em virar comunista.

Como é que pode, porque somos todos limpinhos, aceitar uma mulher que está em conflito com a lei, que frequenta as festas de aparelhagens, que é tatuada, que têm cabelos vermelhos, que é da Cabanagem – um dos bairros mais violentos e pobres de Belém – entrar numa organização política que tem profundas raízes no povo e na juventude brasileira?

Olha, sinceramente…

Minha mulher, Angelina, lendo o rascunho deste me fez lembrar o poema ‘Os Comunistas’, do chileno Pablo Neruda. Lá pelas tantas ele diz ‘que todos podem ser festejados, menos os comunistas’. Uma paródia cabe aqui: todos podem ser festejados, menos os pobres, os negros, os afeminados e as meninas-mães de todos os dias de nossas imensas periferias.

Os que batem panela em varandas gourmet, tipo classe média pão-com-ovo, precisam saber que a moça reflete, como identidade, sua condição social e origem. E o que há na periferia – na Cabanagem – para se oferecer à juventude, além do tráfico, da prostituição das meninas, da violência das milícias e da polícia, da morte precoce e do obscurantismo?

Fico besta em ver gente ‘formada’ destilando preconceitos contra uma moça de 21 anos e transformando-a em nosso ‘Fernandinho Beira-Mar’ de saias. Ou seja, uma parcela marginalizada dessa juventude não pode iniciar uma militância política consciente, num partido histórico, como é o PCdoB?

Não, não pode porque é preciso mais cadeias, menos escolas e nenhuma humanidade. Assim, os preconceitos são destilados na consciência social através de programas sensacionalistas e da atuação da bancada da bala.

Distante dos jovens dos condomínios fechados a Senhorita Andreza nunca poderá entrar pro rol dessa gente diferenciada e seu lugar está destinado – assim querem nos fazer crer – às estatísticas dos meninos e meninas que são mortos diariamente pela violência do tráfico e da polícia, por abortos em açougues, ou que enchem as casas penais numa verdadeira epidemia de violência institucional contra a juventude brasileira.

Em Belém, as chacinas contra jovens pobres virou rotina, apesar da corajosa denuncia que fazem os movimentos de direitos humanos nestas terras cabanas.

Ora bolas, sempre penso que só é possível termos as nossas humanidades comprovadas se abraçarmos os perseguidos, os rechaçados, os que vivem sob o preconceito de toda ordem, não é?

É preciso mais generosidade, nenhum preconceito, muita compreensão cientifica dos problemas enfrentados pelo conjunto do povo e a defesa intransigente da juventude da periferia.

Senhorita Andreza, querida, você pode ser tudo o que quiser ser. Pode ser médica, professora, advogada ou operária. Agora, poderás, enfim, romper com tudo que a que elite branca e golpista planejou para tua vida, ou seja, que ela desapareça de forma precoce seja pela morte violenta, no fundamentalismo dos pastores do preconceito, no vício, fome ou cadeia.

Seja bem vinda!