Todos apontaram para o cenário em que o neocolonialismo avança de forma devastadora sobre o mundo contemporâneo, tendo na Rússia de Putin e na China socialista dois estados e economias de resistência à hegemonia imperialista norte-americana, refazendo de forma irregular um equilíbrio nas relações internacionais que a União Soviética promoveu por mais de setenta anos. A debacle do regime soviético é visto como uma catástrofe que permitiu o desmonte do estado de bem estar social que se construiu na Europa, além de favorecer as guerras neocoloniais que avançam devastando estados inteiros, desde o Golfo Pérsico.

Losurdo mostrou como a luta colonial é precursora das revoluções socialistas que se impuseram no mundo. “Não é possível compreender a Revolução dos Cravos sem a agitação colonial de Portugal e a insatisfação do exército”, citou.

Losurdo mencionou que Lênin analisava a partir da observação não apenas da violência crescente que as trincheiras do ocidente expunha, mas também a brutalidade que as guerras coloniais impunham sobre povos inteiros. Assim, a revolução anticolonial, que, antes de outubro, já era presente no México, na China, na Pérsia e na Irlanda, tornava-se ponto central do programa comunista, convocando “povos oprimidos do mundo inteiro, unam-se”.

Losurdo define a primeira guerra mundial como um choque de proprietários de escravos, as grandes potências, enquanto a segunda caracterizou-se pela luta de povos coloniais. “Os nazistas falavam entre si de colonizar e escravizar a URSS, pois iam precisar de escravos eslavos para construir seu império do 3o. Reich.”

Desta forma, aquela foi uma grande luta antiimperialista, uma luta de classes e anticolonialista. “O mesmo se pode dizer da Ásia, com o Japão escravizando os povos chineses. A derrota do 3o. Reich e do imperialismo japonês significou o desenvolvimento de uma revolução anticolonialista sem precedentes”.

Mao Tse Tung dizia que há identidade entre luta nacional e luta de classes.

“Os trotskistas não entendiam isso”, disse Losurdo, destacando que essa parcela da esquerda continua a não entender isso, quando apoia guerras como a da Síria e ataca a Rússia.

“Soviéticos e chineses guiados pelos partidos comunistas deram fim no mundo ao colonialismo, pelo menos em sua forma tradicional”, aponta ele, como um dos grandes legados daquelas revoluções. A derrota da Alemanha e da Itália fascista, em sua opinião, foram fundamentais para o desenvolvimento da luta anticolonial no resto do mundo.

Mao já criticava, em 1949, aqueles que esperam que a China se reduza a viver da farinha americana. Mas Losurdo também cita Deng Xiao Ping que entendia que, para uma independência genuína, a China precisava deixar a pobreza e a dependência econômica. Assim, a simples libertação colonial não era suficiente para a soberania de uma nação.

Losurdo lembra Frantz Fanon, o pensador argelino, que já denunciava a crueldade da mentalidade colonial: já que querem a independência, fiquem com ela e morram de fome. “Um dos limites de certa esquerda ocidental é não compreender essa segunda parte da revolução anticolonial. Tem que defender esses países em seu desenvolvimento econômico e tecnológico para serem fiéis à revolução”, analisou.

Mesmo depois da segunda guerra, o imperialismo e o colonialismo continuaram a contrastar com o anticolonialismo que triunfou daquele conflito. “A guerra fria desencadeada pelo Ocidente tinha a tarefa de travar e deixar mais tímida a revolução colonial e não permitir todos os seus objetivos”, explica o filósofo.

A guerra fria teve seu triunfo com a dissolução soviética, quando houve uma reabilitação do imperialismo e do colonialismo em todo o mundo. “Popper dizia que a descolonização foi um erro que temos que remediar. Demos liberdade rápido demais a povos que estão no jardim da infância. Popper torna-se o herói do pensamento ocidental”, conta Losurdo.

Os EUA chegaram à celebração explícita do colonialismo. O Herald Tribune afirmava em editorial que só o imperialismo ocidental pode salvar os mercados do caos. Nial Ferguson, um britânico nos EUA, celebra explicitamente esse neocolonialismo pós-guerra fria, ao chamar os EUA a estabelecer um “colonial office” como os britânicos faziam pelo mundo. Ele dizia que os EUA eram o poder colonial mais magnânimo já surgido no mundo.

Losurdo observa que a característica de todas as guerras recentes dos EUA, é que elas são travadas em países com revoluções anticoloniais. Desta forma, os EUA promovem contrarrevoluções colonialistas. Mas Losurdo também nota que os EUA encontraram dificuldades em pequenos conflitos, como no Afeganistão, no Iraque e na Iugoslávia. “Hoje, os EUA não têm a ilusão de empreender pequenas guerras indolores, por isso, visam Rússia e China”, afirmou.

Ele declara que a China é protagonista da maior revolução anticolonial da história. Embora a Rússia não seja a URSS após a restauração capitalista, ela tem uma história singular, tendo resistido a ocupações e ao risco de se tornar uma colônia de imensa reserva de força de trabalho servil. “Depois da privatização perversa de Yeltsin, a Rússia arriscava perder seu enorme patrimônio energético. Por isso, se explica a reação de Putin ao desmantelamento do estado e também o ódio ocidental a Putin. Por isso essa campanha russófoba”, explica Losurdo.

A republica chinesa não é só a protagonista da maior revolução anticolonial, mas também teve seus momentos de dificuldade. Os EUA retardaram a recuperação da China com embargos. Os EUA empobreceram a China por dez anos. Nial Ferguson escrevera que, na politica de abertura de Deng Xiao Ping, os  economistas previam que a China se tornaria uma enorme sucursal econômica dos EUA. A China era o sonho colonial de Washington, que se tornou um pesadelo por seu enorme desenvolvimento econômico e tecnológico atual.

“Hoje, fala-se em terceira guerra mundial, com base nuclear, e temos que refletir sobre a grande revolução de 1917. Quem representa o perigo para a segunda revolução contracolonialista? Quando os EUA declaram que o ocidente pode intervir em qualquer país sem autorização do Conselho de Segurança da ONU, se atribui uma hegemonia que ameaça a todo o mundo.”

Clinton via a América como líder, com um papel especial no mundo, um papel atemporal. Obama e Bush Jr diziam que eram uma nação eleita por Deus. Kissinger dizia que a liderança mundial era uma vocação natural dos EUA.

Brezinsky, do governo Carter comparava os EUA ao império romano. Na nova ordem imperialista, os europeus são mero vassalos e estão no papel do protetorado.

O imperialismo e o capitalismo são sempre a fonte de guerra e perigo de guerra. De que forma se expressa a revolução contracolonial? A Otan que se expande cada vez mais sob o férreo controle dos EUA. “Sergio Romano, que foi embaixador na URSS, diz que toda a política externa dos EUA visa a possibilidade de garantir um primeiro golpe nuclear impune, sem precisar temer qualquer tipo de repressão. Por isso, tanto antimísseis na porta da Rússia e da China”, alerta.

Losurdo finaliza afirmando que a Revolução de Outubro deu início à revolução  anticolonialista que hoje esta ameaçada. “Levantar a bandeira de outubro significa combater as guerras anticoloniais. A luta pela paz não pode ser eficaz sem a luta de classes”, disse.

A aventura de construção do socialismo soviético

A exposição de Luiz Fernandes foi uma profusão de legados evidentes da Revolução Russa, mas também aqueles que demandam uma observação mais acurada da experiência socialista. De cara, ela introduziu um protagonismo político aos operários e camponeses que não havia. Fernandes diz que a fundação do Partido Comunista no Brasil, em 1922, também teve esse papel de introduzir os trabalhadores na vida politica nacional com a fundação do seu partido como força autônoma, rompendo com a negação política dos anarquistas que dominavam a cena operária, até então.

Fernandes aproveita para ressaltar que a luta politica dos trabalhadores não começou no final dos anos 1970 com o Partido dos Trabalhadores. “Há ainda uma corrente operária importante, que é o trabalhismo. A CLT é uma conquista comum dos comunistas e trabalhistas brasileiros. Este cenário de avanços no Brasil é resultado indireto da revolução que assombrava o mundo do outro lado do Atlântico.

A revolução soviética tem como legado universal introduzir na agenda política mundial a questão social. Foi um processo mais profundo de redistribuição de renda porque afetou a estrutura da sociedade russa. “A ‘ameaça’ comunista presente no sistema internacional foi o que criou as condições políticas que permitiram a constituição do estado de bem-estar social com a profundidade alcançada. Foi a concessão maior das elites do ocidente às reivindicações sociais dos trabalhadores”, destaca Fernandes.

O mundo deve à União Soviética o desfecho da 2a. Guerra Mundial com a derrota do nazifascismo, do racismo extremado e da opressão nacional que se pretendia.

“Em que mundo estaríamos agora, se a Operação Barbarossa tivesse triunfado?”

Princípios que também se impuseram a partir da 2a. Guerra Mundial, devido à presença soviética, foi o da não intervenção e o da autodeterminação dos povos. Embora sejam princípios formais para as potências imperialistas, a política adotada no campo soviético na luta anticolonialismo e antiimperial, e a ajuda dada pela URSS às lutas anticoloniais ajudaram a mantê-los princípios ativos.

O sistema internacional desconstituiu esses princípios conforme a guerra fria avançava. “Mesmo Rosa Luxemburgo considerava a luta pela autodeterminação dos povos uma bandeira burguesa”, lembra Fernandes.

A principal importância dessa revolução é o de ter inaugurado a primeira experiência histórica mais prolongada de estruturação de um sistema alternativo ao capitalismo. Para Fernandes, este aspecto é um legado fundamental e permanente. “Muitas vezes, a leitura dessa experiência, seja pra criticar ou defender, é superficial. Estruturou-se o conceito de totalitarismo para defini-la, como se o socialismo soviético fosse um plano maquiavélico pré-determinado, com evolução linear, para consolidar uma sociedade totalitária com controle total do indivíduo.”

As defesas apologéticas da revolução soviética, sobretudo as dogmáticas, salienta Fernandes, também são lineares. “Como se todas as etapas, sob a clarividência de Lênin e seus seguidores, tivessem levado ao socialismo soviético como modelo a ser implantado em todo o mundo como alternativa ao capitalismo”, ironiza ele.

Fernandes descreve um processo de constituição do socialismo soviético tumultuado, dialético e nada linear. Qual o dilema ao iniciar a revolução? As condições inadequadas da Rússia, conforme sugeria a teoria marxista. Quanto mais avançado o capitalismo, dizia a teoria, mais intensa a contradição entre capital e trabalho, e mais consolidadas as bases para a transição ao socialismo. Desta forma, a Rússia se apresentava no início do século XX como um país semiperiférico, com capitalismo tardio concentrado em algumas cidades, uma maioria de camponeses vivendo sob condições pré-capitalistas, um estado pouco consolidado, sem experiência democrática liberal. “Não é a toa que, em 1917, ocorrem duas revoluções: uma anti-czarista e uma soviética!”

A Rússia tinha a segunda maior dívida externa do mundo com a França e a Inglaterra, o que explica as alianças da primeira guerra mundial. Como lidar com essas condições, com derrotas de insurreições na Alemanha e na Hungria que poderiam ter servido de complemento à soviética? “Os caminhos não estavam predeterminados nem claramente previstos”, ressalta Fernandes.

Acompanhando os debates na época, ele conta que havia duas concepções com dirigentes mudando de posição no debate, só para exemplificar as turbulências teóricas da revolução: o caminho do capitalismo de estado e o do comunismo de guerra.

Lenin formulou o capitalismo de estado como o caminho da transição, não estatizou o grosso de sua economia, mantendo o controle sobre a propriedade privada. Esta orientação é interrompida pela guerra civil e pela intervenção estrangeira (França e Inglaterra). Houve então o comunismo de guerra com centralização e requisição forçada com alocação focada e administrativa de recursos para enfrentar a guerra civil e a intervenção estrangeira.

Setores bolcheviques acharam que dali seria uma linha reta rumo ao comunismo.

Então, Lênin formula a NEP, a nova política econômica, que retoma o capitalismo de estado com transição gradual. Nem tudo seguiu como mandava o figurino, devido às poucas concessões do capitalismo estrangeiro, embora tenha triunfado nos anos 1920.

A NEP começa a enfrentar a deterioração internacional com o cerco à URSS. O gradualismo representaria o agravamento da situação internacional, uma grande vulnerabilidade ao cerco hostil e a previsão de que, em uma década, a URSS seria invadida. Era preciso montar uma base industrial espalhada por todo o território russo para servir de base para uma indústria de defesa. “A NEP é abandonada a favor de uma industrialização acelerada e da coletivização acelerada e forçada.

Era preciso gerar excedentes para ser rapidamente investidos em economia de mobilização para a defesa. Esse esforço gigantesco e acelerado de uma base industrial de defesa foi o legado universal responsável pela derrota do nazifascismo”, analisou o cientista político.

A afirmação de que a URSS foi a responsável pela derrota da máquina de guerra alemã se explica pelo grosso do armamento produzido pelos soviéticos, mesmo entre os aliados. “O Exército Vermelho se torna a força hegemônica na Europa do leste.”

A orientação primeira não era avançar para o socialismo naqueles países, mas retomar a NEP, a transição, embora alguns países estivessem indo rápido demais. A ruptura com a política do pós-guerra e a guerra fria levam a uma aceleração do socialismo, devido ao cerco crescentemente hostil.

“O modelo de socialismo de estatização integral, direção planificada, altamente centralizada, planificação detalhada, fusão do partido com o poder, teve êxitos importantes na etapa de desenvolvimento da URSS e demais países, na etapa de enfrentamento do atraso herdado pelas condições semiperiféricas dessas experiências”, afirma Fernandes.

Ele conta que houve elevação rápida da produtividade do trabalho, o que mediria de forma mais precisa a superioridade de um sistema sobre o outro. Não seria a medida do PIB em moeda forte, mas a medida do poder de paridade de compra.

Neste sentido, o PIB era de 7,8% da soma mundial durante o Império Russo, medido em paridade de compra, saltando para 9,7% com ápice, em 1961, de 10,2% do PIB mundial, medido por poder de paridade de compra. “Este período coincide com a dianteira na tecnologia aeroespacial, um clima de euforia e triunfalismo. O Congresso do Partido, em 61, já com Kruschev, previa que nos anos 1970, a URSS superaria os EUA e avançaria para o comunismo”, relata.

Vencida a etapa de industrialização extensiva e modernização e enfrentamento do atraso herdado, esse modelo de economia de guerra, ou modelo soviético, que passou a ser apresentado como modelo único, foi incapaz de manter uma dinâmica de progresso técnico. “A encruzilhada de inovação e índice de produtividade superior aos países do capitalismo nos anos 1970, começou a perder dinamismo econômico. A URSS foi incapaz de acompanhar a velocidade da revolução tecnológica pela planificação econômica. A indução de tecnologia na indústria era pequena e o cumprimento de metas não estimulava a inovação mais profunda. A URSS não entrou em crise, mas em desaceleração e perda de dinamismo. Nenhuma reforma mudou os pilares do sistema, embora tenham desorganizado o sistema”, pontua Fernandes.

Mas, em sua análise, este não foi o fator central para entender a dinâmica e deterioração do socialismo soviético. “O principal fator foi a capitulação dos dirigentes do estado soviético”, declara.

Gorbatchev é o principal agente desta capitulação, abandonando a orientação antiimperialista em nome da política de predomínio de direitos humanos universais sobre interesses de classe. “A URSS votou a favor da primeira guerra do Golfo, permitindo que a OTAN operasse contra aliados da URSS”, lamenta ele.

Na base da capitulação estava a crescente dificuldade de promover a política de paridade estratégica bélica com os EUA. A estratégia americana era estrangular na corrida armamentista a URSS com alto custo de sustentação. “O determinante nesse quadro de dificuldades foi a capitulação e abandono do sistema”, defende ele, considerando este um desfecho trágico para toda a humanidade. Fernandes cita uma série de indicadores básicos de qualidade de vida na URSS, que se desmantelaram rapidamente na transição ao capitalismo, como a expectativa de vida, que só voltou aos padrões soviéticos em 2009. “A URSS investia mais de 3% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. Com o capitalismo e a forma dependente assumida, o sistema foi desmantelado e caíram para menos de 1%. Um retrocesso brutal que começa a ser reconstituído pela orientação dada por Putin.”

Para não encerrar com uma nota pessimista, Fernandes conta que, nesse mesmo período em que a URSS sofreu essa perda de dinamismo econômico, uma outra experiência socialista tomou caminho inverso, a China. “A China realizou, em 2014, o sonho anunciado para a URSS nos anos 1970”. Houve um processo de modernizações em 1979, com recuperação da NEP, múltiplas formas de propriedade, expansão das formas de mercado, planejamento estatal do desenvolvimento e metas focadas. “O retorno à NEP produziu uma alternativa socialista viável ao dilema tecnológico da URSS. Em 2014, a China ultrapassa os EUA em poder de paridade de compra, com o enfrentamento ao dilema da inovação tecnológica”, defende ele.

Fernandes encerra afirmando que, alternativas há, e “cabe-nos aprender não apenas com a lições do fracasso como as de sucesso da experiência socialista em curso no século XXI”.

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Quartim de Moraes cita o jovem Gramsci, ao comentar a Revolução de 1917, como A revolução contra O Capital, percebeu algo original nas agitações de outubro. “Havia algo naquela revolução que o materialismo histórico não dava conta; era contra O Capital. Os fatos superaram as ideologias, o fato sendo a guerra”, afirma Quartim. Em sua opinião, Marx não poderia prever que a guerra geraria a vontade coletiva popular que sucitou. “As massas coesas em torno desse objetivo, normalmente exige longa experiência de capilarização. A anomalidade foi o dilúvio de chumbo, aço e fogo sobre o continente europeu acelerando sua história social”, explicou.

Na Rússia, a guerra serviu para cristalizar essa vontade em três anos de sofrimento. “A carestia, a fome e a morte juntavam todo mundo. As vontades em uníssono, primeiro mecanicamente ativada, depois espiritualmente ativada”, diz o filósofo. Para ele, outubro de 1917 inscreveu que algo não estava na lógica de O Manifesto (Comunista). “Gramsci teria sido mais preciso se chamasse seu artigo de A revolução contra O Manifesto”, conclui.

Em que consiste a originalidade de outubro em relação ao manifesto? Na análise de Quartim, eram dois elementos. A aliança operária camponesa, primeiro elemento chave da vitória de outubro. “No Manifesto, o camponês é maltratado”. A complexidade do problema se revela quando Marx capitula diante de Vera Zassulitch. “Sim, o camponês pode ser a base da regeneracao social da Rússia”, admitiu Marx.

Diante do modo como o Ocidente promove o revisionismo da Segunda Guerra para omitir a vitória soviética, Quartim também reafirma o papel do Exército Vermelho naquele conflito. “Quando anglo-americanos desembarcaram na Normandia, o Exército Vermelho já tinha estraçalhado os alemães em Kursky. A guerra já estava decidida”, afirmou, ironizando os filmes de Hollywood que defendem a tese da libertação anglo-americana. Ele exaltou a manobra genial comandanda por Stalin, ao cercar os cercadores. “A URSS fabricava mais canhões, aviões e mais munição que todos os aliados juntos. Este foi um ganho com a industrialização acelerada ao custo da guerra civil entre operários e camponeses”, ponderou.

Um partido que propele um homem fraco como Gorbatchev ja tinha problema antes disso, acredita Quartim. “Na correlação de forças, com o restabelecimento do estado russo por Putin, hoje, estou convencido de que a situação para o campo anti-hegemônico, o complexo de forças que se opõe ao imperialismo dos EUA e demais potências é mais favorável do que no final dos anos 1950, até o final do milênio”, afirmou seu otimismo, o filósofo.

O tempo do deboche pela hostilidade entre URSS e China, já passou, declarou Quartim, mencionando as ironias ocidentais capitalistas diante das divergências abertas entre o socialismo soviético e a revolução chinesa. O encontro entre a NEP de Lênin e o capitalismo de estado da China, com o país asiático realizando aquilo em que a União Soviética falhou, mostra que não há motivos para deboches no imperialismo ocidental.