O realismo fantástico, também chamado de realismo mágico ou realismo maravilhoso, passou a fazer parte do panorama da literatura hispano-americana ao final da década de 1947, por meio do escritor venezuelano Arturo Uslar Pietri, no ensaio El cuento venezolano.

No prefácio do romance El reino de este mundo, o cubano Alejo Carpentier define aquilo que chamou de “real maravilloso”, algo semelhante ao realismo mágico. Foi em uma viagem ao Haiti, país vitimado por inúmeras misérias, que Carpentier percebeu a verdadeira essência do hispano-americano. O Haiti era dominado pelo medo aos mortos-vivos. Foi ali que surgiu o termo “zumbi”, um motivo da religião vodu para designar os “desmortos”. Nesse ambiente em que contrastavam o real e o maravilhoso, é que Carpentier percebeu como o hispano-americano conseguia lidar com as suas misérias.

Acobertado por um mundo de sombras, de paisagens deslumbrantes e misteriosas, o homem dali podia suportar as injustiças e o jugo da exploração. Vivia em uma espécie de transe proporcionado pela religião, pela coca e pela bebida.

O realismo mágico, por sua vez, destacou-se nas décadas de 1960 e 1970, com figuras como Miguel Ángel Asturias, Juan Rulfo, Carlos Fuentes e Isabel Allende.

Um caso diferente é o de Jorge Luis Borges, cujos contos se enquadram à categoria de literatura fantástica.

O crítico búlgaro Tzvetan Todorov define três gêneros da literatura fantástica: o fantástico, o estranho e o maravilhoso. O fantástico se define pelo indefinido. Ali, ocorrem eventos estranhos e que deixam o leitor em uma dúvida: ocorreu ali um evento natural ou sobrenatural? É essa dúvida que permeia o relato fantástico.

A mesma dúvida não surge nos outros dois gêneros. O relato estranho explicará o fenômeno de maneira científica, como no realismo socialista de Platônov, ou mesmo nos desenhos de Sccoby Doo. O relato maravilhoso, por sua vez, não encontra explicação na realidade. Nele, sempre se conclui que houve uma interferência sobrenatural, como no caso dos mistérios bíblicos.-

Quando se trata de literatura hispano-americana, o termo fantástico confunde-se com o maravilhoso, pois o que separa um e outro gênero é pouco claro. Nela, predomina a superstição.-

Cien años de soledad conta a história da família Buendía, fundadora do povoado fictício de Macondo. A história da família desenrola-se por gerações. Nela, há sempre descendentes de nome José Arcadio e de nome Aureliano, nomes esses que dão àqueles que os têm características psicológicas parecidas. Com a história da família, relatam-se os acontecimentos de Macondo, a fundação do vilarejo e seu desenvolvimento, passando pela peste de insónia, amnésia e pela guerra civil; e relatando também a economia da cidade, o movimento dos trabalhadores, misturando eventos sociais com acontecimentos sobrenaturais.

Cien años de soledad, que completam 50 anos de sua publicação, tornaram-se um dos maiores romances de todos os tempos.  Seu autor, o colombiano Gabriel García Márquez ganharia o prêmio Nobel de Literatura, em 1982.

Publicado em Causa Operária