Em audiência pública na Câmara, o jornalista Fernando Rodrigues, colunista da UOL, único jornalista brasileiro a receber a documentação completa sobre as contas secretas de brasileiros no HSBC suíço, revelou nesta quinta-feira (7) que o Brasil é o 4º país com mais clientes do banco em Genebra, entre 203 países. Ao todo, foram identificados 8.667 correntistas brasileiros que possuíam, em 2006 e 2007, cerca de US$ 7 bilhões depositados na filial suíça do HSBC, o que corresponde a R$ 21 bilhões.

Para o deputado Toninho Wandscheer (PT-PR), relator da Subcomissão Especial criada para acompanhar o caso, no âmbito da Comissão de Controle e Fiscalização Financeira, os valores descritos pelo jornalista são significativos e, no caso da comprovação de alguma ilegalidade das contas, os recursos devem ser repatriados. Para se evitar esse tipo de prática, ele e outros deputados petistas defenderam mudanças na legislação para coibir tais ações.

“Nem todo o dinheiro que está lá é ilegal, mas se 50% for ilegal, estará claro que precisamos aperfeiçoar a legislação brasileira para que não tenhamos mais recursos do nosso país sendo depositado no exterior sem que esse recurso saia com os devidos impostos sejam pagos no Brasil”, afirmou Toninho.

Na mesma linha de pensamento, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), pioneiro em denunciar o caso na Câmara, avalia que a legislação brasileira “protege e dificulta a investigação dos grandes sonegadores”. Para ele, o furto simples é tratado de forma “mais aguda” do que um grande sonegador. “Essa é uma herança da relação das elites com o Estado brasileiro”, lamentou o parlamentar gaúcho.

Pimenta lembrou que a cultura de sonegação presente entre os brasileiros foi estampada recentemente nas manifestações de rua, em cartazes que apontavam a prática como “direito legítimo de defesa contra o Estado”.

Para Paulo Pimenta, o relato do jornalista Fernando Rodrigues revela um “mundo subterrâneo do capitalismo financeiro”. Ele defendeu o aprofundamento das investigações e, ao mesmo tempo, uma maior pressão da sociedade para evitar a conhecida “operação abafa” do caso.

“São nomes de pessoas com influência econômica, influência política na sociedade, que envolve grandes instituições do mercado financeiro. Há interesse de que tudo isso não seja investigado. Nossa bancada do Partido dos Trabalhadores vai fazer um esforço enorme para que as autoridades competentes façam sua parte e para que possamos levar essa investigação até o fim”, garantiu Pimenta.

O deputado Fernando Marroni (PT-RS) acredita que o relato de Rodrigues aponta indícios de três crimes: evasão fiscal, lavagem de dinheiro e sonegação. Ele acredita também que os que estão na lista, de alguma forma, podem estar envolvidos com outros tipos crime, como tráfico de drogas ou tráfico de pessoas.

“A partir dessa audiência e de outras com órgãos do governo, a Câmara pode propor legislação mais rígida, porque o sistema financeiro mundial não aguenta mais essa evasão fiscal, lavagem de dinheiro. Penso que o Brasil deve enfrentar esse tema com maior rigor possível. As investigações e apurações devem apontar os culpados. Esses culpados deverão ser punidos e os recursos repatriados”, avalia Marroni.

Também participaram da audiência os deputados Adelmo Leão (PT-MG) e Jorge Solla (PT-BA).

Benildes Rodrigues
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara