São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conclamou na noite de ontem (14) os trabalhadores a lutar contra a aprovação do projeto de lei da terceirização. “Não deixar aprovar o PL 4330 é uma questão de honra para a classe trabalhadora brasileira. A CLT, com todo os defeitos que tem, é uma conquista do povo brasileiro. Por isso a elite nunca gostou do Getúlio, e por isso levaram Getúlio à morte”, afirmou, em referência ao presidente da República Getúlio Vargas, em cujo governo foi criada a Consolidação das Lei do Trabalho, em 1943.

No discurso que proferiu na solenidade de abertura oficial do 9° Congresso Nacional dos Metalúrgicos da CUT (que vai até sexta-feira 17), em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, Lula defendeu a retomada do diálogo com o Congresso como estratégia de luta pelos direitos da legislação trabalhista brasileira depende de diálogo. “As conquistas foram com muita luta. Certamente o Eduardo Cunha não sabe. Alguns deputados novos também não sabem”, disse, sobre o presidente da Câmara dos Deputados, do PMDB do Rio de Janeiro e principal líder parlamentar contra o governo.

“Ao invés de ‘dar de barato’ que eles já sabem e estão de má fé, acho que temos de conversar com todos eles e mostrar o que significa efetivamente a aprovação dessa lei. É negar tudo o que foi conquistado em anos e anos de luta.”

Antes, o assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência da República José Lopez Feijóo afirmou que “o PL 4330 é o AI-5 da classe trabalhadora”, em alusão ao Ato Institucional baixado pelo governo militar, em 1968, que levou o país ao período mais agudo da ditadura, com a supressão aos direitos civis e democráticos.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, disse que o papel dos trabalhadores “é fazer enfrentamento (com setores da no Congresso) o tempo todo” . O dirigente declarou que esse enfrentamento “contra a intolerância, o golpismo e a ideia do impeachment” estará presente nas manifestações desta quarta-feira (15)  – Dia Nacional de Paralisação contra a Terceirização, convocado pela CUT, demais centrais e movimentos sociais. “O grande alvo das manifestações é derrotar o PL 4330. Podem até tentar derrotar os trabalhadores no Congresso, mas não nas ruas. Nas ruas nós vamos derrotá-los”, disse Freitas.

Lula comentou as manifestações de setores conservadores do último domingo, os ataques à Petrobras, as acusações de corrupção vinculadas à estatal e dirigidas ao PT, e afirmou que o pessimismo sobre o futuro do país se localiza principalmente em São Paulo.

“Esse pessimismo não é do Brasil inteiro, não. Ele é mais de São Paulo. Eu acho que os sindicatos de São Paulo deveriam fazer uma pesquisa: eu acho que São Paulo está em recessão há muito tempo.  Eles querem jogar esse mau humor para o Brasil inteiro?”

Sobre as manifestações contra o governo disse: “Essa gente deveria ter reivindicado mais educação quando eles governaram. Este país levou 100 anos para ter 3 milhões de alunos na universidade. Em apenas 12 anos chegamos a mais de 7,5 milhões. Em 12 anos fizemos mais do que eles fizeram num  século. É isso que incomoda?”, questionou.

Lula exortou os trabalhadores a defender o governo Dilma lembrando o ano de 2005, quando surgiram as denúncias relacionadas ao chamado “mensalão”. “Começaram a tentar fazer comigo o que estão fazendo agora. Eles já estavam até falando em impeachment.”

Uma carta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na época, lançou o mote “mexeu com Lula, mexeu comigo”, o que, segundo ele, foi decisivo para animar a militância e afastar a defesa do impeachment  pelos mesmos setores que hoje querem interromper o mandato de Dilma.

Segundo Lula, a classe trabalhadora não pode “permitir que a infâmia, o mau-caratismo de algumas pessoas venham querer destruir um projeto político que a duras penas começamos a construir”.

Ele reconheceu que o país passa por dificuldades econômicas e defendeu a necessidade de o governo federal promover ajustes. “Sabemos que a situação não é das melhores. Mas na vida é assim. Quem é que já não fez um ajustezinho na sua casa?”

Petrobras
No discurso, o ex-presidente defendeu a Petrobras e lembrou que as ações da companhia subiram quase 20% nos últimos quatro pregões da Bovespa, a Bolsa de Valores de São Paulo. “A Petrobras vai quebrar? A Petrobras vai quebrar a cara deles”, ironizou. “O dia que a Petrobras aprovar o balanço, vocês vão ver o que vai acontecer com as ações. Aliás, já subiu 20% nesses dias.”

As ações preferenciais da estatal fecharam em alta (1,79%) nesta terça-feira (14). As ações ordinárias acumularam alta de 17,9% nos últimos quatro pregões.

Gostinho de vitória

Os milhares de manifestantes que marcharam nesta quarta-feira (15) em São Paulo contra o PL 4.330, que trata da terceirização do trabalho, encerraram o ato iniciado no Largo da Batata, na zona oeste, em frente à sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na avenida Paulista, com a sensação de vitória. Forçados pela pressão popular, deputados chegaram a acordo para adiar a votação de emendas do projeto para a próxima quarta-feira (22) dando mais tempo para as bancadas discutirem. Segundo os organizadores, a marcha reuniu aproximadamente 40 mil pessoas, e não houve policiamento ostensivo. A PM disse que eram 1.300.

O dia começou com manifestações promovidas por sindicatos e cinco centrais sindicais em todos o país, com paralisações em fábricas e bancos e atos públicos. Em São Paulo, a principal movimentação das centrais ocorreu no meio da tarde, também diante da sede da Fiesp. 

No ABC, metalúrgicos realizaram assembleia a partir das 7h nas montadoras Ford, Volks e Scania e pouco antes das 8h os trabalhadores (as) ocuparam a via Anchieta. Na Mercedes-Benz, a empresa suspendeu o ônibus para impedir que os trabalhadores se engajassem na luta contra as terceirizações, mas a categoria se juntou aos demais na mobilização.

Os bancários de São Paulo iniciaram o dia de paralisação em agências do centro da cidade e do entorno do Largo da Batata e em importantes unidades administrativas e operacionais do Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Federal.