O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, participou na noite desta quarta-feira (8) do seminário Dilemas e desafios para a classe trabalhadora, da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB), e fortaleceu a proposta de uma frente ampla e democrática para defender a constitucionalidade do Governo Dilma, a democracia, a indústria nacional e a retomada do crescimento econômico. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, também integrou a mesa cujo objetivo era analisar a conjuntura nacional e os desafios políticos no atual cenário.

O dirigente comunista destacou o papel da esquerda neste momento de crise do capitalismo
O dilema colocado em debate pela CTB consiste em como defender o governo eleito pelo voto popular, garantir governabilidade e avançar nas conquistas sociais diante deste Congresso nacional considerado o mais conservador desde 1964.

De acordo com Renato, num momento de crise do capitalismo como este que o mundo enfrenta e que atinge diretamente o Brasil, a prioridade é defender a constitucionalidade do governo da presidenta Dilma para fortalecer a democracia, a Petrobras, a engenharia nacional, a retomada do crescimento econômico e o combate à corrupção. Para Renato, essas bandeiras vão ao encontro de quem luta pelo Brasil. “A união da esquerda é fundamental para impulsionar esta frente democrática”.

Com uma rápida reflexão histórica, Renato relembrou os momentos onde a esquerda não esteve unida e sofreu golpes da direita que atingiram fortemente toda a população brasileira, citou o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe militar contra o presidente João Goulart e alertou que diante da gravidade da atual conjuntura o PCdoB é leal ao governo da presidenta Dilma e assume os compromissos firmados sem abrir mão das posições políticas do partido. “Nossas bandeiras mais urgentes consistem na retomada do crescimento econômico do país e na garantia dos direitos sociais e trabalhistas”.

No que diz respeito ao combate à corrupção, Renato afirma que o ponto chave é a reforma política que contemple o fim do financiamento empresarial de campanha, hoje uma das principais fontes dos grandes esquemas de corrupção. “Com a reforma política nós podemos resolver o problema de representatividade do Congresso, o problema dos financiamentos empresariais de campanha, que é grave, porque uma empresa que financia uma campanha faz isso em função dos seus interesses e quer retorno, por isso é uma questão muito importante”.

Retornar às bandeiras históricas

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, destacou as conquistas dos anos de democracia, entre elas o SUS, a previdência social e os direitos trabalhistas, e afirmou que isso mostra o quanto a luta da esquerda vale a pena e o que é preciso seguir em defesa de mais direitos ao povo brasileiro.

Apesar de ter críticas pontuais ao governo, Carlos deixa claro que o PSB é contra o impeachment da presidenta Dilma, “embora não tenha dado apoio durante as eleições”. “A nossa responsabilidade é com o Brasil. Nós vivemos uma crise que nunca imaginamos viver, há um risco real de golpe”, disse.

Defendeu ainda que é preciso “voltar ao leito da luta” porque a “correlação de forças nunca foi favorável e ainda assim as bandeiras da esquerda sempre foram fortalecidas”. “Nós [o PSB] estamos nos preparando para os embates que virão tanto no campo social quanto no campo político. Retomar bandeiras históricas e apoiar o governo da presidenta Dilma”.

A cilada da terceirização

Renato acredita que as lideranças sindicais não podem se deixar abalar pelo cenário politico complexo em que se encontra o país. “Eu acho que a gente caiu numa certa cilada, falamos tanto do ajuste [fiscal] e veio diante de nós uma avalanche que é a terceirização, esta sim atinge diretamente os trabalhadores e é um retrocesso, uma perda de direitos, isso significa que a nova correlação de forças vai mais à direita. O Congresso Nacional é mais à direita, por isso elegeu Eduardo Cunha”.

Para Renato, com a regulamentação da terceirização irrestrita do trabalho, o que está em jogo é a CLT e até mesmo a distribuição de renda. “O PCdoB vota contra a terceirização porque ela atinge direitos históricos”.

Com relação ao ajuste fiscal o dirigente comunista afirma que o partido entende ser necessário num momento de crise onde grande parte do crescimento econômico e do índice histórico de emprego e renda tenham sido mantidos pelo Estado, no entanto é preciso negociar. “É lógico que não estamos de acordo com o ajuste, e por isso precisamos negociar. O PCdoB defende que sejam taxadas as grandes heranças e fortunas, por exemplo”, explicou a medida que busca atingir menos a classe trabalhadora.

Frente Ampla
Na segunda parte do seminário Dilemas e Desafios para a Classe Trabalhadora, na tarde desta quarta-feira (8), os debates ocorreram sobre a questão do desenvolvimento nacional.

Com a coordenação de Mônica Custódio, secretária de Promoção da Igualdade Racial da CTB e de Aurino Nascimento, presidente da CTB-BA, Nivaldo começou sua explanação relatando parte da história do Brasil para chegar ao momento crucial que o país vivencia. Falou da Era Vargas e do período de industrialização entre as décadas de 1930 a 1980. “O Brasil passou a ser uma das dez maiores economias do mundo e houve uma revolução nas relações de trabalho porque deixou de ser um país rural e surgiu uma classe operária combativa”, preconiza.

Depois vieram as décadas perdidas de 1980 e 1990. “Nos anos 80, o modelo de desenvolvimento dependente se esgotou aí veio o desemprego em massa, a recessão. Na década posterior foi pior. O neoliberalismo estancou o país. Como disse FHC o objetivo era acabar com a Era Vargas, ou seja, acabar com o Estado”, acentua.

Por isso, para Nivaldo os governos Lula e Dilma significaram “recuperação do estrago” feito por FHC. E como a CTB desde sua origem defendeu desenvolvimento com valorização do trabalho, vale frisar a importância da política de valorização do salário mínimo, que foi fundamental para o país resistir à crise mundial do capitalismo. O dirigente da CTB defendeu a formação de uma Frente Ampla para a superação dos desafios colocados pela situação de disputa onde forças conservadoras visam o quanto pior melhor para minar a governabilidade.

Florival Carvalho, diretor da Agência Nacional do Petróleo realçou o poder da estatal brasileira, “uma das maiores empresas do mundo”. Carvalho destacou toda a história da luta pelo monopólio do petróleo no Brasil. Somente a Petrobras tem a tecnologia de prospecção de petróleo em águas profundas e foi a primeira petrolífera a encontrar o óleo no mar. O monopólio estatal do petróleo permaneceu até 1997, quando o mercado foi aberto e atualmente existem “70 petroleiras no Brasil”, garante Carvalho. A partir de então a estatal brasileira começou a realizar parcerias e com a descoberta do pré-sal estabeleceu-se um sistema de partilhas sob o controle nacional.

Para se ter uma ideia do que está em jogo nos sistemáticos ataques à Petrobras “em 1997 produzíamos 700 mil barris por dia e hoje produzimos cerca de 2,5 milhões de barris”, reforça Carvalho. Ele acredita que a petrolífera brasileira deve divulgar mais seus resultados para mostrar a sua importância estratégica para o desenvolvimento nacional. Defendeu também a formação de uma Frente Ampla de trabalhadores e empresários para defender os interesses nacionais.

Desafios de organização
O seminário Dilemas e Desafios para a Classe Trabalhadora, da CTB, busca debater os rumos e as ações do movimento sindical para este momento complexo da conjuntura política nacional. Na manhã desta quinta-feira (9), a entidade fez um ato em apoio aos trabalhadores da Venezuela, com a participação do cônsul Robert Torrealba e em seguida realizou um debate sobre a organização do movimento sindical.

O cônsul Robert Torrealba agradeceu o ato solidário da central e destacou que o presidente Nicolás Maduro foi uma liderança importantíssima do movimento sindical na Venezuela. Afirmou que a ameaça do imperialismo está presente, não só em seu país, mas também na Argentina e no Brasil, e isso está acontecendo porque a América Latina ousou lutar por sua soberania administrar seus recursos naturais sem a interferência estadunidense.

“Com a eleição do presidente Hugo Chávez nós abrimos uma década de esperança na América do Sul e não podemos nos deixar abalar. Vamos permanecer em constante alerta”, disse.

Acirramento da luta de classes

“Um quadro de aguda crise e profundo acirramento da luta de classes”, foi assim que o presidente nacional da CTB, Adilson Araújo, definiu o atual cenário político e a partir disso apresentou os desafios postos à classe trabalhadora para garantir os direitos já conquistados e aprofundar as mudanças.

O dirigente cetebista fez uma ampla apresentação do cenário mundial no qual a luta sindical está inserida e não pode ser dissociada para não cair na instrumentalização da direita. “Cresce o desemprego em todo o mundo, a ofensiva bélica, as agressões aos povos, aumentam as tropas militares, o esquema de espionagem nunca esteve não presente, a vida passou a ser um verdadeiro reality show observado pelo imperialismo, não tem sido fácil”. Diante deste cenário complexo, Adilson afirma com empolgação que a CTB é uma central vitoriosa por conseguir crescer e se fortalecer neste período.

Segundo ele, é a central que mais cresce no Brasil, e com isso também aumentam as responsabilidades. “Nada mais justo do que uma organização classista lutar para defender o governo da presidenta Dilma, não perder direitos e garantir avanços. O movimento sindical vai ter que sair da apatia”, enfatizou. Para Adilson, é fundamental neste momento que as centrais sindicais estejam unidas para fortalecer a luta pela garantia de direitas.

Uma frente ampla e democrática dos partidos progressistas e movimentos sociais com objetivo de defender a democracia, a Petrobras, a engenharia nacional e o crescimento econômico com garantias sociais também é vista com bons olhos pelo dirigente sindical. Para Adilson a grande questão deste momento é que o povo venceu as eleições, mas perdeu a política, isso porque o Congresso Nacional é o mais conservador desde 1964 e não está hesitando em propor medidas que atingem diretamente os trabalhadores e a população mais pobre.

Adilson critica a ofensiva da direita de tentar manter um terceiro turno interminável onde a governabilidade da presidenta Dilma está cada vez mais afetada. “Esse processo parece não terminar, nós estamos dizendo ao governo que é preciso fazer um acordo para melhorar essa situação da crise. E para isso nós vamos ter que colocar muito povo na rua e mudar a mira para o Congresso Nacional”.

A orientação do dirigente é fortalecer as bases e ganhar as ruas cada vez com mais força para impor a agenda do povo brasileiro e derrotar a ofensiva da direita instrumentalizada pelo imperialismo que tenta golpear todo o continente. “Vamos tentar dialogar com o governo e contribuir com a unidade da esquerda, dos movimentos sociais e dos partidos progressistas para fortalecer este projeto. Claro que este não é o projeto dos nossos sonhos, nós defendemos os socialismo, mas precisamos seguir neste rumo progressista”, orientou.

Alertou a militância a trabalhar “com todas as energias” para evitar o retrocesso. “O Eduardo Cunha vai sim liderar essa agenda de maldades com o apoio do Paulinho da Força, e cabe a nós explorar estas contradições, mas sem misturar água com óleo: o Paulinho hoje é um algoz, um líder sindical a serviço do neoliberalismo”.

Logo depois da exposição, Adilson partiu para uma reunião com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, cujo objetivo é debater o projeto de lei que regulamenta a terceirização irrestrita do trabalho. O PL foi aprovado pelo Congresso Nacional na noite desta quarta-feira (8) e a classe trabalhadora começa a se preparar para um grande ato no dia 15 de abril.

A mesa foi composta por dirigentes sindicais de diversos segmentos, entre eles, dos trabalhadores rurais, marítimos, servidores públicos, educadores da educação privada e outros. A atividade contou com a participação de lideranças regionais de todo o Brasil.

Com informações e imagens do Portal Vermelho e da CTB