A Caixa Cultural São Paulo inaugura no dia 7 de março, sábado, às 11 horas, a mostra individual de Abelardo da Hora (1924 – 2014), com 101 obras que trazem ao público a faceta inquieta e generosa do artista pernambucano. A exposição possui curadoria de Renato Magalhães Gouveia e conta com o patrocínio da Caixa Econômica Federal.

Dentre as esculturas, desenhos, pinturas e maquetes destacam-se os bronzes “Menino de Mocambo”, de 1969 e “A Fome e o Brado”, de 1947, a série de 22 desenhos de bico de pena de 1962 e o poema “Meninos do Recife”, além da maquete e fotos da polêmica “Torre de Iluminação Cinética”, instalada na Praça da Torre, no Recife, em 1961 e destruída pelo regime militar em 1964.

Conhecido e admirado pelo temperamento ao mesmo tempo generoso e irreverente, o artista e ativista cultural celebrizou-se internacionalmente a partir dos anos 1960 com obras de temática social que denunciavam a miséria brasileira e a exclusão, sendo considerado pela crítica especializada o maior escultor expressionista do Brasil.

“O íntimo da obra do artista aqui se revela não apenas nesses exemplos contraditórios apresentados. Esta exposição quer contá-lo como personagem completo: educador por excelência, desenhista, pintor, gravador”, escreve Renato no texto de apresentação da mostra.

Abelardo Germano da Hora (1924, São Lourenço da Mata – 2014, Recife, PE)

Abelardo da Hora, Menino de Mocambo, 1969, bronze 60x17x13 cm

Escultor, desenhista, gravador e ceramista, Abelardo cursou de Artes Decorativas no Colégio Industrial Prof. Agamenon Magalhães, Curso Livre de Escultura na Escola de Belas Artes de Pernambuco. Trabalhou para o industrial Ricardo Brennand de 1943 até 1945, realizando vários trabalhos em cerâmica, jarros florais e pratos com motivos regionais em relevo e em terracota. Em 1945, foi para o Rio de Janeiro onde trabalhou num atelier improvisado na garagem da casa de Abelardo Rodrigues. Em 1948, prepara sua primeira exposição de esculturas expressionistas, a primeira do gênero realizada na cidade.

Idealizou e criou com Hélio Feijó e outros, a Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR) e, em 1952, fundou o Atelier Coletivo da SAMR do qual foi professor e diretor.

Foi também um dos idealizadores do Movimento de Cultura Popular (MCP), criado na gestão do então prefeito do Recife, Miguel Arraes, 1960 a 1962. Esse movimento refletia um sentido altamente engajado e seu objetivo era “ampliar a politização das massas, despertando-as para a luta social”, conforme preconizavam seus participantes, entre os quais o célebre educador Paulo Freire, o escritor Ariano Suassuna, entre outros intelectuais. Como um dos diretores do MCP construiu e dirigiu a Galeria de Arte, às margens do Capibaribe, o Centro de Artes Plásticas e Artesanato e as Praças de Cultura, no Recife.

Durante os anos de 1957 e 1958 expôs em vários países da Europa, na Mongólia, na Argentina, em Israel, na antiga União Soviética, na China e nos Estados Unidos. Lançou, em 1962, o álbum de desenhos “Meninos do Recife” e em 1967, a coleção de desenhos “Danças brasileiras de Carnaval”, na Galeria Mirante das Artes, em São Paulo.

Integrante do então ilegal Partido Comunista desde 1948, Abelardo e sua família conheceram a prisão, a tortura e perseguição do regime de exceção que sobreveio ao golpe civil-militar de 1964. A cada Ato Institucional baixado pelos militares, e sob quaisquer outros pretextos, o artista “subversivo” era preso, contabilizando mais de 70 prisões desde 1947 quando fazia propaganda política em comício do Partido.

Com o golpe, muda-se para São Paulo, onde é acolhido pelo casal de amigos Lina Bo e Pietro Maria Bardi, e trabalha na extinta TV Tupi. Retorna ao Recife em 1968, dedicando-se à pesca enquanto cursa a Faculdade de Direito de Olinda. Nos anos 1970 volta a trabalhar em seu estúdio, onde hoje está instalado o Instituto que leva seu nome.

“Faço a minha arte respondendo a uma necessidade vital. Como quem ama ou sofre, se alegra ou se revolta, aprova ou denuncia e verbera. Fruto das coisas que a vida ensina… A marca mais forte do meu trabalho tem sido entretanto o sofrimento e a solidariedade. A tônica é o amor: o amor pela vida, que se manifesta também pela repulsa violenta contra a fome e a miséria, contra todos os tipos de brutalidade, contra a opressão e a exploração”, declara Abelardo.

Possui obras nos acervos de museus como MASP em São Paulo, no MAC USP em São Paulo, no Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, com a obra “Desespero”, “Enterro de Camponês” no museu do Solar do Unhão na Bahia, “Mulheres” na Estação Branco em João Pessoa – PB, “Memorial Aos Retirantes” no Parque Dona Lindu e no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães no Recife, “Água Para O Morro” no EuroMuseu, além de diversas obras em prédios e praças públicas, museus, galerias e espaços de arte nos Estados Unidos, China e Argentina.

Abelardo da Hora, série Danças Brasileiras de Carnaval, 1965 e 66 (10 desenhos a bico de pena) 6

Palestra com Antonio Alves Sobrinho e lançamento de catálogo – 11 de abril, 11 horas

No dia 11 de abril, às 11 horas, é lançado o catálogo da exposição. Na mesma ocasião, acontece também a palestra com Antonio Alves Sobrinho, intitulada “Abelardo da Hora – 90 Anos de Arte”, que contempla: Expressionismo no Brasil, Pernambuco no contexto da arte brasileira, Abelardo da Hora trajetória e formação, atuação política como arte e arte como atuação política, Abelardo da Hora – anos 2000. São 50 vagas e inscrições podem ser feitas pelo telefone (11) 3321 4400.

Serviço:

Mostra: “Abelardo da Hora 90 anos: Vida e Arte”, mostra de Abelardo da Hora
Abertura: 7 de março, sábado, às 11 horas
Período expositivo: de 7 de março a 10 de maio de 2015

Local: CAIXA Cultural São Paulo
Endereço: Praça da Sé, 111 – Centro – São Paulo – SP
Entrada: franca
Classificação indicativa: livre
Telefone: (11) 3321 4400

Acesso para pessoas com deficiência
Patrocínio Caixa Econômica Federal