Por meio de estatísticas internas da internet, o sociólogo Sergio Amadeu, analisou como se deu a movimentação nas redes sociais durante as manifestações de junho de 2013, para mostrar como o conteúdo opinativo dos protestos se comportou.
Embora o contexto brasileiro tenha sido incluído na rede de manifestações mundiais conhecidas como primaveras, por serem eventos que não foram chamados por forças tradicionais, nem tinham carro de som, o vínculo com o Movimento Passe Livre aponta para diferenciais. “O MPL é um movimento parecido com organizações de esquerda, surgido no Fórum Social Mundial. Os black bloc, por sua vez, são uma tática de caráter anarquista.”
“A capacidade de mobilização e mudança é alterada pela tecnologia, mas a causa das manifestações não está nesses meios técnicos. Agora, temos que admitir que não dá pra fazer uma manifestação por dia sem internet”, pondera Amadeu. Sem liderança, ele diz que há uma dificuldade de coordenação, mas também a vantagem da polícia não poder dispersar a multidão prendendo seu líder.
Pontuando a movimentação em cada dia, desde a primeira delas, Amadeu mostra que, no dia 17 de junho, ocorreu um fenômeno curioso em eventos do Facebook. Embora as confirmações de presença virtuais costumem ser maiores do que a presença efetiva das pessoas nas manifestações, naquela, ocorrida no Largo da Batata, em São Paulo, a presença real foi maior que as confirmações no Facebook. A esquerda, que se mantinha afastada das primeiras manifestações, se solidarizou com o movimento após a brutal repressão policial.
O MPL começa sendo a “autoridade” maior das manifestações no início, conforme revelam os compartilhamentos de suas postagens, mas logo perde para páginas de direita como Anonnymous e Movimento Contra a Corrupção. No dia 20 de junho, na passeata da Av. Paulista que culminou com violência contra manifestações de esquerda, não havia nenhuma alternativa de compartilhamento na rede fora das páginas de direita. Foi possível observar inclusive o fenômeno de perfis esquerdistas e progressistas compartilhando páginas como TV Revolta, sem saber que era reacionária. “A TV Revolta teve muito investimento para acumular 3,5 milhões de curtidas”, disse Amadeu, mostrando como se dá o crescimento espontâneo de algumas páginas, como a de Marina Silva, e o crescimento anormal de páginas desconhecidas como a TV Revolta. Para alcançar esse patamar, teria que haver investimento pesado em publicidade do Facebook. “O Facebook retomou a verticalização ou a hierarquia da mídia na internet, ao favorecer quem investe pesado em divulgação”.
“Em junho, disputamos com a direita e ela se articulou melhor”, avalia ele. Para ele, naquele momento, assim como na eleição, a disputa pela opinião se deu por meio de uma guerra simbólica de memes, essas imagens que sintetizam ideias e são mimetizadas por toda a rede.  “Se Marina ascendeu nas redes com facilidade, foram as mesmas redes que derrubaram ela. Foi o efeito Malafaia”, ironizou ele, citando o caso da pressão exercida por um pastor evangélico no Twitter, que levou Marina a mudar seu programa de governo para a população LGBT.
Amadeu observa que a esquerda não tem feito disputa simbólica, pois só trabalha com senso comum, que é conservador. “O marqueteiro diz o que o povo pensa e a campanha trabalha com essa informação que mata a esquerda”.
Amadeu lembra que os CPC (Centros Populares de Cultura) da UNE eram o que havia de melhor na disputa simbólica, nos anos 1960. “A Globo contratou comunistas para sua produção de televisão, porque eram os melhores profissionais”, diz ele. A disputa do senso comum, segundo ele, se faz pela cultura.