O economista da Unicamp, Waldir Quadros, resumiu sua apresentação à apresentação de umas poucas planilhas de dados extraídos da PNAD/IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que causam impacto pela contundência que apontam.  (VEJA AO FINAL DO TEXTO AS PLANILHAS APRESENTADAS) As planilhas surpreendem por mostrar nuances ignoradas pelo marketing eleitoral, centrado no aumento em larga escala, num período mais amplo, dos setores que saíram da pobreza para a classe média baixa. Em sua palestre no sábado (31), logo cedo, Quadros enfatiza que não está falando em classes sociais, mas em padrões de consumo.

Após explicar os critérios e características da elaboração de suas planilhas, ele observa que, de 2012 para cá, a estagnação econômica do Brasil tem causado a redução dos setores médios da sociedade, e aumentado a miséria (aumento de cerca de um milhão e meio de pessoas), apesar dos programas feitos para proteger essa população. Ou seja, um pente fino feito num período menor e mais recente revela uma perda de poder aquisitivo em setores que têm forte influência sobre a opinião pública, com impacto particular no Estado de São Paulo.
“Imagina o senso de humor eleitoral de quem acabou de ascender no seu poder de consumo e é obrigado a cancelar a escola particular do filho e o plano de saúde da família, por exemplo?” diz o economista, referindo-se a famílias com renda em torno de dez salários mínimos, tais como auxiliares de escritório, balconistas, comerciários e professores de ensino primário. “São pessoas que escaparam da pobreza, mas têm uma vida difícil, em que tudo pesa no orçamento”, explica.
Para Quadros, o clima de golpismo que permeou a eleição já foi tentado em outros momentos, mas não se disseminava na opinião pública. “Por que agora pegou e antes não pegava?” questiona ele, referindo-se aos dados captados por sua pesquisa. Para ele, fazer um ajuste recessivo em torno dessa realidade de descenso vai gerar uma piora na qualidade de vida, desemprego e dívidas sem pagar.
“Quem chegou na baixa classe média quer continuar subindo. Só de ficar na baixa classe média, ele já fica nervoso. Como o grosso da população vai ficar na baixa classe média, é preciso melhorar os serviços públicos como a escola e a saúde”, sugere ele. Mas ele menciona cortes como aquele que atinge o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior), que deverá gerar redução de vagas, demissão de professores e fechamento de faculdades, por exemplo. “Junto com esse cenário, vem a falta de água, que também atinge a econômica de forma drástica”, apontou ele, preocupado.